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Estado de Minas GERAL

Pesquisa mostra que, ap�s um ano, 60% dos pacientes t�m sequelas da covid-19

O estudo da USP acompanha 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020


06/09/2021 20:04 - atualizado 06/09/2021 22:29

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(foto: Leandro Couri/EM/D.A press)
Mais de um ano ap�s ter covid-19, a baiana Renilda Lima ainda tem 20% do pulm�o comprometido, sofre cansa�o diariamente, convive com perda de mem�ria e tem baixa imunidade. A doen�a, contra�da em maio de 2020, causou sequelas que persistem at� hoje e que Renilda, de 34 anos, n�o sabe se conseguir� se recuperar. Segundo pesquisa do Hospital das Cl�nicas da USP, 60% dos pacientes que tiveram covid-19 no ano passado est�o em condi��es de sa�de semelhantes, mesmo ap�s um ano da alta hospitalar.

O estudo da USP acompanha 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020 no Hospital das Cl�nicas da institui��o. Eles ser�o analisados durante quatro anos, mas os resultados preliminares indicam que 30% ainda possuem altera��es pulmonares importantes. Al�m disso, parte tamb�m relata sintomas cardiol�gicos e emocionais ou cognitivos, como perda de mem�ria, ins�nia, concentra��o prejudicada, ansiedade e depress�o.

Segundo Carlos de Carvalho, professor titular de pneumologia da USP e diretor da divis�o de pneumologia do Instituto do Cora��o (InCor), os resultados preliminares mostram que algumas sequelas a longo prazo ainda podem ser revertidas. "H� casos em que os pulm�es ainda apresentam inflama��es mesmo um ano depois da alta hospitalar. J� vimos que essas inflama��es podem virar fibroses (cicatrizes pulmonares), que s�o permanentes", declara.

No caso de Renilda, as sequelas f�sicas vieram junto com as emocionais. Al�m do cansa�o que sente ao fazer esfor�o f�sico - o que levou ela a interromper algumas atividades di�rias -, ela tamb�m passou a ter dificuldades de dormir e a ter medo de ficar novamente em estado grave se contrair doen�as respirat�rias. "At� hoje meu sono n�o � regulado. Troco o dia pela noite. Recusei tr�s propostas de emprego com medo de ficar doente", contou.

Natural de Feira de Santana, munic�pio a 116 quil�metros de Salvador, a baiana teve covid-19 no primeiro pico da pandemia no Brasil, momento em que os hospitais p�blicos estaduais da Bahia n�o tinham leitos vagos. Ela tratou da doen�a em casa at� conseguir um leito de estabiliza��o em Salvador, onde permaneceu por tr�s dias. No retorno para casa, ficou de cama durante dois meses e n�o conseguiu se recuperar totalmente.

Carvalho explica que as sequelas s�o piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complica��es causadas pela covid-19 s�o feitos tardiamente ou de maneira n�o adequada. "Percebemos que os pacientes que demoraram mais a serem encaminhados para o Hospital das Cl�nicas chegaram em um estado mais grave, e isso tamb�m agrava as sequelas. Quanto maior o tempo de interna��o e a gravidade das infec��es, maior a tend�ncia de haver mais sequelas a longo prazo", diz.

A perda do paladar e do olfato, sintomas comuns da covid-19 no per�odo de infec��o, tamb�m est� entre as sequelas de longa dura��o. O estudante de engenharia ambiental e cozinheiro Emmanuel Ramos, de 20 anos, afirma que os dois sentidos est�o "distorcidos" e que os cheiros de alguns temperos foram perdidos. "Tenho enjoos tamb�m quando sinto o cheiro de produtos de limpeza e at� das queimadas que atingem minha regi�o", disse Ramos, de Palmas (TO).

Nos dois casos, as sequelas alteraram a rotina anterior � covid. Em rela��o a Emmanuel Ramos, o atrapalha na cozinha. J� Renilda parou de fazer faxina em casa, de ir � academia e sente que n�o pode desempenhar a mesma fun��o de antes no trabalho, em que era gerente de um estacionamento, por tamb�m sofrer perda de mem�ria.

Essa �ltima sequela � relatada por 42% dos pacientes durante a pesquisa da USP. De acordo com os relatos ouvidos pelo Estad�o , a perda de lapsos de mem�ria � frequente na rotina e acontece a qualquer hora. "�s vezes, saio da minha sala de trabalho para beber �gua no corredor e no caminho esque�o o que fui fazer", detalha a acreana Sheyenne Queiroz, de 45 anos.

