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Estado de Minas GERAL

Rara obra de Tebas, construtor negro do s�culo 18, � restaurada em Itu


02/08/2021 10:48

Uma raridade. De 1795, o cruzeiro de S�o Francisco � um dos poucos remanescentes de seu tipo no Pa�s e um dos tr�s �nicos trabalhos documentados ainda existentes do mestre pedreiro Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, construtor negro por tr�s de ic�nicas obras paulistas do s�culo 18. Ap�s d�cadas sem os cuidados necess�rios, a obra come�ou a ser restaurada no centro hist�rico de Itu, interior de S�o Paulo, trabalho que deve se estender ao menos at� o fim do ano.

Trata-se de uma cruz de rocha talhada com cerca de 9 metros. Est� encravada na Pra�a Dom Pedro I, antigo Largo de S�o Francisco, que outrora integrava um conjunto arquitet�nico franciscano, do qual � o �nico testemunho ainda de p�. Com os s�culos, o monumento virou ponto de encontro social e de celebra��es da mem�ria e da cultura da popula��o negra.

A cruz � tombada em n�vel estadual desde 2003, junto com outros bens do centro hist�rico ituano. Tamb�m � �nica por sua composi��o: arenito, oriundo da regi�o de Sorocaba, e varvito, de Itu, rocha sedimentar formada a partir da glacia��o de rios h� milh�es de anos.

O bem teve a autoria de Tebas (tamb�m grafado como Thebas) identificada h� pouco mais de cinco anos, pelo ent�o pesquisador do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e historiador Carlos Gutierrez Cerqueira. Ele pesquisava em um livro de registros franciscano, quando viu dados da contrata��o dos servi�os do mestre de obras.

A constru��o durou cerca de um m�s e contou com os trabalhos de Jo�o, homem escravizado que trabalhava para Tebas, ele pr�prio um ex-escravo que comprou a liberdade ap�s ganhar uma a��o judicial.

O restauro busca recuperar rachaduras, lascas e outros danos de s�culos de exposi��o a chuvas e sol e, tamb�m, de contamina��o biol�gica, com formigas e fungos. A manuten��o nas d�cadas foi considerada ineficiente. "Estava em situa��o muito ruim. N�o se sabe como n�o caiu", diz a restauradora Maria Luiza Dutra, que elaborou o projeto de restauro.

Para estabilizar a estrutura, foi necess�rio colocar uma estrutura com andaime. Uma an�lise pr�via ao in�cio dos trabalhos j� havia constatado obtura��es na estrutura, preenchidas com pedras e at� resina. "� muito delicado, fr�gil demais", acrescenta a arquiteta. Cogita-se manter algumas caracter�sticas do s�tio arqueol�gico, al�m de expor parte dos artefatos achados em um museu no entorno. � o que aponta Emerson Castilho, diretor municipal de Patrim�nio Hist�rico de Itu.

Segundo ele, os franciscanos foram trazidos para a regi�o por ricos produtores de a��car, a fim tamb�m de introduzir costumes e culturas da Europa. A ideia � construir um pavilh�o para expor pe�as arqueol�gicas encontradas na pra�a, embora a cess�o do acervo dependa de tratativas na esfera federal.

Uma equipe de arqueologia fez prospec��es no entorno do cruzeiro em janeiro, nas quais foram achados 193 fragmentos cer�micos, vidros, uma medalha franciscana e itens de per�odos distintos. O arque�logo Paulo Zanettini, que coordenou o trabalho, diz que outros artefatos encontrados na �rea j� apontavam potencial arqueol�gico, como uma urna e uma cer�mica ind�genas �ntegras.

"O desenho da pra�a mudou, possivelmente incorporou quintais de casas j� desaparecidas", ressalta o arque�logo. "Debaixo do ch�o que a gente pisa, h� uma enormidade de informa��es que se perdem se n�o h� um estudo t�cnico adequado."

Tebas tem passado por uma revaloriza��o, como aponta Ab�lio Ferreira, organizador do livro Tebas - Um negro arquiteto na S�o Paulo escravocrata. Um dos reconhecimentos foi o t�tulo de arquiteto, dado pelo Sindicato dos Arquitetos de S�o Paulo h� tr�s anos. Ferreira tamb�m destaca que Tebas foi famoso quando vivo, mas que essa mem�ria se perdeu. "As pessoas ficam espantadas em como uma pessoa que fez interven��es t�o decisivas em S�o Paulo ficou desconhecida por tanto tempo", comenta.

Em uma S�o Paulo em grande parte de taipa de pil�o (t�cnica construtiva com barro e outros materiais), a cantaria (entalhe de pedra) era um luxo, pago praticamente s� por ordens religiosas (mesmo assim, apenas para a fachadas dos im�veis). O dom�nio dessa pr�tica era raro na regi�o, sendo Tebas um dos maiores expoentes.

Hoje, restam, contudo, apenas tr�s obras que tem comprovada participa��o do construtor: as fachadas das Igrejas da Ordem Terceira do Carmo, na Avenida Rangel Pestana, e das Chagas do Ser�phico Pai S�o Francisco, no Largo do Francisco, ambas na capital, e o cruzeiro de Itu. Ele tamb�m participou das obras das antigas Catedral da S� e Igreja do Mosteiro de S�o Bento, al�m do chafariz do Largo da Miseric�rdia, que n�o existem mais, dentre outras.

O historiador Luis Gustavo Reis, que pesquisou o tema, acredita que h� outros trabalhos ainda desconhecidos de Tebas. Como exemplo, cita a Cal�ada de Lorena, primeiro caminho pavimentado a ligar S�o Paulo e Santos, cujas t�cnicas de execu��o indicam poss�vel participa��o do mestre pedreiro.

Reis relata que Tebas nasceu em Santos, em 1733, tendo apreendido o of�cio com o mestre de obras Bento de Oliveira Lima. Embora tenha sido escravizado por grande parte da vida, vivia com mais autonomia do que o padr�o da sua condi��o na �poca, vivendo em uma casa sozinho com a esposa. tendo bens e negociando contratos. Por volta de 1778, comprou a pr�pria liberdade ap�s ganhar o direito de ser indenizado pela vi�va de Lima na Justi�a.


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