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Estado de Minas PL�STICA

"Parei minha vida", diz ex-paciente de cirurgi�o acusado de deformar narizes

Ex-pacientes se uniram e estimam ter ao menos 30 pessoas afetadas pelas condutas do m�dico


06/11/2021 09:03 - atualizado 06/11/2021 10:03

Alan Landecker, médico
Alan Landecker, m�dico (foto: Reprodu��o/Redes Sociais)


Seis ex-pacientes prestaram queixa contra o renomado cirurgi�o pl�stico Alan Landecker alegando terem sofrido deforma��o no nariz e problemas de sa�de, como dificuldade para respirar e danos no olfato, por infec��o p�s-rinoplastia.

A Pol�cia Civil de S�o Paulo investiga os casos em duas delegacias da cidade. Os ex-pacientes se uniram e estimam ter ao menos 30 pessoas afetadas pelas condutas do m�dico.

Os pacientes ouvidos pelo Estad�o relatam que, ap�s as cirurgias, enfrentaram infec��es bacterianas e f�ngicas, o que levou a perda de cartilagem, meses de tratamento com antibi�ticos, deforma��es no nariz e dificuldades para respirar.

Um grupo no WhatsApp chamado ‘Pacientes do Alan’ re�ne 17 ex-pacientes que afirmam ter sofrido danos decorrentes do procedimento est�tico. Um deles, que prestou queixa contra o m�dico, diz ter listado 24 pessoas com relatos semelhantes.

O m�dico Thaissio Britto de Lima, 30, � um dos casos. Ap�s a segunda cirurgia realizada com Landecker, em maio deste ano, afirma ter perdido o olfato e come�ado a sentir dificuldade para respirar. Hoje, ainda segue tratando a infec��o com antibi�ticos. "Minha qualidade de vida piorou muito desde a cirurgia. Nesse per�odo, engordei, tive que deixar de trabalhar, estou tomando antidepressivo. Foi uma coisa muito frustrante pra mim, fez eu parar minha vida", conta. Ele aguarda os prontu�rios m�dicos para prestar queixa.

Segundo a Secretaria de Seguran�a P�blica de S�o Paulo, foram solicitados exames de corpo de delito para as v�timas que j� prestaram depoimentos. Cinco casos s�o investigados pelo 15º DP e um pelo 34º DP. "Os laudos est�o em andamento, e assim que finalizados, ser�o analisados pela autoridade policial. A oitiva do m�dico ser� realizada no decorrer das investiga��es", diz, em nota.

Parte dos pacientes foram operados em hospitais de elite da capital paulista, como S�o Luiz do Morumbi, Vila Nova Star, S�rio-Liban�s e Israelita Albert Einstein. Ap�s as den�ncias, o cirurgi�o foi afastado de suas atividades no Vila Nova Star, no S�rio-Liban�s e no Israelita Albert Einstein.

O Minist�rio P�blico de S�o Paulo e o Conselho Regional de Medicina do Estado de S�o Paulo (Cremesp) tamb�m foram acionados. Procurado, o conselho informou que as investiga��es envolvendo o m�dico tramitam sob sigilo determinado por lei.

A defesa afirma n�o existir nexo causal entre as infec��es que as pessoas contra�ram e a atua��o do m�dico. "Seja antes, durante ou p�s-cir�rgico, o doutor Alan e sua equipe deram toda a assist�ncia a todos os pacientes. Essas infec��es s� surgiram mais de 30 dias depois por motivos alheios a qualquer tipo de conduta do doutor Alan", afirma Daniel Bialski, advogado do cirurgi�o.

A advogada Mar�lia Veridiana Frank de Araujo, 38, foi uma das ex-pacientes a prestar queixa. Ela havia acabado de perder o pai quando decidiu realizar o sonho de fazer uma rinoplastia estruturada, em maio deste ano, com Landecker, no Hospital Vila Nova Star. O objetivo era curar o desvio de septo e melhorar a ponta do nariz. Um m�s ap�s o procedimento, descobriu que estava com infec��o e a cartilagem estava exposta.

