(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas BRASIL

Chuvas na Bahia: os fen�menos extremos que causam a trag�dia no Estado

Pelo menos 20 pessoas morreram e mais de 31 mil precisaram deixar suas casas tempor�ria ou definitivamente por causa das fortes chuvas


27/12/2021 20:46 - atualizado 27/12/2021 22:46

Árvores e prédios sob água
Trecho do rio Cachoeira que transbordou em Itabuna, uma das dezenas de cidades do sul da Bahia atingidas por fortes chuvas em dezembro (foto: Reuters)
Uma das localidades mais atingidas da Bahia, a cidade de Ilh�us registrou no dia de Natal deste ano mais chuva (136mm) do que o acumulado durante o m�s de dezembro inteiro em 2020 (118mm) e em 2018 (131mm).

 

Os dados s�o do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a partir de uma esta��o meteorol�gica autom�tica instalada na cidade.

 

Segundo o Inmet, este foi o segundo maior volume de chuvas registrado em Ilh�us desde 2003 e o maior desde novembro de 2013, quando um temporal atingiu a marca de 172mm.

 

Temporais concentrados em poucas horas atingiram dezenas de cidades baianas, como Vit�ria da Conquista, a quase 5 horas de carro a oeste de Ilh�us. Em 25 de dezembro, o registro de chuvas atingiu a marca de 86,8mm, muito acima do registrado em dezembro passado inteiro (2,6mm).

 

O governador baiano, Rui Costa (PT), que est� em Ilh�us para a coordena��o da resposta �s chuvas na regi�o, descreveu a situa��o como a maior trag�dia na hist�ria recente da Bahia. H� 100 munic�pios em situa��o de emerg�ncia por causa de enchentes e mais de 470 mil pessoas atingidas.

 

Pelo menos 20 pessoas morreram e mais de 31 mil precisaram deixar suas casas tempor�ria ou definitivamente por causa das fortes chuvas que atingem parte do Estado desde o in�cio de novembro.

 

Os danos materiais ainda est�o sendo contabilizados, mas, por exemplo, diversas casas e estradas foram destru�das por enchentes em rios da regi�o.


Foto aérea mostra rio inundando e botes resgatando pessoas
Resgate em Itabuna, Bahia (foto: Reuters)

E o que est� por tr�s disso?

 

Especialistas em meteorologia e clima apontam a influ�ncia de diversos fatores sobre a tradicional Zona de Converg�ncia do Atl�ntico Sul (ZCAS), descrita pelo Inmet como “um dos principais sistemas meteorol�gicos respons�veis pela reposi��o h�drica em parte do Brasil no per�odo chuvoso”.

 

Em geral, uma ZCAS tem como caracter�stica, explica o Inmet, “a persist�ncia de nuvens que ficam, praticamente estacionadas, provocando muita chuva sobre as mesmas �reas por, pelo menos, 4 dias consecutivos”.

 

A ZCAS costuma ser um corredor de umidade que se estende desde partes da regi�o Norte ao Sudeste do Brasil e ao oceano Atl�ntico Sul, passando tamb�m pelo Nordeste.

 

Mas o que aconteceu em dezembro deste ano na Bahia pode ser considerado at�pico e extremo, afirma o meteorologista Willy Hagi, da consultoria Meteonorte, pioneira no setor clim�tico no Amazonas.

 

“Geralmente, a forma��o de eventos de ZCAS come�a a partir da primavera entre meados de setembro e outubro e vai at� os meses seguintes do ver�o e outono. Isso significa que � um fen�meno comum e esperado para essa �poca do ano, mas em dezembro temos visto esses eventos de ZCAS posicionados mais ao norte e atingindo o sul da Bahia com mais for�a”, afirma Hagi � BBC News Brasil.

 

Para especialistas, h� pelo menos tr�s fatores que podem ser associados � alta intensidade das chuvas recentes na Bahia: La Ni�a, depress�o subtropical e aquecimento global.

O impacto de eventos La Ni�a no clima do Brasil

“Para o Norte e Nordeste do Brasil, a La Ni�a sempre vai ser um sin�nimo de chuvas frequentes e acima do esperado”, afirma Hagi. Mas o que � La Ni�a?

 

Para entender o termo, � necess�rio explicar o fen�meno mais geral em que ele est� inserido: o chamado evento ENOS ou El Ni�o-Oscila��o Sul.

