Caso L�zaro: sobreviventes relatam momentos de terror com o fugitivo
Quatro pessoas que encontraram o fugitivo durante a megaopera��o de buscas relatam como ficaram frente a frente com um dos criminosos mais procurados do pa�s
S�lvia de Campos teve a ch�cara invadida por L�zaro um dia ap�s o triplo homic�dio na fazenda da fam�lia Marques Vidal; ela e um funcion�rio ficaram ref�ns do foragido por horas (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Em relatos detalhados, v�timas que estiveram perto de L�zaro Barbosa de Sousa — morto na segunda-feira passada ap�s um confronto com policiais militares — contaram ao Correio Braziliense momentos de terror que viveram na presen�a do criminoso. Em vida, ele provocou traumas vis�veis e invis�veis enquanto cometia delitos, como homic�dios, latroc�nios, roubos e estupros. Ao menos 15 inqu�ritos contra o fugitivo est�o sob investiga��o.
Durante 20 dias, L�zaro desafiou as autoridades e mobilizou uma megaopera��o, com cerca de 270 policiais das for�as de seguran�a do Distrito Federal e de Goi�s. A ca�ada teve in�cio depois de a Pol�cia Civil identific�-lo como principal suspeito de cometer o crime que vitimou quatro pessoas da fam�lia Marques Vidal, entre 9 e 12 de junho. Os empres�rios Cl�udio Vidal, 48, e Cleonice Marques, 43, al�m dos dois filhos do casal — Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15 — foram brutalmente assassinados.
Sem se intimidar com a presen�a de policiais � procura dele em diversos pontos da regi�o,em 10 de junho, L�zaro invadiu a ch�cara de S�lvia de Campos, 40. Ela e o caseiro do im�vel ficaram ref�ns do criminoso. Por volta das 11h30, ela estava deitada e sentia dores de cabe�a. Enquanto isso, as not�cias sobre as buscas a L�zaro circulavam nos grupos de moradores da regi�o. “Minha tia me ligou pedindo para eu ter cuidado. Queria que eu sa�sse da casa, porque o bandido estava solto, mas eu falei que estava tudo bem”, contou.
Assim que entrou no im�vel, ele perguntou onde havia armas e dinheiro: “Disse que precisava de dinheiro, porque ia para muito longe. Olhou minha bolsa e pegou cerca de R$ 390”, continua S�lvia. Ao vasculhar a casa, L�zaro ordenou que S�lvia cozinhasse para ele. Nas panelas, havia carne mo�da e arroz velho. “Eu estava com medo de morrer. Qualquer afronta poderia ser fatal. Perguntei se eu podia fazer arroz com milho e uma salada”, contou a v�tima. Assim que S�lvia terminou de preparar a refei��o, o criminoso mandou que ela o servisse.
Enquanto comia, L�zaro ligou a televis�o e fez uma declara��o importante: “T� acompanhando essa not�cia, n� (o assassinato da fam�lia Marques Vidal)? Eu matei porque reagiram com uma faquinha pequena. Mas est�o jogando a culpa s� em mim, s� porque pegaram minhas impress�es digitais. N�o fiz isso sozinho”.
Algum tempo depois, S�lvia e o caseiro foram trancados em um dep�sito. “Na hora, eu pensei que morreria”, desabafou. Em seguida, L�zaro tomou banho e retornou para conversar com as v�timas. “Ele falou sobre o pai, a filha e que trabalhava para ganhar R$ 5. Em um momento, ficou muito nervoso, dizendo que se tirassem a filha dele, mataria todos e seria pior que a covid-19”, acrescentou a dona da ch�cara. L�zaro tamb�m obrigou as v�timas a fumar maconha. S�lvia ficou tonta e passou mal: “Ele disse que eu estava muito nervosa e precisava me acalmar. Falou que eu era fraca demais para um trago”.
Com o celular totalmente carregado, L�zaro jogou fora a chave do dep�sito e os mandou “se virar”. Da casa, o criminoso levou leite, iogurte, biscoito, p�es, queijo e dois celulares, antes de fugir por dentro do mato. M�e de cinco filhos, S�lvia ficou traumatizada e se mudou da ch�cara. Agora, ela mora na casa da m�e, em Taguatinga. Desde ent�o, tem pesadelos e n�o consegue dormir direito quase todas as noites. “N�o quero voltar (para o antigo endere�o) t�o cedo. Vai que tem um comparsa dele. Senti um al�vio (ap�s encontrarem o acusado), mas quem somos n�s para desejar a morte de algu�m?”, questionou.
Fam�lia aterrorizada
Na madrugada de 22 de abril, Vanessa* dormia em casa, uma ch�cara pr�xima ao C�rrego das Corujas, no Sol Nascente/P�r do Sol, quando ouviu fortes latidos dos cachorros. Assustado, o marido dela foi para o quintal e encontrou os cavalos fora da baia. “Um dos animais estava com um arreio no pesco�o, ent�o meu esposo desconfiou de que algu�m estivesse rondando por ali”, relatou a mulher.
