O r�pido agravamento da pandemia no Brasil pressiona hospitais, que j� lidam com a insufici�ncia de leitos e escassez de rem�dios. O risco de um apag�o de profissionais especializados tamb�m � um problema. No ca�tico ambiente hospitalar, gestores e entidades m�dicas de pelo menos nove Estados - Bahia, Mato Grosso, Par�, Piau�, Rond�nia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Tocantins - relatam falta de intensivistas, dificuldades no atendimento ou necessidade de abrir rodadas de processos seletivos para contratar tempor�rios.
O Brasil tem 543 mil m�dicos, mas nem todos preparados para as demandas atuais. "O que precisamos � de profissionais treinados para interna��o sob cuidados intensivos", diz o presidente da Associa��o M�dica Brasileira (AMB), C�sar Eduardo Fernandes. "E tamb�m dos demais profissionais de sa�de, porque n�o � qualquer m�dico ou t�cnico que pode trabalhar numa UTI. As equipes de enfermagem t�m de ter treinamento para manejar m�quinas modernas e os respiradores."
Em Santa Catarina, um dos Estados com maior colapso, j� foram 32 processos de contrata��o na crise sanit�ria. Mas parte dos inscritos n�o aparece ap�s a convoca��o. "Cremos que as desist�ncias se d�o por receio de trabalhar na linha de frente ao combate � covid-19. Mesmo assim, n�o se considera um apag�o de profissionais, pelo menos no �mbito das estruturas pr�prias da Secretaria Estadual da Sa�de", diz o governo. O Estado tem 2,6 mil profissionais a mais e na rede de hospitais filantr�picos, cerca de 2,5 mil, em "amplia��o sem precedentes".
Na Bahia, informa��es oficiais do governo mostram que a demanda ainda tem sido atendida, mas os dados j� apontam "dificuldades" para achar profissionais. Em Salvador e regi�o metropolitana, foram abertas cerca de 2 mil vagas este m�s.
O Piau� admite que a dificuldade maior � a de encontrar m�dicos. Foram ao menos dois processos seletivos em 2020 para m�dicos e demais �reas de enfermagem. A rede p�blica, diz o Estado, j� teve 1.112 contratados e hoje s�o 1.004 em opera��o. No fim do ano passado, houve desligamentos por t�rmino de contrato ou pedidos de afastamento, alega o governo.
Segundo Gerson Junqueira Junior, presidente da Associa��o M�dica do Rio Grande do Sul, existem hoje no Pa�s cerca de 20 mil m�dicos, de v�rias especialidades, que j� trabalham em UTIs, mas a demanda pode chegar ao dobro disso. O ideal � que cada m�dico cuide de at� 10 leitos de UTI, acrescenta o cirurgi�o. "No interior, a dificuldade � muito grande para encontrar o profissional", explica. "E al�m da equipe, tem de ver se h� estrutura de rede el�trica para os equipamentos, rede de abastecimento de oxig�nio para os respiradores de alto fluxo, equipamentos de di�lise", diz.
O Estado tinha, segundo Junqueira, de 800 a mil leitos de UTI antes da crise. "Hoje tem 3.195 leitos operacionais de UTI, 1.021 na capital. N�o � poss�vel suportar isso", destaca. "H� hospital com 160% de ocupa��o de UTI, outro com 145%, outro com 133%", afirma. "Se isso n�o � colapso, o que seria?".
O Rio Grande do Sul destacou que, "diferentemente de alguns Estados, n�o conta com rede hospitalar pr�pria". A pedido do governo estadual, o Ex�rcito montou unidade de campanha ao lado do Hospital de Restinga, em Porto Alegre.
Plant�es e horas extras
Rond�nia j� abriu 85 editais de chamamento emergencial para todas as �reas, principalmente m�dicos. Na rede p�blica, segundo o governo, foram chamados 2.191 servidores, inclu�dos os administrativos. Colaboradores volunt�rios, diz o governo, s�o "casuais".
"N�o temos funcion�rios suficientes nas UTIs. At� porque nem todos querem assumir contratos provis�rios, de car�ter emergencial, e vir para c�, em plena pandemia, trabalhar com pacientes que est�o com o coronav�rus", conta Maira Joaneide de Oliveira Barros, enfermeira que atua na UTI do Hospital Regina Pacis e de uma unidade de campanha em Porto Velho.
