
Antes de assassinar uma fam�lia inteira no Incra 9, em Ceil�ndia, L�zaro Barbosa de Sousa, 32 anos, traumatizou outra fam�lia. Ao invadir uma ch�cara no Sol Nascente, em 2009, o homem contou com o apoio do irm�o para prender todos e sequestrar uma jovem de 19 anos. Em entrevista ao Correio, a v�tima, que hoje tem 30 anos, lembra dos momentos tensos que passou nas m�os do algoz. Al�m de ficar sob a mira de uma arma, ela foi estuprada por, pelo menos, tr�s horas.
Entenda a investiga��o sobre o caso L�zaro
Entenda a investiga��o sobre o caso L�zaro
A mulher, que prefere n�o ser identificada, lembra que o dia come�ou como todos os outros, no pesque-pague onde morava e trabalhava. “Tudo ocorreu na ch�cara. Est�vamos tranquilos em casa quando o L�zaro e o irm�o dele, Deusdete (que est� morto), invadiram com armas e fac�es”, diz. O ataque ocorreu por volta das 2h. Eles ficaram cerca de uma hora na casa procurando dinheiro e itens para roubar. “Eu, tios e primos ficamos o tempo todo sob a mira das armas, apanhando e sendo xingados por eles.”
Como n�o encontraram dinheiro, L�zaro e o irm�o prenderam os integrantes da casa no banheiro. “Nos mandaram tirar a roupa e trancaram todos no banheiro. Continuaram procurando coisas e at� tentaram roubar os quatro carros que estavam no local, mas n�o conseguiram”, relata a v�tima. Ela acredita que a frustra��o irritou os irm�os.
Sem conseguir roubar itens muito valiosos, os dois voltaram ao banheiro e pegaram apenas a jovem. J� despida, a mulher foi levada pelos irm�os at� o C�rrego das Corujas, que fica pr�ximo da regi�o. O local � o mesmo onde o corpo de Cleonice Marques, 43 anos, uma das pessoas mortas por L�zaro, em 9 de junho, foi encontrado no �ltimo s�bado. “A� come�ou o terror”, diz a mulher violentada h� 12 anos.
“Al�m de me baterem, continuarem me diminuindo como mulher, xingando a todo tempo, infelizmente, eles me violentaram. Me estupraram. Era amea�ada o tempo todo”, lembra. Ela conta que chegou a tentar conversar com os homens, mas eles s� a deixaram ir quando viram um helic�ptero da pol�cia. “Ficaram muito nervosos. Eles me mandaram levantar e dar 10 passos para frente. Tinha certeza de que ia morrer, de que atirariam em mim”, conta. Por�m, quando ela olhou para tr�s, os homens estavam fugindo. Ap�s isso, L�zaro s� foi preso em Piren�polis (GO), onde ela foi reconhec�-lo.
Mudan�as
Depois do ocorrido, a mulher e a fam�lia sa�ram da ch�cara e da regi�o. “Foi um momento muito traum�tico, n�o conseguia mais entrar em casa. Mudou muito minha cabe�a”, conta. Apesar disso, felizmente, ela conseguiu seguir bem a vida. “Depois, tive uma filha com meu esposo, estava morando em outra regi�o. At� que lidei bem com isso, achava que ele estava preso”, afirma.
Por�m, a sensa��o de paz, s� durou at� o nome e o rosto de L�zaro dominarem os notici�rios. “Fiquei assustada, com medo de reencontr�-lo. N�o sei como um homem desse est� fora da cadeia”, diz. Mesmo sem ter encontrado o agressor novamente, ela sente os impactos psicol�gicos. “Estou h� tr�s dias sem dormir”, diz, emocionada. Angustiada, ela espera que L�zaro seja capturado o mais breve poss�vel.
Outro estupro
Al�m desse estupro em 2009, em 26 de abril deste ano, L�zaro violou sexualmente outra mulher. A v�tima de 39 anos, estava em casa, no Sol Nascente, com o marido e o filho quando, por volta das 2h, L�zaro invadiu o local. Ele prendeu os homens em um quarto e roubou os celulares de todos. Depois, levou a mulher a uma �rea de mata fechada, onde a estuprou. Depois, foi embora e estava foragido desde ent�o.
A Delegacia Especial de Atendimento � Mulher 2 (Deam 2) ficou respons�vel pelo caso. “Ele agiu do mesmo jeito (nos crimes). Ele estava armado e abusou da v�tima com graves amea�as e viol�ncias”, diz a delegada-chefe da unidade, Adriana Romana. Segundo ela, uma das provas que a equipe tem confirma a autoria do crime. “A evid�ncia foi confirmada no mesmo dia em que ocorreu a chacina no Incra 9”, completa.
A delegada conta que essa v�tima est� muito abalada. “Al�m de ser muito recente, quando surgiram esses outros crimes dele e essa busca por ele, ela ficou muito mais fr�gil”, diz Adriana. Ela afirma que as investiga��es desse caso ainda est�o em andamento, mas refor�a que a pol�cia est� convicta da autoria de L�zaro.
