
"Foi cena de um filme de terror", define o dentista Lucas Ribas sobre o que presenciou em Petr�polis, na regi�o Serrana do Rio de Janeiro, ap�s o munic�pio ser atingido por um temporal na ter�a-feira (15/2).
Lucas sa�a do trabalho durante a noite quando viu o cen�rio de destrui��o deixado pela forte chuva.
"No Centro da cidade havia muitos corpos, muita gente morta que foi levada pela chuva, se afogaram, bateram em algum lugar ou ficaram presas nos carros", diz � BBC News Brasil.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, at� 21h30 de quarta (16), foram contabilizadas 94 pessoas mortas em decorr�ncia das fortes chuvas de ter�a-feira.
Nas redes sociais, enquanto algumas pessoas compartilharam registros do impacto causado pela chuva, outras divulgaram fotos de entes queridos que desapareceram em meio ao temporal.
O volume de �gua acumulada na cidade chegou a 259 mil�metros em apenas seis horas de ter�a-feira, segundo o Climatempo. O valor supera o que era esperado para todo o m�s de fevereiro: 238,2 mil�metros.
De acordo com o jornal O Globo, dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que h� pelo menos 90 anos Petr�polis n�o enfrentava uma chuva t�o volumosa em 24 horas como a de ter�a.
O temporal causou estragos em diversos pontos do munic�pio. Segundo o governo do Rio de Janeiro, foram registradas 89 �reas atingidas, com 26 deslizamentos.
A Prefeitura de Petr�polis decretou estado de calamidade p�blica. Nos hospitais, segundo a gest�o local, as equipes foram refor�adas para atender as v�timas.

Para os moradores, as cenas presenciadas em raz�o do temporal nunca ser�o esquecidas.
"Ainda n�o caiu a ficha. Eu tenho 44 anos, nasci em Petr�polis, a gente sempre presenciou v�rias trag�dias, mas sempre em lugares isolados e n�o tamb�m no Centro da cidade. O que aconteceu aqui ontem acho que nunca mais vai acontecer porque foi algo impressionante", diz a professora Bianca Maria Leite.
'Foi tudo muito r�pido'
O temporal culminou em um cen�rio desolador em Petr�polis. Em v�rios v�deos que circulam pela internet, � poss�vel ver imagens de �rvores, eletrodom�sticos, m�veis e ve�culos sendo levados durante a enchente.
In�meras casas foram atingidas. Em algumas, os moradores perderam todos os eletrodom�sticos e m�veis, enquanto em outros a pr�pria constru��o foi devastada pela forte chuva.
"Perdi tudo, n�o tem nada. Levou tudo embora. N�o sei o que a gente vai fazer a partir de agora, porque a pedra ali t� quase caindo de novo. Se descer vai pegar mais casas para baixo", disse em entrevista ao telejornal SBT Rio um morador que teve a casa atingida.
Segundo o governo do Rio de Janeiro, ao menos 372 pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas na cidade.
O com�rcio local tamb�m foi atingido e muitos ficaram embaixo d'�gua. Em v�deos que circulam nas redes � poss�vel ver diversos estabelecimentos alagados.
"Eu estava na academia e ela come�ou a alagar. Eu s� senti que tinha que sair dali. Um pessoal ficou limpando a �gua do ch�o e jogando pro ralo. Nisso, consegui ir ao shopping, que tem tr�s andares de estacionamento. Fiquei aguardando e n�o parava de chover nunca. Quando vi, a rua parecia um rio muito fundo, porque passava muita �gua. Olhei pro lado da academia e ela estava toda revirada: a �gua entrou no fundo da academia, foi destruindo tudo e jogou os equipamentos na metade da rua", detalha o universit�rio Vin�cius Magini.
O dentista Lucas Ribas conta que ele e outros funcion�rios lutaram para salvar os equipamentos do consult�rio em que ele trabalha. "Foi tudo muito r�pido, como se fosse um tsunami de lama. Quando a gente viu era uma aguinha entrando no consult�rio, logo isso virou muita �gua, depois come�ou a transbordar e virou enchente. Foi tempo de a gente subir com equipamentos, fechar as portas, tirar tudo de valor que tinha e salvar o m�ximo de coisas que podia. Foi desesperador", diz.

