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A declara��o de Salgado, em Paris, foi feita na v�spera de uma opera��o deflagrada pela Pol�cia Federal, na quarta-feira (19/05), autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que visa o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, servidores como o presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis), Eduardo Bim, e empres�rios do setor madeireiro. H� suspeitas de exporta��o ilegal de madeira brasileira.
Na decis�o que determinou a abertura da investiga��o, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, afirma que h� ind�cios que sinalizam a exist�ncia de um grave esquema de facilita��o ao contrabando de produtos florestais.
Salgado afirma ter tido apoio do Judici�rio brasileiro quando lan�ou com
sua mulher, L�lia Wanick Salgado, em maio do ano passado, um manifesto pedindo aos tr�s poderes a��es para proteger os �ndios da Amaz�nia contra o v�rus da covid-19. A peti��o ganhou a ades�o de dezenas de personalidades internacionais.
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"O �nico poder que nos respondeu foi o Judici�rio, que teve uma participa��o muito s�ria", acrescenta Salgado. O STF determinou que o governo federal adotasse medidas para conter o avan�o da pandemia entre ind�genas.
Para o fot�grafo, considerado um dos maiores da atualidade, o governo do presidente Jair Bolsonaro tem o objetivo de acabar com as institui��es que atuam na preserva��o da floresta. Ao mesmo tempo, diz ele, h� uma frente de resist�ncia no Brasil, que tem o Judici�rio como grande aliado na preserva��o do bioma amaz�nico.
Salgado estima que o desmonte das institui��es ambientais � provis�rio e acabar� com o fim do governo Bolsonaro. "Elas est�o temporariamente paralisadas trabalhando para o lado mau da na��o. Elas voltar�o a ser o que sempre foram", afirma o fot�grafo, acrescentando que se n�o fosse a Funai (Funda��o Nacional do �ndio), ele jamais teria feito a atual exposi��o, para a qual visitou dez povos ind�genas.
"A Funai, que sempre foi uma institui��o de prote��o � popula��o ind�gena e era dirigida por antrop�logos e soci�logos, hoje protege o agroneg�cio destruidor e � comandada por um policial federal sem nenhuma qualifica��o para o cargo", diz ele, acrescentando que o mesmo ocorre com o Ibama, que "n�o tem mais nenhuma capacidade de press�o e controle".
Em nota, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, afirmou que "a declara��o do fot�grafo Sebasti�o Salgado, cumpre esclarecer que, quando dirigida por antrop�logos e soci�logos, a Funda��o Nacional do �ndio (Funai) acumulou uma s�rie de problemas, fruto de d�cadas de fracasso da pol�tica indigenista brasileira que, no passado, era guiada por interesses escusos, falta de transpar�ncia e forte presen�a de organiza��es n�o-governamentais. Um cen�rio dominado por intermedi�rios, no qual os ind�genas eram feitos de massa de manobra".
Xavier disse ainda n�o h� dem�rito no fato de a Funai ser comandada por um policial federal, "dado que a Pol�cia Federal tem um dos maiores �ndices de reconhecimento no combate � corrup��o, que tanto assolou o pa�s em governos passados. Da mesma forma, n�o h� dem�rito em ila��o de proximidade com o agroneg�cio, uma vez que tal atividade � fundamental para a garantia da seguran�a alimentar, principalmente em tempos de pandemia."
O presidente da Funai disse que o �rg�o tem atuado com medidas pr�ticas de apoio � popula��o ind�gena. Ele cita como exemplo a entrega de cerca de 650 mil cestas b�sicas a aldeias de todo o pa�s desde o in�cio da pandemia.
Xavier ainda faz cr�ticas ao fot�grafo.
"Muito me admira que um profissional da fotografia, sem forma��o em antropologia ou sociologia, se sinta � vontade para opinar sobre a condu��o da pol�tica indigenista do Estado Brasileiro, bem como sobre a forma��o do dirigente atual da Funai."
"O governo Bolsonaro � mau. As propostas dele s�o todas ruins, seja contra negros, mulheres, ind�genas ou ainda a de armar o povo brasileiro. S�o todas propostas profundamente violentas. Espero que esse mal seja curado nas pr�ximas elei��es", ressalta o fot�grafo.
