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'Saudade � di�ria e infinita': a professora que comoveu as redes lembrando parentes mortos ao ser vacinada

Ao ser imunizada, Tallyta Cerqueira mostrou homenagem aos familiares v�timas do novo coronav�rus. Uma foto do momento foi compartilhada intensamente nas redes


21/06/2021 17:20 - atualizado 21/06/2021 17:48

Tallyta recebeu a primeira dose da AstraZeneca no último sábado e quis homenagear familiares(foto: Arquivo pessoal)
Tallyta recebeu a primeira dose da AstraZeneca no �ltimo s�bado e quis homenagear familiares (foto: Arquivo pessoal)

No momento em que recebeu a primeira dose da vacina contra a COVID-19, na manh� de s�bado (19/6), a professora Tallyta Cerqueira levantou um cartaz em homenagem a familiares que morreram pela doen�a.

"A vida n�o espera!", diz o recado. Na folha, ela colocou as datas em que perdeu a av�, o pai e a m�e para a enfermidade causada pelo novo coronav�rus. Ao fim, a tag #vacinasim.

 

 

 

Em mar�o deste ano, ela perdeu os familiares em menos de 20 dias: primeiro a av� materna, depois o pai e por �ltimo a m�e.

Os tr�s foram infectados pelo novo coronav�rus em fevereiro. Tallyta relata que foram quase 50 dias de ang�stia, dor e medo.

"Tudo, tudo o que vivermos daqui para frente ter� um pouquinho, sen�o muito, das tr�s pessoas maravilhosas que nos deixaram", escreveu a professora em uma homenagem aos familiares em seu perfil no Facebook. 

Quando soube que seria vacinada contra a COVID-19, Tallyta pensou em uma forma de homenagear os entes queridos, que n�o tiveram a chance de ser imunizados contra a COVID-19.

"N�o consigo definir com um �nico sentimento o fato de ser vacinada hoje. � um misto de gratid�o, euforia, tristeza e impot�ncia, por n�o ter visto meus familiares tendo a mesma oportunidade", escreveu Tallyta, ao publicar a foto do momento em que recebeu a primeira dose do imunizante da AstraZeneca.

"Como eu queria ter todos ao meu lado, vacinados, aguardando a segunda dose, saud�veis, e presentes fisicamente. Infelizmente, a vida n�o espera, n�o deixa pra depois, n�o d� uma segunda chance…", acrescentou a professora no texto.

A publica��o de Tallyta viralizou nas redes sociais. Somente no perfil dela no Instagram foram mais de 87 mil curtidas. Diversas p�ginas compartilharam a imagem. "N�o sabia que daria tamanha repercuss�o", relata a professora � BBC News Brasil.

'A dor � imensur�vel'


Família foi abalada pela covid-19. Na foto, em preto e branco estão Inês, Terezinha e Wilson. Tallyta está no centro, ao lado do marido e junto com o filho. Na ponta está o irmão dela.(foto: Arquivo pessoal)
Fam�lia foi abalada pela covid-19. Na foto, em preto e branco est�o In�s, Terezinha e Wilson. Tallyta est� no centro, ao lado do marido e junto com o filho. Na ponta est� o irm�o dela. (foto: Arquivo pessoal)

Tallyta, de 32 anos, � de Ponta Grossa, no Paran�, mesma cidade em que os entes queridos dela moravam. Por volta da segunda semana de fevereiro, a fam�lia come�ou a apresentar sintomas de COVID-19.

A primeira a testar positivo para a doen�a foi a pensionista Terezinha Camera, av� materna da professora. "Ela se cuidava muito e eu fazia mercado e outras atividades para ela. Mas uma hora ou outra a minha av� dava uma escapada para comprar algo ou ir ao banco", diz Tallyta sobre como a idosa pode ter contra�do o novo coronav�rus.

A professora e o marido, que na �poca moravam com a idosa, descobriram dias depois que tamb�m foram infectados. O filho deles n�o apresentou sintomas.

Os pais da professora, a dona de casa In�s de F�tima Camera e o motorista de caminh�o Wilson Alves, tamb�m foram infectados. Na �poca, os familiares, apesar de morar em casas separadas, mantinham contato frequente.

Tallyta e o irm�o ca�ula, Marllon Camera, tiveram sintomas leves. O marido dela chegou a ser internado por pouco mais de uma semana e se recuperou.

J� a av� dela teve quadro considerado grav�ssimo. Terezinha foi internada em um hospital particular de Ponta Grossa em meados de fevereiro e logo foi intubada.

Depois, In�s tamb�m precisou ser internada e posteriormente foi intubada. No in�cio de mar�o, o estado de sa�de de Wilson tamb�m se agravou e ele foi levado ao hospital.

Com os tr�s familiares internados, Tallyta relata ter vivido per�odo de afli��o intensa e ang�stia. Ela e o irm�o passavam os dias � espera de not�cias dos parentes.

Em 11 de mar�o, Terezinha, de 73 anos, morreu ap�s ficar intubada por semanas. O quadro de sa�de da idosa havia se agravado ap�s uma pneumonia, em decorr�ncia da COVID-19. "A minha av� era saud�vel e muito ativa. A gente tinha esperan�as de que ela fosse se recuperar", lamenta a professora.

