Mulher perseguida por vizinha: 'Parecia que ela tinha �dio contra n�s'

Um tormento que durou mais de 14 anos ficar� na mem�ria de Ana L�dia Gomes, de 39 anos. Ela, o filho e o marido enfrentaram as mais duras humilha��es, ofensas e persegui��es por parte de uma vizinha, de 55 anos. Moradores de um condom�nio no Distrito Federal, a fam�lia enfrentava, todos os dias, os ataques de f�ria e �dio pela mulher.

As perturba��es envolviam xingamentos e arremessos de objetos na piscina do casal, como absorventes, papel higi�nico, areia e fezes. A autora foi presa e indiciada por inj�ria preconceituosa e na lei que tipifica o crime de persegui��o, pr�tica tamb�m conhecida como “stalking”, sancionada na �ltima quinta-feira (leia Para saber mais). Em audi�ncia de cust�dia realizada ontem, a acusada foi liberada.

Em entrevista, Ana L�dia, que trabalha como gestora financeira, detalhou como as ofensas come�aram, at� ficarem insustent�veis e perigosas. A aut�noma casou-se em 2004, ano em que se mudou com o marido para um condom�nio da regi�o. Os dois constru�ram uma moradia no lote, com a estrutura rente ao muro da vizinha. “Ela (vizinha), incomodada, come�ou as ofensas: ‘voc� n�o acha que foi falta de intelig�ncia fazer uma casa encostada no muro?’. Parecia que ela tinha �dio contra n�s. E as agress�es come�aram a aumentar, at� que ela partiu para os xingamentos, chamando meu marido de vagabundo”, detalhou.

A preocupa��o da vizinha, segundo Ana L�dia, era que a estrutura pudesse danificar o muro dela. “Ela chegou a dizer que acionaria a Justi�a, para me tirar R$ 100 mil. Mas explic�vamos sempre que, no caso de qualquer dano, ir�amos arcar”, completou. N�o satisfeita, a mulher continuou com as ofensas. Por diversas vezes, a vizinha colocava o carro em frente � garagem de Ana L�dia, para impedir que a mesma sa�sse de casa. A situa��o s� era controlada com a chegada da Pol�cia Militar. “O nosso filho tem 14 anos e cresceu vendo toda essa situa��o. Gra�as a Deus, temos uma fam�lia estruturada e conseguimos apoi�-lo para evitar traumas, mas ele sente medo. N�o temos, ainda, condi��es de voltar para casa”, lamentou Ana L�dia.

Assustada e temendo o pior, a fam�lia decidiu se mudar por um tempo e s� voltava em casa para buscar roupas e outros pertences. Nesse curto per�odo, enquanto as v�timas estavam no im�vel, a vizinha posicionava uma escada no muro que divide as duas casas para desferir palavras preconceituosas e ofensivas ao casal. Uma das a��es chegou a ser filmada pelo marido de Ana L�dia: “Deveria ter vergonha que tem cor. Tem muito ‘nego’ de alma branca. Voc� � ‘nego’ da alma preta”, disparou a vizinha. Em uma dessas ocasi�es, a autora jogou absorventes, bituca de cigarro, fezes, areia e papel higi�nico na piscina da resid�ncia vizinha.

A mulher entrou na mira da pol�cia ap�s os investigadores constatarem que ela acumulava uma extensa ficha criminal, com mais de 38 ocorr�ncias registradas por persegui��o a outras pessoas, entre elas, o s�ndico e o porteiro do condom�nio. Um dos boletins foi feito por Ana L�dia, este ano, ap�s a autora chamar o seu marido de “preto da alma preta”. A mulher n�o chegou a ficar presa.

Na segunda-feira, ela novamente usou uma escada para ofender as v�timas. Investigadores da 38ª Delegacia de Pol�cia (Vicente Pires) foram acionados e conduziram os envolvidos � unidade policial. “Conseguimos compilar todo o hist�rico, montamos esse quadro de persegui��o e conseguimos prend�-la na lei que define o crime de persegui��o, com pena que pode chegar a tr�s anos”, detalhou o delegado � frente das investiga��es, Heverton Fernando Ara�jo.

� pol�cia, a fam�lia da autora alegou que ela tinha problemas de dist�rbio, hip�tese que ainda ser� apurada pela pol�cia. “Liguei para os filhos dela, expliquei a situa��o e fui claro em dizer que, se ela n�o fosse internada, ela seria presa, caso se aproximasse novamente das v�timas”, afirmou o delegado.

Nessa ter�a-feira (06/04), a mulher foi liberada em audi�ncia de cust�dia. A Justi�a proibiu ela de se mudar de endere�o e contatar as v�timas, caso contr�rio poder� ter a pris�o preventiva deferida. “S� queremos ter paz. Estou ficando na casa da minha m�e, em Ceil�ndia, porque n�o suporto. Durante todo esse tempo, meu psicol�gico estava abalado e quase perdi minha f� em Deus”, finalizou Ana L�dia. Procurada pelo reportagem, a defesa da acusada n�o havia se manifestado at� o fechamento desta reportagem.

A Lei 14.132/2021, que tipifica o crime de persegui��o obsessiva, foi sancionada em 1º de abril. O projeto de lei que prop�s a modifica��o no C�digo Penal � da senadora Leila Barros (PSB). A lei diz: “Perseguir algu�m, reiteradamente e por qualquer meio, amea�ando-lhe a integridade f�sica ou psicol�gica, restringindo-lhe a capacidade de locomo��o ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade”.

A pena varia de seis meses a dois anos, mas pode ser aumentada em 50% caso o crime seja cometido contra mulheres por raz�es da condi��o do sexo feminino; contra crian�as, adolescentes ou idosos; se os criminosos agirem em grupo ou se houver uso de arma.