
A marca de 500 mil mortes pela COVID-19 no Brasil, no cen�rio de vacina��o lenta, baixa ades�o �s medidas de isolamento social e sem pol�ticas nacionais de testagem em massa, gerou rea��o de autoridades e pol�ticos ontem. O ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, manifestou, no Twitter, sua solidariedade �s mais de 500 mil pessoas que morreram pela COVID-19 no Brasil. O Brasil alcan�ou a triste marca de 500.022 mortes ontem. “500 mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo. Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo poss�vel e mudar esse cen�rio que nos assola h� mais de um ano”, afirmou o ministro em sua rede social.
"Presto minha solidariedade a cada pai, m�e, amigos e parentes, que perderam seus entes queridos", completou Queiroga, que � o quarto ministro da Sa�de do pa�s desde o come�o da pandemia. J� passaram pela cadeira Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e o general Eduardo Pazuello. Seus antecessores tamb�m se manifestaram sobre marca nefasta. “Meio milh�o de mortos. � dor demais. A aus�ncia de lideran�a n�o apenas provocou uma trag�dia muito maior do que deveria ser, como j� prepara a ressaca futura. Dever�amos estar planejando o p�s-vacina e a repara��o da sociedade em todas as �reas atingidas. Mas seguimos � deriva," escreveu Mandetta.
J� Nelson Teich escreveu nas redes sociais: “Deixo aqui uma mensagem de carinho e respeito para as fam�lias dos mais de 500 mil brasileiros que morreram pela Covid-19. Esse n�mero retrata o quanto precisamos melhorar a efici�ncia do combate � Covid-19 e do sistema de sa�de como um todo." At� as 20h, o presidente Jair Bolsonaro ainda n�o havia se pronunciado sobre as 500 mil mortes. Bolsonaro passou a manh� no Rio e voltou a Bras�lia no in�cio da tarde.
No Senado, onde a CPI da COVID investiga acusa��o de omiss�o do governo federal no combate � pandemia e irregularidades no repasse de verbas a estados e munic�pios, o presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) manifestou seu pesar pelas v�timas. “Meus sinceros sentimentos �s 500 mil fam�lias brasileiras que perderam algu�m para a Covid- 19. Uma enorme tristeza nacional. Vamos manter o foco na preven��o e na vacina para todos”, disse Pacheco. “O presidente Bolsonaro idealizou a sua mais ousada e infame rachadinha: dividir o pa�s entre cloroquina e vacina. A rachadinha do negacionismo � aposta que gerou resultado: meio milh�o de mortos. At� agora. #VacinaParaTodos.”, escreveu Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.
Para o vice-presidente CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), “alcan�amos hoje a tr�gica marca de 500 mil perdas p/a COVID-19, entre esses, milhares de amapaenses. S�o nomes, rostos, olhares, sorrisos que deixaram saudades e vazios imensos. Se hoje lutamos por vacina na CPI, � para que nosso povo n�o chore mais mortes. O luto n�o tem fim!”. Aliado do governo Bolsonaro na CPI da COVID, o senador Marcos Rog�rio lamentou a triste marca. “500 mil vidas. 500 mil hist�rias interrompidas. N�o h� palavras suficientes para lamentar essa terr�vel trag�dia. Minha solidariedade �queles que perderam familiares e amigos. Estou com voc�s em ora��o, para que Deus conforte e nos d� for�a para enfrentar esse momento.”
Advers�rio pol�tico do presidente, o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), expressou sua tristeza nas redes sociais. “Meio milh�o de fam�lias devastadas. � a mais triste marca da hist�ria do nosso pa�s. Um sentimento de vazio e indigna��o invade meu cora��o. � inadmiss�vel perdermos pessoas para um v�rus sabendo que j� havia uma vacina. Morreram pelo descaso. [...] Tem gente que pode at� negar que a terra seja redonda, mas eles n�o podem negar que a vacina � a solu��o. Temos pressa. O Brasil tem pressa”, disse o governador. “O �nico caminho para que mais fam�lias n�o chorem perdas e para voltarmos a trabalhar com tranquilidade � vacinar", acrescentou.
