A morte do ator Tarc�sio Meira, de 85 anos, v�tima da covid-19, e o aumento de interna��es de idosos no Rio e em S�o Paulo levantaram o debate no Brasil sobre a necessidade de dar uma terceira dose para os idosos. Especialistas ouvidos pelo Estad�o dizem que a revacina��o para essa faixa et�ria ser� necess�ria, mas veem com ressalvas uma inje��o extra agora, uma vez que boa parte dos adultos brasileiros ainda n�o foi completamente imunizada. Outros pa�ses, como Chile e Israel, j� aplicam o refor�o em grupos mais vulner�veis.
Tarc�sio Meira j� havia completado a vacina��o contra a covid-19 em mar�o, mas n�o h� confirma��o sobre qual imunizante. Internado desde 6 de agosto no Hospital Albert Einstein, em S�o Paulo, o artista foi intubado, mas n�o resistiu. A mulher dele, a atriz Gl�ria Menezes, de 86 anos, tamb�m foi internada, com quadro mais leve.
A morte do ator n�o sugere inefic�cia das vacinas. Em um momento de alta circula��o do v�rus, as infec��es - mesmo em pessoas vacinadas - podem ocorrer. No caso de idosos que receberam as doses, os quadros podem evoluir para a morte, embora os riscos sejam pequenos. Os mais velhos e as pessoas imunocomprometidas, como pacientes de c�ncer, t�m sistema imunol�gico mais enfraquecido e a produ��o de anticorpos - para qualquer vacina - � menor e cai com o tempo.
Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imuniza��es (PNI), afirma que ainda faltam evid�ncias cient�ficas para definir a melhor estrat�gia de revacina��o. Tamb�m diz que dados sobre interna��es e mortes de idosos vacinados n�o s�o conclusivos para que o Pa�s corra para dar a 3� dose a esta faixa et�ria. "Essa decis�o n�o pode ser tomada de forma assoberbada."
Estudo conduzido pela Fiocruz com pesquisadores do Observat�rio Covid-19 BR projetou aumento de interna��es de idosos com covid-19 nas �ltimas semanas. Em S�o Paulo, segundo os dados compilados pelo grupo, o crescimento ocorre tanto na faixa et�ria de 70 a 79 anos quanto na de idosos com mais de 80 - a subida � maior neste �ltimo grupo.
Os n�meros n�o permitem dizer que o aumento de interna��es tem rela��o com a diminui��o da prote��o das vacinas, mas essa � uma das hip�teses, segundo Leonardo Bastos, do Programa de Computa��o Cient�fica da Fiocruz. "A diferen�a entre os grupos � a cobertura vacinal. Eles (os idosos de mais de 70) receberam a vacina antes."
Os dados de interna��o da Fiocruz s�o proje��es a partir de n�meros oficiais do Minist�rio da Sa�de, registrados com atraso. Para fazer a an�lise, os pesquisadores "aprendem" com o a demora de registros e estimam a situa��o real vivida nos hospitais. No Estado do Rio, a alta de interna��es � mais acentuada entre os maiores de 80, mas tamb�m j� foi verificada na faixa et�ria de 60 a 69 anos em agosto.
Em julho, o Minist�rio da Sa�de iniciou pesquisa para indicar a necessidade da 3� dose para idosos que tomaram a Coronavac. O Estad�o apurou que a c�mara t�cnica do Plano Nacional de Imuniza��o (PNI) vai discutir nesta sexta-feira a tend�ncia de interna��es de idosos. Oficialmente, o minist�rio diz apenas que acompanha estudos de efetividade das vacinas e, "caso seja necess�ria a administra��o de doses adicionais, o tema ser� levado � C�mara T�cnica Assessora em Imuniza��o e Doen�as Transmiss�veis".
"� premente que o Minist�rio da Sa�de estude o assunto para planejar", diz Carla. Antes de iniciar a 3� dose, por�m, ela acredita que o Brasil precisa acelerar a vacina��o com a segunda dose, considerando o avan�o da variante Delta, mais transmiss�vel. Estudos j� demonstraram que s� uma dose das vacinas n�o protege contra a cepa. A possibilidade de revacina��o, segundo a epidemiologista, deve ser estudada para todas os imunizantes - e n�o apenas para a Coronavac. Mas j� se sabe que vacinas produzidas com v�rus inativado, como � o caso da Coronavac, exigir�o refor�o no futuro.
