� comum que uma pesquisa sobre um espa�o novo aberto na Vila Madalena venha acompanhada de um "antigo" entre par�nteses e a refer�ncia ao espa�o que ocupava o ponto anteriormente. O bairro continua bo�mio e com presen�a de arte urbana, mas vive uma mudan�a gradual no perfil dos com�rcios, dos moradores, dos frequentadores e at� da paisagem, cada vez mais verticalizada.
Na pandemia, as altera��es ficam mais evidentes. E voltaram a chamar a aten��o este m�s, com a not�cia do poss�vel fechamento da cinquenten�ria Mercearia S�o Pedro, conhecida por eventos culturais e ser ponto de encontro de intelectuais.
Placas de "aluga-se" come�aram a se espalhar desde o ano passado, com o fechamento de bares e restaurantes que persistiam em meio �s mudan�as no entorno. Em quest�o de meses, come�aram a dar lugar a novos espa�os, especialmente gastron�micos, em parte ligados a nomes conhecidos, como a chef Bela Gil, os sorvetes Rochinha, a Jeronimo Burger (do Grupo Madero) e a chef Elisa Fernandes (primeira campe� do MasterChef Brasil).
Um exemplo � o antigo Armaz�m da Cidade, conhecido por eventos gastron�micos e culturais, atividades na rua e o mural de Tom Z� feito pelo artista Kobra. O endere�o agora abriga o Caos Brasilis, inaugurado na �ltima quarta-feira - um dos mais de dez restaurantes e lanchonetes abertos na Vila na pandemia.
O espa�o � comandado pelo chef paulistano Bruno Hoffmann, de 29 anos, conhecido tamb�m por ter participado da edi��o de 2020 do reality show Mestre do Sabor, da TV Globo. Desde o fim do ano passado, ele procurava um ponto para abrir seu primeiro restaurante na Vila Madalena ap�s experi�ncias em endere�os do entorno.
"A Vila Madalena se encaixa perfeitamente no conceito do restaurante, que � agregador, tem uma coisa jovial, mas n�o ofensiva a quem � mais tradicional", define. "Respira novidade, brasilidade, diversidade, onde todas as tribos circulam."
No local da antiga hamburgueria Black Trunk, na Rua Purpurina, hoje funciona a loja-conceito da rede americana Johnny Rockets. "Pensamos no Itaim-Bibi (zona sul), na Vila Madalena, nos bairros mais bo�mios", conta Renan Troccoli, s�cio do espa�o. A ideia � atrair "um p�blico mais jovem, bo�mio, de bar". Uma das estrat�gias s�o os drinques inusitados e "instagram�veis", como o inspirado em uma arte de Banksy e outro servido dentro de patins. Na parte interna, h� um "Beco do Johnny", com murais e inspirado no vizinho Beco do Batman.
Outra novidade � a ades�o de tr�s estabelecimentos da regi�o ao programa Ruas SP, da Prefeitura - um na Girassol e tr�s na Aspicuelta. Isso permite mesas nas cal�adas e nas vagas de estacionamento de carros.
Sobreviventes
A descri��o usada em rede social por um dos poucos bares dos anos 1980 que persistiu na regi�o resume a mudan�a: "Foi reduto de intelectuais de esquerda e de cineastas (...). O p�blico ficou mais ecl�tico, recebendo universit�rios de todos os cantos da cidade, patricinhas e mauricinhos, atletas e neo-hippies e tamb�m quarent�es e cinquent�es saudosos de uma �poca em que o Empanadas Bar era s� deles."
No Martin Fierro, a s�cia Ana Maria Massochi, de 70 anos, diz manter alguns clientes desde o in�cio da trajet�ria do restaurante, aberto h� mais de 40 anos. "O esp�rito da casa se mant�m igual. N�o � a mesma garagem, as cadeiras n�o s�o de lata, mas a proposta � a mesma." O restaurante, especializado em empanadas e cortes de carne argentinos, se adaptou. Foi um dos primeiros do entorno a oferecer caf�s expressos e a carta de vinhos foi ampliada. "Foi virando um point", diz ela.
Outro espa�o h� mais tempo na regi�o � o � do Borogod�, aberto h� 20 anos. Na �poca, os s�cios-propriet�rios frequentavam rodas de samba no entorno e a escolha de um endere�o na Vila parecia natural. "A gente criou ali um ambiente como um fundo de quintal", diz Stef�nia Gola, s�cia do espa�o, que segue exclusivamente com atividades virtuais na pandemia e permanece com o aluguel em dia por conta de uma vaquinha aberta ap�s o an�ncio de um poss�vel fechamento.
N�o que as contas sejam motivo de despreocupa��o, ainda mais na regi�o valorizada. "No pr�-pandemia, j� estava em momento complicado. O '�' � uma espelunca, feito de outras mat�rias. A gente tinha aluguel barato (no in�cio). Na medida em que a Vila foi crescendo, sofre com o aumento de aluguel."
O espa�o enfrenta resist�ncia da vizinhan�a anualmente para o desfile do pr�prio bloco de carnaval, de pequeno porte. Mesmo assim, a inten��o � ficar. "Ali carrega uma hist�ria, um jeito de viver uma cidade.
Amplia��o
A transforma��o tamb�m � territorial. Espa�os antes lidos como parte do Sumarezinho, da Vila Ida e de outros bairros do entorno hoje s�o identificados por Vila Madalena. "Era restrita a tr�s ou quatro ruas", diz Yvone Dias Avelino, professora de Hist�ria da PUC-SP. "A cidade de S�o Paulo se tornou grande do ponto de vista do povoamento, e a Vila acompanhou isso. � uma cidade dentro da cidade."
Ela resume a trajet�ria da Vila no �ltimo s�culo em quatro fases: a dos imigrantes (principalmente portugueses), a religiosa (marcada pelas festividades cat�licas), a da chegada dos alunos da USP e artistas (especialmente nos anos 1970) e da funda��o da P�rola Negra, e a atual. "Era uma bo�mia mais comportada, que se misturava ao habitante da Vila. Hoje, tomou outra dimens�o." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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