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Estado de Minas �DOLOS

Empres�rios s�o os novos �dolos pop de um Brasil em crise e cada vez mais evang�lico

Ao contr�rio das �ltimas d�cadas, quando cantores, artistas ou esportistas monopolizavam a idolatria do p�blico, os �ltimos anos marcaram a ascens�o dos empreendedores de sucesso.


11/07/2021 07:31 - atualizado 11/07/2021 17:40

Os últimos anos marcaram a ascensão dos empreendedores de sucesso
Os �ltimos anos marcaram a ascens�o dos empreendedores de sucesso (foto: Getty Images)

Hordas de f�s prontos para amar, prestigiar e at� defender seu �dolo s�o comuns. Mas, ao contr�rio das �ltimas d�cadas, quando cantores, artistas ou grandes esportistas monopolizavam a idolatria do p�blico, os �ltimos anos marcaram a ascens�o dos empreendedores bem-sucedidos como os novos �dolos pop.

Empres�rios "self-made", aqueles que conseguiram algo por algum tipo de "esfor�o pr�prio'', agora possuem milh�es de seguidores nas redes sociais, causam aglomera��es e re�nem milhares em eventos organizados para falarem sobre suas expertises.


Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, essa mitifica��o do empres�rio � consequ�ncia do neoliberalismo e avan�a em meio ao aumento do desemprego. Afinal, em um ambiente em que cada indiv�duo � respons�vel pela pr�pria trajet�ria, os que se destacam em um per�odo negativo atraem uma mitifica��o e a esperan�a de o f� repetir tal roteiro de prosperidade.

Tal conjun��o de fatores refor�a a idolatria aos empres�rios do pa�s. Mas, para al�m do elemento econ�mico, h� tamb�m a influ�ncia das redes sociais, mais presentes no dia a dia, e do neopentecostalismo, que cresce por aqui, e cont�m dentro da doutrina religiosa um forte apelo empreendedor.

Para Christian Dunker, psicanalista e professor da USP (Universidade de S�o Paulo), por exemplo, pequenos empres�rios brasileiros, com baixa remunera��o, seguem esses rockstars e usam, agora, o status tamb�m de "empreendedor" como consolo para se diferenciar em meio a um ambiente de crise que perdura h� cerca de cinco anos.

"Muita gente saiu da classe m�dia e foi para a classe m�dia baixa nesse per�odo. Nessa hora, a ideia de que voc� � um empres�rio consegue mudar a sua representa��o social. Voc� n�o � mais um desempregado, algu�m que fracassou em um certo jogo de determinadas regras, mas voc� � um pioneiro em um novo jogo de novas regras. Por isso, voc� deseja seguir gente como voc�", disse.

F�s de empres�rios

Nas redes sociais, as p�ginas de empreendedores ou mesmo de marcas que vendem o sucesso s�o comuns. Coment�rios de extrema admira��o ou de compara��o com os empreendedores fazem parte da rotina das novas celebridades.

As p�ginas da empreendedora Camila Farani, que participa do programa Shark Tank, que mostra empreendedores apresentando ideias de neg�cios, contam com milhares de coment�rios elogiosos de f�s que veem na empres�ria uma inspira��o, com uma aura de rockstar.

"Voc� � minha inspira��o de business woman"; "Sou tua f�"; "Cada dia admiro mais"; s�o algumas das rea��es nos coment�rios do Instagram de Farani.

Essa admira��o tamb�m extrapola as redes sociais. Fl�vio Augusto, fundador da Wise Up e da plataforma MeuSucesso, costuma reunir quase 4 mil participantes todo in�cio de ano para falar sobre as expertises, desafios e oportunidades de neg�cios. Ovacionado pelo p�blico, o evento parece um grande concerto musical.

Nem mesmo a pandemia do novo coronav�rus esfria tal popularidade. Em outubro do ano passado, o empres�rio Luciano Hang, fundador da Havan, causou um furor e foi alvo de cr�ticas em Bel�m (PA), onde milhares de pessoas se reuniram para acompanhar a abertura de uma unidade e reverenciar o empreendedor.

Em v�deos divulgados nas redes sociais, Hang aparece correndo em frente a multid�o e � ovacionado pelos presentes. No Instagram, j� existem p�ginas de f�s-clubes voltadas aos admiradores de Hang e Farani, por exemplo, com milhares de seguidores.

Essa presen�a mais pr�xima ao p�blico, possibilitada pelas redes, faz com que o discurso pr�-empreendedorismo ganhe corpo, segundo os especialistas, o que explica tal mitifica��o de empres�rios de sucesso.

"Se voc� tem grandes empres�rios nas redes o tempo todo doutrinando, mostrando o que fazem, ideologizando sua pr�tica, � poss�vel que haja repercuss�o popular e ades�o ao discurso empreendedor ou um fortalecimento daquilo que pode alcan�ar o mesmo patamar do empres�rio", disse Ruy Gomes Braga Neto, professor do departamento de Sociologia e especializado em sociologia do trabalho.


A empresária Camila Farani tem fã-clubes
A empres�ria Camila Farani tem f�-clubes (foto: Divulga��o)

Neoliberalismo e crise

Para os especialistas consultados pela BBC News Brasil, ao promover uma agenda de competi��o entre os indiv�duos, o neoliberalismo, que vem se aprofundando na agenda econ�mica brasileira nos �ltimos anos, fomenta a admira��o aos bem-sucedidos empreendedores.

