
"A gente n�o consegue falar com os pacientes dentro do quarto, porque o barulho � t�o grande l� dentro que a gente n�o consegue se ouvir nem ouvir o que o paciente est� falando."
M�zel disse que a Pol�cia Militar foi acionada, mas a situa��o n�o foi resolvida. E cobrou uma atitude do governador Jo�o Doria e do prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB.
"Isso � uma falta de respeito com a gente que est� aqui dando o sangue para poder promover para esses pacientes qualidade de vida. Isso � insustent�vel, n�o tem a menor condi��o de dar qualidade para esses pacientes. A gente exige respeito, a gente exige resposta. A gente sai da nossa casa, corre o risco de estar aqui", diz, no v�deo.
Em depoimento ao Estad�o, M�zel diz que o som alto j� era um problema e continuou durante a pandemia. A sua revolta naquele momento surgiu ao se ver diante de uma paciente de 62 anos, que estava infectada, tendo de contar que a m�e dela, de 84, teria de receber cuidados paliativos. Naquela situa��o delicada, ele teve de gritar para ser compreendido e precisou se esfor�ar para ouvir a mulher, que estava com dificuldade para falar por causa da falta de ar.
Profissional do Sistema �nico de Sa�de (SUS) h� 11 anos, o m�dico, que tamb�m � psicanalista, critica a insensibilidade de quem se aglomera em um momento t�o grave da pandemia, com hospitais lotados e alastramento do v�rus. "� uma coisa desumana, � olhar para o risco e n�o estar nem a�, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente n�o respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social."
Em nota, a Secretaria de Seguran�a P�blica de S�o Paulo (SSP-SP) informou que a PM, por meio da Opera��o Paz e Prote��o, mapeia locais onde s�o realizados pancad�es e os policiais v�o para os pontos antes que as pessoas se aglomerem.
"Em rela��o ao endere�o citado, a PM foi acionada e, por meio de den�ncia an�nima, encaminhou equipes para o local. Foi realizado o policiamento no entorno a fim de proteger a vizinhan�a, coibir a chegada de mais participantes e evitar a pr�tica de delitos."
A secretaria disse ainda que entre a noite de sexta-feira (26/3), e a madrugada desta segunda, 29, a corpora��o realizou 1.052 a��es de dispers�o na capital.
Leia depoimento do m�dico Nelson M�zel:
O dia da grava��o foi no �ltimo s�bado, dia 27, mas isso acontece todos os finais de semana. � que estava insustent�vel. Foi na UPA 26 de Agosto, onde fa�o parte da OSS que faz a gest�o de l� desde 2013.
Estava no meu limite, n�o aguentava mais, porque a situa��o era muito complicada. Estava com uma paciente de 62 anos e a m�e de 84 na mesma enfermaria, uma do lado da outra, explicando para a filha sobre os cuidados paliativos. Enquanto conversava sobre o progn�stico ruim, sobre a possibilidade de a m�e dela morrer com covid-19, sabendo que era um caso grave, ela estava com uma m�scara de nebuliza��o, n�o conseguia falar direito por causa da falta de ar. Com a m�sica, n�o dava para escut�-la. E eu estava praticamente gritando. Fiquei transtornado com o que estava acontecendo.
Estamos vivendo uma guerra e, teoricamente, n�o poderia oferecer esse tipo de atendimento (cuidados paliativos), mas a gente tem feito isso com muita frequ�ncia.
A festa continuou at� as 5 horas da manh�. A unidade atende diversos casos de covid e tem alas estratificadas: verde, amarela, vermelha. Pacientes aguardando transfer�ncia para UTI. Eram 73 pacientes naquele dia. Por causa da pandemia, todos est�o indo para a UPA para cobrir escala e encher de m�dico l�.
A pol�cia � acionada e nada � feito. Falam que v�o encaminhar para o setor respons�vel e a gente fica de 15 a 20 minutos esperando. No s�bado, tinha uma viatura na frente da UPA, mas n�o sabemos onde � a festa. Fica dentro de um bols�o, dentro do bols�o da comunidade. Quando d� intervalo de uma m�sica e outra, d� para ouvir. � um n�vel de distanciamento da realidade.
Antes de postar o v�deo, postei no stories no Instagram, fiz dentro da sala, preservando a identidade dos pacientes. Quando terminei de publicar, os pacientes aplaudiam.
Nunca tinha visto uma situa��o como essa. Estou no SUS h� 11 anos, sou um grande apaixonado. Sempre trabalhei em comunidade, sempre trabalhei com os menos favorecidos.
Aqui na UPA, a gente est� vivendo uma situa��o que o Brasil inteiro est� vivendo. A quantidade de gente que se infecta � maior do que a que tem alta, por melhorar ou por �bito. Isso me entristece, porque muita gente precisa sair para trabalhar, n�o sai porque quer, se tivesse a op��o de n�o sair, ficaria em casa.
O problema s�o as pessoas que se aglomeram em festas clandestinas.
� uma coisa desumana, � olhar para o risco e n�o estar nem a�, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente n�o respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social. As pessoas que precisam trabalhar e pais de fam�lia que t�m de ficar na rua est�o morrendo de medo. Mas tem uma classe de brasileiro que n�o est� nem a�. Essa classe n�o respeita regra.