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Estado de Minas NACIONAL

Consumo de p� de galinha em alta e outros 5 dados que revelam retrato da fome no Brasil

S�o 19 milh�es de brasileiros passando fome, uma em cada tr�s crian�as an�micas e um aux�lio emergencial m�dio que s� compra 38% da cesta b�sica. Confira esses e outros n�meros que revelam a piora da inseguran�a alimentar no pa�s.


05/10/2021 22:11 - atualizado 05/10/2021 22:11

Mãe com criança de colo recebe doação de marmita em ação do MST no Paraná
S�o 19 milh�es de brasileiros passando fome, uma em cada tr�s crian�as an�micas e um aux�lio emergencial m�dio que s� compra 38% da cesta b�sica. (foto: Ednubia Ghisi e Regis Lu�s Cardoso/Fotos P�blicas)
Primeiro, foi a fila quilom�trica em um a�ougue de Cuiab�, no Mato Grosso — maior Estado produtor e exportador de carne bovina do pa�s —, para receber ossos. Depois, cariocas garimpando restos em um caminh�o de ossos e pelancas descartadas por supermercados.

 

E assim, dia ap�s dia, as imagens da fome v�o voltando ao notici�rio nacional.

Eram 19,1 milh�es de brasileiros com fome em 2020, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran�a Alimentar e Nutricional (Penssan).

 

Em rela��o a 2018 (10,3 milh�es), s�o quase 9 milh�es de pessoas a mais nessa condi��o.

 

O aux�lio emergencial que, no ano passado, em seu valor m�ximo (R$ 1.200), chegou a comprar duas cestas b�sicas e sobrar, agora, mesmo em seu maior valor (R$ 375) n�o compra nem 60% da cesta da regi�o metropolitana de S�o Paulo.

 

Em meio a essa realidade, as crian�as s�o as mais afetadas, j� que s�o os lares com pequenos os mais propensos a estarem na pobreza e na extrema pobreza.

 

Mesmo antes da pandemia, uma em cada tr�s crian�as brasileiras sofria de anemia por falta de ferro, segundo estudo da UFSCar (Universidade Federal de S�o Carlos).

 

Confira esses e outros dados que mostram como a fome voltou a ser um drama cotidiano no Brasil.

1) Aumento de 85% no n�mero de brasileiros com fome em dois anos

A pandemia do coronav�rus teve um efeito devastador sobre a seguran�a alimentar no Brasil, revelaram estudos da Rede Penssan e da Universidade Livre de Berlin publicados este ano.

 

No pa�s, a fome atingiu 19,1 milh�es de pessoas em 2020, parte de um contingente de 116,8 milh�es de brasileiros que convivam com algum grau de inseguran�a alimentar — n�mero que corresponde a 55,2% dos domic�lios, segundo o Inqu�rito Nacional sobre Inseguran�a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil , realizado pela Rede Penssan.


Pessoas em situação de rua recebem marmitas nas ruas de São Paulo. Março de 2021
Pessoas em situa��o de rua recebem marmitas nas ruas de S�o Paulo. Mar�o de 2021 (foto: Getty Images)

 

A inseguran�a alimentar abrange desde a alimenta��o de m� qualidade, passando pela instabilidade no acesso a alimentos, at� a fome propriamente dita.

 

O aumento no n�mero de brasileiros passando fome, de 10,3 milh�es em 2018, para 19,1 milh�es em 2020, representa um crescimento de 85% em dois anos.

 

O resultado fez a Oxfam — organiza��o internacional que atua no combate � pobreza, desigualdade e injusti�a social — classificar o Brasil como um dos focos emergentes de fome no mundo , ao lado da �ndia e da �frica do Sul.

 

De acordo com estudo do grupo de pesquisas Food for Justice: Power, Politics, and Food Inequalities in a Bioeconomy (Comida por Justi�a: Poder, Pol�tica e Desigualdades Alimentares em uma Bioeconomia, em tradu��o livre), da Universidade Livre de Berlim, a inseguran�a alimentar � marcadamente desigual.

 

Os mais altos percentuais de inseguran�a alimentar s�o registrados em fam�lias com apenas um respons�vel pela gera��o de renda (66,3%).