 

O El Ni�o � um fen�meno clim�tico caracterizado pelo aquecimento anormal das �guas superficiais do oceano Pac�fico, principalmente nas zonas equatoriais.

 

Ele ocorre normalmente em intervalos m�dios de quatro anos, geralmente em dezembro, pr�ximo ao Natal e, por isso, � chamado assim, em refer�ncia ao "Ni�o Jesus" ("Menino Jesus").

 

O El Ni�o causa o enfraquecimento dos chamados ventos al�sios (deslocamentos de massas de ar quente e �mido em dire��o �s �reas de baixa press�o atmosf�rica das zonas equatoriais do globo terrestre). Esses ventos sopram de leste para oeste, acumulando �gua quente na camada superior do Oceano Pac�fico perto da Austr�lia e Indon�sia.


la niña
La Ni�a � caracterizado por resfriamento das �guas do Pac�fico Equatorial (foto: NOAA)

Quando o El Ni�o ocorre, a camada de �guas superficiais quentes do Pac�fico acaba se deslocando ao longo do Equador em dire��o � Am�rica do Sul. Ventos quentes favorecem a evapora��o e, por consequ�ncia, a forma��o de nuvens.

 

No Brasil, isso normalmente se traduz em mais chuvas na regi�o Sul e menos chuvas nas regi�es Norte e Nordeste.

 

La Ni�a � exatamente o oposto no Brasil: chuvas fortes e abundantes, aumento do fluxo dos rios e inunda��es subsequentes no Norte e no Nordeste do Brasil - e seca no Sul do pa�s. Mas nenhum evento La Ni�a � igual ao outro.

 

Segundo o Inmet, neste ano, “a maioria dos modelos de previs�o de ENOS (El Ni�o-Oscila��o Sul), gerados pelos principais centros internacionais de meteorologia, indicam uma probabilidade superior a 60% de que se mantenha o fen�meno La Ni�a durante o ver�o, podendo atingir a intensidade de moderado entre os meses de dezembro/2021 e janeiro/2022”.

 

“Sa�mos de uma La Ni�a entre o final de 2020 at� Maio de 2021, que foi respons�vel pela maior Cheia na Amaz�nia nos �ltimos 120 anos, para entramos em outra agora que est� prevista para durar pelo menos at� o primeiro trimestre de 2022. Isso soa o alarme para mais um per�odo de chuvas elevadas e com todas as consequ�ncias socioecon�micas que est�o ligadas, desde alagamentos a perdas de vidas humanas”, afirma Hagi.

 

No in�cio de dezembro, fortes chuvas j� haviam afetado o sul da Bahia, deixando ao menos 24 cidades da regi�o em situa��o de emerg�ncia.

 

Diversas localidades ficaram debaixo d’�gua e pelo menos tr�s pessoas morreram ap�s um deslizamento de terra na cidade de Itamaraju.

 

� �poca, o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou � BBC News Brasil que a ZCAS estava combinada com um outro fen�meno clim�tico que se originou a partir de uma �rea de baixa press�o: a depress�o subtropical.

 

At�pica, a depress�o subtropical � um evento meteorol�gico que gira no sentido hor�rio e � marcado pela forma��o de nuvens, ventos, tempestades e agita��o mar�tima. Em alguns casos, ela pode evoluir para uma tempestade tropical.

 

“A combina��o desses dois acontecimentos, a Zona de Converg�ncia do Atl�ntico Sul (ZCAS) e a �rea de baixa press�o, � o que intensificou a chuva nas regi�es leste e sul da Bahia", disse Aquino em entrevista no in�cio de dezembro.

 

Segundo ele, "as mudan�as na circula��o geral da atmosfera sugerem para n�s que o oceano mais quente na costa do Brasil poderia formar com mais frequ�ncia �reas de baixa press�o como essa, levando � depress�o subtropical". Aquino considera precoce associar esses eventos extremos na Bahia �s mudan�as clim�ticas no planeta, mas n�o descarta uma poss�vel liga��o entre eles.

 

"Neste momento, n�o conecto diretamente as mudan�as clim�ticas com esse evento extremo. (...) Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais frequentes, com a forma��o de depress�es subtropicais como esta [vista na Bahia]."

 

Sobre os temporais durante o Natal na Bahia e a rela��o com o aquecimento global, Hagi, da Meteonorte, afirma que “de certa forma � poss�vel que a ocorr�ncia desses eventos extremos seja consistente com o que se espera para um mundo cada vez mais quente”.

 

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)