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Estado de Minas TRAG�DIA NA REGI�O SERRANA

'Tenho f� que vou ficar na minha casa', diz moradora que escapou por pouco de deslizamento em Petr�polis

Poucos passos separam o port�o da vendedora Sheila Figueira do rastro de destrui��o na encosta do Morro da Oficina. Mesmo assim, ela n�o quer se mudar: %u2018N�o tenho para onde ir%u2019.


18/02/2022 06:18 - atualizado 18/02/2022 08:52


Sheila Figueira
Sheila Figueira n�o quer se mudar: %u2018N�o tenho para onde ir' (foto: Rafael Barifouse/BBC News Brasil)

Sheila Figueira lembra da agita��o dos vizinhos que ela costumava ver da janela da sua sala, em Petr�polis.

"Hoje, � esse vazio. N�o tem mais nada aqui", diz ela, olhando para o que restou de uma parte da sua vizinhan�a no Morro da Oficina.

Na noite de ter�a-feira (15/2), uma chuva excepcional que caiu sobre a cidade da regi�o serrana do Rio provocou ali um deslizamento que arrastou e esmagou o que havia pela frente.

V�rias dezenas de casas foram destru�das. De muitas constru��es que existiam ao redor de Sheila, s� restam escombros.

"Ali, onde est� aquela pedra, tinha duas casas. L� mais pra cima, vivia uma fam�lia de oito pessoas", diz a vendedora de 49 anos bastante emocionada, enquanto observa as equipes de emerg�ncia vasculhando tudo em busca das v�timas, muitas vezes com a ajuda de parentes que sobreviveram � trag�dia.

"Vou carregar essa imagem para o resto da minha vida."

Vendedora vive terceiro desastre em Petr�polis


Sheila Figueira olha os escombros
De muitas constru��es que existiam ao redor de Sheila, s� restam escombros (foto: Rafael Barifouse/BBC News Brasil)

Sheila conta que mora h� 40 anos em Petr�polis e, no Morro da Oficina, h� quase 30.

Ela se lembra do desastre de 1988 na cidade, que tamb�m foi causado pelas chuvas e matou 134 pessoas.

Na �poca, ela morava em outro bairro pr�ximo dali, tamb�m em uma encosta.

"Aquele desastre atingiu a cidade toda, foi que nem a pandemia, n�o perdoou ningu�m, pegou rico e pobre", conta a vendedora.

"Eu mesma fiquei isolada, porque caiu barreiras dos dois lados da minha casa."

Ela diz que escapou ilesa do grande desastre de 2011 em Petr�polis, quando tempestades na regi�o serrana deixaram mais de 900 mortos.


Destruição em Petrópolis
Houve mais de 400 ocorr�ncias por causa da tempestade, e a absoluta maioria delas foi por causa de deslizamentos (foto: Rafael Barifouse/BBC News Brasil)

Desta vez, Sheila escapou por pouco. Um punhado de passos separa seu port�o do rastro de destrui��o deixado pelo tsunami de lama e pedras que desceu o morro.

Quem olha para o topo do Oficina consegue ver claramente como sua casa fica exatamente na reta do come�o do deslizamento.

"Era para ter vindo em cima de mim certinho, mas fez uma curva."

Ela estava no trabalho quando o temporal caiu e, ao chegar em casa, soube da queda da barreira.

"Eu fiquei em choque. Falei: 'Meu Deus, tem muita gente ali embaixo."

Apego e d�vidas

A Prefeitura de Petr�polis diz que a Defesa Civil e os Bombeiros est�o trabalhando nas �reas onde h� suspeita de v�timas.


Destruição na cidade de Petrópolis
A Prefeitura de Petr�polis diz que a Defesa Civil e os Bombeiros est�o trabalhando nas �reas onde h� suspeita de v�timas (foto: Rafael Barifouse/BBC News Brasil)

Houve mais de 400 ocorr�ncias por causa da tempestade, e a absoluta maioria delas foi por causa de deslizamentos.

Vistorias est�o sendo feitas para avaliar os riscos estruturais em ruas e im�veis.

"Minha esperan�a � poder continuar na minha casa. J� disse que assino um termo de compromisso para ficar aqui. Tenho f� que n�o vou ter que sair", diz Sheila.

Ela diz que n�o pretende ir embora do Morro da Oficina porque sua casa tem um valor sentimental. � um elo com uma pessoa importante que j� se foi.

Tamb�m afirma que precisou trabalhar muito para conseguir comprar a sua casa e mais ainda para fazer tr�s reformas.

A terceira, ali�s, estava no meio do caminho quando a trag�dia aconteceu.

"Comprei tudo a prazo", diz Sheila, apontando para o material de constru��o espalhado pelo ch�o. "Estou endividada. Nem sei como vai ser."

A quem se pergunta por que pessoas continuam a morar em �reas de risco mesmo depois de tantas trag�dias, a vendedora d� algumas respostas.

"Claro que o mais importante � a vida, mas eu n�o tenho para onde ir", diz Sheila.

"O que eu ganho n�o � suficiente para pagar aluguel, e o aluguel social n�o paga os valores que pedem aqui em Petr�polis. Vou ficar de favor na casa dos outros?"

'N�o tem para onde correr'

Ela tamb�m n�o acredita que se mudar para outra parte da cidade adiantaria alguma coisa.

"Petr�polis � um vale. Ou voc� mora em uma encosta ou mora perto de um rio, onde a enchente leva tudo. N�o tem pra onde correr", diz Sheila.

Mas, se for obrigada a abandonar sua casa, ela diz que prefere ver o im�vel de tr�s andares ser demolido.

"Se for um risco para mim, n�o vai servir para ningu�m. Por que vou deixar para outra pessoa correr esse risco ali?."

Questionado pela BBC News Brasil sobre as medidas tomadas para evitar trag�dias como essa, o governo do Rio disse ter investido mais de R$ 300 milh�es em a��es relacionadas � preven��o de desastres e emerg�ncias na regi�o serrana.


Destruição na região serrana de Petrópolis
O governo do Rio afirmou ter adquirido e contratado mais de R$ 350 milh�es em materiais e servi�os como parte do plano de conting�ncia para as chuvas de ver�o (foto: Rafael Barifouse/BBC News Brasil)

O governo afirmou ter adquirido e contratado mais de R$ 350 milh�es em materiais e servi�os como parte do plano de conting�ncia para as chuvas de ver�o.

Mas Sheila n�o acredita que essas medidas v�o mudar muita coisa.

"Olha l� aquelas pessoas na ponta do morro", diz ela indicando um apinhado de constru��es do lado oposto de onde ela vive no Oficina.

"Essa cat�strofe vai continuar se repetindo porque as pessoas continuam construindo desgovernadamente. Elas n�o t�m outro lugar para morar."

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