(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PROJETO COMPROVA

Enquete sobre voto impresso n�o reflete opini�o da popula��o

Enquetes n�o usam uma amostragem que reflita a composi��o da popula��o e a participa��o � espont�nea e, portanto, n�o t�m valor cient�fico


12/07/2021 17:28

Conte�do verificado: Texto afirma que 91% da popula��o brasileira quer o voto impresso. O n�mero se baseia em uma enquete aberta no site da C�mara dos Deputados sobre a PEC 139/2019, que prop�e a ado��o de comprovantes impressos de vota��o nas elei��es.

S�o enganosas postagens no Facebook que afirmam que 91% da popula��o brasileira quer o voto impresso. O n�mero se baseia em uma enquete aberta no site da C�mara dos Deputados sobre a proposta de ado��o de comprovantes impressos de vota��o. O pr�prio site da C�mara informa que a enquete n�o tem valor cient�fico e n�o representa necessariamente a opini�o da sociedade.

Comprova j� mostrou em outras verifica��es que enquetes n�o usam uma amostragem que reflita a composi��o da popula��o. Como a participa��o � espont�nea e quem responde �s perguntas conhece o resultado da vota��o antes do encerramento, isso pode influenciar as conclus�es.

Pesquisas de opini�o p�blica, realizadas por institutos como Ipec (empresa criada por ex-integrantes do Ibope Intelig�ncia) e Datafolha, usam m�todos estat�sticos para garantir que os entrevistados s�o representativos de todos os brasileiros. Ou seja: os participantes s�o selecionados em cotas proporcionais �s caracter�sticas de sexo, escolaridade e renda da popula��o do pa�s.

Por fim, � importante ressaltar que o link para participa��o na enquete no Facebook foi compartilhado principalmente em p�ginas e grupos bolsonaristas. Como o voto impresso � uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), � poss�vel que o resultado seja enviesado.

O respons�vel pela postagem foi procurado pelo Comprova, mas n�o respondeu.


Como verificamos?

O Comprova procurou a enquete citada no site da C�mara dos Deputados e verificou os resultados. Constatamos no portal quais as regras de participa��o na din�mica e baixamos os dados dos coment�rios na enquete. Usamos a ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle para analisar os compartilhamentos do link da enquete no Facebook. Pesquisamos outros levantamentos de opini�o sobre voto impresso e recuperamos o contexto da proposta sobre o assunto na C�mara dos Deputados. Os materiais consultados est�o citados abaixo. Por fim, entramos em contato com o blog que publicou o conte�do.

Verifica��o
A enquete na C�mara dos Deputados
As postagens analisadas aqui reproduzem o t�tulo de um texto publicado no blog Imprensa Brasil: “Enquete sobre o voto Impresso da C�mara dos Deputados aponta que 91% da popula��o brasileira quer o Voto Impresso”. A enquete em quest�o � sobre a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) 135/2019, da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que prev� a ado��o de comprovantes de voto em papel em todas as elei��es.

At� a noite de 11 de julho, 93% dos participantes disseram que “concordam totalmente” com a proposta, com 104.830 votos. Apenas 6% afirmaram “discordar totalmente” da PEC, com 6.850 votos.



O portal da C�mara abre enquetes para todas as proposi��es em tramita��o na Casa. O objetivo � “estimular o debate sobre as propostas” e “propiciar oportunidade e canal para os cidad�os se manifestarem”, segundo a p�gina de perguntas e respostas do portal.

O site deixa claro que os resultados n�o t�m valor cient�fico. “A inten��o de votar parte do cidad�o e n�o h� limita��o de p�blico, como em pesquisas oficiais de opini�o p�blica, nas quais se prepara uma amostragem espec�fica”, informa o portal. “Por�m, os resultados ficam dispon�veis aos deputados, que recebem os dados analisados periodicamente em seus gabinetes e servem como term�metro do interesse e da mobiliza��o popular”.

Como o Comprova mostrou recentemente, pesquisas de opini�o p�blica usam dados oficiais sobre a popula��o brasileira para determinar cotas de sexo, idade, escolaridade e outras caracter�sticas. O objetivo � ouvir um grupo proporcional � popula��o brasileira, ainda que em n�mero menor.

� importante lembrar que nem todos os brasileiros sabem da exist�ncia das enquetes no site da C�mara e nem todos t�m acesso � internet para votar. Al�m disso, as conclus�es do levantamento podem ser influenciadas pelo fato de o resultado parcial ser conhecido do p�blico antes do encerramento da vota��o. Uma pessoa que discorda totalmente da PEC, por exemplo, poderia se sentir estimulada a votar para melhorar a porcentagem de respostas negativas � proposta.

