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Estado de Minas PEREGRINA��O SEM VOLTA

O sumi�o em excurs�o a Aparecida do Norte que � mist�rio para fam�lia desde 2012

Familiares relatam que nunca tiveram uma pista sequer sobre o sumi�o de Beatriz. Pol�cia afirma que segue investigando o caso


13/09/2021 07:49 - atualizado 13/09/2021 11:23


Beatriz ao lado do marido, Delmar: desaparecimento da idosa em outubro de 2012 é um mistério para a família
Beatriz ao lado do marido, Delmar: desaparecimento da idosa em outubro de 2012 � um mist�rio para a fam�lia (foto: Arquivo pessoal)

O aposentado Delmar Winck estava em uma loja no Santu�rio Nacional de Aparecida, no interior de S�o Paulo, na tarde de 21 de outubro de 2012. Do lado de fora, a esposa dele, a idosa Beatriz Winck, o esperava. Quando ele saiu, n�o encontrou a companheira. A mulher nunca mais foi vista pela fam�lia.

Desde ent�o, parentes da aposentada, que na �poca tinha 77 anos, buscam not�cias dela. O sumi�o de Beatriz intriga os familiares e autoridades policiais da regi�o.

A pol�cia disse que apurou o caso, mas as investiga��es n�o trouxeram novidades. A fam�lia dela contratou detetives particulares, mas tamb�m n�o conseguiu novas informa��es.

Os familiares contam que Delmar, atualmente com 90 anos, pergunta sobre a companheira com frequ�ncia. At� hoje, ele se questiona como ela desapareceu em instantes, sem deixar rastros.

Primog�nito dos quatro filhos de Beatriz e Delmar, o qu�mico Jo�o Winck, de 62 anos, � o principal respons�vel por procurar a idosa.

"� duro dizer, mas tudo isso tem sido um aprendizado. Voc� amadurece r�pido demais. Desde que comecei a procurar a minha m�e, passei a enfrentar uma realidade que nunca imaginei", diz o qu�mico.

Ele conta que conversou com jornalistas, policiais e at� com traficantes da regi�o de Aparecida do Norte na busca por Beatriz.

"Cheguei a conversar com um gerente de boca de fumo para pedir ajuda. Um juiz me disse que eu n�o deveria ter feito isso, porque depois ficaria na m�o do cara. Mas eu disse pra ele que naquele momento o que mais me importava era procurar a minha m�e", desabafa.

Jo�o acredita que a idosa est� viva. Mas entre os parentes, os anos sem respostas trouxeram incertezas e a sensa��o de que Beatriz est� morta. Apesar da diverg�ncia, os familiares atualmente mant�m um desejo em comum: descobrir o que aconteceu com a idosa.

Em nota, a Pol�cia Civil de S�o Paulo afirma que segue apurando o caso. A reportagem tentou contato com o delegado respons�vel pela investiga��o, mas a assessoria de imprensa da Secretaria da Seguran�a P�blica de S�o Paulo n�o respondeu.

Nas redes sociais, uma p�gina que acumula milhares de seguidores tem como t�tulo uma pergunta que ecoa entre os familiares da idosa: onde est� a dona Beatriz?


Filho criou página no Facebook para divulgar desaparecimento da mãe e buscar possíveis informações sobre o caso
Filho criou p�gina no Facebook para divulgar desaparecimento da m�e e buscar poss�veis informa��es sobre o caso (foto: Reprodu��o/Facebook)

O desaparecimento

Beatriz morava no munic�pio de Port�o, no interior do Rio Grande do Sul, com o marido. O casal, que teve quatro filhos, estava junto havia cerca de 60 anos. Uma das atividades preferidas dos dois era viajar com grupos de idosos da regi�o.

Em outubro de 2012, Beatriz e Delmar foram para Aparecida do Norte em uma excurs�o com mais de 30 pessoas. Depois, o grupo ainda iria a Po�os de Caldas, em Minas Gerais, e Holambra, em S�o Paulo. Era uma viagem que duraria cerca de uma semana.

O �nibus chegou em Aparecida do Norte em um domingo, per�odo em que o santu�rio costuma reunir milhares de turistas.