Aliado de Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Cl�udio Castro (PT), manifestou “solidariedade a cada uma das fam�lias dos 500 mil brasileiros mortos pela COVID-19. Estamos vivendo uma grande batalha contra esse v�rus. A vacina � nossa esperan�a e seguirei firme para imunizarmos toda a popula��o do Rio de Janeiro”. J� o governador do Piau�, Wellington Dias (PT), disse que “n�o � s� um n�mero, trata-se de seres humanos, s�o pessoas com hist�rias, s�o artistas, profissionais urbanos, rurais, homens, mulheres, daqueles que ficaram aqui, abalados com a perda de seus entes queridos. Esposas, esposos, filhos, filhas, netos, amigas, f�s... � disso que se trata.”
Entre vacinas e m�scaras
Est� em andamento no Minist�rio da Sa�de a cria��o de um plano de a��o para vetar o uso da CoronaVac no Brasil. O ministro Marcelo Queiroga acredita que o imunizante tem efic�cia baixa e alega a interlocutores que existem muitos casos de pessoas que tomaram o imunizante e foram infectados mesmo ap�s as duas doses. De acordo com fontes no governo, Queiroga pretende encerrar contratos de compra da vacina produzida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. A inten��o seria adquirir apenas as doses que j� foram contratadas, e refor�ar aquisi��es das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer.
No entanto, o governo esbarra na dificuldade em adquirir mais doses. Uma outra solu��o pode ser a Butanvac, imunizante brasileiro que est� sendo testado e pode ser aprovado no segundo semestre. O que incomoda Queiroga � a baixa prote��o em idosos. Um estudo denominado ‘Vaccine effectiveness in Brazil against COVID-19’ apontou que a efic�cia geral para quem tem mais de 80 anos est� em torno de 28%. Durante a semana, o ministro colocou em d�vida a seguran�a das vacinas para agradar ao presidente Jair Bolsonaro. Ele disse que o presidente tem raz�o quando fala que “n�o se tem ainda todas as evid�ncias cient�ficas” dos imunizantes. No entanto, todos os imunizantes em aplica��o no Brasil passaram por testes e foram aprovados.
E n�o s�o apenas as vacinas que est�o entre o ministro e o presidente Jair Bolsonaro. A press�o do presidente para desobrigar ao uso de m�scaras para quem j� foi vacinado ou j� se infectou pelo v�rus gera uma crise no Minist�rio da Sa�de. O titular da pasta entende que n�o existem bases cient�ficas que justifiquem a medida e teme um avan�o acelerado da COVID-19 no pa�s.
O presidente afirmou que o Minist�rio da Sa�de vai publicar um parecer desobrigando ao uso da prote��o facial. No entanto, ao comentar o caso, Queiroga afirmou que est�o sendo feitos estudos em rela��o a quem j� foi vacinado, e n�o citou quem j� se recuperou da doen�a. J� � conceito na comunidade cient�fica que mesmo quem j� pegou coronav�rus pode se reinfectar.
Fontes ligadas ao governo disseram que Queiroga tem reclamado da press�o, e tamb�m est� incomodado com o fato de ser investigado na Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da COVID. Ele teme que qualquer a��o que d� for�a � dissemina��o da doen�a sirva para incrimin�-lo. No Planalto, Bolsonaro tamb�m diz para interlocutores estar descontente com os posicionamentos do ministro, e com a resist�ncia em acatar seus pedidos. N�o se descarta uma substitui��o na pasta nas pr�ximas semanas.
Tratamento
Para aumentar a pol�mica, Queiroga sugeriu � Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) um di�logo sobre o tratamento precoce, m�todo defendido por Bolsonaro mas sem efic�cia comprovada contra a COVID-19.
A oferta de "converg�ncia" em torno do tema foi citada por Queiroga em reuni�o em 3 de abril com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, por teleconfer�ncia, conforme documento enviado pelo Itamaraty � CPI da Covid. Na mesma conversa, o chefe da pasta apresentou Bolsonaro como o “principal ativo” para o Brasil avan�ar no combate � pandemia. (Renato Souza)