O Minist�rio P�blico do Rio Grande do Sul vai investigar a conduta da m�dica Eliane Scherer, que receitou nebuliza��o com hidroxicloroquina para pacientes do Hospital Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Camaqu�, na regi�o sul do Estado. Tr�s pacientes da covid-19 que tiveram este tratamento morreram entre segunda, 22, e quarta-feira, 24. Esse rem�dio tem inefic�cia comprovada cientificamente contra o novo coronav�rus.
A investiga��o foi informada pela promotora de Justi�a de Camaqu�, Fabiane Rios. O MP vai averiguar se o procedimento de nebuliza��o com hidroxicloroquina est� dentro dos protocolos corretos e da �tica profissional. Em conjunto com a Pol�cia Civil, a promotoria far� oitiva com os envolvidos e vai cruzar com as orienta��es do Minist�rio da Sa�de. "Em constatada eventual falta, esta ser� encaminhada na esfera c�vel e administrativa. Se for provada a imper�cia da m�dica ao adotar tal procedimento, causando o �bito dos pacientes, sua conduta ser� apurada na esfera criminal".
Onyx e Bolsonaro
Eliane ficou conhecida em todo Brasil ap�s o ministro Onyx Lorenzoni divulgar em sua conta no Twitter v�deo no qual ela administra nebuliza��o com hidroxicloroquina. No �ltimo dia 19, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) tamb�m entrou ao vivo em uma r�dio de Camaqu� para sair em defesa do tratamento por meio da nebuliza��o de hidroxicloroquina.
Al�m de utilizar um medicamento amplamente rejeitado pela comunidade cient�fica no tratamento da covid, a m�dica o fez de uma forma pouco usual. Segundo o diretor-cl�nico do Hospital Nossa Senhora Aparecida, Tiago Bonilha, a nebuliza��o em pacientes covid � altamente contra indicada, pois aumenta a produ��o de aeross�is que podem transmitir o v�rus. Especialistas consultados pelo Estad�o apontam que a pr�tica pode trazer ainda mais riscos de efeitos colaterais para os pacientes do que a administra��o oral do rem�dio. Nesta semana, o Estad�o tamb�m mostrou que pacientes foram parar na fila do transplante de f�gado ap�s usar o kit covid, com rem�dios sem efic�cia contra a doen�a.
Eliane era integrante da escala de plant�o do hospital, contratada por uma empresa terceirizada. Conforme Bonilha, ela j� tinha um hist�rico de "incidentes de conduta", mas nada que a levasse a ser demitida. "No dia que houve o primeiro epis�dio da terap�utica dela no pronto-socorro, foi solicitado o desligamento dela." Bonilha diz que todos os problemas anteriores n�o seriam pass�veis de demiss�o. Ele descreve o perfil de uma m�dica que criava dificuldades de acesso, na libera��o de ambul�ncias e macas e at� mesmo, para atender as exig�ncias de paramenta��o no setor de emerg�ncia.
Toda essa dificuldade, por�m, contrastava com um perfil bem visto na cidade. T�o logo foi feito o pedido de demiss�o, pacientes reclamaram."A partir de ent�o, iniciou toda uma campanha para que ela fosse reintegrada a essa escala porque ela salvava vidas", conta Bonilha, mostrando que o discurso em defesa da cloroquina havia surtido efeito.
Pacientes entraram na Justi�a para ter acesso � terapia
Os pacientes chegaram a entrar na na Justi�a exigindo a continuidade da nebuliza��o com hidroxicloroquina. O pedido foi acatado. Aproximadamente cinco pacientes tiveram o tratamento de nebuliza��o com cloroquina. Destes, tr�s morreram nesta semana.
A m�dica teria se baseado na experi�ncia de um �nico m�dico, que n�o � pesquisador a respeito do tratamento. "Em entrevista, ela chegou a falar quem � o m�dico que aplicou esse m�todo. Mas o que acontece � que nunca vi nenhuma institui��o s�ria fazer uso dessa medica��o. Na minha opini�o, essa prescri��o transcende o car�ter off label da categoria m�dica, tem uma s�rie de protocolos de seguran�a que, a meu ver, fazem com que n�o seja uma terapia a ser aplicada".
Bonilha conta que Eliane n�o seguiu sequer os protocolos para informar a ado��o do tratamento pouco convencional. "Fato que gerou uma quebra de harmonia entre ela e a equipe assistencial foi que na primeira vez que ela quis usar essa terapia, ela n�o formalizou essa prescri��o. Ela orientou que fosse feita e o enfermeiro e o t�cnico me ligaram. A primeira coisa foi mandar ela prescrever no sistema formalmente o que ela quer que fa�a."
"O jeito com que a terapia foi apresentada, pareceu que aquilo fosse a salva��o da p�tria, a chance de cura dos pacientes graves", conta Bonilha. Ao Estad�o esta semana, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, negou rever o parecer que libera m�dicos a prescreverem cloroquina, mas admitiu investigar m�dicos que tratarem kit covid como cura.
A proposta de Eliane era que estes pacientes seguissem internados no hospital, e ela ent�o fosse at� o local administrar o rem�dio por meio da nebuliza��o. A dire��o do hospital ent�o pediu que a transfer�ncia dos pacientes dos pacientes do tratamento convencional contra a covid para a experi�ncia da m�dica fosse formalizada judicialmente, o que aconteceu e ela seguiu aplicando a terapia.
Em entrevista a uma r�dio local, Eliane chegou a falar que se "emocionava" ao ver os pacientes recuperando o ar. "A impress�o que tenho � que de repente essa sensa��o de al�vio que os pacientes percebem t�o logo fazem a terapia pode estar relacionada ao simples aumento da press�o na via a�rea ou melhor fluxo de oxig�nio causada pela nebuliza��o. Se fosse feita com soro, poderia ter esse mesmo efeito", explica Bonilha ressaltando que esse procedimento n�o est� prescrito para atender pacientes covid.
A reportagem do Estad�o procurou a m�dica Eliane Scherer para explicar sua vers�o dos fatos, mas ela afirmou que n�o pretende mais falar com a imprensa.
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