"Ele me mandou ir pra casa tomar rem�dio, mas decidi ir para o hospital. Meu rosto ficou deformado, estava com infec��o no osso", conta. Ela procurou outro m�dico, que teria pedido � Landecker que a operasse novamente, desta vez no Hospital Israelita Albert Einstein. "O outro m�dico me disse: ‘como ele n�o fez uma lavagem no seu nariz? Est� completamente podre’", relembra. Por fim, realizou uma terceira opera��o com outro m�dico.

Mar�lia diz que at� hoje n�o tem seu prontu�rio m�dico e j� gastou por volta de R$ 120 mil nas tr�s cirurgias e medicamentos. Ela segue o tratamento com antibi�ticos e ainda n�o consegue respirar sem utilizar um alargador nas narinas. "Eu vivo chorando. Eu sofro por mim e por cada um (dos lesionados). Estou muito triste, � cansativo, � estressante", conta.

O cirurgi�o chegou a mover uma a��o contra a advogada por cal�nia, inj�ria e difama��o por postagens realizadas sobre o caso em suas redes sociais e no YouTube.

O Hospital S�rio-Liban�s informou, em nota, que foram avaliados todos os casos de pacientes internados pelo cirurgi�o e "n�o foram identificadas falhas nos processos assistenciais realizados". A institui��o abriu sindic�ncia �tica e administrativa interna, que segue sob sigilo.

"O Hospital S�rio-Liban�s � comprometido com os mais altos padr�es de controle de infec��o hospitalar e � acreditado internacionalmente pelo seu alto n�vel de excel�ncia em processos cir�rgicos e assistenciais", complementa, em nota.

O Hospital Israelita Albert Einstein comunicou, tamb�m por nota, que a atua��o do Landecker est� sob avalia��o do Comit� M�dico Executivo do hospital. Um processo administrativo foi aberto para analisar a pr�tica m�dica e os fatos relacionados aos pacientes tratados pelo profissional.

Landecker � membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica (SBCP), da Sociedade Internacional de Cirurgia Pl�stica Est�tica (ISAPS) e da Sociedade Internacional de Rinoplastia. Em nota, a SBCP declara preocupa��o pela ‘gravidade das infec��es’ e por ‘serem intercorr�ncias cir�rgicas incomuns’, e ressalta que o cirurgi�o "� internacionalmente reconhecido por s�lida forma��o e experi�ncia no segmento, bem como os hospitais em que as cirurgias foram realizadas est�o entre os mais qualificados do pa�s".

"A entidade defende que toda intercorr�ncia cir�rgica seja amplamente investigada, para que as suas raz�es sejam devidamente esclarecidas e possam contribuir para o aperfei�oamento da especialidade, da medicina e principalmente da seguran�a do paciente", pontua, em nota.

Quadros infecciosos e novas cirurgias

A modelo Sarah Cardoso, 29, foi uma das primeiras a entrar em contato com outros ex-pacientes. "No in�cio era s� um grupo de apoio, mas foi crescendo e vimos que ele falava as mesmas coisas para todos. Dizia que era um caso raro, fazia a gente achar que a culpa era nossa, nunca era culpa dele", conta. Ela prestou queixa contra o m�dico em uma delegacia em S�o Paulo.

Sarah fez a cirurgia com Landecker em outubro do ano passado para reparar quest�es est�ticas. Depois do procedimento, achou que o nariz havia ficado muito grande e a ponta estava sempre vermelha. Em janeiro, mandou uma foto ao m�dico dizendo estar sentindo dor e expelindo uma secre��o.

"Ele disse que eu estava com uma bact�ria e me passou um rem�dio sem nenhum exame. Meu nariz derreteu nessa �poca", conta. No m�s seguinte, foi a S�o Paulo para fazer a cirurgia de reconstru��o. Precisou de um terceiro procedimento e, desta vez, o m�dico tirou enxerto da boca. "Foi traumatizante, meu nariz ficou torto, minha boca ficou torta", relembra.

