
A brutalidade e a viol�ncia contra mulheres chocaram o Distrito Federal nos �ltimos dias. Investigadores trabalham para solucionar dois crimes que vitimaram sete pessoas, sendo que quatro delas est�o mortas. O caso mais recente ocorreu no �ltimo s�bado, em Samambaia, quando uma noite entre amigas acabou em trag�dia. Adenilson Santos Costa, 36 anos, esfaqueou Eudicilene de Sousa Barros, 50, com quem era casado.
Al�m dela, ele atingiu Ana Paula de Sousa Paraguai, 33, Ad�lia de Souza, 36, Eunice Maria de Souza, 54 e Izadora de Souza do Nascimento, 8, que morreu horas depois do ocorrido. Nesta segunda, a av� da menina, Eunice, que estava internada em estado grave, com les�o no intestino e no f�gado, n�o resistiu e tamb�m faleceu. (veja mais abaixo).
Outra barb�rie teve um novo desdobramento nesta segunda-feira (7/2). Investigadores da 19ª Delegacia de Pol�cia (P Norte) identificaram o homem acusado de matar Shirlene Ferreira da Silva, 38, gr�vida de quatro meses, e a filha, Tauane Rebeca da Silva, 14. Trata-se de Jeferson Barbosa dos Santos, 26, que pode estar foragido na Bahia, de acordo com as investiga��es. Ele era conhecido na regi�o por ser amigo de L�zaro Barbosa. As duas foram encontradas semi-enterradas em uma regi�o de mata no Sol Nascente, em 20 de dezembro do ano passado.
A �ltima vez que m�e e filha foram vistas com vida foi por volta das 14h30, de 9 de dezembro, quando sa�ram para tomar banho em um c�rrego, localizado pr�ximo de onde moravam. Foram onze dias de buscas pela regi�o, com trabalho da equipe do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal e da Pol�cia Civil. Quando os corpos foram encontrados, j� estavam em estado avan�ado de decomposi��o. A per�cia concluiu que Shirlene foi morta com 37 facadas, mas nenhuma delas atingiu a regi�o abdominal. Tauane foi estrangulada e tamb�m apresentava cortes por arma branca. Ap�s investiga��o para chegar ao poss�vel autor do crime, agentes da 19ª delegacia apontaram Jeferson como o principal suspeito.
De acordo com os delegados respons�veis pela investiga��o, Gustavo Ara�jo e Thiago Peralva, Jeferson foi visto por testemunhas descendo, sozinho, para o c�rrego onde as v�timas estavam. Mas n�o se descarta a participa��o de uma outra pessoa no crime. "Depois que os corpos foram encontrados, Jeferson viajou com a esposa para Bahia. Ele teria passado as festividades de fim de ano com familiares no vilarejo de Mansid�o. A promessa era de que ele voltasse para o DF em 29 de dezembro, mas isso nunca ocorreu", destacou Peralva. A Justi�a emitiu um mandado de pris�o tempor�ria. A pol�cia pede para quem souber do paradeiro de Jeferson, ligar para o n�mero 197 da Pol�cia Civil. O sigilo � garantido.
O �ltimo registro do acusado teria sido no munic�pio de Lu�s Eduardo Magalh�es (BA) h� algumas semanas. Segundo a Pol�cia Civil do DF, por enquanto, n�o h� participa��o das for�as de seguran�as baianas. Caso necessite, o �rg�o far� a interlocu��o para o aux�lio de policiais do outro estado. A regi�o de Mansid�o fica a aproximadamente 860km de dist�ncia do DF, j� Luis Eduardo Magalh�es est� localizado um pouco mais perto da capital federal, � 540km.
Crueldade
Segundo os delegados, a quantidade elevada de golpes � um dos fatores que destacam a crueldade do ato. "N�o temos costume de ver execu��es desse tipo (com tantas facadas), o que demonstra como o crime foi feito de forma brutal, inclusive com raiva - mais um ind�cio que corrobora que Shirlene reagiu ao assassinato", afirmou o investigador Gustavo. Shirlene foi esfaqueada 37 vezes em diversas regi�es do corpo, inclusive bra�os e m�os. De acordo com a pol�cia, h� a possibilidade de que Tauane tenha sido morta como queima de arquivo, por ter presenciado o assassinato da m�e.
