(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas TRAG�DIA

Queda do Fokker 100 da TAM em S�o Paulo completa 25 anos

Aeronave caiu na manh� do dia 31 de outubro de 1996, matando 99 pessoas


31/10/2021 10:16 - atualizado 31/10/2021 10:35

Jornalista Jorge Tadeu da Silva segura foto com registro de sua casa destruída após queda do Fokker 100 da TAM, em 1996
Casa do jornalista Jorge Tadeu da Silva ficou destru�da na queda da aeronave (foto: Rovena Rosa/Ag�ncia Brasil)
Em um dia como hoje (31/10), h� 25 anos, o jornalista Jorge Tadeu da Silva, levantou cedo e saiu de sua casa, na rua Lu�s Orsini de Castro, no Jabaquara, zona sul de S�o Paulo, para dar aula de portugu�s em um col�gio particular ali perto. Mal chegou � escola, uma pessoa da secretaria o procurou dizendo que seu irm�o estava ao telefone.

“Achei estranho. Mas fui l� [atender]. Devia ter acontecido alguma emerg�ncia. Ele falou, com uma voz meio assustada, que um avi�o tinha ca�do em cima da minha casa e que eu precisava ir para l�. Em princ�pio, achei que ele estava brincando”, contou Silva, em entrevista � Ag�ncia Brasil.

O jornalista morava em um sobrado geminado: seus pais eram seus vizinhos de parede. E foi justamente nessa casa que parte do avi�o Fokker 100, da TAM (empresa que foi fundida com a Lan e se tornou a Latam) caiu, por volta das 8h26 da manh� do dia 31 de outubro de 1996. "Eles [meus pais] estavam na casa. Eles haviam acabado de sair da cama e estavam no andar de cima, descendo para tomar o caf� da manh�, quando o avi�o caiu", disse.

Silva mostra � reportagem uma foto da �poca, estampada em um jornal, que mostra um trem de pouso do avi�o dentro da casa dos pais. Felizmente, todos da fam�lia sobreviveram. O pai teve apenas uma queimadura no bra�o. Foi levado ao hospital, mas no mesmo dia foi liberado. O acidente, no entanto, jamais foi esquecido pela fam�lia. E provocou traumas.

“Para meus pais, que tinham mais idade, foi um per�odo muito dif�cil, que marcou muito a vida deles. Eles passaram a ter dificuldade de dormir no escuro", relatou. “Eu tenho mem�ria olfativa, para voc� ter uma ideia. O cheiro era muito desagrad�vel e ficou marcado."

No aeroporto
Pouco antes de o acidente acontecer, Sandra Assali havia levado seu marido, o m�dico cardiologista Jos� Rahal Abu Assali, para o aeroporto de Congonhas. Naquele mesmo dia, ele daria aula em um congresso no Rio de Janeiro e retornaria a S�o Paulo.

“Eu levei meu marido ao aeroporto. Tinha o h�bito de lev�-lo porque ele viajava muito. Mor�vamos perto do aeroporto, ent�o, quando poss�vel, eu o levava. E naquele dia n�o foi diferente. Eu deixei ele l� e, como ele viajava muito, ele chegava j� bem pr�ximo do hor�rio de embarque”, contou Sandra. “Era um dia normal, de rotina. Ele voltaria no mesmo dia. Eu me despedi dele e fui embora. Meia hora depois tive a confirma��o do acidente, de que ele tinha morrido”, afirmou.

Ela n�o viu o acidente acontecer. Mas quando j� havia sa�do do aeroporto e estava dentro do carro, chegou a ouvir um barulho. “Ouvi um grande barulho e vi um grande clar�o, apesar de ter sido de manh�. Naquele momento eu achava que era [algo] num posto de gasolina. Na verdade, voc� nunca imagina que pode ser um avi�o”, destacou.

Ela s� ficou sabendo do acidente depois. A lista dos passageiros que morreram com a queda e a explos�o do avi�o ela soube pela TV. Da companhia a�rea, Sandra jamais recebeu um telefonema sobre a morte do marido.

Cen�rio de guerra
Ao saber do acidente pelo irm�o, Jorge Tadeu da Silva voltou correndo para casa. Ele lembra de estar tudo em chamas e de ter se juntado aos vizinhos na tentativa de abrir alguns port�es e gritar por sobreviventes. Segundo ele, o avi�o destruiu oito casas na sequ�ncia.