Delmar e Beatriz foram ao hotel, deixaram as coisas e decidiram fazer uma caminhada pela regi�o. "Eles fizeram um passeio pelo Santu�rio, que naquele dia estava com um p�blico muito grande. Durante essa caminhada, resolveram entrar na Casa das Velas, que vende artigos religiosos dentro da Bas�lica", relata Jo�o.

"Eles escolheram o material que queriam e foram em dire��o ao caixa. Mas como havia uma fila, meu pai pediu pra minha m�e aguardar na porta de sa�da da loja, porque ele iria entrar na fila e pagar. Ele viu a minha m�e parada ali fora, esperando. Quando foi a vez dele, pagou e saiu, mas n�o encontrou mais a minha m�e", conta Jo�o.

A partir de ent�o, come�ou o mist�rio sobre o desaparecimento da aposentada. Delmar acionou a guarda do santu�rio. Ele teve a ajuda de conhecidos na busca pela companheira, mas nenhuma pista foi encontrada. "N�o acharam absolutamente nada", diz Jo�o.

Uma das idosas que estava na mesma excurs�o que o casal falou que Beatriz reclamou do cansa�o e disse que voltaria "para casa". Mas Jo�o n�o acredita que a m�e tenha deixado o santu�rio naquele momento, enquanto aguardava Delmar.

"Ela n�o ia ao banheiro sem avisar meu pai. Ele tamb�m n�o fazia nada sem minha m�e. Eles eram muito ligados. Quando meu pai disse para ela ficar esperando na porta da loja, tenho certeza de que ela ficou ali na porta esperando, mas sumiu por algum motivo", diz Jo�o.


Reconstituição feita pela polícia mostra como Beatriz estaria atualmente (imagem envelhecida por efeito digital)
Reconstitui��o feita pela pol�cia mostra como Beatriz estaria atualmente (imagem envelhecida por efeito digital) (foto: Arquivo pessoal )

Sem respostas no santu�rio, Delmar foi ao hotel, mas n�o encontrou nenhum ind�cio de que a idosa havia retornado ao local. No per�odo da noite, ele comunicou os filhos sobre o desaparecimento de Beatriz.

Jo�o conta que logo pegou um voo para Aparecida do Norte. No dia seguinte, registrou um boletim de ocorr�ncia sobre o desaparecimento da m�e. A Pol�cia Civil abriu um inqu�rito para apurar o caso e passou a ajudar nas buscas.

Busca incessante

Ap�s o desaparecimento da idosa, os familiares dela ficaram por um per�odo em Aparecida do Norte em busca de respostas. Foram feitos mais de 50 mil panfletos com a foto da idosa, que foram distribu�dos na cidade e em outras regi�es pr�ximas. Al�m disso, diversos volunt�rios se mobilizaram para ajudar na procura por Beatriz. Nenhuma pista foi encontrada.

Os respons�veis pelo Santu�rio de Aparecida informaram que n�o havia registros que pudessem mostrar o momento em que Beatriz desapareceu. "S� conseguimos acesso �s c�meras do Santu�rio depois de 15 dias do desaparecimento dela. E isso n�o nos ajudou em nada, porque descobrimos que as filmagens ali eram feitas umas em cima das outras. Ent�o nada ficava registrado", diz Jo�o.

Em nota � BBC News Brasil, o Santu�rio Nacional de Aparecida afirma que possui "estrutura e protocolos que s�o acionados quando as pessoas se desencontram de seus familiares, sendo efetivo o reencontro ainda no mesmo dia". Sobre o caso de Beatriz, diz que "as investiga��es foram conduzidas pelas autoridades competentes, com aux�lio do Santu�rio Nacional no que lhe foi solicitado e direcionado".

A administra��o do Santu�rio n�o detalha, na nota encaminhada � reportagem, de que forma teria auxiliado nas investiga��es sobre o desaparecimento da idosa.

Entre as hip�teses levantadas para o desaparecimento de Beatriz estavam situa��es como a possibilidade de ela ter se perdido na cidade, ter entrado no �nibus com uma excurs�o errada ou at� ter decidido retornar para a casa da fam�lia em Port�o. Mas com o passar dos dias, essas possibilidades foram descartadas.