"Acreditamos que Shirlene tenha defendido a filha de uma investida de Jeferson, porque tinha marcas de defesa no corpo", afirmou o delegado Peralva, destacando que a m�e foi morta primeiro. A adolescente foi encontrada sem short, de calcinha. No entanto, n�o foi confirmado se houve viol�ncia sexual. Devido ao estado avan�ado de decomposi��o dos corpos, n�o foi poss�vel coletar material biol�gico nas cavidades sexuais para comprova��o de eventuais estupros.
Ainda segundo informa��es repassadas pelos investigadores, Jeferson costumava se auto intitular como o "cara que se dava bem com as mulheres do c�rrego''. Sobre o que poderia ter motivado o crime, os policiais esclarecem que isso s� poder� ser solucionado quando o acusado for preso. No entanto, a atual linha de investiga��o � de feminic�dio. Jeferson tem passagem por les�o corporal.
Morador do Sol Nascente, Jeferson era conhecido na regi�o por ser amigo de L�zaro Barbosa - morto em uma troca de tiros com a pol�cia ap�s uma longa busca pelo criminoso que assassinou uma fam�lia inteira em Ceil�ndia em junho do ano passado. De acordo com relatos de testemunhas, ele se orgulhava da amizade que mantinha com L�zaro. Os dois chegaram a trabalhar juntos em servi�os de carroceria, e, a pol�cia n�o descarta a hip�tese que tenham cometido crimes juntos. "Um dos celulares encontrados com o irm�o do autor, inclusive, foi roubado pelo L�zaro. Ao longo das investiga��es, v�rias testemunhas trouxeram essa informa��o para n�s", detalhou o delegado Thiago Peralva.
Assim como L�zaro, Jeferson tamb�m conhecia muito bem a regi�o. O c�rrego onde m�e e filha foram mortas � o mesmo local onde L�zaro matou Cleonice Marques. Uma das v�timas da fam�lia de Ceil�ndia. � �poca, a mulher foi sequestrada, estuprada e assassinada com um tiro na nuca.
Medo na vizinhan�a
Moradores do Sol Nascente torcem pela pris�o do acusado e temem por outros crimes parecidos. Um dos vizinhos da fam�lia de Shirlene, que preferiu n�o se identificar, conta que as pessoas da regi�o est�o com receio ap�s saberem a identidade do suspeito de cometer o crime. "Depois disso, a gente ficou mais atento, porque era uma pessoa que a gente via direto passando aqui. Hoje em dia n�o d� para confiar em ningu�m mais", comenta.
Outra moradora, que tamb�m preferiu manter o anonimato, pede para que a pris�o seja feita o mais r�pido poss�vel. "Tomara que prenda logo", destaca a mulher, que n�o acredita que Jeferson tenha cometido o crime sozinho. "� complicado dar 37 facadas nela. Ela lutou demais com ele e o cara sozinho n�o acho que ia praticar um ato desse. Ela era muito forte e defendia a filha", complementa.
"Trag�dia poderia ter sido pior"
Uma faixa preta no port�o marca o local da trag�dia onde os sonhos de uma menina de apenas 8 anos foram roubados. Izadora de Sousa do Nascimento estava na casa da tia Ana Paula de Sousa Paraguai, 33, com a m�e Ad�lia de Souza, 36, e a av� Eunice Maria de Souza, 54, quando foram surpreendidas pelo marido de Eudicilene de Sousa Barros, 50, que estava na resid�ncia com as amigas. Al�m da menina, a av� tamb�m n�o resistiu e morreu ap�s ser transferida para a UTI do Hospital de Base, na noite de ontem.
Adenilson Santos Costa, 36, invadiu a resid�ncia, na QR 409, em Samambaia Norte, � procura da esposa e golpeou as v�timas. No im�vel, as mulheres confraternizavam no �ltimo s�bado, quando, por volta das 22h45, Adenilson entrou na casa e foi em dire��o � companheira para esfaque�-la. De acordo com o delegado Rodrigo Carbone, da 26ª Delegacia de Pol�cia (Samambaia Norte), a agress�o foi motivada por ci�mes. "Ele tinha ido l� antes, os dois discutiram e ele voltou para casa. Tudo indica que nesse momento ele pegou a faca e voltou at� a casa da Ana Paula", explicou.
