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Estado de Minas GERAL

Popula��o local do Rio Madeira v� o drama por tr�s da rotina do garimpo


01/12/2021 17:00

Pela janela de sua casa de madeira, na pequena comunidade do Remanso, Jair Cabral Silveira viu uma horda de garimpeiros avan�ar com suas balsas sobre as �guas do Rio Madeira. Correu para o terreiro para tentar entender o que acontecia. Em seus 74 anos, o ribeirinho acostumara-se � rotina das balsas clandestinas que cortam o rio amaz�nico para dragar seu leito em busca de ouro. Mas daquela forma, agrupadas em filas de um lado a outro do rio, n�o.

Espanto maior ainda estava por vir, quando a pequena comunidade, onde vivem cerca de 50 ind�genas do povo Mura, no munic�pio de Autazes, viu cinco dias depois a paisagem transformada em rota de helic�pteros, navios da Marinha, lanchas velozes e uma balsa gigantesca da Pol�cia Federal. Era a ca�a ao garimpo que havia come�ado, uma resposta que as autoridades se viram for�adas a dar, depois de toda a repercuss�o causada pela aud�cia dos garimpeiros.

Na manh� do s�bado, come�ou a opera��o que, em dois dias, queimaria e afundaria nas �guas do Rio Madeira 131 dragas do garimpo ilegal. "Nunca teve isso aqui no Madeira. Ent�o, o povo ficou muito assustado. O que aconteceu aqui foi uma humilha��o para o garimpeiro. Ele � trabalhador, vive na balsa com a fam�lia dele", avalia Silveira.

As palavras do ribeirinho s�o repetidas pelos povoados que margeiam a calha do rio. A poucos quil�metros dali, na Vila do Rosarinho, Maria Barros Vieira conta que, na manh� do domingo o posto flutuante de sua comunidade, que � usado como esta��o por quem chega com barcos, virou alojamento improvisado. "Tinha mulher, crian�a de colo. O povo estava sem ter o que comer nem lugar para dormir. Passaram a noite ali no flutuante. No outro dia, arrumaram umas doa��es. Depois, deram um jeito de ir embora."

A PF afirma que, em cada uma das abordagens, deu algum tempo para que os garimpeiros, seus familiares e ajudantes retirassem seus pertences das embarca��es, para ent�o destruir a balsa, um tipo de a��o que foi informada ao Minist�rio P�blico Federal e que est� prevista nas pr�prias leis ambientais, em situa��es como essa. Entre as cidades de Autazes, Nova Olinda do Norte e Borba, por�m, predomina o entendimento de que os garimpeiros foram injusti�ados.

"A gente sabe que tem gente que aluga balsa de outro para fazer o servi�o, que freta o barco para empurrar as balsas, mas tamb�m tem gente que � dona da draga, que depende daquilo ali para viver, ent�o � uma coisa dif�cil de aceitar, ver sua balsa afundando, sem ter como fazer nada", diz Maria.

Em Borba, munic�pio mais ao Norte do rio e do qual a Opera��o Uiara chegou a se aproximar, houve um ato dos garimpeiros na orla, no domingo, contra a destrui��o dos equipamentos. Ao menos 15 balsas estavam atracadas na frente do acesso da cidade. O movimento foi pac�fico, mas o clima � tenso nas popula��es locais. Em Humait�, mais ao sul, a prefeitura chegou a falar em indenizar garimpeiros.

RIO SUJO

Esque�a os riscos de contamina��o pelo merc�rio usado por garimpeiros na separa��o do ouro de outros elementos qu�micos, quando o metal passa pelo processo de filtragem na dragagem do rio. O que agora preocupa os moradores locais � a suposta contamina��o da �gua pelas 131 m�quinas e balsas que foram queimadas e afundaram nas �guas do Madeira.

Apesar de tudo queimar r�pido, os moradores afirmam que a �gua fica ruim para consumo "O rio fica sujo com esse diesel espalhado, essas m�quinas, as coisas todas que eles afundaram. Queimaram balsas demais. Daqui de casa, a gente s� via a fuma�a subindo na beira do rio", diz Maria.

Ao receberem mais informa��es sobre os riscos de contamina��o pelo merc�rio, que pode comprometer o consumo de peixes da regi�o, al�m da pr�pria �gua, a rea��o geral � marcada por certa desconfian�a. "Eles n�o jogam o merc�rio no rio. Isso � conversa. Aquilo � muito caro. Eles v�o reutilizando, porque tamb�m sabem que aquilo polui tudo", diz o ribeirinho Silveira.

A �ltima etapa da opera��o da PF pretende dizer se os ribeirinhos e garimpeiros est�o livres de altas doses de merc�rio no corpo ou se o material cancer�geno "� uma coisa que falam s� para n�o deixar o povo trabalhar", como diz Maria.

Na segunda-feira, peritos da PF visitaram as vilas que presenciaram a cidade flutuante formada por mais de 300 balsas. Foram colhidas e catalogadas amostras da �gua do rio e de plantas das margens. Depois, os agentes foram �s casas dos ribeirinhos e cortaram pequenos tufos de cabelo de oito moradores. Cada amostra foi catalogada com os dados deles e lacrada em um saco.

"Faremos essa per�cia em toda a calha do Rio Madeira, de Humait� at� a foz. As pessoas precisam entender que o pre�o disso tudo pode sair muito caro, no futuro, comprometendo n�o s� o meio ambiente, mas a sa�de da popula��o", diz o superintendente da PF no Amazonas, Leandro Almada.

Os fios dos ribeirinhos e ind�genas da orla do rio foram enviados ao Setor T�cnico da Superintend�ncia da PF no Amazonas, que os analisar�. Segundo os peritos, o trabalho ser� feito com uma tecnologia in�dita no Pa�s. Os cabelos brancos de Silveira est�o entre os colhidos. "Pode cortar, fica � vontade", disse ele. "S� preciso de um pouquinho, n�o vou cortar muito, n�o", respondeu o agente. Jair agradeceu. "Acho bom fazerem isso". Sorriu. O olhar desconfiado.

PF

As opera��es contra o garimpo ilegal lideradas pela PF no Rio Madeira foram conclu�das p�s tr�s dias de incurs�es dentro do rio. A retomada de a��es, no entanto, � medida j� planejada pela superintend�ncia da PF no Estado - e pode ser antecipada se houver novas aglomera��es de balsas.

Na semana passada, na regi�o de Audazes, centenas de garimpeiros se dispersaram rio acima para fugir da PF, abandonando as balsas. Alguns garimpeiros afundaram as balsas nas margens, para que n�o fossem queimadas ou encontradas pelos agentes. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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