Dois dias depois, Wilson, de 52 anos, tamb�m n�o resistiu �s complica��es causadas pela COVID-19.


Terezinha, Wilson e Inês morreram com diferença de menos de 20 dias(foto: Arquivo pessoal)
Terezinha, Wilson e In�s morreram com diferen�a de menos de 20 dias (foto: Arquivo pessoal)

Em meio �s duas perdas, Tallyta e o irm�o tiveram de cuidar dos procedimentos para enterrar os familiares, enquanto se preocupavam com o estado de sa�de da m�e.

Durante o per�odo de interna��o, In�s, de 53 anos, melhorou e saiu da intuba��o. Encaminhada para um quarto, ela recebeu a visita dos dois filhos. Durante o encontro, soube da morte do companheiro e da m�e. "Ela disse que j� sentia algo bem triste no cora��o e que estava tranquila porque havia feito tudo o que podia pelos dois", diz Tallyta.

A professora considera que o encontro com a m�e foi uma forma de despedida. "Ela voltou s� pra se despedir, orientar e deixar a gente calmo. Aquele momento foi muito importante", relata.

Dias depois, In�s piorou e os m�dicos descobriram que ela estava com pneumonia. A mulher precisou ser intubada novamente na UTI. Em 28 de mar�o, a dona de casa n�o resistiu.

Para Tallyta, n�o h� palavras que possam expressar o sentimento de enterrar metade da fam�lia em quase tr�s semanas.

"A dor � imensur�vel, a saudade � di�ria e infinita. Os questionamentos sobre a vida n�o chegam ao fim. Parece que nunca ser� mais f�cil", escreveu a professora em seu perfil no Facebook, em uma publica��o feita no fim de maio.

Ap�s as mortes dos familiares, Tallyta foi diagnosticada com depress�o. Ela segue em tratamento e foi afastada temporariamente das salas de aula.

"Na �ltima vez em que fui � escola, depois que perdi meus pais e minha av�, me bateu um desespero. Comecei a chorar muito. A dire��o me orientou a procurar ajuda e comecei um tratamento para a depress�o", diz.

A foto na vacina��o


Terezinha foi a primeira da família a testar positivo para a covid-19(foto: Arquivo pessoal)
Terezinha foi a primeira da fam�lia a testar positivo para a covid-19 (foto: Arquivo pessoal)

Desde as mortes dos familiares, Tallyta se questiona sobre o cen�rio da vacina��o no Brasil. "Quando a minha av� se contaminou, em fevereiro, em muitos pa�ses j� havia vacina��o para a faixa et�ria dela", comenta. "Se a minha fam�lia tivesse sido vacinada no in�cio do ano, hoje a minha vida seria muito diferente", acrescenta.

A imuniza��o contra a COVID-19 no Brasil come�ou por volta de meados de janeiro. Especialistas apontam que o pa�s caminha a passos lentos para imunizar a popula��o e atribuem isso � gest�o do Minist�rio da Sa�de, que demorou para adquirir imunizantes. Em 2020, a gest�o de Jair Bolsonaro ignorou ofertas de vacinas da Pfizer, do Instituto Butantan e do cons�rcio Covax Facility.

De acordo com um cons�rcio de ve�culos de imprensa, atualmente 63,1 milh�es de pessoas (29,8% da popula��o) foram vacinadas no Brasil com a primeira dose de um imunizante contra a COVID-19. A segunda dose, fundamental para concluir a imuniza��o, foi aplicada em 24,2 milh�es de pessoas (11,4% da popula��o).

Professora da rede municipal de Ponta Grossa, Tallyta foi convocada na semana passada para tomar a primeira dose da vacina — ela retornar� ao trabalho quando os m�dicos considerarem que est� apta para voltar � sala de aula.

Para Tallyta, era fundamental homenagear os parentes no momento da imuniza��o. "Queria escrever muito mais coisas no cartaz, mas quando a gente escreve muito as pessoas n�o lembram, porque � muita informa��o. Por isso, decidi colocar as datas em que meus familiares morreram, porque � um per�odo que eu jamais vou esquecer", diz.


Tallyta afirma que precisava encontrar uma forma de homenagear familiares durante vacinação contra a covid-19(foto: Arquivo pessoal)
Tallyta afirma que precisava encontrar uma forma de homenagear familiares durante vacina��o contra a covid-19 (foto: Arquivo pessoal)

Ap�s ser vacinada, ela publicou o registro nas redes sociais e a imagem logo passou a ser compartilhada por diversas pessoas. "Sabe quando as coisas acontecem de uma maneira natural, sem parar pra pensar? Parece que eu tinha essa miss�o de levar esse cartaz para tocar os cora��es das pessoas sobre a vacina��o", afirma.

Desde ent�o, ela recebeu muitos recados de outras pessoas que tamb�m perderam parentes para a COVID-19. "Quando vi o alcance que teve, me assustei positivamente, porque muitas pessoas se mostraram solid�rias", diz.

A professora espera que a repercuss�o da foto possa fazer com que muitos entendam a import�ncia da vacina.

"O cartaz n�o era s� sobre a minha fam�lia, era tamb�m sobre as milhares de pessoas que perderam parentes para a COVID-19. Espero realmente que as duas doses das vacinas cheguem logo para todos. Espero que outras fam�lias n�o continuem sofrendo como a gente", declara.

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