No exterior, campanha do refor�o j� come�ou
Nos pa�ses que est�o mais � frente na cobertura vacinal, a estrat�gia de revacina��o j� come�ou. � o caso de Israel, que iniciou este m�s a aplica��o da 3� dose do imunizante da Pfizer em maiores de 60 anos. O pa�s tem 62% da popula��o totalmente imunizada gra�as a uma r�pida campanha que come�ou em dezembro. No Brasil, s� 22,4% da popula��o tomou as duas doses.
Nos Estados Unidos, que t�m metade da popula��o totalmente imunizada, a Food and Drug Administration (FDA) analisa a libera��o de doses de refor�o contra a para pessoas imunocomprometidas. E, nesta quarta-feira, vacinados com duas doses da Coronavac no Chile come�aram a receber uma 3� dose da vacina da AstraZeneca.
A 3� dose no Chile come�ou a ser aplicada para maiores de 86 anos, mas o plano nacional contempla vacinar com a dose extra os maiores de 55 anos nas pr�ximas quatro semanas. O pa�s andino conduziu uma das campanhas de vacina��o mais eficientes do mundo, que j� alcan�ou 82% do p�blico-alvo com duas doses e quase 87% com uma dose.
Para a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes), o Brasil tem dificuldades de fazer esse debate porque parte significativa da popula��o ainda n�o tomou nenhuma dose. "O Brasil precisa fazer esfor�os para ter mais doses e proteger as pessoas que t�m diminui��o da resposta imunol�gica."
Em Estados ou munic�pios com vacina��o mais adiantada, o dilema de prioridades se imp�e. A capital paulista, por exemplo, deve iniciar a vacina��o de adolescentes este m�s - e disse aguardar defini��o do Minist�rio da Sa�de e do governo do Estado para planejar a 3� dose aos idosos. Procurado sobre a inten��o de aplicar a dose extra, o governo estadual paulista n�o respondeu. A prefeitura do Rio j� informou que pretende aplicar uma terceira dose de vacinas em idosos antes do m�s de outubro.
Ao Estad�o, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que, embora estudos da Sinovac j� tenham mostrado que uma dose adicional potencializa a resposta imunol�gica no caso da Coronavac, "n�o podemos pensar em um novo ciclo quando apenas pouco mais de 20% da popula��o recebeu a segunda dose" da vacina. "Temos de ter uma imuniza��o de porcentual elevado, de 80% a 85% da popula��o com as duas doses, para, inclusive, termos uma resist�ncia maior �s variantes", afirmou. Ele lembra que a Organiza��o Mundial de Sa�de n�o recomenda a terceira dose enquanto a cobertura entre adultos nos pa�ses segue baixa.
Segundo Ethel, uma eventual decis�o de postergar a vacina��o de adolescentes para atender idosos � complexa. "� dif�cil tomar decis�es no cen�rio de escassez, n�o dever�amos ter de fazer essa escolha. E nossos adolescentes tamb�m merecem ser vacinados". Ela destaca que os EUA v�m registrando aumento de interna��es entre crian�as e adolescentes, associado � variante Delta.
Uma sa�da nesse caso, diz, seria destinar a Coronavac para adolescentes e aplicar vacinas de RNA, como a da Pfizer, nos idosos. Estudos mostraram boa efic�cia da Coronavac em crian�as, mas o imunizante ainda n�o est� aprovado no Brasil para esta faixa et�ria. O Butantan, respons�vel pela produ��o da Coronavac, aguarda a libera��o pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).
J� na opini�o do infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Cl�nicas da USP, uma vez observada alta de interna��es em idosos, a vacina��o de adolescentes deveria ser adiada um pouco para dar prefer�ncia aos idosos. E medidas n�o farmacol�gicas t�m de ser intensificadas no Brasil, segundo os especialistas. "Como estamos com transmiss�o acelerada, n�o tem medida �nica. Mesmo que a 3� dose possa acontecer, precisamos usar m�scara", diz Ethel. Outras medidas, como o distanciamento social, continuam recomendadas. (Colaborou Roberta Jansen)
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