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'Quando algu�m me v� de mochila, volta para tr�s': o relato de motoboys sobre preconceito ap�s onda de assaltos

Moradores e l�deres comunit�rios afirmaram que a maior parte da popula��o passou a ter medo de pessoas com mochilas de delivery em motos. Isso porque nas �ltimas semanas esse foi o disfarce de criminosos para praticar diversos crimes violentos em S�o Paulo.


04/05/2022 20:04 - atualizado 05/05/2022 12:10


Luiz Henrique Santos Oliveira, de 22 anos, com sua moto
O entregador Luiz Henrique Santos Oliveira, de 22 anos, diz que pessoas se assustam ao v�-lo com mochila de entregador (foto: Arquivo pessoal)

Um motociclista se aproxima carregando uma mochila vermelha e quadrada de entrega nas costas.

O que era apenas sinal de trabalho, hoje virou motivo de apreens�o em parte da popula��o ap�s uma onda de crimes cometidos por bandidos disfar�ados de entregadores.

Moradores e l�deres comunit�rios ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil afirmaram que a maior parte da popula��o passou a ter medo de pessoas com mochilas de delivery em motos. Isso porque nas �ltimas semanas esse foi o disfarce de criminosos para praticar diversos crimes violentos em S�o Paulo.

Uma dessas ocorr�ncias terminou com a morte de Renan Silva Loureiro, de 20 anos, no dia 23 de abril, no bairro do Jabaquara, zona sul de S�o Paulo.

Ap�s ser abordado por um criminoso, o jovem chegou a se ajoelhar e dizer que n�o tinha nada para entregar ao falso entregador, mas levou ao menos quatro tiros ao tentar defender a namorada quando o bandido foi abord�-la.

A repercuss�o desses crimes assustou parte da popula��o. O entregador Luiz Henrique Santos Oliveira, de 22 anos, disse que as pessoas passaram a se assustar ao encontr�-lo de moto e com uma mochila de entregas na rua.


Luiz Henrique Santos Oliveira, de 22 anos, e sua moto
Luiz Henrique planeja mudar de profiss�o por conta de crise dos entregadores (foto: Arquivo Pessoal)

"A popula��o, de umas semanas para c�, est� bastante assustada mesmo. Quando algu�m me v� de mochila, volta para tr�s e desiste de sair de casa. Tamb�m acontece de voc� ir entregar uma refei��o e a pessoa n�o sai. Pede para que voc� deixe o pedido na porta. Ou mesmo liga para o restaurante perguntando as suas caracter�sticas para saber se abre a porta ou n�o", relata � reportagem.

Em resposta � sensa��o de inseguran�a da popula��o, o coronel Ronaldo Miguel Vieira, comandante-geral da Pol�cia Militar de S�o Paulo, disse que vai abordar todos os motociclistas com mochilas.

"A gente n�o pode criminalizar essa profiss�o. Eles est�o tentando ganhar a vida. E, infelizmente, criminosos est�o usando essa atividade como disfarce para cometer roubos. Estamos dando continuidade �s opera��es com motociclistas. S� que a gente vai parando todos", afirmou.

Abandono da profiss�o

Loureiro concorda que a atua��o da pol�cia � necess�ria e que inibe a atua��o de criminosos. Mas relata que a grande frequ�ncia com que ele � parado dificulta, e muito, o trabalho.

"O policiamento ajuda, mas a pol�cia agora s� foca nos motoboys. Toda hora � enquadrado. A burocracia faz a gente atrasar pelo menos meia hora, esfria o pedido, o cliente cancela. Voc� n�o ganha e ainda tem a conta bloqueada", conta � BBC News Brasil.

Ronaldo Vieira, que assumiu o comando da Pol�cia Militar na ter�a-feira (3/05) pediu paci�ncia aos profissionais que prestam servi�o para aplicativos de entrega.

Mas Loureiro disse que a baixa remunera��o aliada � inseguran�a de trabalhar com uma moto fez com que ele parasse de trabalhar � noite. Hoje, ele s� trabalha enquanto h� luz natural e planeja mudar de �rea.

"Trabalho h� seis anos como motoboy, mas agora estou procurando emprego para mudar de �rea. Quero ir para qualquer �rea que seja fechada e d� para sustentar minha fam�lia, minha casa. Al�m de perder dinheiro, estou correndo risco n�o s� de roubo, mas tamb�m da maldade, de levar tiro."

Loureiro mora de aluguel com a mulher e os quatro filhos no Itaim Paulista, no extremo leste de S�o Paulo.

O entregador Luciano de Oliveira Rosa, de 44 anos, disse que, na segunda-feira (2/05), o dono de um restaurante pediu para que ele ficasse do lado de fora para n�o assustar os clientes.

