
Conte�do investigado: Postagem mostra foto da manchete “Pfizer knew their vaccine would kill”, de uma publica��o impressa inglesa, e as seguintes frases: “Pfizer sabia que sua vacina poderia matar” e “Mas n�o era tudo teoria da conspira��o nossa?”.
Onde foi publicado: Twitter
Conclus�o do Comprova: � enganosa uma postagem que repercute a foto de um jornal impresso ingl�s – apontado como propagador de teorias da conspira��o – com a seguinte manchete: “Pfizer knew their vaccine would kill”. O texto da publica��o independente se baseia em documentos divulgados pela FDA, ag�ncia reguladora dos Estados Unidos, a pedido de um grupo de m�dicos.
No entanto, texto e manchete distorcem a realidade dos fatos. Como o pr�prio documento da Pfizer explica, o n�mero de mortes ressaltadas no texto n�o tem rela��o direta com a aplica��o da vacina, como faz crer a manchete. Trata-se de notifica��es espont�neas por pessoas ou equipes m�dicas de eventos ocorridos ap�s a vacina��o, e que s�o tratados como eventos adversos suspeitos.
O recebimento de notifica��es espont�neas faz parte de uma estrat�gia de monitoramento de seguran�a e efic�cia das vacinas. A Uni�o Europeia adota o mesmo procedimento, por meio da plataforma EudraVigilance. Na p�gina de seguran�a das vacinas da EMA, a afirma��o � de que as vacinas s�o seguras e eficazes, e que s�rios problemas relacionados � aplica��o das doses s�o extremamente raros.
Para o Comprova, enganoso � o conte�do que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor; conte�do que confunde, com ou sem a inten��o deliberada de causar dano.
Alcance da publica��o: O Comprova investiga os conte�dos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. A postagem verificada, at� o dia 2 de maio de 2022, alcan�ou mais de mil curtidas e 460 republica��es, o que aumenta ainda mais o alcance. J� o jornal que publicou o artigo tem distribui��o gratuita e irregular em diversas cidades do Reino Unido e Estados Unidos e seu alcance n�o � calcul�vel.
O que diz o autor da publica��o: Paulo Filippus � empres�rio, tem uma empresa que presta suporte t�cnico em equipamentos eletr�nicos em Santa Catarina, al�m de atuar na negocia��o de criptomoedas. Foi membro do Movimento Brasil Livre (MBL) e candidato a vereador na cidade de Gaspar, em Santa Catarina, em 2016 pelo DEM. N�o foi eleito.
Procurado pelas suas redes sociais e pelos meios de contato dos sites de suas empresas, Paulo n�o se manifestou at� o momento da publica��o.
Como verificamos: O Comprova consultou as edi��es do The Light Paper na internet e reportagens sobre a publica��o e seu fundador em ve�culos noticiosos, especialmente de cidades locais inglesas. A equipe tamb�m consultou informa��es sobre a empresa respons�vel pelo jornal no site do governo do Reino Unido, e entrou em contato com a Pfizer para esclarecer os dados da manchete aqui verificada. A Pfizer n�o respondeu ao contato da reportagem.
O Comprova fez esta verifica��o baseado em informa��es cient�ficas e dados oficiais sobre o novo coronav�rus e a covid-19 dispon�veis no dia 2 de maio de 2022.
A manchete de abril
A mat�ria que gerou a manchete afirmando que a Pfizer sabia que a sua vacina causaria mortes � baseada em documento cedido pela Federal Food and Drugs (FDA), ag�ncia reguladora dos EUA, sobre o processo de aprova��o da vacina. Ele faz parte de um conjunto de dados publicizados ap�s um grupo de m�dicos entrar na Justi�a cobrando a transpar�ncia.
O documento � uma an�lise de dados fornecidos de forma espont�nea por pacientes ou equipes m�dicas sobre condi��es, cl�nicas ou n�o, observadas no per�odo posterior � aplica��o de uma dose da vacina da Pfizer contra a covid-19.
Foram 42.086 casos relatados entre o dia 1º de dezembro de 2020 e o dia 28 de fevereiro de 2021, que v�o desde dor de cabe�a, falta de ar, problemas card�acos a at� mesmo falta de apetite ou depress�o. O objetivo dos dados coletados era monitorar a efic�cia da vacina e sua seguran�a. Das 1.223 mortes apontadas no texto, 454 casos s�o referentes a pacientes que foram imunizados, mas foram infectados com a covid-19, desenvolveram sintomas graves da doen�a e posteriormente morreram. A causa da morte foi um problema decorrente da doen�a e n�o da vacina.
Segundo observa��es feitas pela pr�pria Pfizer neste relat�rio apresentado � ag�ncia europeia, os dados n�o devem ser usados como an�lise de risco ou mesmo de efic�cia, mas como poss�vel alerta em determinadas circunst�ncias. Isso porque o texto apresentado na mat�ria � apenas um de uma centena de outros que foram enviados �s ag�ncias reguladoras como forma de acompanhamento dos efeitos da vacina. N�o � poss�vel fazer a an�lise definitiva do medicamento observando apenas uma parte dos dados produzidos.
Explica��o semelhante, e que faz ressalva entre rela��o direta do efeito adverso notificado espontaneamente com a vacina, aparece na p�gina de seguran�a das vacinas da EMA. Os n�meros atualizados mostram o total dos imunizantes aplicados e de efeitos adversos suspeitos notificados espontaneamente pela popula��o a partir da plataforma EudraVigilance.
