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Estado de Minas GERAL

'O negacionismo atrapalha ado��o de medidas sanit�rias'


30/05/2021 16:10

Mesmo com o Pa�s caminhando para a marca de 500 mil mortes em decorr�ncia da pandemia da covid-19, cenas de aglomera��o e um certo descaso com os protocolos sanit�rios podem ser flagrados quase diariamente. Por que muitos se sentem ainda invulner�veis ao v�rus? Como podemos explicar esse negacionismo que parece nos rodear? O Estad�o conversou a respeito com Daniel Kupermann, psicanalista, professor livre docente do Departamento de Psicologia Cl�nica do Instituto de Psicologia da Universidade de S�o Paulo (USP).

O Brasil est� caminhando para 500 mil v�timas da covid-19. Ainda assim, existe um comportamento de parcela da sociedade que parece refor�ar a ideia do "isso nunca vai acontecer comigo". O que leva a esse tipo de pensamento e comportamento?

Freud (Sigmund Freud, pai da psican�lise) usa essa formula��o em um texto em que ele trabalha a figura do her�i. Vamos colocar assim: em um filme do 007 ou do Tom Cruise, os personagens principais nunca v�o morrer, a gente sabe disso. Nos identificamos narcisicamente com isso. E por que o her�i ficcional nos seduz? Exatamente porque queremos acreditar que "nada vai me acontecer" e "somos indestrut�veis". Essa ideia de que "nada vai me acontecer" faz parte da nossa constitui��o infantil.

E admitir que somos vulner�veis vai contra essa constitui��o.

Freud se refere a isso como "idealiza��o". N�s investimos em objetos que s�o idealizados. E o primeiro objeto da nossa idealiza��o � o nosso pr�prio eu. A gente tamb�m transporta isso para Deus - com a ideia de que "Deus nos protege". Essa ilus�o implica nega��o da vulnerabilidade humana, da finitude humana. Trata-se de um paradoxo - j� que essa nega��o � fundamental. Agora, existem graus diferentes de nega��o.

E quais seriam?

Tem quem n�o p�e o p� na rua, tem gente que vai apenas ao mercado ou � farm�cia, tem que pega avi�o e tem aqueles que v�o para o bar. Essa defesa � necess�ria para viver. Se a gente acordar pensando que vai morrer, a vida vira um inferno. Esse � um processo que faz parte da nossa constitui��o ps�quica normal. Cada um de n�s nega a nossa mortalidade para poder viver. Mas, e isso � importante, buscamos, racionalmente, as condutas mais adequadas para nos protegermos, como cuidar da sa�de, fazer gin�stica, se tratar. Um n�vel de negacionismo � preciso. O problema � quando isso vira uma pol�tica de Estado, quando o negacionismo transforma-se em discurso oficial.

� o nosso est�gio no Brasil?

No nosso caso � uma vis�o de mundo governamental, institucionalizada. Por que � um problema? Porque confunde as pessoas. � como se isso provocasse o incremento do nosso processo de defesa (que n�o deixa de ser infantil). Ele cria uma ilus�o socialmente compartilhada de que nada vai nos acontecer, que n�o precisamos tomar as medidas sanit�rias, que a vida est� normal. O negacionismo institucionalizado aumenta o nosso lado infantil e ilus�rio. A gente come�a a duvidar das percep��es.

Esse negacionismo pode ser classificado?

O negacionismo ilus�rio brasileiro tem um elemento de virilidade. Uma ideia de sele��o natural, de que o v�rus vai poupar os mais fortes e de que a culpa � de quem morre. Esse negacionismo dificulta at� o luto. O morto vira o culpado. Ele morreu porque ele � fraco. Esse mito da virilidade ficou escancarado naquele ato de motoqueiros em defesa do presidente. Mas, o que a gente vive no Brasil hoje � uma confus�o de l�nguas. A Ci�ncia diz uma coisa, o presidente diz outra, a religi�o diz outra... e o cidad�o vai ficando confuso. N�o existe um consenso baseado naquilo que sustenta nossa sociedade. � o negacionismo institucionalizado que cria essa confus�o, que serve para desresponsabilizar os �rg�os, as autoridades que deveriam proteger os cidad�os. Se eu n�o sei a origem do problema, eu n�o aponto o respons�vel. Isso � o que a gente est� vendo no Brasil. Por isso, o presidente disse que n�o tem nada a ver com isso, que "as pessoas morrem mesmo ou que todo mundo vai morrer um dia". O objetivo � causar confus�o. E essa confus�o � traum�tica. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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