 

Isso se acentua ainda mais quando essa respons�vel � uma mulher (73,8%) ou uma pessoa parda (67,8%) ou preta (66,8%).

 

Tamb�m � maior nas resid�ncias com crian�as de at� 4 anos (70,6%), nas regi�es Nordeste (73,1%) e Norte (67,7%) e nas �reas rurais (75,2%).

2) Uma em cada tr�s crian�as com anemia

De cada tr�s crian�as brasileiras, uma apresenta um quadro chamado anemia ferropriva, revelou um estudo da UFSCar publicado em julho deste ano .

 

A anemia ferropriva � marcada pela falta de ferro no organismo. Esse nutriente � encontrado no leite materno, na carne vermelha e em alguns vegetais, como as folhas verde-escuras, o feij�o e a soja.


Bebê é pesada por voluntárias da Pastoral da Criança
Preval�ncia de anemia por falta de ferro atingia 33% das crian�as brasileiras mesmo antes da pandemia. Na foto, beb� � pesada por volunt�rias da Pastoral da Crian�a (foto: Getty Images)

As crian�as com defici�ncia de ferro sofrem altera��es no desenvolvimento do c�rebro que, mais para frente, se manifestam na forma de dificuldade de aprendizado, sonol�ncia e des�nimo. Muitos desses problemas repercutem pela vida toda e s�o irrevers�veis.

 

Para chegar ao resultado, os especialistas da UFSCar compilaram dados de outros 134 estudos feitos entre 2007 e 2020, que reuniram informa��es sobre a sa�de de 46 mil indiv�duos com menos de 7 anos de idade de todas as regi�es do Brasil.

 

Os dados, no entanto, s� v�o at� o in�cio de 2020, o que traz um alerta: a situa��o pode ter se agravado ao longo da pandemia, diante da acentuada queda no consumo de carne vermelha no pa�s, em meio � forte alta de pre�os.

3) Menor consumo de carne bovina em 26 anos

Em 2021, o consumo de carne bovina no Brasil dever� ser de 26,4 quilos por pessoa, uma queda de quase 14% em rela��o a 2019, ano anterior � pandemia, e de 4% ante 2020.

 

Esse � o menor n�vel registrado para consumo de carne bovina no pa�s em 26 anos, segundo a s�rie hist�rica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), com in�cio em 1996.


Homem compra carne em açougue em Santo André, São Paulo
Consumo de carne bovina no Brasil deve cair em 2021 ao menor patamar em pelo menos 26 anos (foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

At� agosto, as carnes acumulavam aumento de pre�o de 30,8% em 12 meses, bem acima da alta de 9,68% da infla��o geral, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).

 

A alta de pre�os da carne come�ou antes da pandemia, puxada pela demanda da China, cujo rebanho su�no foi fortemente afetado pela peste su�na africana.

 

A tend�ncia foi acentuada no ano passado pela alta do d�lar, que estimula as exporta��es, reduzindo a oferta do produto no mercado interno.

 

Pesaram ainda a seca, que piora a qualidade do pasto e aumenta a necessidade de uso de ra��o, elevando o custo de produ��o; e o menor abate de f�meas, que s�o retidas pelos pecuaristas para produzir novos animais, aproveitando a alta de pre�os.

 

Ent�o foi assim que a carne vermelha sumiu do prato dos brasileiros mais pobres.

4) Aux�lio emergencial n�o compra mais uma cesta b�sica

Um dos fatores que explica a crescente dificuldade dos brasileiros em se alimentarem adequadamente � a perda do poder de compra do aux�lio emergencial, em meio � redu��o do valor do benef�cio e � alta da infla��o.

 

Em abril de 2020, quando o aux�lio come�ou a ser pago, ele tinha valores que variavam de R$ 600 a R$ 1.200. Naquele m�s, a cesta b�sica custava R$ 556,36 em S�o Paulo, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos).

 

Ou seja: mesmo com o valor mais baixo, era poss�vel comprar todos os produtos da cesta e ainda sobrava algum dinheiro.