Ela contraiu a covid-19 em novembro do ano passado e n�o chegou a ficar no estado grave da doen�a, mas passou a sofrer com dores de cabe�as fortes e esquecimento um m�s depois de ser infectada. "Cheguei a achar que estaria com aneurisma por causa da intensidade das dores de cabe�a, mas, ao procurar um neurologista e fazer exames, ele me disse que se tratava de uma sequela da covid-19. At� hoje sofro dores de cabe�a, agora menos fortes, e do esquecimento. E n�o sei se vou me recuperar totalmente", preocupa-se.

A neuropsic�loga do Instituto Alberto Santos Dumont (ISD/RN) Jo�sa de Ara�jo explica que as queixas mais recorrentes relatadas pelos pacientes est�o concentradas em esquecimento, dores de cabe�a, ansiedade, sintomas depressivos e sensa��o de fadiga, inclusive em pessoas ditas "assintom�ticas" durante o per�odo de infec��o. "Muitos jovens, que n�o tinham queixas anteriores, passaram a apresentar dificuldades de recordar quest�es do dia a dia."

Ela atenta que pesquisas referentes �s consequ�ncias do novo coronav�rus na sa�de ainda est�o em andamento, mas estudos mais amplos indicam incid�ncias psicol�gicas e neurol�gicas em um a cada tr�s pacientes. "� importante o acompanhamento multidisciplinar dessas pessoas ap�s a detec��o dos sintomas mais cl�ssicos. Um diagn�stico precoce no per�odo p�s-covid � fundamental para possibilitar o processo de reabilita��o. Isso � fundamental para tra�ar um plano de como lidar com essas limita��es", refor�a.

Interna��es recorrentes

Natural de Esplanada, Bahia, Eliane Silva, de 32 anos, contraiu covid-19 no final de junho de 2020 e precisou ser internada quatro vezes nos �ltimos 13 meses, sendo tr�s vezes devido �s sequelas da doen�a e uma no per�odo em que estava infectada. A assistente de pessoal, que passou a sofrer com falta de ar, fadiga e problemas na circula��o, foi diagnosticada com vasculite pulmonar (doen�a autoimune que se caracteriza pela inflama��o dos vasos pulmonares) e Arterite de Takayasu.

Em julho, a baiana foi internada em uma unidade de sa�de de Salvador para tratar uma nova crise. "N�o tinha problema respirat�rio e tudo come�ou depois da covid. Hoje eu me sinto muito abalada. �s vezes, digo para o m�dico que prefiro nem pensar nisso tudo, pois j� d� vontade de chorar", confessa.

Segundo o professor Carlos de Carvalho, casos de doen�as autoimunes s�o poss�veis em qualquer infec��o ou v�rus - incluindo o coronav�rus. Entretanto, ele afirma que os resultados obtidos na pesquisa do Hospital das Cl�nicas n�o indicam que essa � uma caracter�stica recorrente nos pacientes, apesar de poss�vel. "� algo que permanecemos atentos para ver se doen�as autoimunes ir�o se manifestar ao longo dos anos, mas, com um ano, n�o vimos", disse.

Em julho do ano passado, Eliane chegou a ficar internada devido � covid-19, mas recebeu alta no mesmo m�s. No entanto, passou a sentir dores fortes debaixo do peito esquerdo e entre a costela em novembro e precisou retornar ao hospital mais de uma vez. Na maioria das vezes, os m�dicos afirmavam que as dores eram gases e passavam uma medica��o paliativa. Somente em janeiro, cinco meses ap�s as primeiras dores, descobriu o que sofria.

O tratamento inicial durou de quatro a seis meses, com coagulantes e uso de corticoide, rem�dio com pot�ncia anti-inflamat�ria. Entretanto, ela voltou a sentir novas dores ao iniciar o desmame dos medicamentos e foi internada no dia 28 de julho. "� muito complicado ter uma interna��o a cada seis meses. O psicol�gico fica a mil por horas, sem saber o motivo disso tudo. Junta a doen�a, solid�o e car�ncia. � muito dif�cil."

Perguntas em aberto

A pesquisa do Hospital das Cl�nicas da USP � realizada com 750 pacientes que estiveram internados na unidade entre 30 de mar�o de 2020 e 30 de agosto do mesmo ano. S�o pessoas que se infectaram na chamada primeira onda da pandemia do coronav�rus no Brasil. Segundo o professor Carlos de Carvalho, isso significa que n�o se sabe quais sequelas as variantes do coronav�rus surgidas a partir deste ano - como Delta, em circula��o no Brasil - podem deixar a longo prazo, nem se s�o menos ou mais intensas.

Conforme o pesquisador, novos estudos j� se iniciaram no mundo inteiro para observar diferen�as entre variantes. Al�m disso, outra observa��o a ser estudada � das sequelas em pessoas vacinadas, mas que se infectaram. "Ainda s�o perguntas em que n�o sabemos as respostas porque s�o precisos novos estudos para observar estes pacientes", disse o professor.


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