Investiga��o da Pol�cia Civil identificou uma nova din�mica de venda de drogas na Cracol�ndia. Com o territ�rio dominado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e faturamento do tr�fico estimado em mais de R$ 200 milh�es por ano, a feira de entorpecentes a c�u aberto passou a se manter em movimento cont�nuo, girando entre a Esta��o Julio Prestes e a Rua Helv�tia, em uma esp�cie de "carrossel do crack".
As cerca de 30 tendas itinerantes s�o uma resposta do crime organizado � tentativa da Prefeitura de ocupar o territ�rio a partir da realiza��o de ao menos tr�s faxinas por dia. As adapta��es do tr�fico s�o alvo de inqu�rito do 77.� Distrito Policial (Santa Cec�lia) que em seis meses resultou em duas fases da Opera��o Caronte e na pris�o de 15 pessoas. Entre elas, est� Lorraine Cutier Bauer Romeiro, de 19 anos, que tinha milhares de seguidores em redes sociais.
Segundo a investiga��o, as barracas (ou "lojas") passaram a ser agrupadas em tr�s blocos separados, que se deslocam em grupo � medida que a varri��o avan�a. "Para as a��es de limpeza ocorrerem, h� no 'fluxo' um indiv�duo nominado 'salveiro', que d� o 'salve' e assim come�a uma desmontagem da estrutura do tr�fico", aponta relat�rio de intelig�ncia da pol�cia, obtido pelo Estad�o. "O 'fluxo' sai da Pra�a do Cachimbo, entra na Rua Helv�tia e se fixa nesta."
Por remeter a um trem em movimento, a nova estrutura foi nomeada pelos investigadores de "vag�o". "Cada um dos vag�es reunia de dez a 15 mesas para os traficantes", descreve o delegado Roberto Monteiro, titular da Seccional Centro.
Lucro di�rio
Apesar de a din�mica do "carrossel do crack" ser nova, o modelo de neg�cios � parecido com o que se via na Cracol�ndia antes da megaopera��o policial de 2017. As tendas s�o arrendadas pelo PCC que cobra, em m�dia, R$ 1 mil por semana aos traficantes "franqueados". Pelo esquema, o barraqueiro fica obrigado a comprar a droga da fac��o e, em troca, � protegido no territ�rio.
A pol�cia estima lucro di�rio de cada barraca entre R$ 5 mil e R$ 6 mil - que � dividido entre os "arrendat�rios". Normalmente, s�o tr�s por tenda. Com um casal, que foi preso tentando fugir durante a opera��o, os agentes chegaram a encontrar R$ 67,7 mil em esp�cie.
A rentabilidade do neg�cio atrai criminosos de diferentes regi�es. Boa parte dos barraqueiros detidos vivia, na verdade, em cidades da Grande S�o Paulo, como Barueri, Carapicu�ba e Itapecerica da Serra.
Moradora de uma casa comum em Barueri, Lorraine aparece nos relat�rios da pol�cia com o codinome de Lo Bauer e � acusada de atuar em uma das barracas. Em imagens colhidas pela investiga��o, foi flagrada em meio � feira de drogas, usando jaqueta, capuz e m�scara preta. Na mesa � sua frente, havia calhama�os de dinheiro.
Os barraqueiros mais abastados s�o chamados de "VIPs" e pagam mais por regalias, como descansar durante o dia ou pernoitar em hot�is e invas�es nas proximidades do fluxo. Esses im�veis s�o usados ainda para armazenar armas e entorpecentes, segundo os relat�rios. Ontem, a Prefeitura interditou um desses hot�is da regi�o.
A investiga��o constatou que um hotel pr�ximo "destina-se, primordialmente, ao recebimento em suas depend�ncias de traficantes que buscam esconderijo e descanso, assim como de usu�rios de drogas, que querem permanecer fora do fluxo e protegidos pelas paredes do decadente pr�dio, que se encontra em situa��o f�sica prec�ria", disse a Prefeitura.
Tamb�m aconteceriam reuni�es e "tribunais do crime" nesses locais. "Muitos pr�dios j� foram lacrados pela Prefeitura, por�m foram novamente invadidos e seguem sendo utilizados para finalidades criminosas, inclusive para prostitui��o, com a explora��o de menores", afirma um dos documentos.
Na hora do transporte de barracas, usu�rios de drogas ficam respons�veis por montar e desmontar as estruturas em outro lugar. S�o os" travessias". Tamb�m v�o buscar mais drogas nos im�veis para abastecer as tendas ao longo do dia. A estrat�gia � para que os dependentes sejam escudo, evitando que traficantes acabem incriminados.
Em paralelo ao tr�fico, o PCC mant�m no local uma feira de produtos furtados - com venda il�cita de celular, bicicleta, roupa, fio de cobre e at� documentos para usar em golpes. "Essa feira estrategicamente situada serve como blindagem a qualquer interven��o dos �rg�os de seguran�a no local, dando tempo de fuga e causando dist�rbio quando h� poss�vel amea�a ao 'fluxo'", diz um relat�rio.
Na quarta-feira, 28, o 77.� DP cumpriu mandado contra um motorista de aplicativo. A pris�o pode ajudar a desvendar o esquema do PCC para abastecer a Cracol�ndia e movimentar o dinheiro do tr�fico. Ele � suspeito de participar de esquema para levar drogas para a �rea. Al�m da entrada cont�nua de pequenas por��es (modalidade "formiguinha"), a pol�cia acredita que parte dos produtos � entregue por motoristas.
