Chance de morte por covid-19 � 4 vezes maior em pacientes com c�ncer de pulm�o

Pacientes com c�ncer de pulm�o t�m quatro vezes mais chances de morrer se forem infectados pelo novo coronav�rus, e a possibilidade dobra em casos de c�ncer hematol�gico. Os achados s�o de um estudo com 411 pacientes realizado pelo A.C.Camargo Cancer Center, que apontou ainda que o risco � maior para pessoas com mais de 60 anos e que est�o em tratamento ou recebendo cuidados paliativos.

No caso dos pacientes com c�ncer de pulm�o, a covid-19 pode ser mais letal por um conjunto de fatores.

"S�o pacientes que t�m comorbidades, como DPOC (doen�a pulmonar obstrutiva cr�nica), e tamb�m tem a quest�o do tabagismo, que � comum nesses pacientes. O tratamento j� � dif�cil e a covid ainda leva � insufici�ncia respirat�ria", explica Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estat�stica em C�ncer do hospital.

J� os pacientes com c�ncer hematol�gico seriam impactados pela baixa imunidade causada pelo tratamento, especialmente a quimioterapia.

"Neste estudo, relatamos que pacientes com c�ncer hematol�gico tiveram 2,17 vezes a chance de morte por covid-19, o que � paralelo aos resultados de um estudo do Reino Unido. Pensa-se que os pacientes com c�nceres hematol�gicos s�o mais vulner�veis a resultados graves devido � imunossupress�o", diz o estudo.

Maria Paula afirma que a pesquisa � importante para nortear os especialistas ao se deparar com pacientes com c�ncer infectados pelo v�rus.

"Se chegar um paciente com c�ncer hematol�gico ou de pulm�o, tem de ter uma estrat�gia mais cuidadosa, mais atualizada."

A administradora de empresas M�nica Cessari Poltronieri Chiaroni, de 52 anos, foi diagnosticada com um linfoma n�o-Hodgkin em abril do ano passado. No mesmo m�s, ap�s a primeira sess�o de quimioterapia, teve a covid-19 e passou um m�s internada.

"Foram idas e vindas entre a UTI e o quarto. Sentia cansa�o e n�o conseguia ir da cama para o banheiro, tomava banho sentada e tinha muita dor nas costas. N�o tinha posi��o. Deitada incomodava, sentada incomodava. Al�m da febre constante. Eu pensava: 'Era s� o que faltava estar lutando contra um c�ncer e morrer de covid'. "

De volta para casa, ainda testou positivo por duas semanas. "Sem febre, mas com um cansa�o muito grande."

Recuperada da covid-19 e com o c�ncer controlado - ela fez quimioterapia e um transplante -, M�nica diz que o isolamento no hospital � pior do que a restri��o de sa�das para n�o se infectar pelo v�rus.

"� triste querer sentir a vida e n�o poder. Quando sa� do hospital, meu filho foi me buscar e eu falava que queria sentir o vento bater no meu rosto. As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas, mas tudo vai ter seu tempo de volta, a balada vai voltar. Qualquer um pode pegar esse v�rus. Ele est� invis�vel, mas poderoso."

Ex-fumante e ainda em acompanhamento por ter tido um c�ncer de pulm�o em 2017, a aposentada Maria Margarida Cruz, de 78 anos, foi surpreendida pela covid-19 em fevereiro deste ano, mas teve uma boa evolu��o.

"Continuei sempre em acompanhamento, embora tenha tido um tumor muito pequeno. Tive muito cansa�o e muita sonol�ncia de dia. Depois, fiz o teste e deu positivo."

Ela s� sa�a de casa para ir � terapia. "A psic�loga fazia exame a cada 20 dias, tinha todo cuidado, mas acabou pegando."

Maria Margarida conta que ficou muito atenta aos sintomas e foi ao hospital assim que percebeu que a satura��o estava baixa.

"Meu normal era 92 ou 93 e caiu para 85. Fiz tomografia, mas meu pulm�o estava limpo. Internei por dois dias para recuperar satura��o, fiquei tomando oxig�nio. S� eu tive na minha fam�lia, e espero ter pego por todos."

Fluxo separado

Os dados, recolhidos entre abril e agosto do ano passado, foram publicados em fevereiro e tamb�m apontaram que condutas para conter a dissemina��o do v�rus em hospitais reduzem a mortalidade entre os pacientes com c�ncer.

No per�odo avaliado, a taxa de mortes no hospital foi de 12,4%. De acordo com o estudo, outros levantamentos apontaram taxas maiores ou semelhantes. O Montefiore Health System, nos Estados Unidos, e o Gustave Roussy, na Fran�a, apresentaram taxas de mortalidade de 28% e 15%, respectivamente. O Memorial Sloan Kettering Cancer Center, tamb�m nos Estados Unidos, teve taxa de 9%

"A gente sabia que o mais importante era dar o atendimento. N�o podemos abandonar o paciente com c�ncer, n�o pode ser exclu�do. Criamos o fluxo e comecei a investigar o que estava acontecendo nos outros centros de refer�ncia. No Inca (Instituto Nacional de C�ncer), a taxa estava em 33%. � poss�vel tratar paciente com c�ncer, com fluxo protegido e din�mico. E os pacientes t�m de se sentir seguros."