Ap�s ser barrado pela dona da resid�ncia, o criminoso for�ou a entrada e desferiu o primeiro golpe na esposa. Na tentativa de defender a amiga, Ad�lia de Souza tamb�m foi esfaqueada. "Ao ver a cena, a menina tentou fugir, mas Adenilson correu atr�s dela e a matou a facadas. Depois disso ele saiu esfaqueando todo mundo", disse o delegado.
Momentos de terror
Uma testemunha relatou ao Correio o momentos de terror vividos pelas v�timas. A vizinha, que n�o quis se identificar, estava indo dormir quando ouviu os gritos. "Era muito alto, v�rias mulheres pedindo socorro ao mesmo tempo. Estavam gritando bastante", disse. Com o barulho, ela foi at� a rua e viu o momento em que as v�timas sa�ram da casa pedindo ajuda. "Elas estavam sangrando muito. Quando sa�ram, foram caindo no ch�o uma por uma e sempre pedindo socorro", detalhou a mulher, que era pr�xima da fam�lia e costumava cuidar dos filhos de Ana Paula.
Uma outra vizinha disse que se assustou com os gritos. Ela estava dentro de casa e escutou um barulho de objetos quebrando e pedidos de socorro. Quando saiu para ver o que era, se deparou com Ad�lia e o marido de Ana Paula, que no momento da invas�o estava em outro c�modo da casa, segurando Adenilson. "A mulher do criminoso estava com umas coisas para fora da barriga e caiu na minha cal�ada. A Ad�lia j� tinha levado uma facada dentro da casa e mesmo assim continuou segurando o homem por um bom tempo, depois ela caiu no ch�o tamb�m", contou a jovem, que preferiu manter a identidade sob sigilo.
De acordo com o delegado Rodrigo Carbone, a trag�dia poderia ser pior, caso o marido de uma das atingidas n�o tivesse contido o acusado. "De acordo com a Ana Paula, uma das v�timas, o marido que estava no c�modo ao lado ouviu os gritos e entrou em luta corporal com ele (Adenilson). A trag�dia poderia ter sido pior caso ele n�o intervisse", disse.
Aos agentes da Pol�cia Civil, j� na delegacia, Adenilson relatou que tinha um alvo: Eudicilene. Para os agentes, o acusado relatou que n�o se lembrava que tinha desferido golpes nas outras v�timas na casa, a n�o ser contra a companheira. Apesar do crime, antes a v�tima n�o havia registrado ocorr�ncia contra o assassino. "De todas as ocorr�ncias que n�s catalogamos contra ele, n�o h� nenhuma de Eudicilene. N�s n�o descartamos, por�m, que possa ter ocorrido eventos de agress�o e que n�o tenham sido registrados", conta o delegado.
Uma das testemunhas contou, ainda, que a tia mora ao lado da casa do casal e que nunca presenciou agress�es. "Eles apenas brigavam com palavras, mas nunca ouvimos pedidos de socorro ou eles se agredindo", afirmou. Segundo a mulher, o casal morava na quadra h� pelo menos quatro meses.
Adenilson relatou, ainda, que tinha ingerido uma grande quantidade de �lcool, mas essa informa��o acabou n�o sendo comprovada pelos policiais. A grande motiva��o para o feminic�dio contra a companheira foi ci�mes. "Eles tinham um relacionamento de aproximadamente dois anos. Ele nos confessou que a esfaqueou em um momento de f�ria, porque ela (Eudicilene) disse que queria se relacionar com outras pessoas. No final, ele disse que se arrependeu do que fez", complementou o delegado.
Agora a Pol�cia Civil aguarda Eudicilene sair do hospital para colher novos depoimentos e indiciar Adenilson. O acusado pode pegar pena de 12 a 30 anos pelos crimes de feminic�dio e tentativa de feminic�dio.
Maria da Penha
De acordo com Rodrigo Carbone, o acusado, apesar de n�o ter passagem pela pol�cia, tem quatro den�ncias pela Lei Maria da Penha. Todas s�o referentes a um antigo relacionamento. O investigador disse que a ex-companheira chegou a pedir medida protetiva contra Adenilson. No entanto, o processo foi arquivado com o fim do relacionamento dos dois. As den�ncias foram feitas nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020.
*Estagi�rio sob a supervis�o de Adson Boaventura