
Com ao menos dois meses de per�odo seco ainda pela frente, pelo menos oito cidades nas regi�es Sul e Sudeste j� est�o limitando a oferta de �gua � popula��o para lidar com a baixa dos reservat�rios.
Est�o sendo implantados esquemas de rod�zio de �gua em Curitiba (PR), Santo Ant�nio do Sudoeste (PR), Pranchita (PR), Itu (SP), Salto (SP), S�o Jos� do Rio Preto (SP), Bauru (SP) e Bag� (RS).
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Em Curitiba, que est� sob racionamento desde mar�o de 2020, �rg�os estaduais chegaram a contratar avi�es para induzir precipita��es sobre a cidade.
As medidas emergenciais s�o adotadas enquanto muitos reservat�rios nas regi�es Sul e Sudeste registram seus menores �ndices em v�rias d�cadas.
Com os reservat�rios das usinas tamb�m em baixa, o governo recorre a termel�tricas, que s�o mais caras, elevando o pre�o da energia para os consumidores.
E o cen�rio tende a se agravar, j� que o per�odo chuvoso n�o costuma se iniciar antes de outubro.
Em maio, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta de emerg�ncia h�drica para a regi�o hidrogr�fica da Bacia do Paran� entre junho e setembro de 2021.
A bacia abarca boa parte dos Estados de Minas Gerais, Goi�s, S�o Paulo, Mato Grosso do Sul e Paran�, al�m do Distrito Federal.
A��es de curto e longo prazo
V�rias cidades j� t�m adotado medidas pontuais para lidar com a crise — como obras em reservat�rios e a busca por outras fontes de �gua.
Em Curitiba, a companhia paranaense de saneamento testou um m�todo ainda pouco usado no Brasil.
Um avi�o passou a borrifar �gua em nuvens para induzir precipita��es nos reservat�rios da cidade. A empresa n�o informou se a estrat�gia teve sucesso.
Para Angelo Lima, secret�rio-executivo do Observat�rio da Governan�a das �guas — entidade formada por 60 institui��es e 17 pesquisadores que acompanham a gest�o h�drica no Brasil —, o cen�rio exige a��es tanto emergenciais quanto de m�dio a longo prazo.
Ele diz que, no curto prazo, os �rg�os que comp�em o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos H�dricos, como os comit�s de bacias hidrogr�ficas, deveriam se reunir para debater solu��es para a crise.

As medidas emergenciais, segundo Lima, devem garantir a oferta de �gua para a popula��o e para a alimenta��o de animais — a��es que devem ser priorizadas em situa��o de escassez, conforme determina a Lei das �guas, de 1997.
No entanto, no fim de junho, o governo federal publicou uma Medida Provis�ria (MP) que d� ao Minist�rio de Minas e Energia peso maior de decis�o sobre as a��es a serem tomadas para lidar com a crise h�drica.
A MP 1055 tem como fim "garantir a continuidade e a seguran�a do suprimento eletroenerg�tico no pa�s".
A medida criou um grupo interministerial, chefiado pelo Minist�rio de Minas e Energia, para coordenar a resposta do governo � crise.
Para Lima, ao colocar o Minist�rio de Minas e Energia na lideran�a do grupo, o governo sinaliza que priorizar� a gera��o de eletricidade, o que pode prejudicar ainda mais o abastecimento da popula��o.
Ele afirma que nem mesmo a Ag�ncia Nacional de �guas (ANA), �rg�o federal respons�vel por regular os servi�os de abastecimento, foi colocada no grupo.
A composi��o do grupo pode ter c�lculo eleitoral. Analistas consideram que um apag�o no sistema el�trico brasileiro seria uma grande amea�a � candidatura de Jair Bolsonaro � reelei��o.
Lima afirma, por�m, que o setor el�trico n�o aprendeu com crises anteriores e deixou de adotar medidas que poderiam atenuar a emerg�ncia atual, como aprimorar a rede de distribui��o para reduzir as perdas de energia.
Em 2019, segundo um relat�rio da Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (ANEEL), as perdas representaram 13,8% de toda energia consumida.
Metade das perdas se deveu a falhas t�cnicas, e a outra metade, a furtos (liga��es clandestinas e desvios da rede).
O �ndice de perdas tem se mantido est�vel nas �ltimas d�cadas. Em 2008, segundo a ANEEL, as perdas respondiam por 13,6% da energia consumida.

