
Agora, o f�ssil do pterossauro acaba de ser descrito em um artigo publicado na revista cient�fica americana PLOS ONE pelo paleont�logo Victor Beccari e colegas da USP, da Universidade Federal do Pampa, Universidade Estadual Paulista, Universidade Federal do ABC e da Universidade Nova de Lisboa (em Portugal).
Ap�s anos de pesquisa envolvendo a realiza��o de uma tomografia do f�ssil e a constru��o de um modelo 3D computadorizado, � poss�vel dizer que a vida deste pterossauro h� cerca de 115 milh�es de anos devia ser mais pacata do que testemunharam seus restos mortais no s�culo 21, quando quase foi levado ilegalmente para o exterior.
Com uma crista na cabe�a grande demais para o seu corpo, a equipe acredita que este pterossauro tinha alguma dificuldade de locomo��o e n�o era capaz de fazer voos longos; e, por seu pesco�o longo, vivia a maior parte do tempo forrageando no solo. O Tupandactylus navigans possivelmente era um herb�voro e tinha um tamanho normal para pterossauros (cerca de 2,5m de envergadura e 1,20 de altura — um ter�o dela, 40 cm, ocupado pela crista na cabe�a).
J� seu f�ssil � descrito pela equipe como "excepcional": � de um indiv�duo adulto, tem quase todas as partes do corpo, e intactas, al�m de remanescentes dos tecidos moles das duas cristas (uma na mand�bula e outra na cabe�a), do bico e das garras do pterossauro.
Em entrevista � BBC News Brasil, Victor Beccari, graduado na USP e mestre em paleontologia pela Universidade Nova de Lisboa, explicou que o f�ssil � tamb�m um dos mais completos na fam�lia dos Tapejaridae em todo o mundo.
No Brasil, j� haviam sido encontrados v�rios f�sseis de Tapejaridae, mas geralmente partes dispersas do animal.
Tamb�m foram achados aqui os dois primeiros f�sseis do Tupandactylus navigans , a partir dos quais a esp�cie foi descrita por pesquisadores europeus.
Agora, o material apresentado pela equipe brasileira na PLOS ONE � o terceiro f�ssil de que se tem not�cia da esp�cie. Todos s�o da forma��o Crato, na Chapada do Araripe — englobada pelos Estados do Cear�, Piau� e Pernambuco —, conhecida mundialmente por revelar f�sseis muito bem preservados. Talvez a esp�cie, que viveu no per�odo do Cret�ceo Inferior, tenha sido end�mica (restrita a um local) dali.
"Esta esp�cie j� havia sido descrita em 2003, mas apenas pelo cr�nio. Ent�o essa � a primeira vez que temos um esqueleto completo desse animal", contou Beccari, falando de Portugal.
"Como s� conhec�amos o cr�nio desse bicho, um monte de coisa foi in�dita. A primeira que chamou aten��o foi a crista que ele tem na mand�bula, muito grande", aponta o pesquisador, mencionando tamb�m a crista que o animal tinha na cabe�a.
"Os pterossauros voam, e para este animal conseguir voar longas dist�ncias, considerando a crista gigante de 40 cm que ele tem na cabe�a, ele deveria ou ter um pesco�o muito curto ou tend�es ossificados no pesco�o. N�o encontramos isso, o que mostra que talvez esse bicho n�o fosse um ex�mio voador, se restringindo a voos mais curtos para encontrar alimentos ou fugir de predadores", explica o paleont�logo, acrescentando que este pterossauro provavelmente era predado por dinossauros carn�voros grandes.
Os pesquisadores encontraram em parte dos ossos e m�sculos das asas um mecanismo bastante desenvolvido para a chamada ancoragem de voo, o que indica que, ao menos para tiros curtos, este animal tinha uma boa adapta��o para o voo r�pido — por exemplo, para fugir logo de um predador. J� as cristas provavelmente faziam o papel de atrativo sexual, como a cauda dos pav�es hoje em dia.
Beccari conta que est� trabalhando com este f�ssil desde 2016, quando ainda estava na gradua��o na USP. Assinam com ele o artigo na PLOS ONE o seu orientador na faculdade, o paleont�logo Luiz Eduardo Anelli; seu orientador em Portugal, Oct�vio Mateus; e os pesquisadores Fabiana Costa (Universidade Federal do ABC), Felipe Pinheiro (Universidade Federal do Pampa) e Ivan Nunes (Universidade Estadual Paulista).

Um passo fundamental na pesquisa cujo resultados est�o sendo apresentados na revista cient�fica foi a realiza��o de uma tomografia no Hospital Universit�rio da USP.
"Na tomografia, � poss�vel tirar milhares de imagens transversalmente ao f�ssil. Num software de computador, a gente consegue pegar essas imagens que s�o 2D e com isso formar uma superf�cie geom�trica 3D", explica o paleont�logo.
"� como se voc� tivesse preparando o f�ssil, s� que digitalmente. Assim, voc� consegue manipul�-lo do jeito que quiser, colocar na posi��o que ele estaria em vida e acessar partes do f�ssil que n�o daria pra ver (no f�ssil original)."
Tamanha pesquisa n�o seria poss�vel se o material tivesse chegado ao destino planejado por contrabandistas. Uma lei brasileira de 1942criminalizou a sa�da de f�sseis do territ�rio nacional mas, mesmo assim, a regi�o do Crato foi classificada pelo Minist�rio das Rela��es Exteriores (MRE) como a principal �rea de preocupa��o na evas�o de patrim�nios nacionais.
Beccari diz que ele e colegas da �rea acreditam que o f�ssil completo do Tupandactylus navigans seria leiloado na Europa e provavelmente iria parar em uma cole��o privada.
"A gente n�o sabe para quem ou com qual valor ele seria vendido — muito provavelmente seria um pre�o bem alto, porque esse f�ssil renderia esse tipo de coisa."
"Para a ci�ncia, ele estaria perdido. Na paleontologia, voc� deve evitar trabalhar com materiais de cole��o privada porque voc� precisa sempre ter a possibilidade de checar seus dados, e em uma cole��o privada, nem todos v�o ter acesso. Se isto acontecesse, talvez a gente tivesse apenas uma foto dele — n�o ter�amos artigo cient�fico, nem um retorno para a sociedade como hoje, j� que este f�ssil est� em exposi��o no Museu de Geoci�ncias da USP", comemora o paleont�logo.
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