"Ele pegou a minha na parte da frente. Na dos meus pais, um pouco mais a estrutura da frente. Na terceira casa, a parte principal da fuselagem caiu. E o cockpit do avi�o, a ponta do avi�o, percorreu mais cinco ou seis casas cortando elas pelo meio. Imagine um cen�rio de destrui��o, muito fogo. O avi�o havia acabado de decolar e estava com o tanque cheio. Estava abastecido para o voo at� o Rio de Janeiro", lembrou.

"A primeira vis�o que eu tive foi essa: de uma cena clich� de um bombardeio de guerra ou algo assim. Era muito fogo, muita fuma�a preta. Voc� via os destro�os, mas n�o conseguia ver o que que era, na hora", completou.

O avi�o havia acabado de sair de Congonhas, aeroporto de S�o Paulo, com destino ao Rio de Janeiro. Mas apenas 24 segundos depois, de acordo com relat�rio final elaborado pelo Centro de Investiga��o e Preven��o de Acidentes Aeron�uticos (Cenipa), a aeronave bateu em tr�s pr�dios e caiu em cima de diversas casas na Rua Luis Orsini de Castro, a cerca de 2 quil�metros do aeroporto. Com a queda, o avi�o pegou fogo matando todos as 96 pessoas a bordo. Tr�s pessoas que estavam no solo tamb�m morreram.

"De maneira surpreendente, apenas tr�s pessoas no solo faleceram. Para um acidente desse porte, numa �rea urbana, foi realmente um milagre. � uma rua em que muitas crian�as usam para ir para a escola. Mas devido ao hor�rio, tinha pouca gente na rua", disse.

Ap�s a trag�dia, Silva teve uma grande vontade de escrever sobre o acidente. Ele come�ou a pesquisar sobre desastres a�reos e criou um site para falar sobre o assunto. “Mais para frente, vim a saber com uma psic�loga que eu estava usando uma maneira de lidar com o luto ou com o estresse p�s-traum�tico, que � escrever sobre o assunto".

Quanto ao sobrado geminado, ele foi reformado com o dinheiro que os pais tinham guardado antes do acidente. "A gente [reconstruiu uma das casas] com recursos pr�prios, recursos que meu pai tinha guardado. E, ao longo de dez anos, fomos reconstruindo a outra, mas n�o no mesmo padr�o”, contou.

Da empresa, o dinheiro de indeniza��o demorou a chegar. "Foi um processo longo para recuperar [o que foi perdido no acidente] e sem receber a indeniza��o porque as propostas [da empresa] eram absurdas. Foi levado para a Justi�a porque n�o houve acordo. Levou muito tempo para a gente conseguir receber alguma coisa. Levou, na verdade, onze anos", disse ele, relembrando que recebeu a indeniza��o no ano em que um outro avi�o da TAM caiu em Congonhas, em 2007, matando 199 pessoas.

Hoje, ele continua vivendo na mesma rua, no im�vel que antes era ocupado por seus pais.

Associa��o
Sandra tinha dois filhos � �poca do acidente: um menino, de 7 anos, e uma menina, de 4. Sem receber o apoio necess�rio da empresa, ela e outros parentes de v�timas criaram a primeira associa��o de parentes de v�timas de acidente a�reo do Brasil, a Associa��o Brasileira de Parentes e Amigos de V�timas de Acidentes A�reos (Abrapavaa), da qual ela � presidente. A associa��o ajudou a mudar a avia��o no Brasil, principalmente em rela��o � indeniza��o e ao tratamento dispensado aos familiares das v�timas de acidentes com aeronaves.

Sandra tamb�m passou a escrever sobre o epis�dio, publicando dois livros. O primeiro deles, "O Dia que Mudou a Minha Vida", foi lan�ado em 2017, quando a trag�dia completou 20 anos. O segundo, "Acidente A�reo – O que Todo Familiar de V�tima Pode e Deve Saber", foi lan�ado em mar�o deste ano e pretende ser um guia para orientar fam�lias sobre direitos em caso de acidente a�reo.

O acidente
A queda do avi�o foi provocada por uma falha no reversor da turbina direita (o freio aerodin�mico), que abriu durante a decolagem. O reversor � um equipamento que se abre para ajudar a aeronave a desacelerar, preparando o avi�o para o pouso. Mas, naquele dia, o equipamento abriu na decolagem, em pleno voo. Isso foi como acionar o freio no momento em que a aeronave precisava acelerar para ganhar mais sustenta��o. Um problema para o qual o piloto e o co-piloto n�o haviam sido treinados, j� que as chances de que isso ocorresse eram rar�ssimas.

