Desde o fim de fevereiro, pelo menos 543 pacientes com a covid-19 morreram na fila por leitos de enfermaria ou de UTI no Estado de S�o Paulo. Com o avan�o da pandemia, redes de sa�de em v�rias regi�es entraram em colapso, com dificuldade de dar conta da demanda crescente e esperas de dias ou superiores a uma semana.
De 67 munic�pios paulistas que responderam ao Estad�o sobre o tema entre sexta-feira, 9, e segunda-feira, 12, 39 registraram mortes de cidad�os que estavam com um pedido de transfer�ncia pendente na central que realiza as transfer�ncias na rede p�blica. A situa��o inclui cidades da Grande S�o Paulo, como Franco da Rocha (58), Tabo�o da Serra (46) e Diadema (20), e do interior, como Bauru (55), Mongagu� (13) e Fartura (2), de apenas 16 mil habitantes e localizada na divisa com o Paran�.
S�o Bernardo do Campo, no ABC Paulista, confirmou o primeiro �bito de um paciente com o novo coronav�rus que aguardava leito de UTI na ter�a-feira, 6. Segundo a prefeitura, o homem teve parada card�aca em decorr�ncia do agravamento do quadro cl�nico enquanto estava hospitalizado em Unidade de Pronto-Atendimento (UPA). Ele era obeso, fator de risco para a doen�a, e a idade n�o foi divulgada.
Em Ribeir�o Pires, tamb�m na Grande S�o Paulo, quatro �bitos nestas condi��es foram registrados em abril, al�m de outros 36 no m�s anterior. Em Itaquaquecetuba, foram sete neste m�s, ante os 18 registrados em mar�o. Em Tabo�o da Serra, por sua vez, os registros s�o de 32 �bitos nesta condi��es em mar�o e de outros 15 em abril, todos � espera de UTI.
Entre as v�timas no Estado, est�o tamb�m adultos jovens. No caso de Ribeir�o Pires, por exemplo, 13 das 40 mortes foram de pessoas entre 36 e 59 anos. J� em Jandira, do total de 16 �bitos na fila por leito, sete foram de paciente com idades entre 37 e 59 anos. Situa��o semelhante � de Caieiras, entre as 22 v�timas, estavam seis pessoas de 39 a 51 anos.
O tempo de espera varia. Em Guararema, por exemplo, um homem de 67 anos morreu em 29 de mar�o ap�s esperar vaga UTI por seis dias. Por sua vez, em Joan�polis, um idoso de 68 anos morreu em 13 de mar�o ap�s nove dias de espera.
Secret�ria de Sa�de de Diadema, Rejane Calixto conta que a press�o no sistema de sa�de teve leve redu��o, mas a demanda ainda � alta, tanto que a UTI 100% ocupada e a lota��o em enfermaria variou entre 90 e 95% nos �ltimos dias. "Do ponto de vista de ocupa��o dos leitos, a UTI continua lotada."
Segundo ela, o munic�pio chegou a enfrentar dias em que nenhum pedido de transfer�ncia para leitos de outras cidades foi atendido na central estadual de regula��o. "Essas semanas estavam muito duras para a maioria dos munic�pios. Ainda temos uma situa��o que n�o conseguimos remover o paciente (com agilidade)", comenta.
Em 17 de mar�o, outro levantamento do Estad�o havia identificado 90 mortes de pacientes que aguardavam leitos em 25 munic�pios de S�o Paulo. Na data, Tabo�o da Serra, por exemplo, tinha 14 registros de �bitos nestas condi��es, n�mero que subiu para 46. Em Franco da Rocha, os dados subiram de oito naquele momento para ao menos 58 at� sexta-feira passada.
A situa��o tamb�m � preocupante porque munic�pios est�o com estoques baixos ou at� zerados de sedativos, medicamentos para intuba��o e de oxig�nio medicinal. Al�m disso, como noticiou o Estad�o, algumas cidades chegaram a deixar de utilizar leitos de UTI vagos por falta de rem�dios e, por outro lado, diante da insufici�ncia de vagas, prefeituras t�m adaptado UPAs, prontos-socorros e at� postos de sa�de para atender pacientes de maior gravidade.
