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Estado de Minas SETEMBRO AMARELO

Estudo da USP testa uso de estimula��o magn�tica contra depress�o em idosos

� uma t�cnica n�o invasiva que estimula pequenas regi�es do c�rebro e j� era utilizada para tratamento de doen�as como Parkinson


20/09/2021 21:00 - atualizado 20/09/2021 21:17

A estimulação magnética faz os neurônios dos idosos voltarem a se comunicar, auxiliando no tratamento contra a depressão
A estimula��o magn�tica faz os neur�nios dos idosos voltarem a se comunicar, auxiliando no tratamento contra a depress�o (foto: Pixabay)


O tratamento da depress�o � um desafio no caso de quem tem acima de 60 anos. Em geral, os idosos chegam aos consult�rios usando outras medica��es e, muitas vezes, o diagn�stico est� camuflado por outras queixas. Agora, o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo (USP) estuda uma t�cnica, sem medicamentos, que pode ser alternativa ao tratamento de um dos transtornos mentais mais relacionados aos suic�dios nessa faixa et�ria.

A estimula��o magn�tica transcraniana repetitiva � uma t�cnica n�o invasiva que estimula pequenas regi�es do c�rebro. Era utilizada normalmente em algumas doen�as neurol�gicas e psiqui�tricas, como Parkinson, e passa a ser estudada no tratamento para depress�o em idosos. A grosso modo, os neur�nios n�o se comunicam bem durante a depress�o. Com isso, eles n�o conseguem liberar os neurotransmissores, respons�veis pela sensa��o de bem-estar e recompensa. Por isso, o paciente tem a sensa��o de des�nimo. A estimula��o magn�tica faz os neur�nios voltarem a se comunicar. A �rea estimulada est� ligada a mem�ria, aten��o e planejamento. E isso tamb�m traz uma melhora cognitiva.

 

 


"Como n�o � um tratamento farmacol�gico, ele n�o tem intera��o medicamentosa e n�o interage com outros �rg�os. Isso � importante para o p�blico idoso", explica o psiquiatra Leandro Valiengo, coordenador do Servi�o Interdisciplinar de Neuromodula��o do instituto.

O advogado Wagner Daniele durante quatro anos relutou em procurar ajuda m�dica. Temia o preconceito. "As pessoas falam 'Ah, esse cara � vagabundo'. Por mais que voc� queira lutar, voc� n�o encontra for�as. Falta motiva��o para fazer as coisas que d�o prazer. Por isso, o estigma", relata. Quando decidiu que n�o dava mais para "se virar sozinho", como diz, buscou os m�todos convencionais de tratamento. Passou por cinco psic�logos, al�m de terapeutas de linhas diferentes.

Insatisfeito, abandonou tudo. Literalmente. Depois de 35 anos como advogado bem-sucedido, fez ano sab�tico. Era 2019. N�o tinha vontade nem de correr, uma de suas paix�es, e deixou de falar at� com os mais chegados. Bebia - uma garrafa de aguardente durava dois dias. Fazia isso em casa, sozinho.

No ano passado, encontrou a sa�da na pesquisa do HC em uma busca na internet. Com o tratamento, retomou a vida. Voltou a trabalhar e hoje � consultor imobili�rio. "O tratamento deu motiva��o. Estou bem melhor do que antes."


Efic�cia


Valiengo alerta, por�m, que alguns pacientes melhoram; outros, n�o. A efic�cia do tratamento � a mesma dos antidepressivos, em torno de 50% a 60%. Conclus�es estat�sticas mais precisas ser�o poss�veis apenas ao fim do estudo. Desde o ano passado, a pesquisa j� tratou 60 idosos acima de 60 anos - a meta � alcan�ar 110, o que deve acontecer na metade do ano que vem.

Embora comum nos Estados Unidos, onde foi aprovada em 2012, a t�cnica ainda � pouco conhecida no Brasil. Por aqui, sua valida��o pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) data de 2012. Outro fator que dificulta a populariza��o s�o os custos da sess�o, entre R$ 300 e R$ 500. E n�o h� cobertura de conv�nios.

Christiane Machado Santana, diretora Cient�fica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), alerta ainda para a necessidade de mais pesquisas sobre essa t�cnica. "N�o � um m�todo muito usado. Mas � interessante pensar em uma forma praticamente isenta de efeitos adversos para uma popula��o t�o exposta a medicamentos. Mais pesquisas s�o necess�rias para que se torne um m�todo alternativo v�lido para o tratamento da depress�o em idosos", observa.

Essa � a mesma opini�o do psiquiatra Lucas F. B. Mella, especialista em psicogeriatria, coordenador do Servi�o de Psiquiatria Geri�trica e Neuropsiquiatria da Unicamp. "� uma boa alternativa de tratamento, mas ainda pouco frequente na pr�tica cl�nica."

Suic�dio


Segundo a �ltima Pesquisa Nacional de Sa�de do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica, a depress�o atinge 13% da popula��o entre 60 e 64 anos. Se n�o diagnosticada corretamente, � um transtorno mental que pode levar ao suic�dio. "Entre os transtornos mentais, representa o maior risco de suic�dio", diz Carlos Cais, doutor em preven��o ao suic�dio.