“O manual da Fokker 100 dizia que n�o havia necessidade desse tipo de treinamento porque a possibilidade era de uma em um milh�o do reverso abrir em voo. Ou seja, os pilotos, dentro do que tinham de treinamento, fizeram o que sabiam. N�o eram treinados para essa eventualidade", disse Sandra Assali.

“Um acidente a�reo, como eu sempre digo, acontece sempre por v�rios fatores. Nunca � um fator s�”, destacou M�rio Luiz Sarrubbo, procurador-geral de Justi�a do estado de S�o Paulo, em entrevista � Ag�ncia Brasil. Sarrubbo foi o promotor do caso � �poca.

Antes de decolar de Congonhas com destino ao Rio de Janeiro, naquela manh� de quinta-feira, o Fokker tinha feito uma viagem de Caxias do Sul, na Serra Ga�cha, para S�o Paulo. Quando o piloto desse voo chegou a Congonhas, ele relatou aos tripulantes do voo seguinte que um alarme havia indicado um defeito no acelerador autom�tico, o chamado autothrottle, um mecanismo que ajuda o piloto a controlar a velocidade da aeronave, mas que n�o � essencial para o voo. Durante a investiga��o, se descobriu que o problema, na realidade, n�o estava no autothrottle, mas no reversor de uma das turbinas.

“Interessante � que at� hoje a gente n�o sabe se o reverso abriu em voo anteriormente em outros locais, porque a tripula��o que levou o Fokker para Congonhas naquele dia reportou para o piloto que assumiu o voo [de S�o Paulo para o Rio de Janeiro] que o controle de acelerador autom�tico, chamado de autothrottle, estava com defeito, que o manete [alavanca que acelera ou reduz a pot�ncia do motor] estava voltando em algum momento. Por isso, o piloto [do voo que caiu] foi enganado. N�o era o acelerador autom�tico. No caso dele, era o reverso em voo, que acabou sendo o fio da trag�dia”, disse o procurador-geral.

“Os fatores determinantes para a queda da aeronave: um rel� [esp�cie de interruptor el�trico] que entrou em curto, e o piloto ter sido induzido a erro em fun��o da movimenta��o do manete em decorr�ncia desse curto”, explicou o promotor. “A possibilidade do reverso abrir em voo era muito pequena. Por isso, o piloto nem pensou em reverso em voo”, acrescentou.

Se o piloto tivesse conhecimento de que o problema no avi�o era o reverso, seu procedimento no voo teria sido outro, acredita Sarrubbo. “Ele desligaria aquele motor e alternaria para Cumbica, pousaria ali, n�o iria para o Rio de Janeiro. Ele faria altern�ncia para Cumbica, desligaria aquele motor - o reverso pode ficar aberto com o motor desligado, e ele pousaria em Cumbica com toda a seguran�a e nada aconteceria.”

Ap�s a investiga��o sobre as causas do acidente, nenhuma pessoa foi responsabilizada pela trag�dia. “Na nossa manifesta��o, arquivamos o inqu�rito policial porque entend�amos que n�o dava para se atribuir culpa criminal a quem quer que fosse. Foi realmente uma situa��o absolutamente inusitada”, disse Sarrubbo. “N�o havia nenhuma responsabilidade em n�vel pessoal criminal que pudesse fazer com que fiz�ssemos um processo criminal. Fui o autor do arquivamento porque realmente, sob o prisma do crime, n�o havia nenhum tipo de responsabiliza��o. Foi mesmo inusitado”, relembrou.

Latam
Procurada pela Ag�ncia Brasil, a Latam informou n�o ter hesitado em “dar assist�ncias �s fam�lias das v�timas, mesmo n�o tendo protocolos e normas globais para assist�ncia humanit�ria”.

Segundo a empresa, “todas as fam�lias das v�timas envolvidas [no acidente] foram indenizadas”.

A Latam disse ainda que tem um plano robusto, estruturado e detalhado de resposta � emerg�ncia cuja premissa n�mero um � a “seguran�a � valor inegoci�vel”. Esse plano, de acordo com a empresa, contempla dez pontos, que prev�, por exemplo, atendimento e assist�ncia �s fam�lias envolvidas.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)