Os munic�pios que registraram mortes de pacientes � espera de transfer�ncia por leito e responderam � reportagem s�o: Ara�oiaba (3), Bauru (55), Bragan�a Paulista (63), Buri (34), Caieiras (22), Diadema (20), Fartura (2), Francisco Morato (14), Franco da Rocha (58), Guararema (4), Guarulhos (21), Itaquaquecetuba (25), Itapecerica (28) , Jandira (16), Joan�polis (1), Mau� (15), Mongagu� (13), Nova Granada (5), Po� (1), Ribeir�o Pires (40), Rio Grande da Serra (7), S�o Bernardo do Campo (1), S�o Caetano do Sul (12), S�o Carlos (9) e Tabo�o da Serra (46).
Al�m dos citados, levantamentos feitos pelo Estad�o em mar�o confirmaram �bitos nas mesmas condi��es em: Alum�nio (1), Ara�atuba (4), Cabre�va (1), Capela do Socorro (2), Dracena (3), Itajobi (1), Itapetininga (1), Itarar� (2), Jales (3), Nhandeara (1), Ouroeste (4), Santa Ad�lia (1), Sumar� (1) e Ur�nia (3).
Ao menos no caso de Bragan�a Paulista, o registro inclui residentes de outros 11 munic�pios do entorno. Segundo a prefeitura, 26 pessoas aguardavam interna��o na "regi�o bragantina" no �ltimo balan�o, de 12 de abril, dos quais 16 precisavam de UTI.
No Estado, a m�dia m�vel (calculada com base nos �ltimos sete dias) para as redes p�blica e privada era de 2.577 novas interna��es di�rias de casos suspeitos ou confirmados de covid na �ltima segunda-feira. Em 26 de mar�o, ela chegou ao pico, de 3.999, e agora est� semelhante � registrada h� um m�s, mas ainda � mais do que o triplo do in�cio de novembro. No geral, a ocupa��o � de 85,5% em UTI e de 66,1% em enfermaria.
Apesar da press�o sobre a rede hospitalar, a gest�o Jo�o Doria (PSDB) come�ou a afrouxar restri��es nesta semana. O Estado migrou da fase emergencial para a fase vermelha e permitiu a retomada de aulas presenciais e de torneios esportivos, al�m dos servi�os de drive-thru e take away no com�rcio. Cultos religiosos coletivos, lojas, shoppings, academias, bares e restaurantes continuam vetados.
Especialistas veem o relaxamento como precoce. "As melhorias nos indicadores citadas para justificar a medida podem ser entendidas como pequenas flutua��es, n�o relacionadas � fase emergencial, mas associadas � pr�pria din�mica do v�rus", disse Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeir�o Preto, ao Estad�o.
Em nota, a Secretaria Estadual da Sa�de destacou que a Central de Regula��o e Oferta de Servi�os de Sa�de (Cross), respons�vel pelas transfer�ncias nos leitos p�blicos, passou de cerca de 1,5 mil solicita��es por dia em mar�o para 1,4 mil neste m�s, "o que aponta para a tend�ncia de queda na demanda hospitalar observada tamb�m no n�mero de internados", destacou.
A pasta ressaltou que a demanda de mar�o foi 117% maior do que no pico da pandemia em 2020, em julho, cuja m�dia era de 690 pedidos. "A regula��o (atendimento � solicita��o) depende da disponibilidade de leitos e de condi��o cl�nica adequada para que o paciente seja deslocado com seguran�a at� o hospital de destino", acrescenta.
A nota ressalta, ainda, a amplia��o de leitos no Estado ao longo da pandemia, bem como a necessidade de a popula��o respeitar as recomenda��es do Centro de Conting�ncia e as diretrizes do Plano S�o Paulo, al�m de utilizar m�scaras e manter o distanciamento social. O n�mero de pedidos de interna��o em aberto no sistema n�o foi divulgado pela secretaria.
Situa��es semelhantes ocorrem em outras partes do Pa�s, embora os Estados n�o costumem contabilizar ou divulgar esse tipo de dado. Uma exce��o � o No Rio Grande do Norte, que teve ao menos 681 solicita��es de interna��o canceladas na pandemia por motivo de �bito.
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