Dados do Minist�rio da Sa�de de 2019 mostram que a taxa de suic�dios em idosos � de 19,6/100 mil habitantes por ano, o triplo do conjunto da popula��o (6,5/100 mil habitantes ano). De acordo com a ABP, s�o registrados mais de 13 mil casos todos os anos no Brasil. "� a faixa et�ria que mais comete suic�dio", ressalta Cais.

'� condi��o control�vel e revers�vel'


O tratamento da depress�o tem duas vertentes principais, com e sem medicamentos. Especialistas apontam que os melhores resultados v�m da combina��o das duas linhas, ou seja, medica��es que aliviam os sintomas e curam, al�m da psicoterapia, por exemplo. "A depress�o � trat�vel. � uma condi��o control�vel e revers�vel", afirma a psiquiatra Julia Loureiro, especialista em psicogeriatria e integrante do Servi�o Interdisciplinar de Neuromodula��o do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Cl�nicas.

Os antidepressivos s�o o pilar do tratamento e trazem benef�cios para os pacientes, como explica Christiane Machado Santana, diretora Cient�fica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Mas � preciso uma ressalva. "Alguns medicamentos s�o inapropriados para uso em idosos por afetarem a mem�ria, causarem muita sonol�ncia e provocarem quedas. � preciso ter dom�nio desse conhecimento na escolha terap�utica e nem sempre isso � levado em considera��o por m�dicos n�o geriatras", avalia.

O tratamento da depress�o � cercado de mitos, como explica Carlos Cais, da Faculdade de Ci�ncias M�dicas da Unicamp e doutor em preven��o do suic�dio. E � preciso super�-los. "A depress�o � subdiagnosticada. Os idosos frequentam os m�dicos, mas essas janelas de oportunidade n�o s�o bem utilizadas, em fun��o de alguns mitos que devem ser combatidos com a informa��o. O primeiro � a ideia que idoso � entristecido. Isso n�o � verdade", avalia. "Depress�o n�o faz parte do envelhecimento", completa o psiquiatra Lucas F. B. Mella, da Unicamp.

O especialista destaca que a depress�o tamb�m pode ser o primeiro sintoma de doen�as neurodegenerativas e cerebrovasculares. "Entre cinco a sete anos antes dos sintomas motores de Parkinson, surgem os primeiros sintomas depressivos. Eles v�m antes. N�o basta diagnosticar a depress�o. � preciso investigar o que pode estar contribuindo com a depress�o no idoso", defende.

Emo��o e di�logo


As op��es n�o medicamentosas abrangem a psicoterapia nas suas mais diversas modalidades. A terapia busca trabalhar as quest�es emocionais a partir do di�logo. Outras op��es est�o na medicina alternativa, como acupuntura, medita��o e arteterapia. "Nos �ltimos anos, � poss�vel perceber o aumento da procura pela musicoterapia, que funciona bastante com idosos", explica Daniella Cury, psic�loga e psicanalista especializada em envelhecimento e sexualidade. "A m�sica atinge �reas do c�rebro ligadas �s emo��es mais primitivas. Com isso, ela ajuda a pessoa a falar sobre seus conflitos e sua hist�ria."

Em casos graves que n�o respondem aos medicamentos, at� a eletroconvulsoterapia (ECT), t�cnica que utiliza eletrochoques para induzir convuls�es em pacientes, traz resultados mais imediatos, na opini�o de Christiane Machado Santana, da SBGG.

Saiba quando buscar ajuda


1. Quais s�o os sinais mais comuns de alerta?
Mudan�as de h�bito: a pessoa se alimentava bem, mas deixa de comer, ou o contr�rio, e ocorrem altera��es no ritmo do sono, dormindo pouco ou ficando o tempo todo deitado; isolamento: perda de interesse pelas atividades que davam prazer; aten��o �s queixas de dor: reclama��es nem sempre espec�ficas de tonturas e muitas idas ao m�dico sem uma raz�o determinada; irritabilidade: os idosos podem se tornar mais ranzinzas ou r�spidos; altera��es cognitivas: esquecimento, falta de concentra��o, capacidade diminu�da para pensar e uma certa "pregui�a" em responder �s perguntas do m�dico, por exemplo.

2. Como diferenciar uma mudan�a de humor de uma depress�o?
A psiquiatra Julia Loureiro, especialista em psicogeriatria e integrante do Servi�o Interdisciplinar de Neuromodula��o do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Cl�nicas, explica que existem dois crit�rios fundamentais. "O primeiro � o tempo de dura��o. � importante verificar se a mudan�a permanece por quatro semanas", explica. "O outro � a funcionalidade. A tristeza e o des�nimo interferem nas atividades do cotidiano? Se o idoso deixou de ficar com os netos, cozinhar e dirigir, � preciso aten��o."

3. Onde buscar ajuda?
O primeiro passo pode ser dado com um cl�nico geral (no SUS, um atendimento especializado pode demorar). O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Cl�nicas oferece a pesquisa sobre estimula��o eletromagn�tica para idosos acima de 60 anos com depress�o. As inscri��es devem ser feitas diretamente pelo e-mail da institui��o: [email protected]. As vagas est�o abertas e o tratamento � gratuito.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo

 


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