"No neoliberalismo a sociedade � formada por um conjunto de indiv�duos que competem entre si. Essa ideologia ocorre no n�vel econ�mico, mas tamb�m precisa ser renovada no n�vel subjetivo, pois o indiv�duo precisa de fontes de vontade para manter-se no jogo. Ele precisa ser competente, caso contr�rio, ele n�o se mant�m no mercado e n�o h� espa�o para solidariedade e outros valores que n�o sejam os valores econ�micos", afirmou Neto.

Portanto, em um ambiente competitivo, em que o homem passa a ser analisado tamb�m como uma empresa, aquele que ganha o jogo � admirado - independentemente de o empreendedor vencedor ter tido condi��es diferenciadas ou n�o durante sua trajet�ria.

"Essa l�gica vai produzir uma aspira��o ao reconhecimento por aquele que � o campe�o, o que est� acima dos outros dentro de uma competi��o. Ao admirar algu�m assim, voc� reconhece que a regra do jogo � aquela. Um ganha e outro perde", afirmou Dunker.

"Esses empreendedores modelos est�o ligados a essa vit�ria no mercado. Essas pessoas est�o na m�dia, fazem parte da TV, aportam muito em propaganda. Ent�o, eles viram �dolos de empreendedores populares que jamais ter�o condi��es de competirem nos mesmos moldes", completa.

Desde 2013, o Brasil tamb�m passa por um aumento quase constante do desemprego. Ao fim do �ltimo trimestre daquele ano, o desemprego era de 6,2% da popula��o em idade de trabalhar, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).

J� no �ltimo trimestre, o percentual chegou a 14,7%, o que representa cerca de 14,8 milh�es de pessoas sem trabalho formal.

Sem escolha, a falta de alternativas formais empurrou milh�es de pessoas a empreender. De acordo com Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV, a crise obriga as pessoas a tomarem mais riscos.

Assim, ao mirar os empreendedores bem-sucedidos, os novos f�s buscam uma refer�ncia para fugir de uma realidade de perda de renda ou desemprego, por exemplo.


Ao mirar os empreendedores bem sucedidos, os novos fãs buscam uma referência
Ao mirar os empreendedores bem sucedidos, os novos f�s buscam uma refer�ncia (foto: Getty Images)

"Esse movimento em que as pessoas se espelham [em empreendedores de sucesso] tem uma rela��o com uma conjuntura econ�mica, quando muitas delas t�m uma expectativa, em termos de crescimento e resultados econ�micos, ruim", disse Joelson Sampaio, coordenador do curso de Economia da FGV.

Sampaio destaca ainda as recentes mudan�as na economia trazidas pelo advento da tecnologia. Segundo o estudioso, nos �ltimos anos houve um boom de novos neg�cios, como startups, que reduziram a barreira de entrada de novos empreendedores.

"� um movimento positivo, pois esses empreendedores viram refer�ncias, um ciclo positivo que se retroalimenta. Com a nova economia digital, as barreiras de entrada ao empreendedorismo s�o menores do que de outros tempos, ent�o � mais f�cil as pessoas empreenderem, abrir um neg�cio, vender seus produtos e servi�os via plataformas, por exemplo", completou.

Para Dunker, h�, por�m, elementos tipicamente brasileiros que d�o um tom alternativo ao empres�rio brasileiro. Segundo o estudioso, no Brasil, a ascens�o desses novos empreendedores bem-sucedidos n�o envolve sentido de gratid�o ou d�vida simb�lica com aqueles que o auxiliaram para o sucesso, como a fam�lia de origem, universidades, chefes educadores, por exemplo, como ocorre nos EUA.

Al�m disso, empres�rios brasileiros usam a condi��o de empres�rio para esconder certo d�ficit cultural, como se isso o desobrigasse a uma educa��o formal, de acordo com a an�lise de Dunker.

"Hoje, o pequeno comerciante se chama de CEO da empresa. H� um universo lingu�stico de reconhecimento. � como aquela sensa��o da crian�a que tem vergonha do pai nas festas, porque isso mostra as origens dela de ainda ser crian�a. Ao inv�s de voc� agradecer a pessoa humilde que compra do seu com�rcio, voc� acha que vai sentar na mesa com os formados em Harvard, Yale", disse o psicanalista da USP.

Religi�o � fator de influ�ncia

Mas, n�o s� a crise ou o fomento do neoliberalismo � brasileira que completam o quadro. A mudan�a do perfil da religiosidade dos brasileiros nos �ltimos anos tamb�m influencia no comportamento em rela��o aos novos �dolos empreendedores, segundo os especialistas.

Para Ruy Gomes Braga Neto, com o n�mero de evang�licos neopentecostais crescendo no Pa�s, h� uma afinidade do empreendedorismo popular junto a esse crescimento do neopentecostalismo.

"Quando voc� observa as igrejas neopentecostais mais conhecidas, todas as igrejas t�m um forte componente empreendedor e fazem propaganda disso, do bispo que rompeu com a Igreja Cat�lica, fundou a pr�pria igreja e hoje � um grande conglomerado", diz.

De acordo com dados do Censo do IBGE, os evang�licos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nas �ltimas d�cadas. A popula��o que se declara evang�lica passou de 6,6%, em 1980, para 22,2% em 2010 - o que representava cerca de 42,3 milh�es de pessoas.

Para Neto, o chamado ao empreendedorismo ocorre, tamb�m, na esfera do sagrado, ganhando for�a e representa��o em todos os estratos populares.

"[O neopentecostalismo] traz um elemento empreendedor muito forte no discurso religioso, que se traduz em uma �tica religiosa adotada por esses trabalhadores. Voc� tem um elemento que n�o � propriamente econ�mico, mas sim um aspecto cultural e religioso que � muito forte. E isso � uma fonte poderos�ssima de convencimento para o empreendedorismo voltado ao popular", afirma.

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