
S�o enganosas as afirma��es sobre vacinas feitas por uma m�dica durante live transmitida no YouTube. Em um trecho que viralizou no TikTok, Maria Emilia Gadelha Serra tira dados de infec��es entre vacinados de contexto, cita informa��es de efeitos adversos p�s-vacina��o sem que tenham sido confirmados por t�cnicos e afirma que componentes das vacinas causariam dem�ncia, o que n�o possui embasamento cient�fico, segundo autoridades no assunto.
Os imunizantes que est�o sendo aplicados na popula��o n�o s�o experimentais, ao contr�rio do que diz a m�dica. Todas as subst�ncias utilizadas no Brasil foram autorizadas pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) ap�s terem efic�cia e seguran�a comprovadas ao serem aplicadas em milhares de volunt�rios durante os testes.
Ela sustenta que a maioria dos casos graves atuais da doen�a no Brasil ocorre em pessoas j� vacinadas, o que n�o � verdadeiro, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de S�o Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Al�m disso, ela compara a realidade do Brasil com os dados da Inglaterra e de Israel. No entanto, � equivocado fazer esse tipo de compara��o sem considerar muitas vari�veis como momento epidemiol�gico, cobertura vacinal, caracter�sticas sociais e demogr�ficas da popula��o.
Ainda atacando as vacinas, a m�dica diz haver, no Brasil, 23% de notifica��es de �bitos p�s-Coronavac, afirmando ter coletado os dados no Vigimed, o sistema disponibilizado pela Anvisa para cidad�os, profissionais de sa�de, detentores de registro de medicamentos e patrocinadores de estudos relatarem suspeitas de eventos adversos aos medicamentos e �s vacinas. No entanto, a plataforma cont�m um alerta de que aqueles dados s�o suspeitas e de que os eventos adversos s� podem ser realmente associados �s vacinas ap�s an�lise t�cnica. A Anvisa informou ao Comprova que, at� o momento, nenhum �bito foi identificado com rela��o � vacina.
Sobre a declara��o de que o Butantan utilizou hidr�xido de alum�nio, vacina de hepatite e de meningite como placebo, o Comprova identificou que a primeira subst�ncia � utilizada em vacinas desde a d�cada de 30 e que n�o h� evid�ncia cient�fica que comprove a associa��o entre ela e o desenvolvimento de Alzheimer. As duas outras subst�ncias citadas pela m�dica n�o foram utilizadas pelo instituto durante os testes da Coronavac.
Maria Emilia Gadelha foi procurada pela reportagem, mas n�o respondeu at� a publica��o. Para o Comprova, � enganoso o conte�do que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor.
Como verificamos?
Consultamos o painel de farmacovigil�ncia da Anvisa, chamado VigiMed, para ver os dados de efeitos adversos relacionados a vacinas. Como esta ferramenta n�o traz a conclus�o dos t�cnicos sobre a rela��o (ou n�o) dos eventos com os imunizantes, entramos em contato com o �rg�o por e-mail para obter essa informa��o.
Os especialistas procurados para comentar sobre a seguran�a das vacinas atualmente em uso no Brasil foram Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es, e Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas. Eles deram informa��es sobre o uso de alum�nio em imunizantes. Para este fim, tamb�m foram consultados os sites do Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), dos Estados Unidos, e da Alzheimer’s Society, do Reino Unido.
As informa��es sobre vacinados e infec��es na Inglaterra foram obtidas por meio de consultas a reportagens da m�dia local. As mesmas informa��es sobre Israel foram consultadas em duas checagens recentes do Comprova (esta e esta) que j� haviam entrado em contato com o Minist�rio da Sa�de de Israel. Foram verificados, ainda, dados oficiais de ambos os governos.
Solicitamos informa��es sobre vacinados e infectados ao Minist�rio da Sa�de do Brasil e tamb�m acessamos publica��es da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Entramos em contato com o Instituto Butantan, produtor no territ�rio nacional da Coronavac. Tamb�m consultamos o artigo do instituto com as informa��es sobre os estudos cl�nicos da vacina.
Por fim, a m�dica que fez as alega��es foi procurada, mas n�o respondeu.
O Comprova fez esta verifica��o baseado em informa��es cient�ficas e dados oficiais sobre o novo coronav�rus e a covid-19 dispon�veis no dia 24 de agosto de 2021.
