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Estado de Minas GERAL

Av� aprende a ler com aulas online do neto de sete anos em Santa Catarina


25/04/2021 16:57

Mesmo depois de trabalhar at� os 25 anos nas planta��es de milho, feij�o, arroz e fumo da fam�lia em Bom Retiro (SC), casar-se cedo e ter tido tr�s filhos em seguida, a dona de casa Marlene Hinckel nunca deixou de lado a vontade de aprender a ler e escrever. Era um sonho, como uma foto que a gente coloca no espelho do banheiro para inspirar a batalha de todo dia. Era tamb�m uma necessidade pr�tica. No mercado, ela n�o sabia a diferen�a entre o xampu e o condicionador. A chance de aprender surgiu na pandemia. Aos 63 anos, ela est� se alfabetizando nas aulas virtuais do neto de 7 anos.

A oportunidade apareceu no turbilh�o de mudan�as que as fam�lias tiveram de fazer para cuidar dos idosos, o grupo mais vulner�vel no in�cio da pandemia. A filha Karina Hinckel, de 40 anos, deixou o emprego de gerente de Enfermagem para olhar a fam�lia mais de perto. Ela passou a visitar a m�e com uma frequ�ncia maior. Embora goste de morar sozinha, dona Marlene j� estava deprimida com o isolamento da pandemia. As duas est�o separadas por 40 minutos. Karina tamb�m estava preocupada com a alfabetiza��o de Eduardo, filho �nico. O pai, o f�sico Rinaldo Henrique, viaja com frequ�ncia. Foi a� que neto e av� se tornaram parceiros de escola.

O menino fazia o 1� ano do ensino fundamental na unidade Estreito do Col�gio Adventista de Florian�polis. A av� ficava com um olho nele e outro nas aulas online na tela do notebook. As li��es come�aram a fazer sentido para os dois, ao mesmo tempo. "Pensei comigo: o Eduardo, com sete aninhos, est� aprendendo. Eu vou aprender tamb�m. Hoje, estou conseguindo entender as coisas". �s sextas-feiras, havia um projeto pedag�gico chamado "Super Leitor" no qual as crian�as liam textos que a professora escolhia. Era uma das atividades preferidas da dupla. "Ele est� lendo cada dia melhor e logo aprendeu a ler e escrever. Eu ainda estou tentando. As primeiras palavras foram dado, dia, lua, dedo e casa", recorda.

De acordo com os educadores, a participa��o dela nas atividades online era informal, como uma esp�cie de aluna ouvinte. Depois, come�ou a perguntar. Logo estava fazendo as atividades do neto. Hoje, ela tem seu pr�prio caderno e seu material de estudo. A av� n�o come�ou do zero. Antes da pandemia, Marlene frequentava as aulas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Municipal Batista Pereira, em Ribeir�o da Ilha. As aulas foram interrompidas e ainda n�o t�m data para retornar. "O EJA foi fundamental para tudo isso. O apoio veio da escola, das professoras, por isso que ela n�o quis desistir e est� indo em frente", diz a filha.

Karina apoia os dois - a explica��o dada para um acaba ajudando o outro. Eduardo pega rapidinho. "Passo atividade no caderno para ela fazer, principalmente para diferenciar as s�labas simples das complexas. A� est� a dificuldade maior. Como explicar 'ba', 'bra' e 'bla' para quem aprendeu a falar essas s�labas do mesmo jeito desde a inf�ncia? Para ela, todas t�m o mesmo som". A pr�pria aluna admite que o processo � lento, cheio de idas e vindas. "� muito dif�cil. D� inseguran�a. �s vezes parece que esque�o tudo o que aprendi, mas quero muito aprender e um dia pegar um livro e ler sem precisar de algu�m para me corrigir", planeja.

Passado

Em um mundo dominado pela comunica��o � f�cil imaginar como a sexagen�ria est� descobrindo novas realidades. E at� um novo jeito de viver. Por muitos anos, ela conta que "passou vergonha" perguntando endere�os na rua mesmo estando diante do lugar aonde queria ir. N�o sabia ler fachadas e letreiros. Tinha dificuldades nos �nibus, viveu pela metade. Hoje, faz as leituras religiosas em casa, ritual di�rio com a fam�lia, identifica os r�tulos no mercado (xampu e condicionador, principalmente) e esmerilha no Whatsapp. "Aprendi a usar o celular e sei at� mandar mensagem de texto. Antes era s� voz", orgulha-se.

Marlene est� longe de ser um caso isolado. Cerca de 16 milh�es de pessoas n�o sabem ler nem escrever, segundo dados do Mapa do Analfabetismo no Brasil. E a maior parte dessas pessoas est� acima dos 60 anos de idade. As raz�es s�o as mesmas da catarinense: o trabalho desde cedo, as poucas oportunidades e a dist�ncia das escolas. "Meus pais acharam melhor eu trabalhar na ro�a do que ir estudar. Era longe da escola", conta. Nesse sentido, a trajet�ria de Marlene � um acerto de contas com sua pr�pria hist�ria. "Meus pais me tiraram da escola para eu ficar ajudando em casa. Eles n�o me deram estudo, mas eram uma boa fam�lia", resigna-se.

Hoje, os Hinckel vivem novas mudan�as. Como as escolas particulares de Santa Catarina j� retomaram as aulas presenciais, Eduardo voltou a se sentar nas cadeiras do col�gio. Por ora, a av� perdeu seu parceiro de leitura. Mas ela continua recebendo o conte�do pedag�gico do col�gio e agora conta com dois "professores" em casa. Karina conta que o neto Eduardo � exigente na hora de tirar a li��o da av�.


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