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Estado de Minas GERAL

Agricultura na Bol�via e no Brasil eleva press�o sobre Pantanal na fronteira


30/08/2021 17:03

Sob a sombra de uma enorme pedra antes submersa em um bra�o do Rio Paraguai, o pantaneiro passa seus dias. Dali, a menos de dois quil�metros da fronteira com a Bol�via, M�ximo Paulo Ferreira, de 68 anos, assiste a sua vida se estreitar junto com o rio. Vara de pescar encostada, senta de c�coras e olha para duas barca�as carregadas de gr�os ao longe. "Aqui n�o passa, baixou demais", diz.

Entre garrafas pl�sticas de cacha�a, restos de oferendas e peixes mortos na praia de pedras revelada pela estiagem, a pior em 90 anos no Centro-Sul do Pa�s, o homem depende do rio para comer. Assim como ele, o Pantanal em que M�ximo nasceu se condiciona � mesma �gua para viver.

Espremido por planta��es a norte e nordeste, no Cerrado, e tamb�m pelo avan�o do plantio de soja no lado boliviano, a maior plan�cie alagadi�a do mundo, por ora, sobrevive. As causas v�m de longe, mas os efeitos est�o ali. Falta �gua para que o ciclo de vida no bioma se mantenha. Sobram inc�ndios, dos dois lados da fronteira.

"As pessoas ficam esperando que chova aqui, em Corumb�. Ajuda a apagar o fogo, mas n�o � s� aqui que isso precisa acontecer. � l� no Cerrado, na cabeceira dos rios que correm para dentro do Pantanal", diz a bi�loga Let�cia Larcher, secret�ria executiva do Instituto do Homem Pantaneiro.

Com 2.695 km, o Rio Paraguai � um dos maiores corredores �midos do planeta. Interliga Brasil, Bol�via, Paraguai e Argentina. As nascentes de seus principais afluentes est�o no Cerrado, na Chapada dos Parecis, em Mato Grosso.

O que se passa fora do Pantanal � t�o importante para manter a vida do bioma quanto o que est� ante os olhos de M�ximo. "� uma sequ�ncia de a��es. Do desmatamento desenfreado na Amaz�nia, que influencia o regime de chuvas, � destrui��o das �reas de nascentes no Cerrado por planta��es de soja, tudo influencia o que est� acontecendo aqui", diz Let�cia.

Andr� Nassar, presidente executivo da Associa��o Brasileira das Ind�strias de �leos Vegetais (Abiove), que representa empresas que t�m na soja, girassol, mamona e milho suas mat�rias-primas, discorda que a seca e o fogo estejam ligados � ocupa��o agr�cola. "Esse argumento (da ocupa��o das cabeceiras de rios) est� errado. A seca � (resultado) da mudan�a de regime de chuvas. Fica seco e pega fogo."

Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, diz que os motivos da estiagem e dos inc�ndios s�o multifatoriais. Ele n�o exclui o uso do solo em �reas de cabeceira como poss�vel causa da seca e cita o Rio Taquari, onde a ocupa��o desorganizada da �rea de nascente, em Mato Grosso, criou assoreamento e prejudicou o Estado vizinho ao sul. Na regi�o, a mudan�a do curso do rio culminou em enchentes de �reas antes secas e preju�zos milion�rios para produtores.

Mas o que acontece no Pantanal n�o resulta s� do que est� no Brasil. A press�o tamb�m vem do lado de l� da fronteira, para onde a soja se expandiu com agricultores brasileiros. "Hoje, lidamos com a press�o que vem daqui e da atividade econ�mica agr�cola que desce da regi�o de Santa Cruz de La Sierra (a maior da Bol�via) nessa dire��o", diz o presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, coronel Angelo Rabelo. "Grande parte da fuma�a que voc� est� vendo a� vem do lado boliviano, dos inc�ndios de l�", completa.

N�o � preciso andar muito ap�s cruzar a fronteira com a Bol�via para encontrar o que descreve Rabelo. Puerto Quijarro, a 15 quil�metros de Corumb�, � uma cidade t�pica da fronteira boliviana. Al�m do incessante vaiv�m de caminh�es e pessoas cruzando a aduana, sem fiscaliza��o, o que se v� � uma terra �rida, marcada pelas queimadas. Na Bol�via, brigadistas tamb�m tentam conter a amea�a do fogo que chega do territ�rio brasileiro.