Conflitos por �gua
Angelo Lima diz que tamb�m s�o necess�rias medidas para garantir a oferta de �gua no m�dio e longo prazo.
Uma das a��es priorit�rias, segundo Lima, � zerar o desmatamento na Amaz�nia para assegurar a manuten��o do fen�meno conhecido como "rios voadores".
O fen�meno se deve � �gua que as �rvores da floresta bombeiam na atmosfera por meio da evapotranspira��o. Segundo especialistas, parte dessa �gua se transforma em chuva e ajuda a irrigar o centro-sul do Brasil.
Conforme a floresta � derrubada, no entanto, os "rios voadores" escasseiam, reduzindo as chuvas ao sul do bioma.
Lima defende ainda a preserva��o das florestas no pr�prio centro-sul do pa�s — neste caso, para garantir o bom funcionamento do sistema h�drico local.
Quando a floresta est� preservada, diz ele, a �gua das chuvas tende a infiltrar no solo e a alcan�ar dep�sitos subterr�neos, os len��is fre�ticos e aqu�feros.
S�o esses dep�sitos que alimentam as nascentes dos rios durante o ano todo, inclusive no per�odo seco.
J� quando a floresta � derrubada, e o solo fica desprotegido, a �gua tem mais dificuldade para penetrar no solo, o que dificulta a recarga dos dep�sitos e diminui a vaz�o dos rios na seca.
Outra a��o importante, diz Lima, � despoluir rios e cuidar de suas margens para evitar assoreamento.
O caso de duas cidades hoje sob racionamento mostra como essas a��es poderiam ter impactos ben�ficos.
Itu e Salto s�o atravessadas pelo Tiet�, um dos maiores rios de S�o Paulo. Mas, como o rio chega �s duas cidades polu�do por dejetos despejados em sua maioria na Grande S�o Paulo, o aproveitamento das �guas para o abastecimento p�blico fica prejudicado.

O que leva a outro ponto importante: para Lima, a gest�o das �guas (e dos rios) deve ser feita de modo integrado.
Cidades que poluem um rio prejudicam n�o s� seus moradores, como tamb�m os que est�o rio abaixo. Por isso todas as prefeituras deveriam se sentar � mesma mesa para discutir como gerenci�-lo, diz ele.
Lima afirma que j� existem inst�ncias aptas a lidar com quest�es desse tipo e mediar conflitos por �gua: os comit�s de bacias hidrogr�ficas.
Os comit�s re�nem representantes da comunidade e do poder p�blico (inclusive prefeituras) para deliberar sobre a gest�o das �guas em cada bacia.
Por�m, Lima afirma que muitas vezes faltam recursos para implantar as a��es definidas pelos grupos.
"Acredito que a gente precisa discutir a garantia de um or�amento m�nimo para esses �rg�os, assim como j� existe para a Sa�de e a Educa��o", defende.
Tamb�m � importante, segundo ele, que a quest�o h�drica se torne uma agenda pol�tica permanente — e n�o s� nos per�odos de escassez.
Lima afirma que, se o pa�s continuar a empurrar o problema com a barriga, os conflitos por �gua tendem a se agravar — especialmente � medida que as mudan�as clim�ticas mudarem os padr�es de chuvas no pa�s, como previsto.
O n�mero de conflitos j� est� em alta. Em 2020, segundo um relat�rio da Comiss�o Pastoral da Terra (CPT), havia 350 conflitos por �gua no pa�s.
O n�mero � quase cinco vezes maior do que em 2011 (68), quando o �rg�o come�ou a monitorar o tema.
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