"Muitas vezes precisamos nos desdobrar, fazer mais horas extras, mais plant�es", acrescenta Maira Joaneide. "Vivemos horas, minutos e segundos de forma muito imprevis�vel. Quando pensamos que n�o, a satura��o dos pacientes come�a a cair, e � muito r�pido. Corremos para tentar manter viva aquela pessoa."
O governo de Mato Grosso admite dificuldade de aumentar os quadros da linha de frente, mas informa que "ainda � poss�vel contratar profissionais da sa�de" e a Secretaria Estadual de Sa�de est� com processo seletivo em aberto. "No ano passado, a Secretaria Estadual de Sa�de de Mato Grosso abriu dois processos seletivos, um para atua��o nos oito Hospitais Regionais geridos pelo Estado e outro para contratar atua��o no Centro de Triagem da covid-19", diz. J� foram contratados, segundo o governo, mais de 1,5 mil trabalhadores para atuar nessas unidades.
O Tocantins informa ter contratado cerca de 1,5 mil profissionais em diversas �reas de atua��o de combate � pandemia. A Secretaria de Sa�de local diz que foi aberto edital de cadastro para integrar volunt�rios � linha de frente, mas isso n�o ocorreu.
O Par� diz que foram contratados, em car�ter emergencial, 316 profissionais, entre m�dicos, enfermeiros, farmac�uticos, t�cnicos de enfermagem e de apoio administrativo. Conforme o governo, o quadro m�dico de contrata��o direta da secretaria atende � capacidade de atendimentos di�rios nas policl�nicas itinerantes".
Presidente do Sindicato dos M�dicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira diz que "h� improvisa��o, principalmente na rede p�blica". E alerta tamb�m para as perdas entre profissionais para a covid, o que piora a escassez. O Estado j� acumula 50 mortes nas equipes de sa�de que enfrentam o v�rus, entre m�dicos e enfermagem, conforme a entidade. Trabalhadores doentes tamb�m precisam desfalcar, de forma tempor�ria, a linha de frente. "A situa��o � grav�ssima", avalia Ferreira.
O governo potiguar diz "fazer contratos tempor�rios e convoca��es de servidores concursados". At� o dia 4, foram contratados 1.476 efetivos (concurso p�blico), 2.331 tempor�rios, mais 188 convocados para assinar contratos tempor�rios. No dia 13, inda foi preciso abrir convoca��o de mais 69 profissionais.
Distribui��o desigual
A presen�a desigual de m�dicos e outros profissionais da sa�de pelo Brasil � um problema cr�nico. A pandemia evidenciou ainda mais essa dificuldade.
Segundo Mario Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP), existe uma "m� distribui��o geogr�fica, concentra��o no setor privado, baixa qualifica��o, e, principalmente, m� gest�o desses recursos humanos de alta especializa��o".
Ele aponta que falta coordena��o nacional do recrutamento desses profissionais. "H� uma fragmenta��o e precariza��o de contrata��o de recursos humanos via OSs (Organiza��es sociais, que prestam servi�os para o poder p�blico), diz Scheffer.
C�sar Eduardo Fernandes, presidente da Associa��o M�dica Brasileira (AMB), v� falta de planejamento do poder p�blico e afirma que as universidades no Pa�s enviam n�mero suficiente de profissionais para o mercado. "O governo precisa cuidar disso com responsabilidade, fazer plano de carreira, parar de tratar isso com pol�ticas de tapa-buracos", defende.
Entidades m�dicas tamb�m reclamam de remunera��es e contratos prec�rios, principalmente entre profissionais mais jovens. Segundo Geraldo Ferreira, do sindicato potiguar da categoria, muitos s�o atra�dos como "s�cios" de empresas. Isso pode favorecer, diz, fraudes trabalhistas e tribut�rias.
Ajuda remota
"Aumentar o n�mero de leitos exige profissionais capacitados, m�dicos, enfermeiros, fisioterapeutas, para atender pacientes muito cr�ticos, muito graves. Achar esses profissionais agora � muito dif�cil", destaca Viviane Cordeiro Veiga, presidente do Comit� de Analgesia, Seda��o e Delirium da Associa��o de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
A entidade recomenda que, nas regi�es onde n�o h� especialistas em terapia intensiva, � preciso ter um intensivista para dar suporte, inclusive por telemedicina. "H� outra quest�o: j� temos a falta de insumos, de medicamentos. Ent�o, esses profissionais t�m de estar preparados para usar novas medica��es, novos protocolos", afirma ela, chefe de UTI do Hospital Benefic�ncia Portuguesa. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
GERAL