N�o � comum ver algu�m fora do padr�o est�tico se aceitando - menos ainda se amando. Por isso mesmo, para os chamados "haters" (os cr�ticos exaltados das redes sociais), o trabalho de Alexandra Gurgel, � uma apologia da obesidade. "Est� na moda falar que as quest�es est�o sendo romantizadas, mas nesse caso s�o pessoas gordas que pararam de se esconder, � um encontro com a autoestima. Falar que � uma apologia � injusto", pontua ela.
Foram 26 anos se odiando para que o amor-pr�prio pudesse, finalmente, se tornar uma constante em sua vida. Hoje, em seu Instagram - que conta com mais de 1 milh�o de seguidores - ela posta v�deos sobre exerc�cios f�sicos e comidas saud�veis e inspira quem a segue a questionar o padr�o de beleza e a press�o est�tica da sociedade.
"Quando eu tinha 9 anos, fui ao endocrinologista e ele me disse uma frase que nunca esque�o: �Ningu�m nunca vai te querer porque voc� � gorda�. Eu entendi, a partir disso, que era feia. E essa � a primeira lembran�a que eu tenho de odiar o meu corpo." � nesses termos que a escritora e ativista Alexandra Gurgel, a Xanda, hoje com mais de 1 milh�o de seguidores no Instagram, come�a a contar sua hist�ria, em entrevista por telefone ao Estad�o.
A fala do m�dico condizia com o que era mostrado nas revistas e novelas. "Eu n�o via ningu�m parecido comigo em nenhum lugar", recorda. "Ent�o ele estava certo: o que era bonito era diferente do que eu era."
Ela tinha 13 anos quando veio a internet, na qual foi procurar maneiras de emagrecer. "Ca� em f�runs de anorexia e bulimia. Comecei a flertar com transtornos alimentares e desenvolvi tend�ncias suicidas", acrescenta. At� que em 2012, aos 23 anos, sua m�e lhe deu de presente uma lipoescultura e uma mamoplastia para colocar pr�tese de silicone.
"Era a oportunidade que eu precisava para ser feliz e come�ar minha vida do jeito que eu sempre quis, pois eu ficava esperando minha vida come�ar quando tivesse o corpo perfeito", lembra. "Quando acordei, estava parecendo uma �Kardashian�, as pessoas estavam dando em cima de mim. Mas tr�s meses depois das cirurgias eu continuei triste - e n�o entendia como poderia estar assim. Foi a� que eu atentei contra a minha pr�pria vida."
Esot�rica, Xanda acredita que, por ter sobrevivido, existia algum motivo para ela continuar viva. Passou a questionar toda a sua vida: religi�o, sonhos, amizades. "Fui ler v�rios livros sobre feminismo, press�o est�tica, fui criar o meu pr�prio senso cr�tico sobre o assunto. Fiquei com muita vontade de ter um canal no YouTube para falar sobre isso. At� porque n�o tinha ningu�m ao meu redor que quisesse ouvir, quisesse trocar", explica. Hoje, seu canal, em que questiona padr�es de beleza, tem quase 500 mil assinantes.
"S� quando passei a me perguntar sobre as coisas foi que comecei a me interessar pela minha alimenta��o. Passei a comer alimentos saud�veis, porque eram gostosos. Tudo foi mudando." Com as mudan�as ela emagreceu, de forma natural, e parou de "viver em fun��o do corpo".
ACEITA��O. Em 2018, Xanda fundou o Movimento Corpo Livre, que fala sobre aceita��o, diversidade corporal e autoestima para al�m do peso. No Instagram, o grupo j� conta com mais de 440 mil seguidores, e a partir de segunda, 8, ganhar� p�gina pr�pria na internet no www.alexandrismos.com. "Um lugar para falar sobre exerc�cio f�sico, alimenta��o intuitiva. Quero que as pessoas estejam informadas, sem estarem diretamente ligadas ao meu rosto", conta. O site vem para sustentar o aprofundamento que ela tem sobre o tema, e j� bem percept�vel em seu primeiro livro, Pare de Se Odiar: Por que Amar o Pr�prio Corpo � um Ato Revolucion�rio, que j� vendeu mais de 30 mil exemplares, e no Comece a Se Amar, que ser� lan�ado no dia 16. "� a vis�o que eu tenho. A gente foi t�o ensinada a se odiar que eu acho que ser ajudada a come�ar a se amar pode ser uma boa tamb�m. E eu fico feliz de ter esse papel."
LIBERDADE. Xanda pondera que, se n�o tivesse come�ado a fazer isso l� atr�s, "provavelmente n�o estaria hoje vendo a quantidade de gente come�ando a gostar do corpo, a entender que essa barreira da press�o est�tica, da gordofobia, pode ser ultrapassada. Que a gente � digna de amor".
Ela quer tamb�m "mostrar a essas pessoas que a gente pode ser algu�m, ser capa de revista, ganhar pr�mio". Sua li��o, do que tem feito, � que "d� para mudar tudo sem mudar nada, � s� a gente perceber que a liberdade existe. Os haters n�o s�o superiores a isso".
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