Verifica��o
Vacinas usadas no Brasil n�o s�o experimentais
Durante a live, a m�dica se refere �s vacinas contra a covid-19 tratando-as como experimentais. Dois dos imunizantes atualmente em uso no Brasil, da Pfizer e de Oxford-Astrazeneca, produzido no pa�s pela Fiocruz, j� receberam o registro definitivo da Anvisa e podem, inclusive, ser comercializados. As outras duas, Coronavac e Janssen, receberam autoriza��o de uso emergencial para serem aplicadas em virtude da pandemia.
A Anvisa explica em seu site que este tipo de autoriza��o serve para facilitar a disponibiliza��o e o uso das vacinas numa emerg�ncia de sa�de p�blica. Ainda segundo o �rg�o, elas n�o representam risco para a sa�de, tendo em vista que a aprova��o exige requisitos de seguran�a, qualidade e efic�cia.
“O car�ter tempor�rio � a principal diferen�a entre o ‘uso emergencial’ e o ‘registro sanit�rio’. Enquanto o uso emergencial � uma autoriza��o excepcional, o registro representa uma aprova��o sem prazo determinado”, diz a Anvisa.
As quatro vacinas utilizadas no pa�s tiveram efic�cia comprovada em fase 3, na qual elas foram aplicadas em milhares de volunt�rios. Com isso, pode-se observar, por amostragem, qual � o resultado esperado para quando o imunizante for aplicado em massa. Antes disso, j� haviam passado por duas fases de testes cl�nicos, em um n�mero menor de pessoas.
O trabalho dos laborat�rios e da Anvisa n�o para ap�s a aprova��o de um imunizante. Depois disso, vem a fase 4: monitoramento da popula��o para averiguar se os efeitos adversos s�o consistentes com o observado nos testes. Isso � feito por uma quest�o de seguran�a.
No primeiro ano da pandemia, a principal preocupa��o era saber se os imunizantes eram eficazes em desacelerar cont�gios e diminuir a probabilidade de quadros graves e hospitaliza��o dos doentes. Com isso, seria poss�vel que os governos fornecessem a estrutura necess�ria e os hospitais n�o entrassem em colapso. Foi com esse enfoque que os estudos foram desenhados inicialmente e mostraram que as vacinas eram eficazes.
Agora, os estudos continuam para levantar outras informa��es. Os cientistas buscam compreender, por exemplo, qual a efic�cia das vacinas contra variantes do coronav�rus e por quanto tempo dura a prote��o conferida por elas.
Pesquisa mostra que maior parte dos mortos no Brasil n�o foi vacinada
No v�deo, a m�dica alega que “a maioria dos casos graves, hoje em dia, s�o de vacinados no Brasil”. Segundo ela, isso seria uma percep��o sua diante de “comunicados de m�dicos nos grupos de WhatsApp”.
Na contram�o do que ela afirma, a plataforma de monitoramento Info Tracker, mantida por pesquisadores da Universidade de S�o Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizou a an�lise de todas as mortes causadas por coronav�rus entre janeiro e julho deste ano, apontando que a maioria dos �bitos por covid no Brasil foram de pessoas que n�o haviam sido vacinadas.
O estudo, divulgado pela imprensa, utilizou dados do Minist�rio da Sa�de e concluiu que 9.878 pessoas que faleceram pela doen�a no per�odo analisado estavam imunizadas, o equivalente a 3,68% das mortes neste per�odo.
No �ltimo dia 20, o Brasil chegou � marca de 120 milh�es de brasileiros vacinados com a primeira dose, o que corresponde a 75% da popula��o adulta, segundo o Minist�rio da Sa�de. O pa�s tem mais de 53,2 milh�es de pessoas acima dos 18 anos completamente imunizadas com a segunda dose ou dose �nica do imunizante.
O Comprova questionou ao Minist�rio da Sa�de se houve aumento ou diminui��o de pacientes em estado grave e de �bitos dentre os vacinados. O �rg�o respondeu terem sido notificados, em 2021, 792.596 casos de S�ndrome Respirat�ria Aguda Grave (SRAG), somando tanto os casos confirmados para covid-19 quanto os casos sem determina��o da causa da doen�a. Destes casos, 156.825 (19,8%) haviam recebido a primeira dose da vacina 14 dias, ou mais, antes do in�cio dos sintomas, e 59.514 (7,5%) haviam recebido a segunda dose da vacina 14 dias, ou mais, antes da data do in�cio dos sintomas.