O homem e o caseiro da ch�cara foram ao chiqueiro para verificar a situa��o, enquanto o cachorro da fam�lia n�o parava de latir para uma moita, perto da planta��o de mandioca. Quando os dois moradores se aproximaram, foram surpreendidos por L�zaro, que apontava uma lanterna para o rosto deles. “Ele pediu para meu marido deitar no ch�o, s� que ele fingiu, abaixou-se e saiu correndo. O bandido deu um tiro em dire��o ao meu esposo, mas n�o acertou”, relatou Vanessa. O chacareiro chegou assustado em casa e alertou a mulher de que havia um homem armado no quintal. Vizinhos ouviram os disparos e correram at� a casa da fam�lia para ajudar. “Eles imaginaram que o L�zaro estava na estrada e sa�ram em busca dele. Meu marido me mandou ficar trancada com as crian�as.”
Vanessa estava com os filhos, de 11 meses e 4 anos. Em cinco minutos ap�s a sa�da do companheiro dela, a testemunha escutou um estrondo de vidro. Em seguida, L�zaro entrou na casa e, segundo ela, pediu os celulares da fam�lia. “Dei o aparelho, e ele pediu a senha. Perguntou quem morava na casa ao lado, e eu respondi que era minha m�e. Ele entrou l�, com minha m�e dormindo, e pegou mais celulares”, disse. Depois, L�zaro fugiu. Vanessa s� se deu conta de que se tratava do criminoso quando viu o notici�rio sobre o caso da fam�lia Marques Vidal. “Eu poderia ter morrido com meus filhos”, completou.
*Nome fict�cio a pedido da entrevistada
Mensagem sem retorno
(foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)
Na tarde de 15 de junho, durante a megaopera��o de buscas pelo fugitivo, um policial penal do Distrito Federal recebeu a seguinte mensagem: “Socorro, o assassino L�zaro t� aqui em casa, fazenda grota da �gua Valdo Silva”. A resposta chegou quatro minutos depois: “Qual a localiza��o???”. Sem retorno, o agente tentou novamente: “Onde fica??? Oi”. A primeira mensagem partiu de uma adolescente, mantida ref�m com os pais. Dias antes, integrantes das for�as de seguran�a que visitaram a casa da fam�lia haviam deixado um n�mero de telefone, para o caso de algo acontecer.
Ao ver o criminoso entrar, por volta das 13h40, a adolescente se escondeu embaixo da cama e enviou uma mensagem ao policial e a uma amiga, que retornou por meio de liga��o. O policial que atendeu a ocorr�ncia detalhou o restante dos acontecimentos: “Ele (L�zaro) colocou as v�timas andando na frente e foi atr�s delas, comendo. Quando ouviu o barulho do helic�ptero, entrou debaixo de uma pedra e se cobriu com folhas, para n�o ser identificado. Ficou at� a aeronave passar”, contou o agente, que pediu para n�o ter o nome divulgado.
A inten��o do criminoso era despir as v�timas e mat�-las em seguida, segundo disse o secret�rio de Seguran�a P�blica de Goi�s, Rodney Teixeira, � �poca. Com a aproxima��o das equipes, L�zaro trocou tiros com a pol�cia e acertou um PM de rasp�o no rosto. Os ref�ns foram liberados sem ferimentos.
Dois aparecimentos
Mais pr�ximo de L�zaro ficou Alain Reis Santana, 34 anos. Pai de seis filhos, ele chegou a ser preso por supostamente auxiliar na fuga do criminoso. No entanto, nada ficou provado contra o caseiro, que foi liberado ap�s audi�ncia de cust�dia. Ele chegou para trabalhar na fazenda do ex-patr�o, Elmi Caetano Evangelista, 74 — atualmente preso —, tr�s dias depois da chacina em Ceil�ndia Norte. O funcion�rio n�o tinha ideia do perigo que enfrentaria.
Em 18 de junho, por volta das 18h30, ap�s o expediente, o caseiro se preparava para colocar a comida dos porcos e no curral. Quando acendeu a luz, deparou-se com L�zaro. “Ele estava em p�, encostado na parede, carregando o celular na tomada. Quando me viu, tirou o celular e saiu andando, n�o correu. De primeira, fiquei em d�vida (se era ele), porque tinha visto o notici�rio poucas vezes”, relatou.
Em 23 de junho, enquanto Alain estava agachado em frente ao poleiro, para impedir a sa�da dos pintinhos, sentiu a press�o de uma m�o no ombro. “Olhei para tr�s e achei que era o meu patr�o (Elmi), mas era ele, o L�zaro”, contou. O foragido vestia uma camisa social preta de manga longa, cal�a preta, sapatos, carregava uma mochila e usava um bon�. “Ele me amea�ou. Disse que sabia onde eu morava, falou da minha fam�lia e deixou bem claro que, se eu entregasse o esconderijo dele, mataria a mim, minha mulher e meus filhos. Depois, saiu”, continuou Alain.
Atualmente, o caseiro mora com a mulher e os filhos em uma casa em Girassol, distrito de Cocalzinho (GO). No entanto, o im�vel est� � venda e precisa ser esvaziado em breve. “Vou ter de desocupar a casa, e n�o temos para onde ir. N�o tenho como pagar aluguel agora, porque estou desempregado”, lamentou. Com experi�ncia em servi�os de ro�a, cria��o de animais, lavagem de carros, obras e conserto de carros, o caseiro procura um emprego ap�s passar pelo trauma.