Outra fun��o seria recolher a quantia arrecadada com as tendas, normalmente em esp�cie, mais f�cil de ser apreendido pela pol�cia, e fazer a distribui��o entre lideran�as da fac��o.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), disse na quarta-feira que o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) na regi�o da Cracol�ndia foi dobrado e que barracas de venda de crack n�o ser�o mais admitidas no local. "Chamei a equipe, mostrei (as filmagens da pol�cia) e determinamos: n�o vai ter na cidade de S�o Paulo barraca de crack. Houve mais de 10 pris�es nos �ltimos dias", afirmou em entrevista � R�dio Eldorado. "Barraca de venda de crack n�o tem mais, a cidade de S�o Paulo n�o vai admitir. Pode ir l� hoje, pode ir amanh�".
O prefeito afirmou ainda que a gest�o tem feito um acompanhamento "muito forte" na �rea. "Eu dobrei o efetivo da Guarda Civil. Eram 80, hoje temos 160 (guardas). Dobramos o n�mero de viaturas. Hoje temos 32 constantes e mais 12 motos." Segundo Nunes, j� houve uma melhora. "No come�o do ano, ali havia mais de 860 pessoas. Ontem eram 420. O n�mero quase caiu pela metade".
58 mil seguidores
Nas redes sociais, Lorraine Cutier Bauer Romeiro aparentava uma vida confort�vel. Antes de ser presa duas vezes por tr�fico de drogas em menos de um m�s, a jovem branca e loira era seguida por 36 mil pessoas no Instagram e postava fotos em poses sensuais em locais paradis�acos, com praias ou cachoeiras ao fundo. Nesta quinta-feira, o n�mero de seguidores saltou para 58,8 mil.
Para a investiga��o da Opera��o Caronte, Lo Bauer (alcunha que consta em relat�rio de intelig�ncia da Pol�cia Civil) era respons�vel por uma das cerca de 30 barracas da feira de drogas a c�u aberto na Cracol�ndia. As tendas s�o arrendadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), que controla a �rea, cobra aluguel e fatura ao menos R$ 200 milh�es por ano.
�rf� do pai e m�e de uma beb� que tem menos de 10 meses, a investigada morava com a filha, a m�e e o irm�o em uma casa comum de Barueri, na Grande S�o Paulo. Ap�s ter a pris�o preventiva decretada pela Justi�a na sexta-feira passada ela est� na carceragem do 89.� Distrito Policial (Portal do Morumbi).
Policiais suspeitam que Lo Bauer tenha se associado � fac��o e come�ado a atuar na Cracol�ndia entre seis meses e um ano atr�s. "N�o era rica, mas tamb�m n�o precisava. Foi uma forma que ela encontrou para ostentar e pagar passeios de barco em Angra (dos Reis, RJ)", diz Luiz Carlos Zaparoli, da Seccional do Centro.
Segundo policiais, o envolvimento com o tr�fico teria come�ado a partir de seu relacionamento com Andr� Luis Santos Almeida, o MC Tatu China, o primeiro l�der da tenda. Na Cracol�ndia, o casal ainda tinha um ajudante. Com a pris�o do namorado no m�s passado, Lo Bauer teria assumido a ger�ncia do ponto, mas seu comando na barraca durou apenas 22 dias.
Diante da repercuss�o do caso, o irm�o da investigada chegou a publicar v�deo em que afirma: "Infelizmente ela se envolveu com pessoas erradas. Sempre teve vida boa, uma fam�lia boa, que a apoiou e deu conselhos. Mas acabou tomando escolhas erradas. Agora vai pagar pelo que fez. A gente, a fam�lia dela, de maneira alguma vai lhe passar a m�o na cabe�a."
A fam�lia j� havia enfrentado uma primeira trag�dia em 2014. O empres�rio Ricardo Bauer Romeiro, pai dela, foi baleado e morreu em um assalto em Barueri, de acordo com a pol�cia. "Sem d�vida, � um drama familiar", afirma o delegado Severino Pereira de Vasconcelos, titular do 77.� DP (Santa Cec�lia), que comanda as investiga��es na Cracol�ndia.
Apesar de Romeiro aparecer em dois registros policiais, os investigadores descartam que ele tivesse envolvimento com o crime. Seus antecedentes seriam de les�o corporal, por causa de um acidente de tr�nsito, e posse de droga.
Duas pris�es
Lo Bauer foi detida dia 30 de junho pela Guarda Civil, numa rodada de faxina na Cracol�ndia. Ao perceber os guardas, saiu andando e foi abordada na Rua Helv�tia, portando 9,9 gramas de maconha, 9 de coca�na e 15 pedras de crack, escondidos no suti� e na calcinha. No bolso, tinha um aparelho celular avaliado em mais de R$ 6 mil.
Na segunda pris�o, ela foi encontrada �s 7 horas na casa do namorado, tamb�m em Barueri. No local, a pol�cia relata ter encontrado 295 por��es de coca�na, 97 de lan�a-perfume, 85 de maconha, 16 de ecstasy e oito de crack.
Ao mand�-la para a carceragem, a ju�za Celina Macedo Stern escreveu: "A convers�o do flagrante em pris�o preventiva se faz necess�ria a fim de se evitar a reitera��o delitiva, eis que em liberdade e, at� mesmo, em pris�o domiciliar, frise-se, (Lo Bauer) j� demonstrou concretamente que continuar� a delinquir". O advogado criminalista Jos� Almir, contratado pelos parentes para defend�-la, disse que s� iria encontrar a investigada ontem e ainda n�o poderia se posicionar ainda sobre o caso. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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