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Estado de Minas GERAL

No YouTube, la�os entre Brasil e Mo�ambique


09/08/2021 17:07

Quando criou seu canal no YouTube, no ano passado, o mo�ambicano Juma Ibraimo, de 25 anos, queria divulgar not�cias de figuras p�blicas de seu pa�s. J� seus compatriotas Marcelino Francisco, Aur�lio do Ros�rio Jr. e Calton Pedro, mais antigos na plataforma, se aventuravam em v�deos sobre cultura africana, "reacts" a clipes e at� v�deos de m�gicas. Os conte�dos n�o fizeram muito sucesso inicialmente, mas eles est�o hoje na lista de maiores youtubers de Mo�ambique. A raz�o? O sucesso que passaram a fazer entre brasileiros.

Com a vantagem de tamb�m falarem portugu�s, mo�ambicanos (a maioria de regi�es pobres do pa�s africano) t�m visto seus canais explodirem nos �ltimos meses no Brasil com v�deos no estilo vlog. Entre os conte�dos de maior sucesso est�o os que mostram comidas ou h�bitos "de pobre" no Brasil, mas considerados "de rico" em Mo�ambique e os que relatam a dificuldade em ter acesso a servi�os que no Brasil s�o considerados b�sicos, como ruas asfaltadas, energia e �gua pot�vel.

Os youtubers relatam que a maioria de seus acessos vem do Brasil e que, al�m de fi�is, os brasileiros s�o engajados. Enviam doa��es via paypal que ajudam a comprar produtos b�sicos para pessoas ainda mais necessitadas de suas comunidades.

As aquisi��es e as experi�ncias s�o mostradas nos canais, como no v�deo em que Ibraimo exibe a primeira vez que comeu pizza - o prato � considerado caro para padr�es mo�ambicanos. Por l�, o sal�rio m�nimo � equivalente a R$ 330. O v�deo mostrando a ida � pizzaria j� tem mais de 550 mil visualiza��es.

Al�m de doa��es diretas via plataforma de transfer�ncias internacionais, alguns youtubers contam com a ajuda dos brasileiros para criar campanhas em plataformas nacionais de financiamento coletivo, como o site Vakinha, ou disponibilizar chaves pix para doa��es em reais. O aux�lio � essencial porque � preciso ter CPF para tais opera��es. Os valores depois s�o transferidos aos estrangeiros.

Ibraimo, por exemplo, j� comprou um notebook com a vaquinha feita pelos f�s. Em seu canal, Conhe�a Mo�ambique, 90% dos visitantes s�o brasileiros. Com 226 mil inscritos, � o maior de Mo�ambique com conte�do para o p�blico brasileiro e, de acordo com listas informais, o terceiro mais forte do pa�s.

O mais impressionante � que, h� dois meses, o mo�ambicano tinha apenas 10 mil inscritos. "Nunca imaginei que meu crescimento fosse ser t�o r�pido. O Brasil � um pa�s com uma popula��o muito curiosa. Querem entender o estilo de vida de outros pa�ses e ajudar."

O jovem diz acreditar que as raz�es para o sucesso s�o a simplicidade, a objetividade e a persist�ncia. Mesmo com dificuldades de acesso � internet, ele posta v�deos todos os dias e faz ao menos uma live semanal. "A internet em Mo�ambique est� cara. J� passei fome, mas n�o permitia ficar sem internet."

Os youtubers contam que o pre�o e a velocidade da conex�o s�o desafios. "� dif�cil ter internet Wi-Fi em casa. � tudo pr�-pago, caro. E a velocidade varia de 2Mb a 5Mb", contou Ros�rio Jr., de 20 anos, cujo canal tem 195 mil inscritos - a maior parte dos acessos vem do Brasil.

Outro youtuber do grupo, Calton Pedro conta que muitas vezes tem de usar o Wi-Fi da empresa onde faz est�gio n�o remunerado. Dono do canal Africanidades CP, com quase 48 mil inscritos, ele concorda que o fasc�nio de brasileiros pelo conte�do est� na curiosidade em conhecer melhor a �frica e na como��o com a desigualdade. "Ficam comovidos ao saber que h� coisas b�sicas para eles que, em Mo�ambique, s� pessoas que t�m melhores condi��es podem ter, como um liquidificador."

Malas prontas

Por meio de uma vaquinha feita por um f�, Ros�rio Jr. arrecadou R$ 9,2 mil para vir ao Pa�s. A viagem deve ocorrer ainda neste m�s.

Ros�rio seguir� o caminho do pioneiro Marcelino Francisco. O jovem de 24 anos tem 170 mil inscritos no canal - 84% dos acessos v�m do Brasil. Com o apoio dos f�s e a monetiza��o, ele visitou o Pa�s tr�s vezes. Na �ltima, morou oito meses em Curitiba a convite de amigos.

O mo�ambicano disse que decidiu virar youtuber ap�s tentar, em v�o, conseguir um emprego. "At� cheguei a fazer est�gio, mas, quando recebi o primeiro pagamento do YouTube, percebi que, at� por ser em d�lar, era um valor maior do que o sal�rio de muitas empresas", relata. "Hoje, consigo pagar contas e ajudar minha fam�lia."

Francisco tamb�m come�ou mostrando as condi��es dif�ceis de Mo�ambique. Mas depois passou a destacar a cultura, a gastronomia e as belezas do pa�s. "N�o quero que olhem para Mo�ambique com pena. Temos riquezas, praias. � importante ter equil�brio."

Para Eul�lio Figueira, professor do Departamento de Ci�ncias Sociais da PUC-SP, esse movimento de exposi��o das condi��es de vida que desperta a vontade de ajudar � algo comum na atualidade e uma tend�ncia, tendo em vista o sucesso dos youtubers e dos reality shows. Com a pandemia, isso pode ter se intensificado. "As redes trazem for�a nessa dire��o e esse tipo de linguagem, quando tem uma fragilidade por causa da pandemia, encontra um terreno f�rtil para crescer."
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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