No oitavo dia de buscas, foi divulgado um v�deo do momento em que os �ltimos ref�ns de L�zaro Barbosa de Sousa, 32 anos, foram resgatados pela pol�cia. Nas imagens � poss�vel ver quando os agentes de seguran�a avistam as tr�s pessoas pr�ximas a um c�rrego, em Edil�ndia (GO). “As v�timas est�o bem”, avisa um dos policiais que participou do resgate. O v�deo � da �ltima ter�a-feira, quando L�zaro invadiu uma ch�cara na regi�o e fez a fam�lia ref�m.
Nas imagens, os policiais entram no c�rrego e os familiares s�o libertados por L�zaro. O homem trocou tiros com a pol�cia e baleou um policial militar do Estado de Goi�s de rasp�o no rosto. O PM foi socorrido no Hospital de An�polis pelo helic�ptero do Corpo de Bombeiros.
Um dia antes de a fam�lia se tornar ref�m, os policiais estiveram na ch�cara enquanto buscavam pelo foragido. Um dos agentes deixou o n�mero de celular para a fam�lia. Quando L�zaro invadiu a resid�ncia, durante a tarde de ter�a-feira, um policial penal recebeu a mensagem da filha dos propriet�rios. O texto dizia: “Socorro, o assassino L�zaro est� aqui”.
A menina teria ouvido um barulho estranho e avistou o suspeito de longe, quando correu, se escondeu debaixo da cama e, assim, conseguiu enviar a mensagem. Os policiais chegaram poucos minutos depois e se depararam com L�zaro mantendo tr�s pessoas como ref�ns. O suspeito disparou contra um dos integrantes da equipe e fugiu por dentro da mata.
Dois ataques em 15 dias
Antes de cometer os assassinatos de 9 de junho, L�zaro Barbosa de Sousa, 32 anos, teve um primeiro contato com a fam�lia Vidal. Segundo amigos dos parentes de Cl�udio Vidal, 48, Gustavo Marques Vidal, 21, Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, e Cleonice Marques, 43, mortos na chacina, L�zaro invadiu, 15 dias antes do crime, a casa de um irm�o de Cl�udio. A resid�ncia fica ao lado da casa onde a fam�lia foi morta, duas semanas depois.
Um homem de 63 anos que trabalha com a fam�lia h� cerca de tr�s d�cadas e pediu para n�o ser identificado conta que L�zaro, na �poca, invadiu o local, fez tr�s pessoas ref�ns e fez com que cozinhassem para ele. Depois, ele apenas foi embora. “Meia-noite, ele foi embora. O restante da fam�lia n�o ficou assustada porque ele n�o feriu ningu�m e n�o esperavam que ocorresse de novo. Por isso, n�o pensaram em refor�ar a seguran�a ou tomar alguma provid�ncia semelhante”, conta.
Cerca de duas semanas depois, a fam�lia foi surpreendida com um novo ataque de L�zaro. Como os irm�os de Cl�udio moravam no mesmo terreno, eles chegaram rapidamente ao local, mas a chacina j� tinha ocorrido. “Foi muito r�pido. Um dos irm�os disse que recebeu uma liga��o de Cleonice pedindo socorro, pois estariam invadindo. Na mesma hora, ele ligou para o sobrinho, que estava na outra casa, e os dois foram tentar socorr�-la. Quando eles chegaram, todos estavam mortos e a Cleonice, desaparecida”, conta o homem.
Ap�s o desenrolar dos fatos e do vel�rio das v�timas, os parentes sa�ram do terreno no qual o crime ocorreu. “Eles alugaram casas em outros locais do DF e est�o retirando os pertences daqui. V�o definir se vendem o que constru�ram aqui”, diz o amigo da fam�lia. Ainda segundo ele, a casa de Cleonice e Cl�udio deve ser demolida. “Foi um trauma muito grande, ningu�m vai aguentar morar na casa. O neg�cio deles, ningu�m deve assumir tamb�m, devem vender”, completa. O homem conta que ficou assustado com o ocorrido. “Eles eram fortes. N�o consigo acreditar que um homem s� conseguiu fazer esse estrago todo”, diz.
Medo
Al�m do medo da fam�lia das v�timas, os trabalhadores, que, por enquanto, permanecem no local, sentem-se amedrontados. “Claro que temos medo. Vai que esse cara volta para c� e n�s estamos aqui”, disse um dos homens que est�o no terreno. Pelo temor, eles preferem permanecer no anonimato. “Ficamos pensando como que n�o o pegaram at� agora”, continua.
Atualmente, os port�es das casas da fam�lia, assim como o neg�cio deles, permanecem fechados. Na resid�ncia, os trabalhadores contam que a fam�lia juntou os itens pessoais, mas ainda h� coisas para tirar. Por seguran�a, os parentes n�o contaram onde est�o morando e n�o deixaram contatos.