O jornal e seu fundador
O jornal The Light Paper foi registrado como empresa no Reino Unido em 9 de setembro de 2020, conforme consta no site da Companies House, ag�ncia vinculada ao Departamento de Neg�cios, Energia e Estrat�gia Industrial do Reino Unido, respons�vel pelo registro e dissolu��o de empresas.
O jornal � publicado mensalmente na internet e tamb�m circula em formato impresso. A primeira edi��o � de setembro de 2020. Segundo documento do dia 16 de setembro de 2021, a sede fica na cidade de Manchester, na Inglaterra. A empresa, no entanto, foi dissolvida compulsoriamente pela Companies House em 15 de fevereiro de 2022.
O Comprova enviou e-mail para a assessoria de imprensa da Companies House para entender os motivos da dissolu��o da empresa, mas n�o obteve resposta. Uma reportagem do site Stroud News & Journal, no entanto, fala em falta de registro das contas da companhia e de pagamento de impostos como motivos para a dissolu��o compuls�ria de uma empresa pela Companies House.
Apesar de a empresa ter deixado de existir legalmente, como informa o Stroud News & Journal, o The Light continua a ser publicado. A �ltima edi��o, de abril deste ano, � a que aparece no tu�te verificado.
O fundador e editor do jornal � Darren Smith, de 51 anos. Ele tamb�m se identifica como Darren Nesbitt, como consta em reportagem do The Guardian. O nome � o que aparece na ficha da empresa na Companies House, como sendo da pessoa que det�m o controle da empresa.
Al�m do jornal, Smith tem uma loja de guitarras na cidade de Manchester, na Inglaterra, onde mora, e uma confec��o de camisetas com frases de famosas teorias da conspira��o como a nega��o da presen�a do homem na Lua e questionamentos sobre a veracidade dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Conte�do
A publica��o se autointitula como “a truthpaper” (jornal da verdade, em livre tradu��o) ou “The Uncensored Truth” (a verdade sem censura). S�o publicados conte�dos contra lockdowns, o uso de m�scaras e a vacina��o contra a covid-19, em manchetes como “End face masks and social distancing, Top Scientists Say” (Fim do uso de m�scara e do distanciamento social, dizem cientistas), “Covid shots kill and injure hundreds” (Vacinas contra covid matam e deixam centenas doentes) e “Masks do more harm than good” (M�scaras fazem mais mal do que bem). Uma outra questiona a pr�pria exist�ncia da pandemia: “What pandemic?” (Que pandemia?).
Frequentemente, o jornal afirma que a pandemia da covid-19 � uma farsa e repercute teorias da conspira��o que falam em controle de mentes por meio da vacina��o e na instala��o de um regime ditatorial global que estaria por tr�s da implementa��o da Agenda 21, o conjunto de normas para o desenvolvimento sustent�vel lan�ado em confer�ncia da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), no Rio de Janeiro, em 1992.
Na edi��o de novembro de 2021, o jornal publicou um artigo em defesa do cantor e radialista Graham Hart, condenado e preso na Inglaterra, em agosto de 2021, acusado de propagar can��o e ideias que questionam o Holocausto. O texto gerou protesto contra o The Light na cidade de Stroud.
Circula��o
O The Light Paper sobrevive de doa��es, an�ncios e venda, a apoiadores, de lotes de exemplares, que s�o distribu�dos em protestos anti-lockdown, postos de gasolina, coffee-shops e outras �reas p�blicas de cidades inglesas. As edi��es tamb�m s�o colocadas em caixas de correio e por baixo da porta de casas de moradores.
Em uma consulta na internet, � poss�vel verificar not�cias locais que alertam sobre a distribui��o do jornal. Nesta reportagem do Cambridgeshire Live, um leitor de Cambridge denuncia que sua av� recebeu o jornal na caixa postal de casa, e que suspeita que a distribui��o seja direcionada �s pessoas mais idosas. A mat�ria afirma que h� relatos da distribui��o do jornal em Londres, Manchester, Yorkshire, North Wales, Surrey e Leicestershire.
Nesta reportagem do Bracknell News, a den�ncia parte de uma mulher que afirma ter recebido por baixo da porta de casa, na cidade de Bracknell, uma edi��o do jornal com afirma��es de que a pandemia da covid-19 era uma farsa.
J� o Doncaster Free Press denuncia a distribui��o do jornal na cidade de Doncaster e afirma que a publica��o tem sido considerada “perigosa” por espalhar “informa��es falsas e enganosas sobre vacinas e teorias da conspira��o envolvendo a covid-19”.
Nesta reportagem, o The Guardian chama a aten��o para a estrat�gia do jornal de driblar os checadores de not�cias online e as plataformas de m�dias sociais ao distribuir uma vers�o impressa com layout que assemelha ao de ve�culos de credibilidade reconhecida.
Por que investigamos: O Comprova investiga conte�dos suspeitos que viralizam na internet e est�o relacionados �s elei��es presidenciais deste ano, � realiza��o de obras p�blicas e � pandemia da covid-19. Neste caso, a postagem verificada contribui para desacreditar a popula��o sobre a efic�cia e seguran�a das vacinas contra a covid-19, que foram aprovadas por ag�ncias de vigil�ncia ao redor do mundo.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova j� investigou uma s�rie de outros conte�dos que tinham o mesmo intuito de questionar a seguran�a das vacinas. As equipes mostraram que vacinas de mRNA n�o s�o terapia gen�tica e n�o causam covid e que um deputado omitiu dados para atacar vacinas. Restou evidenciado, ainda, que ag�ncias reguladoras descartam risco de infertilidade de vacinados e que s�o falsas as afirma��es de que a vacina contra a covid-19 cause c�ncer, danos gen�ticos e at� mesmo “homossexualismo“.