Ela estima j� ter gastado cerca de R$ 200 mil. Hoje, usa um separador nas duas narinas, instrumento que a permite respirar, e ainda precisar� passar por mais um procedimento. "Ele falava que se ele n�o pegasse meu caso, ningu�m ia pegar. Eu sempre caia na l�bia dele", diz.

O cirurgi�o fez um boletim de ocorr�ncia contra a modelo por postagens realizadas por ela em redes sociais.

Foi tamb�m para reparar uma quest�o est�tica que Thaissio chegou ao consult�rio de Landecker. Ele foi operado em mar�o de 2020 e, por n�o ter gostado do resultado est�tico, decidiu passar por um novo procedimento. Ap�s a cirurgia, em maio deste ano, come�ou a sentir dificuldade para respirar - e perdeu o olfato.

Dois meses depois, surgiu uma ferida com exposi��o de cartilagem na regi�o do septo e um quadro infeccioso. "Ele havia me falado que era um caso isolado, muito incomum de acontecer, pensei que fosse um azar meu", analisa. Thaissio decidiu procurar outro m�dico.

Ele teve conhecimento de outros casos envolvendo Landecker atrav�s dos jornais. "O grande erro dele foi n�o ter parado de operar para entender o que estava acontecendo no momento em que viu que muitos pacientes estavam com infec��o e bact�rias resistentes. Foi um caso de neglig�ncia muito grande", opina.

O advogado de Landecker pontua que as pessoas que tiveram problemas e seguiram com o tratamento ‘foram corretamente tratadas e est�o satisfeitas’. "Ele (Alan) n�o pode se responsabilizar pela eventual temeridade com que essas pessoas cuidaram de suas feridas, n�o cumpriram as recomenda��es e abandonaram o tratamento com ele", defende Bialski. Aponta, tamb�m, que as bact�rias encontradas s�o comuns em ambientes hospitalares.

Bialski ressalta, ainda, que "nos dois inqu�ritos policiais que existem contra ele, n�o existe nenhuma prova que possa dizer que o doutor Alan errou ou agiu com imprud�ncia" e que "a defesa, seja na esfera criminal ou civil, vai tomar provid�ncia contra todos que, de forma leviana, fizerem acusa��es infundadas contra ele".

Informa��es falsas no prontu�rio m�dico

Em uma das queixas mais graves, uma empres�ria de 39 anos que prefere n�o se identificar, acusa o m�dico de forjar informa��es no prontu�rio m�dico. Ela fez a primeira cirurgia em junho do ano passado e, desde ent�o, precisou realizar outros quatro procedimentos. Ela afirma que Alan sabia tratar-se de uma infec��o desde a segunda cirurgia, mas n�o a avisou. "Ele falava que meu corpo tinha rejeitado o enxerto e que era um problema do meu corpo, que meu corpo n�o cicatrizava. Que era um caso rar�ssimo", conta.

Ela diz ter tratado a infec��o em dezembro, quando havia completado seis meses tomando antibi�tico ininterruptamente e decidiu ir at� a cl�nica de Alan dizendo que n�o sairia sem o problema resolvido. Ele teria chamado uma infectologista, que a internou por 20 dias, com tratamento a base de antibi�tico e antif�ngico. "Antes disso, ele nunca tinha pedido um exame para saber o que era a infec��o, mas no prontu�rio diz que sim", afirma.

A empres�ria ainda pontua que o m�dico chegava a lhe mostrar fotos de nariz com infec��o para mostrar que n�o era o caso dela. "Eu dizia que sentia uma coisa errada e pedia para ele investigar, mas ele sempre me passava v�rios medicamentos e pomadas e ficava me reoperando", diz.

Ela continua tratando as sequelas e relata que nenhum m�dico aceita pegar o seu caso por se tratar de algo in�dito na literatura m�dica.


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