"Eu entrei no restaurante para pegar um pedido usando um colete. Uma cliente se assustou e o dono pediu para eu sair, me maltratou", afirma.

Ele disse ainda que percebeu o medo que as pessoas sentem da aproxima��o dos entregadores, inclusive no tr�nsito.

"Quando voc� para do lado de qualquer carro, as pessoas fecham os vidros. Elas ficam todas em choque. E eu me sinto constrangido", conta � reportagem.


Edgar Francisco da Silva, o Gringo, ao lado da sua moto
'A gente passou de her�is da pandemia para suspeitos e vil�es', diz presidente de associa��o (foto: Arquivo pessoal)

De her�is a vil�es

O presidente da Associa��o dos Motofretistas de Aplicativos e Aut�nomos do Brasil (AMABR), Edgar Francisco da Silva, o Gringo, disse que os crimes recentes levaram a uma descredibilidade da popula��o.

"Realmente, o pessoal est� bem inseguro e com medo. A gente passou de her�is da pandemia para suspeitos e vil�es. Voc� consegue ver o pessoal na rua receoso. As pessoas inseguras ao atender a porta. Est� claro que a popula��o est� com medo por n�o conseguir diferenciar o ladr�o do trabalhador."

Ele sugeriu algumas mudan�as que dariam mais seguran�a para as pessoas que contratam o servi�o, para quem anda nas ruas e para o policiamento ostensivo.

"� necess�rio aplicar a Lei do Motofrete. Nela, o trabalhador usa um ba� identificado com um n�mero, n�o mochila. A moto tem uma placa vermelha e o trabalhador passa por um curso, o que torna muito mais f�cil para o cliente identificar. Se ela fosse aplicada, n�o seria t�o f�cil um bandido se passar por entregador e o Renan n�o teria morrido", afirma.

No ponto de vista dele, todas as a��es implantadas pelos aplicativos para refor�ar a seguran�a falharam, inclusive um reconhecimento facial solicitado para verificar a identidade do entregador. A reportagem n�o descreve como o sistema pode ser burlado, por motivos de seguran�a.

Procurado, o iFood informou por meio de nota que "� inaceit�vel que criminosos se aproveitem de uma atividade honesta para praticar brutalidades". A empresa disse ainda que "est� atuando de forma proativa com as autoridades policiais fornecendo informa��es para as investiga��es dentro dos limites legais para preservar o trabalho do real entregador que atua em nossa plataforma e dar mais seguran�a para clientes e parceiros."

O iFood informou ainda que "n�o h� exig�ncia de uso da bag (mochila) com o logo da empresa para fazer entregas pela plataforma. Portanto, o fato de uma pessoa estar utilizando uma bag com a marca do iFood n�o significa que esteja fazendo uma entrega pela empresa ou ainda que possua cadastro nesta."


Luciano de Oliveira Rosa, de 44 anos, com a sua moto
'Quando voc� para do lado de qualquer carro, as pessoas fecham os vidros. Elas ficam todas em choque', diz entregador (foto: Arquivo Pessoal)

A Rappi informou que "condena os criminosos que se passam por entregadores para cometer delitos. A empresa vem se reunindo com a Secretaria Estadual de Seguran�a P�blica para cooperar na busca por solu��es desse grave problema de seguran�a p�blica."

A empresa disse ainda que "possui um processo formal e rigoroso de cadastramento para que todas as partes - o usu�rio, o pr�prio entregador e o Rappi - fa�am parte de um ecossistema seguro."

Hoje, o presidente da AMABR diz que h� cerca de 9 mil motofretistas aptos para trabalhar em S�o Paulo, enquanto a capital paulista possui cerca de 70 mil entregadores. As duas maiores empresas que atuam no Brasil, iFood e Rappi, foram questionadas sobre os n�meros, mas n�o responderam.

"O poder p�blico precisa incentivar o cumprimento dessa lei, que j� est� em vigor. Chegaram a falar em identificar a mochila, mas o uso dela � proibido por lei. O que precisa fazer � exigir um curso para eles. O Detran disponibiliza hoje 25 mil vagas de curso de motofrete", explica.

Procurada, a Secretaria da Seguran�a P�blica informou que "mant�m um di�logo permanente com representantes do setor e empresas de entregas por aplicativos a fim de aprimorar a seguran�a dos usu�rios dos sistemas. Uma reuni�o com representantes das empresas ser� realizada nos pr�ximos dias para tratar do tema".

A pasta disse ainda que faz opera��es para prender os falsos entregadores. Em um m�s, foram presas mais de 100 pessoas e apreendidos 45 ve�culos, informou a Secretaria da Seguran�a P�blica.

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