O Estado de S�o Paulo atingiu pela primeira vez na pandemia de covid-19 uma marca inferior a mil pacientes internados em leitos de terapia intensiva para tratamento de covid-19, segundo dados divulgados pelo governo paulista. Os registros, que tiveram um pico durante a segunda onda da pandemia no primeiro semestre deste ano, v�m em queda nos �ltimos meses, no que � visto como um efeito da cobertura oferecida pela vacina��o contra a doen�a.
No s�bado, havia 982 pacientes em leitos de UTI e 1.168, em enfermaria destinados � doen�a. No dia seguinte, 5, esses valores eram de, respectivamente, 990 e 1.154. A m�dia m�vel, para sete dias, de pacientes internados em UTI, no s�bado, foi de pouco mais de 1.036. No domingo, de 1.030.
Esses n�meros, nos primeiros meses deste ano, com o segundo pico da pandemia, chegaram a ser quase quinze vezes maiores. Para se ter uma ideia, em quatro de abril, eram mais de 13 mil interna��es em UTI para covid e quase 17 mil, em enfermaria. Na data, a m�dia m�vel de internados era de 13.028.
A taxa de ocupa��o de leitos de UTI, no s�bado, foi de 21,61%. Em abril, era de 91,27%. Ao longo dos meses, por�m, a disponibilidade de quartos variou e, conforme a m�dia m�vel foi caindo, a oferta tamb�m foi reduzida. Se em abril eram 14.250 UTIs dispon�veis, agora, em dezembro, s�o pouco mais de 4.500.
'Milagre' da vacina��o
"A vacina��o fez um milagre", diz o sanitarista Gonzalo Vecina, sobre a queda da ocupa��o de leitos de UTI em SP. Ele atribui isso tamb�m ao fato de que houve relativo respeito a n�o realiza��o de eventos de massa, sem a cobran�a de comprova��o de vacina��o e o uso de m�scaras.
Tendo em vista o cancelamento de grandes festas de r�veillon, Vecina acredita que a tend�ncia de redu��o de interna��es, casos e mortes deve continuar no Estado. Para isso, por�m, destaca a necessidade, em n�vel estadual e nacional, de focar na vacina��o, cobrar passaporte de vacina na entrada do Pa�s, manter medidas de preven��o e monitorar o comportamento da variante �micron.
"Agora l� (Hemisf�rio Norte) est� frio. H� uma tend�ncia de �voar� em busca do calor", fala o m�dico. "Se vir para c� um monte de negacionista, isso significa correr risco. Tem gente aqui no Brasil, sem prote��o."
Nesse sentido, Vecina destaca a necessidade de cobrar o passaporte sanit�rio na entrada do Pa�s. Al�m disso, intensificar a imuniza��o contra a covid de crian�as e adolescentes, bem como acelerar a aplica��o de doses de refor�o.
Quanto � variante �micron, detectada pela primeira vez na �frica do Sul, o m�dico destaca que o comportamento dela continua uma "inc�gnita". Vecina aponta que a cepa � provavelmente mais transmiss�vel, por�m, se preocupa mais com o fato de ela ser mais severa, o que pode levar a um repique da pandemia.
Localidades com baixa cobertura vacinal, segundo o sanitarista, correm o risco de "pequenos" surtos com a Delta. Coisa que, diz, j� ocorre em algumas cidades do Par� e do interior do Cear�.
�Otimismo cauteloso�
O coordenador da Rede An�lise Covid-19 Isaac Schrarstzhaupt olha para a queda de interna��es no Estado paulista com um "otimismo cauteloso". Isso porque, aponta, esse � um dado de "colheita", representa o que se passou - nesse caso, o sucesso da vacina��o. O segredo para manter a conquista � "cautela e monitoramento".
"Na Europa, l� por julho, junho, estava exatamente como S�o Paulo agora: Interna��es l� embaixo, �bitos l� embaixo, vacina��o entre 65% e 70%. Tudo maravilhoso", lembra Schrarstzhaupt. "O que rolou? Flexibiliza��es. E agora eles est�o numa onda bem forte."
A quarta onda na Europa est� relacionada a um "excesso de confian�a", avalia ele. O avan�o da imuniza��o contra a covid no continente parecia mostrar que n�o se corria mais perigo, levando a flexibiliza��es durante o ver�o europeu. No entanto, ocorreu o que Schrarstzhaupt chama de "estagna��o vacinal". Em vez da taxa seguir crescendo, estacionou - a curva deixou de estar em ascens�o e passou a crescer "para os lados".
Nesse sentido, aponta que as na��es passam a ter seguran�a quando o �ndice de imunizados represente mais de 85% da popula��o total. "(Com isso) Podemos dizer que se tiver um surto, vai ter pouco agravamento", indica.
Schrarstzhaupt destaca que, no Brasil, se vive o in�cio dessa estagna��o. Ele diz isso com base no painel Vacina��o contra Covid-19 no Brasil (apoiado pelo Estado de Minas Gerais), que mostra a curva de segundas doses no Pa�s se tornando diagonal. No Estado de S�o Paulo, a tend�ncia come�ou na segunda metade de novembro.
Nesse sentido, o pesquisador destaca que al�m do incentivo � vacina��o, os governantes devem levar a tend�ncia de estagna��o em conta quando pensarem em flexibiliza��es. "Quando h� estagna��o somada a flexibiliza��es percebemos que h� tend�ncia de uma nova onda", alerta. O cen�rio atual, avalia, � de manuten��o de medidas de preven��o, como uso de m�scaras e n�o realiza��o de aglomera��es.
Ele tamb�m destaca que, desde setembro, parece haver uma subnotifica��o de casos leves da doen�a, devido � vacina��o no Pa�s. "A testagem no Brasil � reativa, n�o proativa", explica. Com sintomas brandos, infectados tendem a n�o buscar por testes, acredita. Essa subnotifica��o pode atrasar a detec��o de uma "revers�o de tend�ncia" que aponte para um novo pico da crise.
Quanto � redu��o da disponibilidade de leitos, Schrarstzhaupt faz uma ressalva: � preciso que os Estados avaliem qu�o f�cil ser� reativ�-los em caso de necessidade, orienta.
Tend�ncia nacional
O boletim mais recente do Observat�rio da Covid-19 da Fiocruz destaca que "as taxas de ocupa��o de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS (Sistema �nico de Sa�de) obtidas em 29 de novembro ratificam tend�ncias de queda ou relativa estabilidade do indicador". Em abril, o mapa de risco da entidade era quase exclusivamente vermelho (cr�tico). Hoje, � majoritariamente verde (baixo), com algumas unidades federativas em amarelo (m�dio).
Em alerta intermedi�rio de risco para ocupa��o de leitos de terapia intensiva est�o Rond�nia (73%), Par� (75%) e Distrito Federal (74%). No primeiro, a taxa cresce desde o fim de outubro; no segundo, h� quatro semanas. O alerta no Distrito Federal se d� pela retirada e gerenciamento de UTIs dispon�veis h� meses. Em 29 de novembro, s� 34 estavam dispon�veis, conforme informou o boletim da Fiocruz.
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