Desde 2019, a Secretaria de Vigil�ncia em Sa�de (SVS) passou a monitorar a SRAG decorrente de Influenza e outros v�rus respirat�rios, sendo inclu�da em 2020 a vigil�ncia da covid-19, a infec��o humana causada pelo novo coronav�rus.
“Importante ressaltar que tais dados s�o preliminares e, para an�lise, � necess�rio levar em considera��o o n�mero de indiv�duos imunizados, o momento epid�mico da vacina��o e do uso de cada vacina, o tempo de observa��o decorrido para cada imunizante, entre outras covari�veis. As interpreta��es sobre a efetividade ou impacto da vacina n�o podem ser desprendidas destes dados da maneira como est�o apresentados”, destacou o Minist�rio da Sa�de, acrescentando que as vacinas n�o impedem a ocorr�ncia de formas graves, apenas as reduzem substancialmente.
“Outro ponto a ser considerado � que j� foram alcan�adas coberturas vacinais superiores a 90% nos idosos, o que resultou em uma queda substancial na ocorr�ncia de casos graves e �bitos por Covid-19 nesse p�blico”.
O Minist�rio da Sa�de cita um estudo feito em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e com a Universidade Harvard (EUA), cujo resultado evidencia que cerca de 43 mil brasileiros acima de 70 anos foram salvos pelos imunizantes em um per�odo de 90 dias, ao analisarem o cen�rio epidemiol�gico de mais de 230 mil �bitos causados pela doen�a no pa�s, entre 3 de janeiro a 27 de maio deste ano.
“Os resultados corroboram a elevada efetividade das vacinas covid-19 em reduzir formas graves e �bitos pela doen�a, o que vem sendo observado em estudos de efetividade ap�s a implanta��o da vacina��o”.
A edi��o do dia 19 de agosto do Boletim do Observat�rio Covid-19 Fiocruz informa que pela oitava semana consecutiva foi observada redu��o do n�mero de casos, interna��es e �bitos no pa�s. No decorrer das semanas anteriores, destaca, houve um al�vio relativo nos hospitais, com a redu��o das taxas de ocupa��o de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema �nico de Sa�de (SUS).
A exce��o � o estado do Rio de Janeiro que apresenta aumento no indicador pela terceira semana consecutiva, voltando a atingir o patamar de 70%, o que n�o ocorria desde meados de junho, emitindo um alerta para a difus�o da variante Delta, devido � alta transmissibilidade e � reduzida parcela da popula��o com esquema de imuniza��o completo.
Uma nota t�cnica do Observat�rio Covid-19 Fiocruz publicada em julho de 2021 mostra que, considerando as taxas de incid�ncia das hospitaliza��es e mortes por covid-19 por faixas et�rias e em cada regi�o do pa�s, � poss�vel ver uma queda no n�mero de casos a partir de mar�o, principalmente nas faixas et�rias 60-79 anos e 80+, ou seja, primeiros grupos a serem vacinados no pa�s.
“Com os resultados de efetividade da vacina��o aqui descritos e com a cobertura vacinal maior nestas faixas do que em outras no per�odo, a vacina��o foi um importante fator para redu��o do n�mero de casos graves e �bitos”, diz o documento, que foi confeccionado utilizando as bases de dados do sistema do Programa Nacional de Imuniza��es (PNI) e do Sistema de Informa��o da Vigil�ncia Epidemiol�gica da Gripe (SIVEP-Gripe) com dados reportados at� 7 de junho.
Delta aumenta hospitaliza��es na Inglaterra e em Israel, que t�m alta cobertura vacinal
Embora a m�dica diga que a maioria dos casos graves na Inglaterra e em Israel s�o entre os vacinados, � equivocado comparar dados de pa�ses distintos. Muitas vari�veis impactam nos resultados, como n�mero de indiv�duos imunizados, momento epid�mico da vacina��o e estrat�gia adotada para a imuniza��o – como foi dito acima.
O Comprova j� publicou diversas verifica��es (1, 2 e 3) informando que a vacina��o protege contra casos graves de covid-19 e, consequentemente, �bitos, mas estudos sugerem menor efic�cia quando o imunizado entra em contato com a variante delta e de acordo com o tempo passado ap�s a segunda dose da vacina.
