O Brasil chegou a 300.015 mortes pelo novo coronav�rus nesta quarta-feira, 24. S�o mais de 300 mil despedidas em pouco mais de um ano de pandemia - muitas delas em meio ao colapso hospitalar e sem a assist�ncia m�dica necess�ria. O n�mero de �bitos foi de 1.172 nas �ltimas 24 horas, segundo balan�o parcial (10 Estados) com dados reunidos pelo cons�rcio de ve�culos de imprensa e divulgados �s 16h40.
Esse total de v�timas � um n�mero grande demais para caber na cabe�a da gente. S�o todas as pessoas que moram em cidades como Palmas, no Tocantins, ou Limeira, no interior paulista. Nessa escala, os n�meros j� n�o s�o distantes de n�s. Est�o no relato da vizinha que perdeu o marido, na prima que mora longe ou mesmo no condom�nio ou na nossa rua. Direta ou indiretamente, todos perdemos algu�m ou conhecemos algu�m que se foi. Trezentos mil.
O descontrole da pandemia aqui tem reflexo no mundo. O Brasil completou na sexta-feira, 19, o per�odo de duas semanas como o pa�s com mais mortes di�rias pela covid no mundo, apontam dados da plataforma Our World in Data, ligada � Universidade de Oxford (Reino Unido). Nessa �ltima semana, o Brasil foi respons�vel por 27% dos �bitos de todo o planeta. O Pa�s ultrapassou os Estados Unidos na sexta-feira, 5, quando registrou 1,8 mil novos �bitos (ante 1.763 dos EUA). A partir da�, a diferen�a s� aumentou.
A maior crise sanit�ria e hospitalar da hist�ria do Pa�s, na defini��o da Fiocruz, tem v�rios rostos por tr�s dos n�meros. S�o pessoas que sofreram perdas - algumas evit�veis - relacionadas �s diversas car�ncias do Brasil no combate � pandemia. Em Bauru, a fam�lia do comerciante Marco Aur�lio Oliveira precisou de uma medida judicial para conseguir uma vaga na UTI. Em Teresina, a t�cnica de enfermagem Polyena tentou uma reanima��o no ch�o por falta de maca dispon�vel - a unidade de pronto-atendimento (UPA) estava cheia.
Para Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da USP, nada indica que vamos retroceder em breve. Ele aponta que a m�dia m�vel de mortes vai chegar a 3 mil. "Quanto mais aguda a pandemia, maior � a politiza��o e a falta de ger�ncia da pandemia. Atingimos 300 mil �bitos no meio da troca no Minist�rio da Sa�de. Temos um dos piores indicadores do mundo."
Com postura negacionista ao longo da crise sanit�ria, cr�ticas � quarentena, defesa de rem�dios sem efic�cia contra a covid e promo��o de aglomera��es, o presidente Jair Bolsonaro tem sido criticado no Brasil e no exterior. Nesta semana, ele fez a terceira troca no comando do Minist�rio da Sa�de. Sai o general Eduardo Pazuello, alvo de investiga��o por suspeita de omiss�o na resposta � crise hospitalar em Manaus em janeiro e respons�vel pelo encalhe de milh�es de testes de covid perto da validade em armaz�m do governo federal. Chega agora o cardiologista Marcelo Queiroga, cujas primeiras declara��es evitaram confrontar as ideias de Bolsonaro sobre o isolamento social.
Al�m das dificuldades de gest�o, o Brasil convive com o avan�o de novas variantes do v�rus, como a de Manaus, que estudos j� mostraram ser mais transmiss�vel, e o ritmo lento da vacina��o diante da falta de doses. "A quest�o que se coloca �: quando atingiremos 400 mil mortos, o que deve acontecer rapidamente. Teremos agora uma crise funer�ria", alerta Domingos Alves.
Para Eliseu Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Sa�de P�blica da USP, a provid�ncia agora � tentar minimizar danos. "Uma medida importante a ser tomada � o lockdown em boa parte do Pa�s. Isso pode diminuir a transmiss�o do v�rus e aliviar a press�o no sistema de sa�de. Tamb�m � fundamental repor os insumos b�sicos e medicamentos, pois os m�dicos n�o ter�o condi��es de atender. E tamb�m precisamos acelerar o processo de vacina��o, o que dificilmente deve ocorrer", opina.
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