6 em cada 10 casas brasileiras vivem inseguran�a alimentar; falta comida em 15%

Quase tr�s quintos dos domic�lios brasileiros (59,4%) apresentaram algum grau de inseguran�a alimentar no �ltimo quadrimestre do ano passado. Outro dois quintos diminu�ram o consumo de alimentos importantes, como carnes e frutas. A situa��o mais grave est� no Nordeste. L�, 73,1% das casas registraram inseguran�a alimentar no per�odo. Os n�meros constam de estudo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Bras�lia (UnB).

A pesquisa, cujos resultados foram divulgados nesta ter�a-feira, 13, foi feita entre novembro e dezembro de 2020. As duas mil pessoas que compuseram a amostra consideraram sua situa��o de seguran�a alimentar a partir de agosto. � considerado em inseguran�a alimentar um domic�lio com incerteza quanto o acesso � comida no futuro ou que j� apresenta redu��o de quantidade ou qualidade dos alimentos consumidos.

O levantamento mostrou que 59,4% dos domic�lios brasileiros estavam em situa��o de inseguran�a alimentar no fim de 2020. Considerando os n�meros totais, 31,7% relatou inseguran�a leve, 12,7% moderada, e 15% grave. Nesse caso, h� falta de alimento. As pessoas que convivem na casa, incluindo as crian�as, passaram fome.

Depois do Nordeste, a pior situa��o era a do Norte, com 67,7% de domic�lios em situa��o de inseguran�a alimentar. A regi�o em melhor situa��o foi a Sul, mas l� ainda assim mais da metade dos domic�lios (51,6%) estava em inseguran�a alimentar. Centro-Oeste (54,6%) e Sudeste (53,5%) tamb�m registraram n�meros altos.

Os dados refor�am a conclus�o da Pesquisa de Or�amentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) em setembro do ano passado. O estudo, pela primeira vez na s�rie hist�rica, indicou queda nos n�veis de seguran�a alimentar dos brasileiros. Os n�meros apresentados agora, contudo, mostram que a pandemia e a situa��o econ�mica do Pa�s nos �ltimos anos pioraram a alimenta��o dos brasileiros.

"O aumento ainda maior da inseguran�a alimentar, bem como a redu��o dr�stica no consumo regular de alimentos saud�veis, eram esperados por m�ltiplos fatores, de ordem econ�mica e pol�tica" avalia Renata Motta, professora de Sociologia na Universidade Livre de Berlim e uma das respons�veis pelo estudo. "Os efeitos da desacelera��o da economia desde 2015 n�o foram, como quando houve a queda do PIB com a crise financeira mundial de 2008, mediados por pol�ticas sociais antic�clicas de garantia da renda. A pandemia veio neste caldo e tornou ainda mais vis�veis as consequ�ncias das escolhas pol�ticas recentes do Pa�s."

O trabalho das universidades mostrou que 63% dos domic�lios entrevistados declararam ter utilizado o aux�lio emergencial em 2020 para compra de alimentos. Por isso, o fim do benef�cio, em dezembro, e seu retorno agora, em valores bem mais baixos, causam preocupa��o.

"A instabilidade da pol�tica de aux�lio emergencial, seu descontinuamento e seu corte significativo no valor e no universo t�m efeitos imediatos na vida das fam�lias que dependem deste aux�lio, pelo menos de duas grandezas: a limita��o do acesso a alimentos pela pr�pria redu��o do valor e tamb�m efeitos nas escolhas devido � preocupa��o de faltar dinheiro para comprar comida", pontua.

Cai consumo de alimentos de qualidade no Brasil

Outro ponto destacado pela pesquisa � a piora na qualidade do que os brasileiros comem. O estudo mostrou queda superior a 40% no consumo de carnes, frutas e queijos, e de 36,8% no de hortali�as e legumes.

"Alimentos como as carnes e frutas s�o considerados marcadores de alimenta��o saud�vel", ressalta a nutricionista e pesquisadora Melissa Ara�jo, da UFMG. "Al�m disso, indiv�duos em inseguran�a alimentar apresentam maior consumo de alimentos n�o saud�veis, como os ultraprocessados, de maneira que o comprometimento na qualidade da alimenta��o contribui para maiores riscos de agravos em sa�de como a obesidade, e, para as crian�as, d�ficit cognitivo e no desenvolvimento."