Maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, onde vivem cerca de 140 mil pessoas, o Complexo da Mar� come�a nesta quinta-feira, 29, a vacinar em massa todos os seus moradores com mais de 18 anos. A iniciativa � parte de um estudo liderado pela Fiocruz sobre o impacto da vacina��o contra a covid-19 em uma popula��o desse porte. A imuniza��o nas 16 favelas da comunidade vai at� 1� de agosto. � a primeira vez que um estudo desse tipo � feito com tamanha abrang�ncia.
A meta � antecipar a vacina��o de 31 mil pessoas que, junto com as demais faixas et�rias que j� foram vacinadas, passar�o a ser monitoradas pelos pesquisadores. A efic�cia da vacina ser� avaliada a partir de crit�rios como idade, sexo, tipo de vacina ministrada, tempo de infec��o ap�s vacina��o, tempo at� a segunda dose, ocorr�ncia de casos graves e preven��o de mortes pela doen�a. Ser�o 121 salas de vacina��o, em 28 locais diferentes: postos de sa�de, escolas, associa��es de moradores.
"Olhar o impacto da vacina��o numa grande comunidade j� seria algo in�dito", afirma o coordenador do estudo, o infectologista Fernando Bozza, da Fiocruz.
"Agora, pensar que isso ser� realizado na Mar�, que tem uma dimens�o populacional superior a 96% dos munic�pios do Pa�s, � algo �nico, que nos permitir� um mapeamento com caracter�sticas singulares."
Al�m de testar a efetividade da imuniza��o, a pesquisa vai levantar aspectos da doen�a em si. Ser�o pesquisadas caracter�sticas como a din�mica de transmiss�o do v�rus no territ�rio, a vigil�ncia das suas variantes e o acompanhamento de poss�veis efeitos adversos da vacina.
Para calcular a prote��o que a vacina conferir� � popula��o do complexo, ser� feita testagem em massa. Al�m disso, todos os resultados positivos ser�o encaminhados para a realiza��o do sequenciamento gen�tico. Isso permitir� identificar a variante do v�rus e entender, por exemplo, se algumas cepas s�o mais eficientes do que outras para burlar a imuniza��o.
"Comparativamente ao restante da cidade, a comunidade da Mar� vacinou muito pouco, porque a popula��o ali � muito jovem; apenas 5% dos moradores t�m mais de 60 anos", destaca o coordenador do estudo. "Vamos aprender tamb�m como mobilizar esses jovens e adultos jovens para a imuniza��o, numa comunidade conflagrada, com tr�s grupos armados em conflito, com todas as dificuldades que a gente conhece."
Depois de vacinadas, duas mil fam�lias (cerca de 8 mil pessoas) ser�o acompanhadas de perto por seis meses. A meta ser� entender melhor a din�mica da dissemina��o do v�rus dentro das casas. Os pesquisadores querem saber como se d� a transmiss�o na fam�lia e, principalmente, se as crian�as e adolescentes estar�o protegidas com a imuniza��o dos adultos.
"Um dos objetivos do estudo � entender a din�mica da transmiss�o e a prote��o indireta que esse grupo pode adquirir uma vez que a fam�lia esteja imunizada", explica Bozza. "Queremos entender se a vacina��o em massa da popula��o adulta inibe a circula��o do v�rus de forma a proteger tamb�m as crian�as e adolescentes (que n�o ser�o vacinados)."
A mobiliza��o dos moradores da comunidade para a vacina��o � tamb�m um desafio, coordenado pela ONG Redes da Mar�, que atua h� mais de 20 anos na regi�o. Influenciadores locais e artistas como Ta�s Ara�jo e Joj� Todyinho est�o ajudando. Ao todo, mais de duas mil pessoas est�o envolvidas nos trabalhos de mobilizar e vacinar os moradores do Complexo.
"Este � um momento importante, n�o s� de reconhecimento da pot�ncia do territ�rio e do nosso trabalho, mas do estabelecimento de direitos, de forma republicana, para os moradores de favelas", sustenta a diretora da Redes da Mar�, Eliana Silva. "A parceria com institui��es de diferentes n�veis � um caminho concreto para reverter os danos causados pela pandemia e para a implementa��o de pol�ticas p�blicas que respondam aos desafios estruturais que vivenciamos."
Bozza aposta que vai ser um "momento hist�rico". "Vamos vacinar uma comunidade inteira, com 140 mil habitantes, numa parceria da Fiocruz, da secretaria municipal de sa�de e das Redes da Mar�, numa demonstra��o de que tem jeito para fazer as coisas."
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