A circula��o da cepa em pa�ses como Israel e Inglaterra tem aumentado o n�mero de interna��es hospitalares, mas os dados devem ser contextualizados. Ambos os pa�ses, por exemplo, t�m ampla cobertura vacinal, sendo normal, portanto, que os casos positivados estejam associados a pessoas vacinadas em algum grau.
O governo de Israel registra aumento nas infec��es como resultado da circula��o da variante, inclusive com a hospitaliza��o de pacientes totalmente vacinados, principalmente entre os grupos de risco.
Na semana passada, ao ser procurado pelo Comprova, o Minist�rio de Sa�de israelense informou que a mais recente onda de contamina��es no pa�s se d�, al�m da apari��o da Delta, por causa da diminui��o na prote��o das pessoas vacinadas em janeiro e fevereiro. Com base nisso, o �rg�o passou a recomendar uma terceira dose para os idosos, que j� est� sendo aplicada.
A plataforma de dados relacionados aos casos de covid no pa�s apresenta o n�mero de pacientes ativos e considerados em estado grave, aqueles hospitalizados, contendo, inclusive, a compara��o entre a incid�ncia de pacientes para cada 100 mil residentes em cada etapa de imuniza��o: totalmente vacinado; parcialmente vacinado; e n�o vacinado.
Apesar de a maioria dos pacientes ter sido totalmente vacinada, segundo os n�meros absolutos verificados pelo Comprova em 20 de agosto de 2021, quando a an�lise � feita a partir dos n�meros relativos (coletados na mesma data), conforme orientou o Minist�rio da Sa�de de Israel � reportagem, e considerando a taxa de 100 mil habitantes, � poss�vel perceber mais hospitalizados dentre as pessoas n�o vacinadas no pa�s.
A faixa et�ria entre 60 e mais de 90 anos foi a primeira a ser imunizada e � a mais coberta at� o momento com primeira, segunda e terceira dose, que j� � aplicada no pa�s.
Na quinta-feira (18), o Reino Unido tinha 89,6% da popula��o adulta vacinada com a primeira dose e 77,5% com a segunda dose, conforme os dados oficiais do Servi�o Nacional de Sa�de (NHS). O �rg�o relatou tamb�m aumento em 7,6% de casos positivos e 7,9% de mortes entre 12 e 18 de agosto, em rela��o aos sete dias anteriores, al�m de um crescimento de 4,3% em hospitaliza��es entre 8 e 14 de agosto, comparado � semana anterior.
A plataforma de dados do pa�s n�o traz a especifica��o de quantas dessas pessoas hospitalizadas e mortas estavam vacinadas, mas o Reino Unido tamb�m relata preocupa��o com a circula��o da variante delta e estuda a possibilidade de aplica��o de uma terceira dose de vacina.
Uma checagem publicada pela Reuters explicou terem sido descontextualizadas informa��es sobre mortes de covid em pessoas vacinadas a partir de um relat�rio da ag�ncia de Sa�de P�blica da Inglaterra (PHE), publicado em 25 de junho. O post verificado pela ag�ncia sugeria que as mortes por covid-19 naquele pa�s s�o significativamente maiores em pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina, com o maior n�mero de mortes ocorrendo em pessoas totalmente vacinadas, referindo-se � tabela 4 da p�gina 13 do documento.
A tabela em quest�o mostra o n�mero total de 117 mortes em pessoas com teste positivo para a variante delta, entre 1º de fevereiro e 21 de junho. Dessas, 20 ocorreram em indiv�duos que receberam uma dose de vacina e 50 em pessoas que receberam duas. Outras 44 pessoas n�o foram vacinadas e o estado de vacina��o de tr�s delas era desconhecido. A Reuters destaca a import�ncia da an�lise destes dados junto � contextualiza��o do cen�rio, sendo enganoso sugerir que os n�meros provam uma correla��o entre vacina��o e morte.
A Reuters explica ser importante levar em conta, por exemplo, a demografia de indiv�duos vacinados e n�o vacinados, especialmente porque o programa de vacina��o da Gr�-Bretanha priorizou pessoas mais velhas ou clinicamente vulner�veis.
O especialista Muge Cevik, professor cl�nico de doen�as infecciosas e virologia m�dica na Universidade de St. Andrews, afirmou � publica��o ser esperado, quando a maioria das pessoas for vacinada, que a maior parte das infec��es e mortes ocorram entre este p�blico.
