
Sheila Figueira lembra da agita��o dos vizinhos que ela costumava ver da janela da sua sala, em Petr�polis.
"Hoje, � esse vazio. N�o tem mais nada aqui", diz ela, olhando para o que restou de uma parte da sua vizinhan�a no Morro da Oficina.
Na noite de ter�a-feira (15/2), uma chuva excepcional que caiu sobre a cidade da regi�o serrana do Rio provocou ali um deslizamento que arrastou e esmagou o que havia pela frente.
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V�rias dezenas de casas foram destru�das. De muitas constru��es que existiam ao redor de Sheila, s� restam escombros.
"Ali, onde est� aquela pedra, tinha duas casas. L� mais pra cima, vivia uma fam�lia de oito pessoas", diz a vendedora de 49 anos bastante emocionada, enquanto observa as equipes de emerg�ncia vasculhando tudo em busca das v�timas, muitas vezes com a ajuda de parentes que sobreviveram � trag�dia.
"Vou carregar essa imagem para o resto da minha vida."
Vendedora vive terceiro desastre em Petr�polis

Sheila conta que mora h� 40 anos em Petr�polis e, no Morro da Oficina, h� quase 30.
Ela se lembra do desastre de 1988 na cidade, que tamb�m foi causado pelas chuvas e matou 134 pessoas.
Na �poca, ela morava em outro bairro pr�ximo dali, tamb�m em uma encosta.
"Aquele desastre atingiu a cidade toda, foi que nem a pandemia, n�o perdoou ningu�m, pegou rico e pobre", conta a vendedora.
"Eu mesma fiquei isolada, porque caiu barreiras dos dois lados da minha casa."
Ela diz que escapou ilesa do grande desastre de 2011 em Petr�polis, quando tempestades na regi�o serrana deixaram mais de 900 mortos.

Desta vez, Sheila escapou por pouco. Um punhado de passos separa seu port�o do rastro de destrui��o deixado pelo tsunami de lama e pedras que desceu o morro.
Quem olha para o topo do Oficina consegue ver claramente como sua casa fica exatamente na reta do come�o do deslizamento.
"Era para ter vindo em cima de mim certinho, mas fez uma curva."
Ela estava no trabalho quando o temporal caiu e, ao chegar em casa, soube da queda da barreira.
"Eu fiquei em choque. Falei: 'Meu Deus, tem muita gente ali embaixo."
Apego e d�vidas
A Prefeitura de Petr�polis diz que a Defesa Civil e os Bombeiros est�o trabalhando nas �reas onde h� suspeita de v�timas.

Houve mais de 400 ocorr�ncias por causa da tempestade, e a absoluta maioria delas foi por causa de deslizamentos.
Vistorias est�o sendo feitas para avaliar os riscos estruturais em ruas e im�veis.
"Minha esperan�a � poder continuar na minha casa. J� disse que assino um termo de compromisso para ficar aqui. Tenho f� que n�o vou ter que sair", diz Sheila.
Ela diz que n�o pretende ir embora do Morro da Oficina porque sua casa tem um valor sentimental. � um elo com uma pessoa importante que j� se foi.
Tamb�m afirma que precisou trabalhar muito para conseguir comprar a sua casa e mais ainda para fazer tr�s reformas.
A terceira, ali�s, estava no meio do caminho quando a trag�dia aconteceu.
"Comprei tudo a prazo", diz Sheila, apontando para o material de constru��o espalhado pelo ch�o. "Estou endividada. Nem sei como vai ser."
A quem se pergunta por que pessoas continuam a morar em �reas de risco mesmo depois de tantas trag�dias, a vendedora d� algumas respostas.
"Claro que o mais importante � a vida, mas eu n�o tenho para onde ir", diz Sheila.
"O que eu ganho n�o � suficiente para pagar aluguel, e o aluguel social n�o paga os valores que pedem aqui em Petr�polis. Vou ficar de favor na casa dos outros?"
'N�o tem para onde correr'
Ela tamb�m n�o acredita que se mudar para outra parte da cidade adiantaria alguma coisa.
"Petr�polis � um vale. Ou voc� mora em uma encosta ou mora perto de um rio, onde a enchente leva tudo. N�o tem pra onde correr", diz Sheila.
Mas, se for obrigada a abandonar sua casa, ela diz que prefere ver o im�vel de tr�s andares ser demolido.
"Se for um risco para mim, n�o vai servir para ningu�m. Por que vou deixar para outra pessoa correr esse risco ali?."
Questionado pela BBC News Brasil sobre as medidas tomadas para evitar trag�dias como essa, o governo do Rio disse ter investido mais de R$ 300 milh�es em a��es relacionadas � preven��o de desastres e emerg�ncias na regi�o serrana.

O governo afirmou ter adquirido e contratado mais de R$ 350 milh�es em materiais e servi�os como parte do plano de conting�ncia para as chuvas de ver�o.
Mas Sheila n�o acredita que essas medidas v�o mudar muita coisa.
"Olha l� aquelas pessoas na ponta do morro", diz ela indicando um apinhado de constru��es do lado oposto de onde ela vive no Oficina.
"Essa cat�strofe vai continuar se repetindo porque as pessoas continuam construindo desgovernadamente. Elas n�o t�m outro lugar para morar."
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