De ambos os lados da estrada que liga a cidade de 12 mil habitantes a Santa Cruz de La Sierra h� campos destru�dos pelas chamas. Ali fica o canal de Tamengo, que se liga � hidrovia Paran�-Paraguai, por onde a produ��o de soja boliviana � escoada. As barcas que passam por ali s�o as mesmas que M�ximo v� do lado brasileiro, sentado ao lado do rio. A Bol�via est� entre os dez maiores produtores do gr�o no mundo e � o quarto na Am�rica do Sul, conforme dados do governo americano.

Segundo estudo da plataforma MapBiomas, Mato Grosso do Sul � o Estado que mais perdeu superf�cie de �gua em 30 anos - menos 57% desde 1990.

Al�m disso, o �ltimo relat�rio do Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC) aponta que as mudan�as clim�ticas devem aumentar eventos clim�ticos extremos nos pr�ximos anos no Centro-Oeste brasileiro, com mais estiagens e queimadas, e levar � redu��o da produ��o agr�cola.

Sem pasto, sem nada

Nos seus 60 anos de vida, Alo�sio Couto Moreno lembra de ver seca parecida na d�cada de 1970. Depois disso, nada se equiparou ao que experimenta agora. Pe�o de fazendas pantaneiras por toda uma vida, o boiadeiro vive h� dez anos em um assentamento na regi�o de Corumb�. Por l�, as fam�lias de assentados criam cerca de 60 cabe�as de gado leiteiro. Desde o ano passado, sua rotina mudou.

A estiagem os obrigou a tirar o gado de suas terras, atravessar o bra�o quase seco do Paraguai e procurar por um pouco de pasto na margem oriental do rio. Todos os dias, sob o olhar perdido de M�ximo, Alo�sio e outros assentados cruzam o rio de jangada para cuidar da cria��o. "� o jeito, porque onde a gente mora n�o tem mais pasto, n�o tem mais nada", conta.

O homem embarca em uma canoa com mais tr�s moradores do assentamento para cruzar o bra�o de rio e cuidar do gado. Sentado sob a mesma pedra, M�ximo observa o grupo a dist�ncia. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.

Fogo em terra ind�gena

Ap�s 18 dias de inc�ndio no territ�rio ind�gena Kadiw�u, no interior do Mato Grosso do Sul, os brigadistas do Ibama esperam finalizar nesta segunda-feira, 30, o trabalho de combate ao fogo. Cinquenta homens do Prevfogo, ligado ao �rg�o ambiental federal, se revezaram durante 24 horas na regi�o. As chamas consumiram 48% da �rea protegida.

L�, vivem cerca de dois mil ind�genas. O local tem cerca de 540 mil hectares - o que equivale a 540 mil campos de futebol - e o acesso � o principal problema. "Os combates n�o s�o dif�ceis, a vegeta��o � rasteira. Por�m, o mais complicado � o acesso. Por vezes o fogo est� em cima do morro, � preciso fazer caminhadas de 10, 12 quil�metros, e � uma encosta com muitas pedras soltas", conta Bruno �gueda Ovelha, supervisor de brigadas.

Assim como o Estad�o mostrou no s�bado, os brigadistas combatem o fogo sem usar �gua por causa da dificuldade de acesso �s regi�es mais remotas do Pantanal. "Aqui o soprador de ar foi fundamental para esse tipo de combate de fogo rasteiro. Com ele, conseguimos fazer a extin��o do combust�vel e combater o fogo por abafamento", afirma Ovelha. Movido a combust�vel, o equipamento ajuda a mudar a dire��o do fogo.

Neste fim de semana, as chuvas voltaram a cair em Mato Grosso do Sul, o que aliviou o trabalho dos brigadistas. O volume da precipita��o, por�m, tem sido bem menor do que o previsto para esta �poca do ano.

At� domingo, quando brigadistas e Corpo de Bombeiros tentavam conter o fogo na estrada Transpantaneira, em Mato Grosso, o Pantanal havia registrado 1.463 focos de inc�ndio, em agosto.

No ano passado, o bioma bateu recordes hist�ricos de focos de inc�ndio e �rea destru�da pelo fogo. Apesar de abaixo dos n�meros de 2020, isso coloca o bioma acima da m�dia hist�rica. E o pico de queimadas ainda n�o chegou - � esperado para setembro.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Minist�rio da Ci�ncia e Tecnologia, mostram que o fogo castiga outros biomas. A Caatinga teve crescimento de 157% nos focos de inc�ndio de janeiro a agosto, ante igual per�odo de 2020. No Cerrado, a alta � de 33%, e na Mata Atl�ntica, 28%. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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