� importante destacar que mesmo com o registro de pessoas internadas em estado grave que j� foram vacinadas, o n�mero de hospitaliza��es despencou desde janeiro deste ano (confira o gr�fico, dispon�vel aqui), ap�s o in�cio da vacina��o no Reino Unido.
Eventos p�s vacina
A m�dica afirma que houve quase 23% de notifica��es de �bito depois da aplica��o da Coronavac no Brasil. Procurada pelo Comprova, a Anvisa declarou n�o existirem �bitos comprovadamente relacionados ao uso de qualquer vacina contra a covid-19. “O que existem s�o suspeitas notificadas, mas que quando investigadas n�o revelaram rela��o de causa”.
At� o momento, acrescenta, o caso com rela��o de causa mais forte aconteceu em maio de 2021. Conforme consta na recomenda��o sobre suspens�o da vacina��o de gestantes com a vacina Astrazeneca, no dia 7 daquele m�s a Anvisa foi notificada pelo pr�prio fabricante, a Fiocruz, de uma suspeita de evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorr�gico com plaquetopenia ocorrido em gestante que levou ao �bito do feto.
“A Anvisa iniciou imediatamente a avalia��o do caso. O evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorr�gico foi avaliado como possivelmente relacionado ao uso da vacina administrada na gestante. A an�lise levou em considera��o diversos aspectos como dados sobre o(a) paciente, sua hist�ria cl�nica, dados de exames laboratoriais, bem como sinais e sintomas apresentados ap�s a administra��o de um medicamento ou vacina”, explica.
A ocorr�ncia de um tipo raro de trombose e queda no n�mero de plaquetas foi determinada como um evento adverso raro que pode acometer entre 0,1% e 0,5% dos imunizados, informa a Anvisa. A probabilidade � t�o baixa que o �rg�o decidiu manter a aplica��o do imunizante na popula��o em geral, tendo em vista que os benef�cios com redu��o de casos graves e mortes superam o risco. A �nica exce��o foram as gr�vidas, grupo no qual o uso das vacinas de vetor adenoviral – Oxford-Fiocruz e Janssen – deve ser evitado.
O �rg�o destaca, tamb�m, que casos de pessoas vacinadas sendo contaminadas por covid s�o esperados, considerando que nenhuma das vacinas em uso no mundo possui 100% de efic�cia. “� justamente por esta raz�o que o objetivo � vacinar toda a popula��o, o que efetivamente criar� uma prote��o coletiva”.
A m�dica que fez as declara��es alvo desta checagem declara ter baseado as considera��es em dados do sistema VigiMed, mas as informa��es que alimentam a plataforma s�o fornecidas por profissionais de sa�de e fabricantes farmac�uticos mediante suspeitas de eventos adversos, conforme explica uma checagem do Estad�o Verifica.
Na pr�tica, a Anvisa utiliza esses dados para monitorar e avaliar o risco de uma subst�ncia, servindo apenas como sinalizadores. A pr�pria plataforma mant�m um comunicado alertando sobre os cuidados necess�rios na interpreta��o dos dados do sistema. De acordo com o texto, “embora os eventos tenham sido observados ap�s a administra��o de determinado medicamento e vacina, n�o � poss�vel ter certeza que relacionada ou resultado causado por estes”. Essa liga��o s� pode ser feita ap�s a investiga��o por t�cnicos.
Alum�nio � usado em vacinas h� anos
O alum�nio � um dos metais mais comuns na natureza e est� presente no ar, na comida e na �gua. Ele � usado para incrementar a efic�cia de algumas vacinas, explica Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas. “O alum�nio � o adjuvante. Ele � usado nas vacinas de v�rus atenuado porque sabemos que ela n�o produz resposta imunog�nica muito grande. Eles colocam o alum�nio para aumentar a resposta imunog�nica.”
O elemento � atualmente utilizado nas vacinas Coronavac e Janssen.
O Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), dos Estados Unidos, informa que os sais de alum�nio s�o utilizados em algumas vacinas desde 1930 com seguran�a. “Pesquisas cient�ficas comprovaram que a quantidade de alum�nio a que as pessoas s�o expostas quando seguem o calend�rio recomendado de vacina��o � baixa e n�o � absorvida de imediato pelo corpo”, informa o �rg�o.
