A escalada de viol�ncia em terras ind�genas tem ganhado for�a pelo Pa�s, com o avan�o do desmatamento, da grilagem de terras e do garimpo ilegal. Os epis�dios ocorridos nesta semana em Roraima, onde garimpeiros armados dispararam balas de fuzil contra o povo Ianom�mi, se somam �s evid�ncias do recrudescimento das invas�es em �reas demarcadas.
Nas margens do Rio Tapaj�s, no Par�, onde vivem mais de 14 mil ind�genas das etnias Munduruku e Apiac�, os crimes t�m acelerado a contamina��o das �guas e a prolifera��o de doen�as, como mal�ria e covid. O Estad�o teve acesso a um estudo realizado por institui��es ambientais que formam o Comit� Nacional em Defesa dos Territ�rios Frente � Minera��o. Durante seis meses, quatro pesquisadores do comit� reuniram dados oficiais do governo para analisar o impacto das invas�es da terra ind�gena Munduruku, localizada no munic�pio de Jacareacanga, entre Mato Grosso e Par�. A fotografia extra�da desse cen�rio revela fragilidades que hoje corroem a vida das 145 aldeias da regi�o.
S� em 2020, uma �rea equivalente a mais de 2 mil campos de futebol foi desmatada dentro das terras Munduruku e Sai Cinza, no Alto Tapaj�s. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam a derrubada de 2.052 hectares de floresta. A raz�o dessa concentra��o de crimes nas terras demarcadas � simples: dentro das terras ind�genas � que est�o de p�, ainda, as �rvores mais nobres, como o ip�. E � nessas terras que est�o cobi�adas jazidas de ouro, como em Jacareacanga e Itaituba, no M�dio Tapaj�s.
O desmatamento na regi�o em 2020 supera o volume j� alarmante de 2019, quando 1.835 hectares de floresta foram devastados na terra Munduruku. Na vizinha terra Sai Cinza deu-se uma explos�o de desmatamento, de 16 hectares em 2019 para 304 hectares em 2020.
Doen�as. Com o avan�o dos madeireiros e do garimpo, as doen�as invadiram as aldeias. Os dados do estudo "O cerco do ouro: garimpo ilegal, destrui��o e luta em terras Munduruku" mostram que, em menos de um ano, 31 ind�genas morreram de covid-19. Surtos de mal�ria tamb�m se espalharam, al�m da contamina��o por ingest�o de merc�rio.
O material, que � usado ilegalmente para extrair o ouro de outros sedimentos, tem contaminado as �guas utilizadas pelos �ndios - principalmente com a alimenta��o por peixes. Um estudo de 2020 da Fiocruz e da WWF Brasil detectou n�veis de merc�rio em todos os ind�genas da regi�o. De cada dez participantes, seis apresentaram n�veis de merc�rio no corpo acima de limites seguros.
Dados do Minist�rio da Sa�de indicam ainda que, entre 2018 e 2020, houve forte crescimento de casos de mal�ria, comorbidade que pode se agravar em casos de contamina��o por covid. Os casos dessa doen�a entre os ind�genas passaram de 645 para 3.264 notifica��es. O per�odo coincide com os surtos de garimpo e o aumento das invas�es.
Ouro
"As mudan�as tecnol�gicas na explora��o mineral observadas na �ltima d�cada n�o ampliam s� a capacidade de produ��o de ouro nos garimpos ilegais, mas tamb�m a capacidade de destrui��o dessa atividade. Com a inser��o de retroescavadeiras, viabilizadas por ricos empres�rios, vemos a mudan�a ineg�vel no perfil da garimpagem, que passa a promover grande dano a terras e comunidades", diz Lu�sa Molina, antrop�loga da UnB e uma das coordenadoras do estudo.
O ge�grafo Luiz Jardim Wanderley, especialista em minera��o, afirma que houve, de fato, um aumento de casos de viol�ncia e invas�es nos �ltimos dois anos. Questionada, a Funai limitou-se a declarar que "desconhece o estudo mencionado" e "n�o comenta levantamentos extraoficiais" - mesmo informada de que os dados s�o de fontes do pr�prio governo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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