(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas NACIONAL

Assalto em Ara�atuba: o que t�m em comum as cidades atacadas pelos crimes do 'Novo Canga�o'

Analista criminal diz que apenas investiga��o e pris�o podem inibir quadrilhas de praticarem crimes como o de Ara�atuba


30/08/2021 22:22 - atualizado 30/08/2021 22:22

Assaltantes prenderam duas pessoas em um carro para que elas servissem como 'escudos' contra tiros
Assaltantes prenderam duas pessoas em um carro para que elas servissem como 'escudos' contra tiros (foto: Reprodu��o)
Dezenas de homens fortemente armados com fuzis, coletes � prova de balas, carros blindados e usando pessoas como escudo humano, protagonizam cenas cinematogr�ficas de roubos a bancos em cidades do interior. As cenas de terror, que muitas vezes terminaram em mortes, se tornaram frequentes no Brasil.

 

A �ltima delas foi na madrugada de segunda-feira (30/08), em Ara�atuba, no interior de S�o Paulo. Na ocorr�ncia, que terminou com ao menos tr�s pessoas mortas — dois moradores e um suspeito de participar do crime — contou at� mesmo com a instala��o de 40 explosivos com acionamento por meio de detectores de calor e movimento.

 

A a��o, que come�ou por volta da meia-noite e terminou cerca de duas horas depois, teve o uso de drones, para monitorar a chegada da pol�cia, e ve�culos incendiados em rodovias para dificultar o acesso aos locais dos crimes.

 

Os bandidos invadiram duas ag�ncias em Ara�atuba. Uma delas, que funciona como tesouraria regional, teve o cofre, no subterr�neo, invadido pelos assaltantes. Na segunda, os criminosos explodiram caixas eletr�nicos. O valor levado pela quadrilha n�o foi informado pela pol�cia.

 

Mas como essas cidades s�o escolhidas pelos criminosos?

 

Especialistas em Seguran�a P�blica ouvidos pela BBC News Brasil explicam que diversos fatores s�o levados em conta pelas quadrilhas do "Novo Canga�o".

Muito dinheiro e pouco policiamento

O primeiro deles � o efetivo e a estrutura policial da cidade e regi�o onde ser� feito o ataque. De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, dificilmente um roubo como esse ser� feito numa metr�pole, como S�o Paulo ou Rio de Janeiro.

 

Isso porque as grandes cidades possuem batalh�es de elite, preparados para atuar em situa��es como essa, por exemplo, as Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota, em S�o Paulo) e o Batalh�o de Opera��es Policiais Especiais (Bope, no Rio).

 

Os assaltantes tamb�m procuram locais onde est�o armazenadas grandes quantidades de dinheiro, como transportadoras de valores ou ag�ncias estrat�gicas, como a atacada em Araraquara, que servia de tesouraria para toda a regi�o.

 

Analista criminal e membro do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, Guaracy Mingardi disse que esse crime, conhecido como "Novo Canga�o", come�ou no Nordeste, com bandidos roubando regi�es com mineradoras.

 

"Eles atacavam a cidade, prendiam a pol�cia e iam embora. Isso acontecia em cidades pequenas, distantes de tudo. Depois, vieram para atacar transportadoras de valores no Sudeste e no Paraguai. Depois de certo tempo, o custo-benef�cio desses assaltos passou a n�o valer mais a pena porque as empresas aumentaram a seguran�a", disse Mingardi.


Durante assalto em Botucatu, no ano passado, bandidos trocaram tiros com a polícia durante cerca de três horas
Durante assalto em Botucatu, no ano passado, bandidos trocaram tiros com a pol�cia durante cerca de tr�s horas (foto: Reprodu��o)

Rotas de fuga

Outro ponto analisado pelas quadrilhas para definir os alvos dos ataques s�o as rotas de fuga. Geralmente s�o cidades de porte m�dio, com tr�s ou quatro grandes rodovias usadas como rotas de fuga.

 

"Os criminosos chegam em 30 ou 40 pessoas fortemente armadas. Eles fecham alguns acessos com ve�culos incendiados e, at� a chegada de um efetivo policial razo�vel para intervir, eles j� encerraram a a��o e fugiram por algumas dessas vias", diz Mingardi.

 

No roubo em Ara�atuba, os criminosos abandonaram os carros blindados usados no crime em uma �rea rural da cidade e continuaram a fuga em outros ve�culos.

Facilidade de atua��o

Para Mingardi, � muito dif�cil evitar um roubo, mas a atua��o desses criminosos � possibilitada pela aus�ncia de uma investiga��o aprofundada, que identifique e prenda os criminosos que planejam e s�o especialistas nesses ataques.

 

O analista criminal explica que cada quadrilha tem ao menos quatro pessoas que j� participaram de outros assaltos do tipo. Alguns aprenderam a fazer esses assaltos durante o per�odo em que ficaram presos, mas ele refor�a que, para aprender, � necess�rio fazer.

 

"Evitar n�o d�. Se voc� coloca pol�cia em uma esquina, na outra fica sem. Tem que ter um grande contingente para contra-atacar, ent�o fica dif�cil. A pol�cia tem que aprender a investigar esse crime, como aconteceu com o antigo sequestro nos anos 1990. A pol�cia foi criando uma rede de informante e elaborando t�cnicas para analisar e monitorar os suspeitos", afirmou Mingardi.

 

Ele disse que identificar, rastrear e prender os principais especialistas de cada quadrilha inviabiliza novas a��es porque encarece o assalto e diminui as chances de sucesso. Mingardi diz, por exemplo, que h� poucos especialistas em explosivos e monitor�-los pode sufocar esse tipo de assalto.

