
Rio de Janeiro – Imposs�vel n�o pensar o tempo todo nos jardins da Pampulha, lembrar do Parque das Mangabeiras, viajar at� o Grande Hotel de Arax� e “sobrevoar”, nas asas da informa��o, projetos de resid�ncias e �reas p�blicas mineiras e de outras localidades. Sim, cada um desses espa�os tem a m�o talentosa de Roberto Burle Marx (1909-1994), o brasileiro paisagista, pintor, desenhista, escultor, lit�grafo, ser�grafo, designer de joias, explorador bot�nico, arquiteto e urbanista. At� domingo (6/2), � poss�vel conhecer parte do trabalho do multiartista na exposi��o “O Tempo Completa: Burle Marx, cl�ssicos e in�ditos”, na Casa Roberto Marinho, no Bairro Cosme Velho, no Rio de Janeiro (RJ).
Se a casa que pertenceu ao jornalista e empres�rio Roberto Marinho (1904-2003) � um espet�culo � parte – ele viveu nela de 1943 a 2003 –, a mostra presta o glorioso servi�o de integrar arquitetura e hist�ria, beleza e criatividade, arte e harmonia. O mergulho em sete d�cadas da vida profissional de Burle Marx, bem lento para ir �s profundezas, permite descobertas, como destaca a arquiteta paisagista Isabela Ono, ao indicar, no segundo andar da casa, os projetos paisag�sticos de Burle Marx e equipe para Tiradentes (no fim da d�cada de 1970), na Regi�o do Campo das Vertentes, em Minas. Foi feito o tratamento paisag�stico para a Pra�a Benedito Valadares (Largo das Forras), Pra�a das Merc�s, adro da Igreja Nossa Senhora do Ros�rio, Largo do Chafariz de S�o Jos�, adro da Matriz Santo Ant�nio e Largo do Sol. Uma curiosidade foi que para cada pra�a a equipe se preocupou em prever a especifica��o de plantas para que sempre houvesse uma flora��o significativa nos locais. Tamb�m foram criteriosos ao prever mobili�rio (bancos em granitos) usando pedras locais, adequando os projetos ao ambiente.
De BH, est� em exposi��o o projeto paisag�stico (1941-43) feito para o Grande Hotel da Pampulha, que n�o saiu do papel, e maquete (em madeira) da Pra�a Alberto Dalva Sim�o, constru�da na mesma regi�o.
Para Cataguases, na Zona da Mata, Burle Marx foi convidado, na d�cada de 1940, pela fam�lia In�cio Peixoto, a desenvolver um estudo para a Pra�a Rui Barbosa. A proposta parou na fase de anteprojeto e nunca foi executada. Est� na exposi��o com a apresenta��o: "No desenho, notam-se as formas org�nicas e sinuosas, de uma intensidade pr�pria dos jardins de Burle Marx".
Diretora executiva do Instituto Burle Marx e filha de Haruyoshi Ono (1943-2017), s�cio e grande amigo do paisagista, Isabela Ono diz que a exposi��o trabalha com a ideia t�o atual de constru��o coletiva. “Na an�lise dos projetos do Burle Marx com meu pai, percebe-se o desejo de ter cidades mais verdes, acess�veis e inclusivas, que privilegiam espa�os de contempla��o e encontro.” Para a mostra, houve uma sele��o cuidadosa, j� que o acervo do Instituto guarda, s� em projetos, mais de 2 mil – alguns realizados, como o Parque do Flamengo, no Rio, e outros jamais sa�dos do papel. Ontem, foi lan�ado o cat�logo da exposi��o.

MEIO AMBIENTE Ocupando 1,2 mil metros quadrados de �rea expositiva no im�vel, a primeira mostra do acervo do Instituto Burle Marx, criado em 2019, apresenta 130 pe�as, entre desenhos, fotografias, plantas de projetos, croquis, maquetes, documentos e pinturas, in�ditos e cl�ssicos, selecionados pelos curadores Lauro Cavalcanti e Isabela Ono.
Diretor da Casa Roberto Marinho, Cavalcanti ressalta o ativismo do homem que reivindicou a conserva��o das florestas brasileiras: "Burle Marx foi um incans�vel precursor na defesa do meio ambiente. Incorporou a sua atividade, na condi��o de maior paisagista mundial, a miss�o de proteger as florestas e os biomas nacionais. � esse legado que homenageamos”. A edifica��o tem os jardins assinados por Burle Marx, que, tamb�m em 1938, fez o projeto paisag�stico do Minist�rio da Educa��o e Sa�de, atual Pal�cio Gustavo Capanema, no Centro da capital fluminense, “considerado obra-prima pela forma como adaptou aos tr�picos o tra�o internacionalista de Le Corbusier (1887-1965”).