N�o houve qualquer registro de idosa perdida em Aparecida do Norte ou nas proximidades com as caracter�sticas de Beatriz. As excurs�es da �poca n�o relataram caso de idosa em um �nibus errado. E n�o houve nenhum ind�cio de que Beatriz tenha tentado voltar para casa.

As buscas pela idosa continuaram, mas cada vez mais o desaparecimento dela intrigava a fam�lia e os envolvidos na procura. N�o houve pedido de resgate, em caso de sequestro, ou qualquer situa��o que indicasse que ela pudesse ter sido v�tima de algum tipo de crime. A aposentadoria dela, segundo os familiares, foi bloqueada para evitar que o dinheiro pudesse ser usado por outras pessoas.

Jo�o conta que a m�e n�o sofria com alguma doen�a que pudesse fazer com que ela ficasse desorientada. "Antes de viajar, ela fez um check-up e o m�dico disse que ela n�o tinha nenhum problema de sa�de. Temos por base que ela estava em condi��es de viajar. Ela n�o tinha Alzheimer ou alguma doen�a que a deixasse com lapsos de mem�ria", declara Jo�o.

Se a m�e teve algum tipo de dificuldade que a impediu de se lembrar da fam�lia, passou por um mal-estar ou at� mesmo foi v�tima de algum crime, Jo�o menciona que nunca houve qualquer caso de idosa desmemoriada ou internada em um hospital que pudesse ser associado � aposentada.

"J� disseram que ela perdeu a mem�ria e saiu sem rumo, j� disseram que ela entrou no �nibus, que foi embora por conta pr�pria ou tantas outras coisas. Tudo bem, alguma dessas coisas podem ter acontecido. Mas o que me pergunto �: como fiz tanto barulho na m�dia, conversei com tanta gente, mandei fazer mais de 50 mil panfletos e distribu� na regi�o, recebi ajuda de volunt�rios e at� hoje n�o tive nenhum tipo de resposta?", diz Jo�o.

Na �poca, ele foi atr�s de diversos meios de comunica��o para divulgar o desaparecimento da m�e. O caso foi noticiado em in�meros ve�culos nacionais. Ele acreditava que essa ampla divulga��o do caso poderia fazer com que surgisse, ao menos, uma pista sobre o paradeiro da idosa. Mas foi em v�o.

Durante as buscas, Jo�o tamb�m conversou com diversos policiais, contratou investigadores particulares e at� visitou �reas consideradas violentas na regi�o de Aparecida do Norte para pedir ajuda na busca pela idosa. "N�o obtivemos nenhum resultado, absolutamente nenhuma pista", comenta o qu�mico.

Ele acredita que a m�e esteja viva e tenha sido levada a algum lugar. "O meu sentimento � de que ela n�o desapareceu por falta de mem�ria ou algo parecido. Alguma coisa aconteceu, mas n�o sei. Acredito que ainda vou encontr�-la em um hospital, por meio da pol�cia", afirma Jo�o.

Nos �ltimos anos, a fam�lia de Beatriz recebeu diversas informa��es sobre idosas encontradas sem mem�ria em hospitais ou nas ruas. Jo�o conta que sempre d� aten��o a esses relatos, avalia as imagens das mulheres junto com a fam�lia para ver se h� tra�os da m�e, mas nunca encontrou alguma que parecesse com Beatriz.

Apesar de acreditar que a m�e est� viva, o qu�mico tamb�m visitou lugares como o Instituto M�dico Legal (IML), ap�s relatos de corpos de idosas que n�o foram identificadas. "J� vi tr�s ossadas: duas na regi�o da cidade de Aparecida e uma no interior de Goi�s. Duas foram analisadas pela arcada dent�ria e outra por meio de exame. Nenhuma delas era a minha m�e", relata o qu�mico.

"Tamb�m j� vi um corpo em decomposi��o, que achavam que pudesse ser a minha m�e. Mas foi comprovado que n�o era", comenta Jo�o.


Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, atrai milhares de fiéis de todo o país
Santu�rio Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no interior de S�o Paulo, atrai milhares de fi�is de todo o pa�s (foto: Divulga��o/Embratur)

A Pol�cia Civil de S�o Paulo afirma que o caso de Beatriz foi relatado � Justi�a em junho de 2013, oito meses ap�s o desaparecimento dela. Dois meses depois, ap�s solicita��o de novos procedimentos para a busca da idosa, o caso foi encaminhado ao Departamento Estadual de Homic�dios e de Prote��o � Pessoa (DHPP), que desde ent�o est� respons�vel pelo caso.

"A 5ª Delegacia de Investiga��es sobre Pessoas Desaparecidas investiga o caso por meio de Procedimento de Investiga��o de Desaparecimento (PID) e segue realizando buscas para localizar a v�tima. Qualquer informa��o que possa contribuir com o trabalho policial pode ser fornecida via Disque Den�ncia (181)", diz nota da Secretaria da Seguran�a P�blica de S�o Paulo.

'Eu realmente penso que vou encontr�-la'

A falta de respostas sobre o paradeiro de Beatriz causa ang�stia na fam�lia da aposentada. Jo�o conta que h� familiares que pedem para ele abandonar as buscas e aceitar que a m�e morreu e que, ap�s quase nove anos, dificilmente haver� respostas sobre o caso.

No entanto, o qu�mico n�o pensa em desistir da procura. Ele n�o detalha valores exatos, mas diz ter gastado "mais que um carro de luxo" na procura por Beatriz, por meio de panfletos, viagens e pagamentos a detetives particulares. Nos �ltimos anos, ele foi diversas vezes a Aparecida do Norte para fazer novas buscas.

Um dos objetivos de Jo�o � que o pai dele n�o morra sem respostas sobre o sumi�o da companheira. "�s vezes, ele acha que a minha m�e est� viva. Mas se algu�m chegar e falar que ela est� morta, ele acredita nisso tamb�m. A cada momento ele pensa uma coisa sobre isso", comenta o qu�mico.


João e o pai, Delmar, em foto de anos atrás: filho não quer que o pai, hoje com 90 anos, morra sem uma resposta sobre o que aconteceu com Beatriz
Jo�o e o pai, Delmar, em foto de anos atr�s: filho n�o quer que o pai, hoje com 90 anos, morra sem uma resposta sobre o que aconteceu com Beatriz (foto: Arquivo pessoal)

No ano passado, Jo�o decidiu focar nas redes sociais para propagar o caso. Ele investiu na p�gina "Onde est� dona Beatriz?" no Facebook, que hoje � seguida por mais de 18 mil pessoas, e criou at� um site com o mesmo nome, para ajudar na procura.

Ele recebeu apoio de um especialista em m�dias sociais e pagou para impulsionar uma publica��o da p�gina no Facebook, na qual detalha sobre o desaparecimento da m�e e mostra fotos da idosa e da m�e de Beatriz (para ilustrar como a aposentada pode estar atualmente).

A publica��o no Facebook rendeu muito mais alcance do que o esperado por Jo�o: foram 106 mil compartilhamentos. Muitas pessoas viram a hist�ria e decidiram divulgar, para ajudar na busca por respostas.

Diante do grande alcance no Facebook, os parentes passaram a receber diversos casos de idosas desmemoriadas que estavam internadas ou nas ruas. Nenhuma delas, por�m, era Beatriz.

Recentemente, Jo�o passou a ter uma nova esperan�a: a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas. A iniciativa, lan�ada pelo Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica em maio deste ano, tem o objetivo de possibilitar a identifica��o de pessoas desaparecidas por meio de exames e bancos de perfis gen�ticos. A tecnologia, segundo o governo, permite identificar v�nculos gen�ticos entre pessoas localizadas sem identifica��o e aqueles que est�o cadastrados no banco.

Jo�o colheu material gen�tico e encaminhou para a campanha. Mas n�o h�, at� o momento, nenhuma novidade que possa indicar o que aconteceu com Beatriz.

A falta de respostas angustia o qu�mico e os familiares. Por�m, ele acredita que o reencontro com a m�e est� cada vez mais pr�ximo.

"A fam�lia da minha m�e e do meu pai � muito longeva. S�o pessoas que vivem por muitos anos e s�o resistentes. Eu realmente penso que vou encontr�-la viva em algum lugar", diz Jo�o.

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