Participa��o tamb�m tem motiva��o pol�tica
O Comprova pesquisou os compartilhamentos do link para a enquete no Facebook na ferramenta CrowdTangle e verificou que a maior parte dos posts sobre o assunto foi feita em p�ginas e grupos bolsonaristas. A pr�pria autora da PEC do voto impresso, Bia Kicis, publicou uma postagem para estimular a participa��o no levantamento no dia 28 de junho e obteve 8,5 mil compartilhamentos.

Ao votar na enquete, os participantes tamb�m podem registrar coment�rios sobre pontos positivos e negativos da proposi��o. Os dados desses coment�rios indicam que houve picos de participa��o em datas espec�ficas. Esses picos coincidem com compartilhamentos do link da enquete em postagens no Facebook. Ou seja: a intera��o na enquete da C�mara aumentou depois que p�ginas bolsonaristas publicaram sobre o assunto na rede social.

No dia em que Bia Kicis pediu que seus seguidores no Facebook participassem na enquete, foram registrados 933 coment�rios na C�mara dos Deputados; no dia seguinte, 1.307 coment�rios – a segunda maior participa��o desde que a vota��o foi aberta, em 2019.

De acordo com o site da C�mara, os participantes s� podem votar na enquete uma vez. Para participar, � necess�rio cadastrar um e-mail no portal. Ao votar, � poss�vel cadastrar mais de um coment�rio sobre pontos negativos ou positivos. V�rios coment�rios t�m termos como “#Bolsonaro2022” e “#BolsonaroReeleito2022”.



Diante desses dados, � poss�vel inferir que uma parte dos respondentes teve motiva��o pol�tica ao participar, j� que o voto impresso � uma bandeira de Bolsonaro. Os resultados, portanto, podem ter tend�ncia a favor da PEC em quest�o.


Outros levantamentos sobre voto impresso

O portal do Senado tamb�m tem uma se��o de consulta p�blica em que se pergunta a opini�o dos internautas a respeito de diversos temas. Uma enquete sobre voto impresso aberta em 2018 tem disputa acirrada: at� a noite do dia 11 de julho, 1.044.887 disseram apoiar a impress�o de votos, e 1.044.943 disseram ser contra. Novamente, esse resultado n�o � suficiente para afirmar que a popula��o esteja dividida sobre o tema.


Em maio deste ano, o site Poder360 realizou uma pesquisa sobre o tema por telefone. O levantamento indicou que 46% rejeitam a ado��o do comprovante nas urnas, e 40% apoiam a ideia. Outros 14% n�o souberam responder. O PoderData ouviu 2.500 pessoas em 462 munic�pios das 27 unidades da federa��o entre 24 e 26 de maio, com margem de erro de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

A pesquisa indicou que a rejei��o � proposta � mais comum em grupos mais jovens (56% entre pessoas de 16 a 24 anos), moradores da regi�o Sudeste e Nordeste (50% e 49%, respectivamente) e com renda mais alta (67% entre os que recebem mais de 5 sal�rios m�nimos).

Os segmentos mais favor�veis � impress�o do voto est�o em pessoas de 45 a 59 anos (52%), moradores do Norte e do Centro-Oeste (59% e 50%, respectivamente) e participantes sem renda fixa (49%).


A pesquisa tamb�m cruzou a opini�o sobre o voto impresso com o apoio a Bolsonaro. Entre os que avaliam o governo como �timo ou bom, 74% s�o a favor da proposta e 20% s�o contra; no grupo que considera a gest�o federal regular, 44% s�o favor�veis e 36% s�o contr�rios. Esses �ndices entre as pessoas que opinaram que o presidente � p�ssimo ou ruim, a tend�ncia � contr�ria: 60% s�o contra a impress�o do voto, ante 24% que concordam com a PEC.

A metodologia das pesquisas do PoderData � diferente das de Ipec e Datafolha, que entrevistam presencialmente. No Poder360, os levantamentos s�o feitos por liga��es autom�ticas, em um sistema chamado Unidade de Resposta Aud�vel (URA). Apenas as chamadas em que os participantes respondem a todas as perguntas s�o consideradas. O portal entrevista pessoas at� cumprir as cotas de sexo, idade, renda, escolaridade e localiza��o geogr�fica em propor��es similares � da popula��o brasileira. Muitas vezes, � necess�rio fazer centenas de milhares de liga��es at� que se consiga ouvir uma parcela representativa do restante da sociedade.


A proposta de emenda � Constitui��o

A PEC 135/2019, de autoria de Bia Kicis, aguarda aprecia��o no Plen�rio da C�mara. A proposta prev� a obrigatoriedade de comprovantes impressos de vota��o. Ap�s registrar o voto na urna eletr�nica, o eleitor conferiria a c�dula com suas escolhas, sem manuse�-la, e o papel seria depositado em uma “urna indevass�vel” para fins de auditoria. No �ltimo m�s, a proposi��o passou por uma comiss�o especial na C�mara; o relator, Filipe Barros (PSL-PR), fez um parecer favor�vel � aprova��o da PEC.

