
A primeira coisa que vem � cabe�a de muita gente quando se fala em exorcismo s�o as cenas dos filmes de terror, com portas batendo, gritos, pessoas flutuando e subindo nas paredes. No entanto, a pr�tica tem uma import�ncia maior dentro da Igreja Cat�lica e � tratada com cuidado pelos padres escolhidos para exercer a fun��o e que tenham passado por um processo de forma��o. Hoje, com a descoberta de mais doen�as psiqui�tricas, sess�es de exorcismo n�o s�o t�o comuns e s�o feitas apenas depois de uma avalia��o criteriosa.
Para a Igreja Cat�lica, o exorcismo � um ritual de expuls�o do dem�nio que est� de posse do corpo de uma pessoa. Essa pr�tica sempre existiu, mas o ritual ainda � um tabu para a sociedade. Por�m, o padre Silvio Ambrogio Albertario trata com naturalidade. "Estamos aqui para expulsar dem�nios em nome de Jesus. O dem�nio existe, o mal existe. E lutamos contra isso todos os dias", disse o sacerdote rec�m-nomeado exorcista pela Arquidiocese de Bras�lia.
Apesar de n�o tratar o assunto com preconceito, o padre explica que o exorcista precisa ter prud�ncia. Apenas depois de analisada a situa��o o padre pode realizar o exorcismo. "Portanto, o exorcista n�o pode come�ar o exorcismo sem certeza moral que o exorcizando esteja realmente atormentado pelo dem�nio e, se poss�vel, que ele consinta", l� no guia para ritual de exorcismos e outras s�plicas, manual usado pelos padres para nas sess�es de liberta��o.
O te�logo Gidalti Guedes da Silva explica que existem experi�ncias e sintomas psicol�gicos e emocionais que se assemelham ao que religiosamente se entende como possess�o. De acordo com o especialista, pesquisadores j� desenvolveram estudos tentando demonstrar que transtornos de personalidade podem apresentar sintomas semelhantes ao que se classifica como possess�es por esp�ritos malignos. Esses te�ricos classificam que pode ser a pr�pria pessoa com outra personalidade.
"De fato, temos que usar todo o potencial da raz�o humana, da ci�ncia humana para conhecer, porque o pr�prio Deus nos deu essa capacidade, ent�o � importante. Mas devemos ter cautela na hora de afirmar categoricamente que esse ou outros fen�menos n�o existem. � como discutir a exist�ncia de Deus. N�o tem como provar laboratorialmente que Deus n�o existe", acrescenta o coordenador do curso de teologia da Universidade Cat�lica de Bras�lia (UCB).
O especialista acrescenta que a igreja entende que existe a possibilidade de algu�m sofrer com transtornos e apresentar sintomas semelhantes aos ind�cios de uma possess�o. O padre Silvio concorda. Segundo ele, h� muitos casos em que as pessoas o procuram acreditando estarem possu�das, mas est�o com algum tipo de problema psicol�gico, de personalidade, crises esquizofr�nicas e at� mesmo convuls�es. Por isso, antes de um exorcismo, � feita uma rigorosa avalia��o para confirmar ser um caso a ser tratado pela igreja e n�o por m�dicos.
"Alguns sinais s�o falar palavras em l�ngua desconhecida, a pessoa nasceu no Brasil e come�a a falar ou entender idiomas que ela n�o conhecia; a manifesta��o de coisas distantes ocultas, saber de coisas inexplic�veis; mostrar uma for�a superior � idade ou condi��es f�sicas; e forte avers�o a Deus, ao nome de Jesus e objetos santos", descreve o padre.
Para n�o confundir problemas espirituais com problemas psicol�gicos, o te�logo aconselha n�o substituir acompanhamento psicol�gico por aconselhamento religioso. "Os sacerdotes estudam psicologia para acompanhamentos, mas isso n�o substitui. E, geralmente, pessoas que se encontram em um estado de possess�o s�o pessoas emocionalmente fragilizadas. Por isso, a f� n�o deve anular a ci�ncia e nem a ci�ncia anular a f�", completa Gidalti Guedes.
De acordo com o te�logo, � preciso identificar com muita responsabilidade qual � o papel da igreja na participa��o da solu��o para esses males. "Quais s�o as enfermidades, feridas da alma que n�s temos e que provocam transtornos semelhantes a esses tipos de sinais. A teologia hoje, mais sadia, n�o est� interessada em espiritualizar tudo e n�o comete os mesmo erros do per�odo medieval, quando se atribuiu a casos psicol�gicos causas espirituais, como se tudo fosse causado por esp�ritos malignos."
Chamado
H� quem acredite que muitas das curas realizadas por Jesus Cristo foram feitas expulsando o dem�nio de quem se considerava doente. Para o padre Silvio, Jesus viveu o chamado de exorcista. "Podemos dizer que a miss�o de Jesus, sua vida foi toda um exorcismo, foi uma luta contra o mal. Eu, sendo exorcista, deixo que Jesus continue essa miss�o, que desenvolveu nesse sentido, por meio de n�s. Isso � pr�prio do nosso minist�rio. Vivemos isso todos os dias, essa luta contra o mal. Ser exorcista � uma miss�o para ajudar as pessoas", disse o sacerdote.
Padre h� 23 anos, Silvio Ambrogio Albertario nasceu em Pavia, It�lia, e est� � frente da igreja S�o Pedro Ap�stolo, em Ceil�ndia, desde 2017. Na igreja local, quando ainda era jovem, ele sentiu o chamado para ser sacerdote e, aos 30 anos, foi "buscado por Deus."
Acompanhado por l�deres, n�o demorou para ter certeza de que seria um mission�rio. "Ofereci a vida a Deus. Eu tinha outros planos, casar, por exemplo. Mas nunca tive arrependimento. Lutas e crises existem, por�m, Deus foi levando. Foi uma elei��o de Deus. Digo que n�o foi uma escolha, foi um chamado", conta.
A Arquidiocese de Bras�lia nomeou, na semana passada, Ambrogio Albertario como novo exorcista para atuar no Distrito Federal. Em nota, a entidade disse que ele permanece nas fun��es que j� exerce na par�quia, acumulando este novo of�cio e minist�rio, em favor da igreja em Bras�lia. O an�ncio foi feito pelo arcebispo de Bras�lia, dom Paulo Cezar Costa, por meio da Arquidiocese.