
Apesar de o Minist�rio da Sa�de ter recomendado o uso das vacinas de Pfizer, AstraZeneca e Janssen como refor�o na prote��o contra a COVID-19 , os Estados do Rio de Janeiro e S�o Paulo inclu�ram a Coronavac como uma op��o para a dose extra. A aplica��o de uma terceira dose da vacina do Butantan � segura e n�o causa rea��es graves, mas especialistas criticam a decis�o de us�-la como dose de refor�o porque ela � menos eficaz, especialmente entre os idosos.
Em S�o Paulo, o in�cio da aplica��o da chamada "terceira dose" est� marcado para a pr�xima segunda-feira. De acordo com a Secretaria de Estado da Sa�de, foram distribu�das 380 mil doses e os munic�pios est�o orientados a utilizar todas as vacinas dispon�veis. O Minist�rio da Sa�de programou para o dia 15 de setembro o in�cio dessa nova fase da campanha e, portanto, s� deve distribuir as doses da Pfizer na metade do m�s.
Na capital paulista, o secret�rio municipal de Sa�de, Edson Aparecido, tamb�m disse que entre os dias 6 e 15 de setembro a cidade aplicar� "a vacina que estiver dispon�vel na unidade" como refor�o. Ap�s o dia 15, com a chegada das doses que devem ser enviadas pelo Minist�rio da Sa�de , o imunizante da Pfizer deve ser priorizado.
A nota t�cnica 27/2021 do Minist�rio da Sa�de, que trata do assunto, diz que a dose de refor�o deve ser aplicada em imunossuprimidos vacinados h� 28 dias e em idosos acima de 70 anos vacinados h� seis meses. Nesta etapa deve ser aplicada prioritariamente a vacina da Pfizer e, na falta dela, as vacinas da Janssen e da AstraZeneca.
No Rio de Janeiro, o Estado pretende misturar as vacinas. Quem tomou duas doses de Coronavac deve receber Pfizer, AstraZeneca ou Janssen como refor�o. Aqueles que tomaram qualquer outra vacina contra a COVID podem receber uma inje��o extra da Coronavac. J� a cidade do Rio disse em nota que usar� apenas Pfizer e AstraZeneca como refor�o - a vacina da Janssen n�o est� dispon�vel no Pa�s neste momento. Outros 20 Estados e o Distrito Federal disseram � reportagem que n�o v�o usar a Coronavac como dose de refor�o. Acre, Amap�, Rond�nia e Sergipe n�o responderam.
O infectologista J�lio Croda, pesquisador da Fiocruz e ex-membro do Centro de Conting�ncia contra a COVID de S�o Paulo, v� com bons olhos a combina��o de vacinas, mas aponta que oferecer a Coronavac como terceira dose para os idosos n�o � uma boa estrat�gia. "A terceira dose com Coronavac pode ser aplicada em profissionais da sa�de jovens, mas n�o nos grupos de risco. Os idosos est�o mais vulner�veis atualmente e continuar�o assim se usarmos a Coronavac no refor�o."
Para fins de compara��o, o infectologista diz que estudos em pr�-print, ainda n�o revisados por pares, mostram que a terceira dose da Coronavac aumenta em dez vezes a prote��o contra a COVID-19. Com a vacina da Pfizer, a efic�cia aumenta entre cem e mil vezes.
Croda diz que a Coronavac cumpriu um papel fundamental no in�cio da pandemia, principalmente por ser a �nica vacina dispon�vel em grande quantidade no Pa�s, mas fala que agora temos op��es melhores � disposi��o. "A Coronavac talvez tenha sido a vacina que mais salvou vidas porque chegou em tempo oportuno. Entretanto, neste momento, temos outras op��es."
O especialista v� a decis�o de S�o Paulo como um movimento pol�tico do governo. "Talvez eles queiram usar a Coronavac porque compraram muitas doses. Dessa vez, quem est� fazendo pol�tica � o governo de S�o Paulo", observa.
Ele diz que nenhum outro pa�s que usou a Coronavac em sua campanha de vacina��o utilizou o mesmo imunizante como dose de refor�o. "Chile, Uruguai, Bahrein, Emirados �rabes Unidos… Todos esses pa�ses vacinaram com a Coronavac e agora est�o usando AstraZeneca ou Pfizer no refor�o", cita.
O imunologista Jorge Kalil reconhece a import�ncia da terceira dose, mas diz que a Coronavac n�o deveria ser usada para este fim. "N�o acho que vale a pena oferecer a Coronavac como dose de refor�o sobretudo para idosos e imunossuprimidos. Eu seguiria o que foi definido no PNI (Programa Nacional de Imuniza��es)." Para embasar sua posi��o, o especialista cita que o dado de efetividade da Coronavac em idosos acima de 80 anos � muito baixo.
Butantan e OMS
Em nota, o Instituto Butantan lamentou a postura do Minist�rio da Sa�de e diz que a decis�o de n�o usar a Coronavac como dose de refor�o tem "motivos pol�ticos e ideol�gicos". O instituto disse que a pasta "atua desde o in�cio da pandemia para desqualificar uma das melhores vacinas dispon�veis no mercado". Segundo o Butantan, estudos feitos pela Sinovac mostram que a terceira dose da vacina gera "robusta rea��o imunol�gica e aumento na produ��o de anticorpos". O texto enviado ainda diz que "o Butantan defende o uso da Coronavac como imunizante de dose adicional para toda a popula��o idosa e p�blico imunossuprimido de qualquer faixa et�ria".
O ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, garantiu que, sem registro definitivo dado pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), a Coronavac n�o ser� utilizada como dose de refor�o. Segundo Queiroga, como o imunizante foi aprovado em uso emergencial, o registro definitivo deve ser pleiteado. "Se (o diretor do Butantan) Dimas Covas tem evid�ncia cient�fica, ele deve apresentar � Anvisa", disse Queiroga, em entrevista � CNN Brasil.
A Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) vem se manifestando contra a terceira dose de qualquer fabricante porque a maioria dos pa�ses ainda n�o conseguiu oferecer as duas primeiras doses da vacina para a sua popula��o. Dados do site Our World In Data, ligado � Universidade de Oxford, mostram que 40% da popula��o mundial j� recebeu ao menos uma dose da vacina contra a COVID-19. No entanto, esse volume est� concentrado em pa�ses desenvolvidos, enquanto nas na��es pobres apenas 1,8% das pessoas iniciaram o esquema vacinal.
Santiago Cornejo, diretor de Engajamento de Pa�ses do Covax Facility, disse em entrevista ao Estad�o que este n�o � o momento de aplicar uma terceira dose. Ele refor�a o discurso da OMS e pede que o foco seja oferecer as duas doses a toda a popula��o mundial mais vulner�vel para, depois, pensar no refor�o. "Defendo que precisamos de vacinas para as popula��es de maior risco."