'Honestidade planet�ria'
Apesar de considerar que o governo Bolsonaro � "predador" e que ele facilita o desmatamento da Amaz�nia (ao reduzir a fiscaliza��o, flexibilizar normas e dar est�mulo a atividades ilegais), Salgado afirma que a destrui��o da floresta come�ou h� 40 e que a maior parte ocorreu antes da chegada do atual presidente ao poder.
O governo Bolsonaro argumenta que o desmatamento tem crescido quase continuamente desde 2012, ainda no governo Dilma Rousseff. Cr�ticos de sua gest�o ressaltam que o problema se agravou nos �ltimos dois anos.
Salgado considera que falta "honestidade planet�ria" e um desejo real de prote��o desse espa�o. Segundo ele, a destrui��o da floresta acontece por causa da sociedade de consumo.
Ele afirma que uma grande parte da destrui��o da Amaz�nia � para produzir carne e soja, que nesse caso serve para alimentar vacas e porcos "franceses, chineses e russos." A demanda por madeira da Amaz�nia tamb�m deveria acabar, diz o fot�grafo, citando a utiliza��o do ip� brasileiro em uma importante biblioteca em Paris.
O acordo Mercosul-Uni�o Europeia — aprovado em 2019, mas com a ratifica��o paralisada na Europa justamente por conta da pol�tica ambiental do governo brasileiro — resultar�, diz ele, no aumento do consumo europeu de produtos agr�colas brasileiros a pre�os baixos, sendo que uma grande parte disso favorecer� a destrui��o da Amaz�nia.
"N�s precisamos do apoio do planeta, da press�o pol�tica de todos os pa�ses, da press�o econ�mica sobre o governo Bolsonaro para proteger esse bioma."
Segundo o fot�grafo, deveria haver boicotes de produtos oriundos do desmatamento da floresta. "Precisamos que o mundo inteiro tenha pol�ticas respons�veis e que seus consumidores sejam honestos. Caso contr�rio ser� muito dif�cil proteger a Amaz�nia."
Imers�o na floresta
Realizada em um momento em que recordes de desmatamento v�m sendo sucessivamente batidos, a exposi��o Amaz�nia, exibida na Filarm�nica de Paris, "� uma nova apresenta��o" da regi�o, diz Salgado.
As mais de 200 fotografias mostram a diversidade das paisagens, a come�ar por suas montanhas, que quase ningu�m conhece, al�m do modo de vida de diferentes tribos.
Salgado fotografou as montanhas da Serra do Imeri, onde est�o os picos mais altos do Brasil, fez imagens a�reas dos rios, tiradas de helic�pteros durante miss�es do Ex�rcito, e chegou at� a criar um est�dio na mata para fotografar os �ndios, al�m de reunir testemunhos de lideran�as ind�genas sobre a necessidade de preservar suas culturas e suas terras.
A cenografia da exposi��o, realizada por L�lia Wanick Salgado, curadora da mostra, garante logo na entrada uma imers�o na floresta: a sensa��o do visitante � de se embrenhar na mata ao percorrer os espa�os sinuosos entre as fotos suspensas.
A escolha da Filarm�nica de Paris n�o foi por acaso. A exposi��o de Salgado conta com uma trilha sonora criada para a mostra pelo compositor franc�s Jean-Michel Jarre, que utilizou arquivos sonoros da Amaz�nia que integram o acervo do museu Etnogr�fico de Genebra.
H� tamb�m duas salas com proje��es de mais de uma centena de fotos, acompanhadas da m�sica Eros�o, de Heitor Villa-Lobos, e de uma composi��o de Rodolfo Stroeter.
Salgado iniciou em 2013 suas in�meras viagens � Amaz�nia, que duraram at� 2019, para realizar essa mostra. Ela pode ser considerada uma continuidade de seu trabalho Genesis, que mostravam �reas do planeta ainda n�o afetadas pela civiliza��o.
A exposi��o mostra a beleza da floresta, sob o olhar est�tico de Salgado, refor�ando a ideia de que isso deve ser preservado. Antes de entrar nesse espa�o, o visitante pode observar um mapa mostrando as �reas de reservas ind�genas, terras da Uni�o, unidades de conserva��o e as zonas desmatadas, que representam atualmente 17,25% da Amaz�nia.
"Amaz�nia" seguir� para outras cidades no segundo semestre deste ano: S�o Paulo, Rio de Janeiro, Roma e Londres e o roteiro poder� ser ampliado.
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