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Estado de Minas TRAG�DIA

Oito anos depois, Justi�a vai se pronunciar sobre boate Kiss

Julgamento em Porto Alegre est� marcado para 1� de dezembro e pode durar at� 15 dias. Quatro r�us ser�o julgados pela morte de 242 pessoas


28/11/2021 10:10 - atualizado 28/11/2021 10:42

Fachada da Boate Kiss
Fachada da Boate Kiss, em Santa Maria (RS): superlota��o e falhas de seguran�a transformaram a casa noturna em um inferno (foto: Renan Mattos/Esp.CB/D.A.Press)
Santa Maria (RS) — As chamas que destru�ram a Boate Kiss, na cidade ga�cha de Santa Maria, mudaram para sempre o destino das cerca de 1.300 pessoas que participavam de uma festa universit�ria na madrugada de 27 de janeiro de 2013. A casa noturna tinha capacidade para 690 pessoas. Mas, naquela noite, estava superlotada, com um p�blico quase duas vezes maior. Em quest�o de minutos, a Kiss transformou-se em um inferno, do qual muitos n�o conseguiram sair.

Passados quase nove anos, o Rio Grande do Sul e o pa�s voltam a se deparar com a trag�dia. O dia 1º de dezembro vem com a expectativa de um desfecho para o caso, aguardado pelos familiares das 242 v�timas e para os sobreviventes da trag�dia. “� o �ltimo momento que a gente tem para gritar”, define Vanessa Vasconcellos, 32 anos. Ela � irm� de Let�cia Vasconcellos, funcion�ria da Kiss. � �poca com 36 anos, Let�cia n�o conseguiu escapar do inc�ndio.

O julgamento no Foro Central de Porto Alegre ter� quatro r�us e pode durar at� 15 dias. Respondem �s acusa��es os s�cios da boate Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) e Mauro Londero Hoffmann; e os m�sicos Luciano Augusto Bonilha Le�o e Marcelo de Jesus dos Santos, integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava naquela noite. Eles ser�o julgados por um Conselho de Senten�a, no Tribunal do J�ri. Os r�us responder�o por homic�dio simples (242 vezes consumado — pelo n�mero de mortos —, e 636 vezes tentado — pelo n�mero de feridos).

O caso da Boate Kiss foi considerado a segunda maior trag�dia no Brasil em n�mero de v�timas em um inc�ndio. Teve o maior n�mero de mortos nos �ltimos 50 anos. �, ainda, o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo. Em uma s�rie de reportagens, o Correio reconstitui essa hist�ria dolorosa, que deixou profundas cicatrizes em centenas de pessoas e marcou o Brasil.


O inc�ndio


Em 26 de janeiro de 2013, a festa “Agromerados”, organizada por cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), reunia centenas de jovens na fila para entrar na Boate Kiss. “Era noite de casa cheia. O Kiko ainda comentou ‘pessoal, vamos pegar junto hoje, fa�am correria, atendam todo mundo o melhor poss�vel, porque, no final da noite, a gente vai dar umas caixas de cerveja para os funcion�rios”, relembra Luismar da Rosa Model, 34, sobrevivente da trag�dia. Ele trabalhava na boate naquela noite.

A banda Gurizada Fandangueira, que costumava se apresentar mensalmente na boate, tocava naquela noite. Por volta das 2h30 da madrugada do s�bado, 27, um dos m�sicos acendeu um sinalizador de uso externo.

As fa�scas lan�adas pelo equipamento entraram em contato com a espuma de isolamento ac�stico. A rea��o foi instant�nea. As chamas se alastraram com rapidez, por se tratar de espuma altamente inflam�vel. Em contato com o fogo, o produto liberava gases t�xicos, como o cianeto. Uma fuma�a escura passou a dominar o ambiente, impedindo as pessoas de respirar e enxergar.

Gabriel Rovadoschi, 27, estava na boate com mais quatro amigos. Ele recorda que o primeiro sinal de que havia algo errado foi quando a m�sica parou. “Lembro de ver as pessoas virarem a cabe�a em dire��o ao palco. Come�ou um murmurinho, falando que era briga”. Bastaram alguns instantes para o tumulto come�ar: todos procuravam uma sa�da do local.

A boate tinha apenas um acesso, usado tanto para entrada quanto para sa�da. No meio do empurra-empurra, dezenas de pessoas buscaram os banheiros na tentativa de escapar do inc�ndio, e acabaram ficando presas. Para agravar a situa��o, os sistemas de ar condicionado e de exaust�o propagavam rapidamente a fuma�a t�xica em vez de dissip�-la. A per�cia concluiu, na �poca, que os dutos de ar eram ineficientes e estavam parcialmente obstru�dos por janelas basculantes, impedindo que parte da fuma�a sa�sse para o ambiente externo.

Os extintores de inc�ndio estavam em n�mero insuficiente e fora do prazo de validade. N�o havia sinais luminosos que indicassem as sa�das. Esse detalhe foi definitivo para que, no momento em que a luz se apagou por conta do inc�ndio, centenas de pessoas n�o fossem capazes de encontrar a sa�da.

A casa noturna tamb�m funcionava sem alvar�, pois estava com o processo de renova��o em andamento. O alvar� da boate havia vencido em 10 de agosto de 2012.

Logo ap�s a trag�dia, os quatro acusados tiveram decretada a pris�o preventiva. Quatro meses depois, passaram a responder ao processo em liberdade. Essa situa��o se mant�m at� hoje.

Para as fam�lias, a liberdade dos quatro acusados representa um descaso do poder p�blico ao sofrimento nesses oito anos. “A falta que a minha irm� faz jamais ser� suprida. Mas eles precisam pagar pelo que fizeram, principalmente para que nenhum tipo de local v� novamente cogitar fazer algo fora das diretrizes”, defende Vanessa Vasconcellos.

Os s�cios da boate, Elissandro e Mauro, e o vocalista do grupo, Marcelo, solicitaram a transfer�ncia de local do julgamento. Os advogados dos r�us sustentaram que, caso o julgamento ocorresse em Santa Maria, haveria d�vidas quanto � parcialidade, por estarem na cidade em que ocorreu a trag�dia.

Em 2020, a Justi�a ga�cha autorizou a transfer�ncia de julgamento para Porto Alegre a tr�s r�us — Elissandro, Mauro e Marcelo. Luciano foi o �nico que n�o manifestou interesse na troca, mas o Tribunal de Justi�a do Rio Grande do Sul determinou que o produtor da banda se juntasse aos outros r�us, em um julgamento �nico, na capital ga�cha.


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