A exposi��o se encontra em dois grandes setores: no t�rreo, dedicado � forma��o de Burle Marx, e no primeiro andar, onde ficam as obras concebidas com os colaboradores. Entre os projetos cl�ssicos no Rio de Janeiro, est�o o Parque do Flamengo e o Museu de Arte Moderna, a Avenida Atl�ntica, o Largo da Carioca e o Jardim Zool�gico. De outros estados, o Pal�cio do Itamaraty, de Bras�lia (DF), e Parque do Ibirapuera, em S�o Paulo (SP) e da Pampulha, em BH. Tamb�m podem ser vistos projetos residenciais, p�blicos e internacionais para pa�ses como It�lia, Fran�a, Alemanha e Venezuela, entre outros. Na sala consagrada �s pinturas, h� trabalhos de per�odos diversos que revelam o percurso do artista da figura��o at� a abstra��o. A exposi��o se encerra com um grande painel que ilustra a rela��o total de obras assinadas pelo paisagista paulistano.
A "presen�a", na mostra, dos colaboradores vem iluminar ainda mais os caminhos do entendimento sobre a obra de Burle Marx, que trabalhou com bot�nicos, observa Isabela Ono. O projeto paisag�stico do Pal�cio Gustavo Capanema, uma das joias do acervo do Instituto Burle Marx, divide espa�o com um total de 120 mil itens que registram o passo a passo da obra monumental constru�da, ao longo de quase nove d�cadas, pelo paisagista e seus colaboradores, a exemplo do bot�nico mineiro Henrique Mello Barreto (1892-1062), da artista bot�nica Margaret Mee (1909-1988) e do arquiteto e paisagista Jos� Tabacow. O projeto arquitet�nico do Pal�cio Gustavo Capanema � de Lucio Costa e equipe (1902-1998).
"Estou redescobrindo minha cidade. H� preciosidades. E nunca imaginei que o projeto paisag�stico do Largo do Machado, na Rua do Catete, fosse de Burle Marx", disse uma professora carioca entusiasmado com a mostra.
"ORA��O AO TEMPO” O nome da mostra tem explica��o, segundo Cavalcanti. “Burle Marx dizia 'o tempo completa’, quando se referia � participa��o org�nica das esp�cies na cria��o da beleza. Mas tamb�m nos alertava que os lentos processos da milenar natureza podem ser destru�dos em simples horas pela ignor�ncia e pela a��o mec�nica violenta”. Assim, o curador sugere aos visitantes que apreciem a exposi��o como uma "ora��o ao tempo”, pois “� uma forma de nos sentirmos parceiros desse legado em nossa passagem pelo planeta”.
Devido � pandemia, a Casa Roberto Marinho funciona sob agendamento on-line (no site casarobertomarinho.org.br) e exige o comprovante de vacina��o dos visitantes.
ACERVO
Conhe�a alguns projetos de Burle Marx em exposi��o:
1) Para o Rio de Janeiro – Minist�rio da Educa��o e Sa�de P�blica, tamb�m conhecido como Pal�cio Gustavo Capanema – Instituto de Resseguros do Brasil – Pra�a Senador Salgado Filho, em frente ao Aeroporto Santos Dumont – Parque do Flamengo – Avenida Atl�ntica, Cal�ad�o de Copacabana (duplica��o na d�cada de 1970) – Faculdade Nacional de Arquitetura
2) Outros estados – Parque Ibirapuera, em S�o Paulo (SP) – Pal�cio do Itamaraty, sede do Minist�rio das Rela��es Exteriores, em Bras�lia (DF) – Pra�a Rui Barbosa (n�o executado), em Cataguases (MG).
– Pra�as em Tiradentes (MG) – Grande Hotel da Pampulha (n�o executado), em Belo Horizonte
3) Residenciais – Resid�ncia Roberto Marinho, no Rio de Janeiro – Resid�ncia Walther Moreira Salles, no Rio de Janeiro – Resid�ncia Odette Monteiro, atual Fazenda Marambaia, em Petr�polis (RJ) – S�tio Roberto Burle Marx, no Rio de Janeiro. Reconhecido como Patrim�nio Mundial em 2021 – Conjunto Residencial Mendes de Moraes, no Rio de Janeiro – Fazenda Vargem Grande, em Areias (SP) – Edif�cio sede do Banco Safra, S�o Paulo (SP)
4) Internacionais – Parque del Leste (Exposi��o Internacional de Caracas), na Venezuela – Kuala Lumpur City Centre Park, na Mal�sia