Protesto pela manutenção do auxílio emergencial em R$ 600. Brasília, maio de 2021
Protesto pela manuten��o do aux�lio emergencial em R$ 600. Bras�lia, maio de 2021 (foto: Divulga��o MST/Fotos P�blicas)

De abril de 2020 a agosto deste ano, o valor da cesta b�sica paulistana subiu 16,9%, segundo o Dieese, para R$ 650,50.

 

J� o aux�lio emergencial foi na dire��o oposta, tendo seus valores reduzidos em 2021 para R$ 150, R$ 250 ou R$ 375.

 

Assim, quem recebe o valor mais baixo s� consegue comprar atualmente 23% da cesta b�sica. Quem recebe o valor m�dio, 38%. E mesmo quem recebe o valor mais alto — pago �s m�es solteiras chefes de fam�lia — s� consegue comprar 58% da cesta.

 

Considerando que as pessoas tamb�m t�m aluguel e contas b�sicas para pagar, a perda do poder de compra do aux�lio emergencial d� uma dimens�o da precariedade em que t�m vivido os brasileiros mais pobres.

5) Consumo de p�s de galinha e miojo

Outros indicadores da piora das condi��es de alimenta��o do brasileiro est�o nos pr�prios alimentos consumidos.

 

Segundo dados da Abimapi (Associa��o Brasileira das Ind�strias de Biscoitos, Massas Aliment�cias e P�es e Bolos Industrializados), o consumo de macarr�o instant�neo movimentou R$ 3,2 bilh�es em 2020, ante R$ 2,7 bilh�es em 2019.

 

Em toneladas, o consumo cresceu de 167 mil para 189 mil entre os dois anos, refletindo o aumento da pr�tica de cozinhar em casa durante a pandemia, mas tamb�m a perda de renda da popula��o, que recorre ao miojo como um alimento barato.

 

Nos a�ougues, em meio aos pre�os proibitivos da carne, consumidores recorrem a cortes antes desprezados pela maioria, como p�s e mi�dos de galinha.

 

"Antes da pandemia se vendia cerca de 100 quilos de p� de frango no m�s, agora estamos vendendo em torno de 250 quilos", disse Jos� Carlos Viale, dono de um a�ougue em S�o Jos� do Rio Preto, ao Di�rio da Regi�o.

 

"Sempre teve sa�da, mas as pessoas compravam em menor quantidade e para tratar animal. Agora, temos fam�lias que chegam a comprar dois quilos de p� e pesco�o por semana", relatou o empres�rio ao jornal.


Geisa Stefanini seu filho
Geisa Stefanini, de 32 anos, morreu ap�s ter parte do corpo queimado ao tentar cozinhar com �lcool (foto: Reprodu��o/Redes Sociais)

6) Aumento das queimaduras provocadas por cozinhar com �lcool

Diante da alta do pre�o dos alimentos e do botij�o de g�s, muitas fam�lias t�m tido que escolher entre a compra de comida ou do combust�vel.

 

Em agosto, o pre�o m�dio do botij�o de g�s de 13 kg estava em R$ 93, segundo a ANP (Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis), mas j� superava os R$ 100 em diversos Estados brasileiros, como Mato Grosso (R$ 114), Rond�nia (R$ 111), Amap� (R$ 109), Roraima (R$ 109) e Par� (R$ 102).

 

Em meio aos pre�os proibitivos, as not�cias de queimados por cozinhar com �lcool se multiplicam. Isso num momento em que o acesso ao �lcool et�lico mais inflam�vel, com concentra��o de 70%, foi popularizado pela pandemia.

 

Em Goi�s, segundo o portal Metr�poles, em menos de dois meses, pessoas de tr�s fam�lias diferentes sofreram queimaduras e foram internadas depois de usarem �lcool para cozinhar.

 

Na mesma situa��o, um homem morreu, em julho, em Goi�nia, com 50% do corpo queimado.

 

Em 27 de setembro, morreu Geisa Stefanini, de 32 anos, que teve parte do corpo queimado ap�s usar �lcool combust�vel para cozinhar em sua casa em Osasco, na Grande S�o Paulo, segundo o G1. O beb� dela de 8 meses teve 18% do corpo queimado, mas sobreviveu.

 

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