Presidentes de 11 partidos se posicionaram contra a iniciativa: PSL, Progressistas, PL, PSD, MDB, PSDB, Republicanos, DEM, Solidariedade, Avante e Cidadania. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e especialistas ouvidos pelo Estad�o avaliam que a proposta aumenta o risco de fraude. Segundo a coordenadora da Transpar�ncia Eleitoral Brasil, Ana Claudia Santano, a comiss�o especial na C�mara ignorou fatores de risco na ado��o da impress�o de comprovantes. Ela opina que a tend�ncia � de aumento da judicializa��o do pleito.

“Se tem um comprovante em papel, eu posso pedir a recontagem. Porque se n�o for para pedir a recontagem, por que � que eu vou ter o papel?”, afirmou em entrevista ao jornal. “A quest�o da judicializa��o j� existe. O terceiro turno est� a� h� muito tempo. Agora, al�m da alta judicializa��o que a gente tem nas candidaturas, vai tamb�m judicializar os resultados”.

O presidente do TSE, Lu�s Roberto Barroso, citou dificuldades log�sticas e financeiras que dificultariam a implementa��o da proposta pouco mais de um ano antes das elei��es de 2022. “Qual a raz�o pela qual o TSE tem se empenhado contrariamente ao voto impresso? � que n�s vamos ter que transportar 150 milh�es de votos no Pa�s do roubo de carga, da mil�cia, do Comando Vermelho, do PCC, do Amigos do Norte, j� h� a� um primeiro problema”, argumentou no in�cio de julho.

O magistrado afirmou que n�o h� mais tempo h�bil para implementar um sistema de contagem autom�tica das c�dulas de papel. Nesse caso, a recontagem de votos teria de ser manual, o que, segundo ele, seria um “terror”. O ministro pontuou ainda que seria um paradoxo adicionar um passo extra de verifica��o, j� que as urnas j� t�m mecanismos de auditoria. Como o Comprova mostrou no ano passado, entre as possibilidades de auditagem, h� cerim�nias p�blicas para testagem das urnas antes e no dia das elei��es. � poss�vel ainda fazer recontagem de votos com o Registro Digital de Voto (RDV), dispositivo presente desde 2004 nas urnas que registra de forma an�nima todos os votos computados naquela se��o eleitoral.

“O voto impresso seria imprimido pela mesma urna que estaria sob suspeita, portanto, se fraudar o eletr�nico, frauda o impresso”, disse Barroso. “Vamos gastar R$ 2 bilh�es, criamos um inferno administrativo para essa licita��o, com o risco de fraude, e pior, quebra de sigilo”.

Em 2015, um artigo da minirreforma eleitoral estabelecia a implementa��o de comprovantes de vota��o em papel. O trecho foi vetado pela ent�o presidente Dilma Rousseff, que indicou o alto custo da iniciativa, mas o veto foi derrubado pelo Congresso. Em 2018, a proposta foi questionada pela Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) no Supremo Tribunal Federal (STF), e a Corte concedeu liminar que impediu que o mecanismo de impress�o fosse utilizado no pleito daquele ano. Em 2020, o Plen�rio do Tribunal decidiu que a legisla��o era inconstitucional, porque colocava em risco o sigilo do voto.


O site

O texto analisado nesta checagem foi publicado pelo blog Imprensa Brasil. O Comprova entrou em contato por meio de um e-mail listado no site, mas n�o recebeu resposta at� a publica��o. As publica��es t�m v�rios t�tulos enviesados (exemplo 1, exemplo 2exemplo 3), com termos como “CPI do Circo” e “esquerdopatas”. Al�m disso, nenhum texto � assinado e o blog n�o informa os respons�veis pela reda��o.


Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conte�dos suspeitos sobre o governo federal ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viraliza��o. O conte�do verificado teve mais de 28 mil intera��es no Facebook, sendo 1.968 compartilhamentos, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.

Conte�dos que questionam a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro, ainda que por meio de informa��es manipuladas e enganosas, corroboram as acusa��es, sem fundamentos, que o presidente Jair Bolsonaro faz constantemente � veracidade do processo eleitoral. Desde o in�cio do voto eletr�nico no Brasil, em 1996, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado.

Desde a �ltima elei��o presidencial, quando as supostas falhas no sistema eleitoral passaram a ser divulgadas, o Comprova j� verificou diversas vezes conte�dos falsos e enganosos sobre o assunto. Em outubro do ano passado, o projeto mostrou que um documento n�o prova fraude nas elei��es de 2018 nem comprova vit�ria de Bolsonaro no 1º turno. No m�s seguinte, duas publica��es do Comprova apontaram para o fato de o voto eletr�nico no Brasil j� ser audit�vel.

Para o Comprova, um conte�do � enganoso quando confunde, com ou sem a inten��o deliberada de causar dano, porque usa dados imprecisos e induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor, al�m de ter sido retirado do contexto original e usado em outro, com altera��es no significado.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)