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Estado de Minas GERAL

Fam�lias buscam superar dificuldades para crian�as aprenderem na pandemia


28/06/2021 13:00

Samuel, de 7 anos, aprende r�pido, � curioso e pergunta muito. Antes da pandemia, ganhou medalha de "aluno destaque" na educa��o infantil, quando morava na Serra do Mundeu, zona rural do munic�pio de Araripe, no Cear�. Mas quando a pandemia interrompeu as aulas presenciais, em mar�o de 2020, ele estacionou. Analfabeta, a agricultora Zenilda Freire Barbosa, de 47 anos, m�e do menino, n�o conseguia ajudar nas li��es que chegavam da escola no ensino a dist�ncia. "Eu n�o sei ler para ensinar o meu filho e aqui n�o tem quem ensine", conta.

Para que o menino seguisse estudando, a agricultora decidiu enviar Samuel � casa da irm�, tia dele, na regi�o de Paje�, zona mais urbana de Araripe. L�, � ensinado pela prima, que j� terminou o ensino m�dio. "Eu n�o quero que meu filho se crie como eu, sem saber ler; eu quero que ele estude, aqui n�o ia aprender nada", diz Zenilda, que s� p�de estudar at� o primeiro ano do ensino fundamental. "� dif�cil para mim, porque ele � filho �nico e � tudo na minha vida."

H� mais de um ano, a agricultora e o marido visitam o filho a cada oito dias. Quando a saudade aperta, fazem chamada de v�deo. Para Riqueli Ferreira Barbosa, de 19 anos, jovem que ensina Samuel, a situa��o � desafiadora. "Uma responsabilidade muito grande: deixo ele fazendo as atividades conforme ele entende e a�, quando ele tem d�vida, eu ajudo", relata. "Ele gosta de estudar, se dedica bastante, mas sente falta da m�e."

Mesmo com todas as dificuldades - as atividades s�o entregues pela escola essencialmente via WhatsApp e por meio de monitores que distribuem as li��es impressas de acordo com a regi�o -, Samuel j� sabe ler e escrever um pouco. "Eu vejo que as professoras se preocupam, porque viam ele avan�ando antes da pandemia", diz Riqueli.

Segundo a professora Maria D'Deus, que leciona para a turma de Samuel, o caso do menino n�o � exce��o. A maioria dos estudantes da escola tem pais agricultores que s�o analfabetos ou semianalfabetos. "Tem sido um processo bem dif�cil alfabetizar na pandemia, muitas vezes eu mando �udio para os pais n�o desistirem", conta.

A pedagoga lembra que o primeiro problema foi chegar at� as fam�lias. "Por ser uma zona rural, s� conhec�amos as crian�as. Depois, o desafio foi entregar as atividades, que voltavam em branco", diz. "Foi quando percebemos que os pais eram analfabetos por completo ou sabiam ler muito pouco." No Brasil, cerca de 11 milh�es de pessoas n�o foram alfabetizadas.

Em 2019, a taxa de analfabetismo era de 6,6%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) Cont�nua Educa��o. A escola fica a 22 quil�metros de Araripe, j� na divisa, a 15 quil�metros do munic�pio de Bodoc�, em Pernambuco.

"A crian�a, no meio per�odo, vai para a ro�a ajudar a capinar com um tempinho pequeno para fazer as atividades. Quando chega uma pandemia como essa, o aluno n�o tem quem explique, a� escreve que n�o fez (a atividade) porque n�o sabe", diz a coordenadora da escola, Clotildes Nunes.

As crian�as entre seis e dez anos que vivem em �reas rurais das regi�es Norte e Nordeste do Pa�s foram as mais atingidas pela exclus�o escolar no Brasil durante a pandemia em 2020, segundo o �ltimo relat�rio da Unicef em parceria com o Cenpec, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educa��o, Cultura e A��o Comunit�ria. Conforme o documento, o cen�rio ocorre devido � precariedade das condi��es de vida nessas regi�es, em especial nas �reas isoladas.

S� em 2020, das 5,1 milh�es de crian�as brasileiras que ficaram sem acesso � educa��o, mais de 2 milh�es (41%) tinham entre 6 e 10 anos, faixa et�ria mais afetada pela pandemia, segundo levantamento da Unicef.

Emanoel, de 7 anos, � uma das crian�as que n�o tem acesso � educa��o. Em mar�o de 2020, o menino foi matriculado na escola municipal Te�filo Benedito Ottoni, na zona oeste de S�o Paulo, mas nunca houve contato com os professores - a irm�, J�ssica Cardoso Pereira, de 26 anos, que tem a guarda do menino, s� foi procurada pelo col�gio neste ano.

"O Emanoel foi muito afetado, eu acabei ensinando ele a ler e a escrever em casa, ensinei os n�meros, mas vejo muita dificuldade porque n�o sou professora, n�o sabia por onde come�ar", relata. "A minha preocupa��o era que ele ficasse para tr�s."

Quando foi at� a escola se informar, verificaram que o c�digo que ela tinha para o Google Classroom acusava "Sala Inexistente". A Secretaria Municipal da Educa��o (SME) informou, em nota, que procurou a fam�lia do menino por meio do N�cleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAAPA), mas que o endere�o cadastrado estava desatualizado. A busca, no entanto, s� foi feita ap�s o contato da reportagem. O endere�o que constava no sistema ainda era o da m�e do Samuel.

"A equipe conseguiu contato telef�nico com a respons�vel pelo estudante, que passar� a ser acompanhado constantemente", diz o texto. O N�cleo desenvolve a��es para prestar suporte e auxiliar os alunos e fam�lias no aprendizado em casa. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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