Na noite de ter�a, in�meros pontos da cidade ficaram sem energia el�trica. Na regi�o central houve diversos relatos de roubos e estabelecimentos saqueados em meio ao rastro de destrui��o do temporal.
Os desaparecidos
Em meio ao temporal, in�meras pessoas desapareceram. H� registros de busca por moradores de diferentes idades, de crian�as a idosos.
H� relatos de pessoas que teriam sido levadas pela �gua, outras que estariam em regi�es que foram soterradas e pessoas que estavam em ve�culos que foram carregados pela enchente.
De acordo com as autoridades locais, n�o h� n�meros oficiais de desaparecidos na cidade.
Atualmente, cerca de 400 bombeiros auxiliam nas buscas em diferentes �reas da cidade.
Sem respostas, familiares buscam not�cias pelas redes sociais. Em alguns posts feitos na ter�a-feira, � poss�vel observar atualiza��es de familiares que comemoram que a pessoa foi encontrada bem. Em outros, por�m, h� a confirma��o de que a pessoa foi uma das v�timas das consequ�ncias do temporal.
"Infelizmente acharam ele sem vida. Pra ser sincera, n�o sei o que realmente houve, s� tive a not�cia de que o corpo dele est� no IML", diz uma amiga de um adolescente que teve a morte confirmada. Ela havia disponibilizado o seu n�mero de celular para receber not�cias sobre o amigo na noite de ter�a, ap�s ele ser considerado desaparecido.
No Instituto M�dico Legal (IML) da cidade, familiares buscam respostas sobre os desaparecidos.

"Vi a chegada de tr�s carros da Defesa Civil com corpos. � angustiante", diz Anallu Andrade. Ela � prima de um garoto de oito anos que estava em um �nibus que foi levado pela enchente.
"Fui para o IML porque um policial viu meu story (postagem tempor�ria no Instagram; nela, Anallu buscava pelo primo) e disse que possivelmente meu primo j� foi encontrado sem vida, porque encontraram um menino na faixa et�ria dele que parecia com ele, s� n�o tinha como me dar certeza. Sabendo disso, eu cheguei ao IML sem nenhuma certeza se � ele ou n�o", diz Anallu.
A Pol�cia Civil do Rio de Janeiro divulgou que montou uma for�a-tarefa com cerca de 200 agentes, com profissionais como peritos legistas e criminais papiloscopistas, auxiliares de necropsia e servidores de cart�rio para auxiliar na identifica��o das v�timas.
Ap�s passar algumas horas no IML, Anallu voltou para casa sem respostas. Ela dever� retornar ao local nesta quinta-feira (17/2). "A av� e a m�e dele est�o sem condi��es de ir (ao IML)", explica.
Depois do temporal
Na quarta-feira, Petr�polis amanheceu em clima de luto. Os n�meros de corpos encontrados foram atualizados ao longo do dia.
"O dia seguinte � triste. A cidade embaixo da lama e as pessoas sem nem saber por onde come�ar", diz o dentista Lucas Ribas.
O fot�grafo Breno Luis Telles fez registros na manh� seguinte ao temporal. "Fiz imagens no Centro Hist�rico e infelizmente o cen�rio � de guerra. Nunca vi uma coisa assim. Gente morta em todos os lados, carros em cima de carros, um cheiro horr�vel. Infelizmente, a gente v� uma cidade que parece que foi bombardeada", diz � BBC News Brasil.

Na cidade, foi poss�vel ver cenas como morros que vieram abaixo, ruas bloqueadas por materiais deixados pela inunda��o, ve�culos empilhados, casas destru�das, estabelecimentos atingidos pela lama, comerciantes tentando estimar o preju�zo causado pela trag�dia e fam�lias buscando formas para recome�ar.
Os moradores convivem com o temor de novos temporais. Na quarta, a previs�o era de chuva fraca a moderada para a regi�o. A Secretaria de Estado de Defesa Civil alertou que o munic�pio segue em est�gio operacional de crise e orientou a popula��o a ficar atenta aos informes, porque alertas sobre a situa��o podem ser atualizados a qualquer momento.
A Defesa Civil municipal argumentou que o temporal foi causado pela "passagem de uma frente fria pelo oceano, em conjunto com as instabilidades geradas pelo aquecimento diurno, mais a disponibilidade de umidade".
Nas redes sociais e em v�rios pontos da cidade foram organizadas campanhas para arrecadar itens para ajudar as pessoas afetadas de diferentes formas pela chuva.
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