Na live, a m�dica diz que os testes cl�nicos da Coronavac utilizaram “hidr�xido de alum�nio, vacina de meningite e de hepatite B” como placebo. Isso � falso, segundo o paper publicado pelo Instituto Butantan. Somente o hidr�xido de alum�nio foi realmente usado. Placebo � uma subst�ncia sem efeito no corpo, aplicada � metade dos volunt�rios de um teste cl�nico para se comparar com a outra metade que recebe o imunizante.
Pediatra com especializa��o em infectologia e diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es, Renato Kfouri explica que � comum utilizar componentes similares � vacina quando se deseja realizar um comparativo entre grupos. “�s vezes uma solu��o com hidr�xido de alum�nio serve para continuar escondendo se a pessoa est� no grupo placebo. Ent�o, subst�ncias in�cuas s�o utilizadas sim”, disse.
N�o h� evid�ncias sobre alum�nio e Alzheimer
No v�deo, a m�dica alega que o uso de alum�nio nas vacinas contra a covid-19 vai causar “aumento no n�mero nos casos de dem�ncia”, incluindo de Alzheimer. No entanto, isso carece de embasamento cient�fico. A Alzheimer’s Society, organiza��o que atua em pesquisa e cuidado a pessoas com dem�ncia no Reino Unido, informa em seu site que “at� o momento, nenhum estudo ou grupo de estudos confirmou que o alum�nio esteja relacionado com o desenvolvimento da doen�a de Alzheimer”.
Tamb�m diz que o elemento est� presente em um c�rebro saud�vel e que, embora ele esteja nas placas amiloides (uma das principais caracter�sticas f�sicas deste tipo de dem�ncia), “ainda n�o foi estabelecida uma rela��o convincente entre a exposi��o a determinadas quantidades de alum�nio no corpo e o desenvolvimento de Alzheimer”.
“O que � importante em todas as novas vacinas � o que a gente chama de farmacovigil�ncia, que � continuar observando os efeitos”, diz Kfouri. Ele lembra que os casos adversos continuam sendo observados mesmo ap�s a aplica��o em massa, para identificar poss�veis efeitos adversos muito raros. “At� o momento, a avalia��o risco-benef�cio � boa. O n�mero de vidas salvas com a preven��o de casos de covid-19 � considerado um benef�cio maior do que o risco de ter algum evento adverso raro.”
Quem � a m�dica cuja fala foi verificada?
Maria Emilia Gadelha Serra � m�dica otorrinolaringologista, com registro nº 63.451 no Conselho Regional de Medicina de S�o Paulo (Cremesp). Em seu perfil no Instagram, ela se apresenta como presidente da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia M�dica. A pr�tica � contestada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que em Resolu��o de 2018 a definiu como “procedimento de car�ter experimental, cuja aplica��o cl�nica n�o est� liberada, devendo ocorrer apenas no ambiente de estudos cient�ficos”.
Em seu Instagram, Serra tira de contexto dados sobre efeitos adversos de vacinas e faz postagens contr�rias a uma eventual obrigatoriedade dos imunizantes. Tamb�m compartilha teoria da conspira��o contra �rg�os sanit�rios regulat�rios dos Estados Unidos e contra a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS).
Procurada pelo Comprova, ela n�o se manifestou at� a publica��o desta reportagem.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Projeto Comprova checa conte�dos de redes sociais sobre pol�ticas p�blicas do governo federal e sobre a pandemia que alcancem uma grande quantidade de visualiza��es, rea��es e compartilhamentos. A live completa j� foi vista mais de 24 mil vezes no YouTube. O seu trecho recortado e compartilhado no TikTok – alvo dessa checagem – havia sido visualizado ao menos 135 mil vezes antes de ser deletado pela pr�pria rede social.
Conte�dos imprecisos sobre vacinas diminuem a confian�a da popula��o nas autoridades sanit�rias e enfraquecem os esfor�os de imuniza��o que s�o a principal estrat�gia para controlar a pandemia e salvar vidas. O Projeto Comprova j� mostrou que casos de celebridades vacinadas que se contaminaram – como Silvio Santos e Rodrigo Faro – n�o provam que os imunizantes seriam ineficazes. Tamb�m j� comprovamos ser falso que as vacinas agravam a covid-19.
Enganoso, para o Comprova, conte�do retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra altera��es; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor; conte�do que confunde, com ou sem a inten��o deliberada de causar dano.