 

Ao ser questionado sobre a poss�vel participa��o da fac��o Primeiro Comando da Capital (PCC) nesses crimes, Mingardi diz que n�o deve ser uma a��o direta do grupo criminoso, mas de alguns membros ou pessoas ligadas a eles.

 

Segundo ele, os criminosos que participam desses crimes s�o "irm�os", como a fac��o chama os membros batizados por eles ou "primos" — quando t�m algum v�nculo, mas n�o pertencem. O analista explica que o armamento pesado � geralmente alugado ou emprestado pelo PCC em troca de uma fatia do lucro do assalto.

 

A Secretaria da Seguran�a P�blica informou que apenas em 2021 foram apreendidos 79 fuzis em S�o Paulo. Em todo o ano de 2020, foram 150.


Para especialistas em segurança pública, o modus operandi desse tipo de ação em SP se assemelha ao chamado 'novo cangaço'
Para especialistas em seguran�a p�blica, o modus operandi desse tipo de a��o em SP se assemelha ao chamado 'novo canga�o' (foto: Getty Images)

Rastro de destrui��o

Os crimes cometidos pelo "Novo Canga�o" deixam um rastro de destrui��o nas cidades onde eles ocorrem. De acordo com a pol�cia, uma das pessoas mortas em Ara�atuba na �ltima madrugada saiu de casa para fazer uma transmiss�o ao vivo do mega-assalto pelas redes sociais.

 

Mas, al�m das mortes e traumas psicol�gicos causados pelas horas de terror vividas pelos moradores, a estrutura e servi�os da cidade tamb�m s�o afetados.

Depois do crime em Ara�atuba, as aulas e at� mesmo o transporte p�blico da cidade foram suspensos. A pol�cia orientou que toda a popula��o do munic�pio permanecesse em casa at� que os locais onde ocorreram os crimes fossem periciados, e que os 40 explosivos deixados pelos bandidos fossem detonados ou desativados.

 

Em abril de 2021, um ataque do "Novo Canga�o" ocorreu em Mococa, no interior de S�o Paulo. Em dezembro, duas ag�ncias foram atacadas em Araraquara, tamb�m no interior paulista. Na ocasi�o, dois ve�culos foram incendiados.

 

Em julho de 2020, tr�s ag�ncias foram atacadas em Botucatu, no interior de S�o Paulo. Na �poca, dois policiais militares ficaram feridos e um suspeito foi morto.

A��es semelhantes tamb�m aconteceram em outros Estados. Em dezembro de 2020, cerca de 40 homens fortemente armados atacaram uma ag�ncia banc�ria em Crici�ma, interior de Santa Catarina. Na ocasi�o, houve troca de tiros e um policial ficou ferido.

'Novo Canga�o'

Esse tipo de assalto — quando um grupo criminoso toma o controle de uma pequena cidade para roubar — n�o � novo no Brasil. No in�cio do s�culo passado, Lampi�o e seu bando de cangaceiros ganhavam a vida praticando saques semelhantes.

 

No final dos anos 1990, surgiu o chamado "Novo Canga�o", quando grupos de criminosos passaram a invadir cidades do sert�o nordestino (munic�pios carentes de efetivo policial) para saquear bancos e carros-fortes. As a��es, bastante violentas, terminavam em tiroteios e mortes de policiais e civis inocentes.

 

O principal l�der do "Novo Canga�o" era Jos� Valdet�rio Benevides Carneiro, que comandou dezenas de a��es cinematogr�ficas pelo Rio Grande do Norte — ele morreu em 2003 durante um confronto com a pol�cia.

 

Em um dos roubos comandados por Valdet�rio, na cidade de Macau, o delegado Antonio Teixeira Jr. sentiu na pele a viol�ncia do grupo.

 

"Soubemos que haveria um ataque. O grupo de Valdet�rio roubou tr�s bancos. Quando sa�mos do batalh�o da PM, ouvimos os tiros. Levei tr�s tiros: um no bra�o, um na perna e outro de rasp�o no rosto", diz Teixeira Jr, delegado h� 23 anos — na �poca ele era o titular da delegacia regional de Macau.

 

Para Thadeu Brand�o, coordenador do Observat�rio da Viol�ncia do Rio Grande do Norte (Obvio) e professor de sociologia da Universidade Federal Rural do Semi-�rido, existem semelhan�as entre o "Novo Canga�o" e os recentes assaltos a cidades do Sudeste, embora elas sejam mais sobre procedimentos do que a respeito do perfil dos criminosos.

 

"O Novo Canga�o era mais ligado a um ciclo de vingan�as, conflitos familiares e de justi�amento em rela��o � atua��o da pol�cia. Valdet�rio chegava a distribuir dinheiro para algumas pessoas. Hoje, apesar do modus operandi dos roubos ser parecido, o tipo de criminoso e o objetivo do assalto s�o bem diferentes daquela �poca", explica.

 

"O criminoso de agora pensa principalmente no dinheiro, quer roubar para ficar rico e andar de carro de luxo. � diferente do Novo Canga�o (que deu origem), quando havia at� uma esp�cie de busca da honra por meio dos crimes. Hoje, o matador � mais profissional: mata mais pelo dinheiro."

 

Nas ra�zes do canga�o original, que consagrou figuras como Lampi�o na hist�ria do pa�s, tamb�m estava um elemento de revolta contra o coronelismo, o descaso do poder p�blico e as injusti�as sociais no Nordeste. Apesar de terem deixado um rastro de morte e terror em v�rias cidades, eram vistos por parte da popula��o como her�is.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)