
O desaparecimento do servidor da Funai Bruno Ara�jo Pereira e do jornalista brit�nico Dom Phillips enquanto viajavam pelo Vale do Javari, no Amazonas, "exp�e o total abandono que servidores e ind�genas" experimentam na regi�o, diz � BBC o ex-servidor da Funai Antenor Vaz, que j� foi o chefe do �rg�o no Vale do Javari.
Pereira e Phillips desapareceram quando se deslocavam de barco pelo rio Itaqua� ap�s uma visita aos limites da Terra Ind�gena Vale do Javari.
O territ�rio, segundo Vaz, tem sofrido com invas�es crescentes de ca�adores, pescadores, madeireiros e garimpeiros.
Ultimamente, diz o ex-servidor da Funai, tamb�m tem crescido a a��o de narcotraficantes na terra ind�gena, que fica na fronteira com o Peru e a Col�mbia.
"O tr�fico de coca�na, especialmente vinda do lado peruano, � muito grande", diz Vaz, hoje consultor internacional de pol�ticas para povos ind�genas isolados.
Pereira estava de licen�a da Funai ap�s ser exonerado da chefia da Coordena��o geral de �ndios Isolados e Rec�m Contatados, em 2019.
Ele foi retirado do cargo ap�s coordenar uma opera��o que expulsou centenas de garimpeiros da Terra Ind�gena Yanomami, em Roraima. Na ocasi�o, agentes destru�ram equipamentos dos garimpeiros e apreenderam um helic�ptero.

Segundo Vaz, ap�s sair de licen�a, Pereira vinha trabalhando como assessor da Uni�o dos Povos Ind�genas do Vale do Javari (Unijava), principal organiza��o do territ�rio ind�gena.
Vaz diz que o servidor acompanhava Phillips na viagem para ajud�-lo na realiza��o de uma reportagem sobre as invas�es � Terra Ind�gena Vale do Javari.
"(Pereira) � indiscutivelmente uma pessoa aliada, comprometida com a defesa dos direitos dos povos ind�genas", diz o ex-servidor da Funai.
Ap�s o desaparecimento da dupla, a pr�pria Funai afirmou que Pereira "n�o estava na regi�o em miss�o institucional, dado que se encontra de licen�a para tratar de interesses particulares".

Colegas afirmam que Pereira, um dos mais destacados indigenistas de sua gera��o, pediu licen�a da Funai para que pudesse continuar agindo em prol de ind�genas num momento em que a funda��o restringia drasticamente sua atua��o em defesa das popula��es.
No governo Jair Bolsonaro, a Funai teve grandes cortes no or�amento e passou a endossar propostas do presidente que sofrem grande oposi��o entre ind�genas, como a libera��o do garimpo nesses territ�rios e a agricultura mecanizada em larga escala.
Segundo Antenor Vaz, a "omiss�o da Funai" no Vale do Javari nos �ltimos anos fez com que os ind�genas assumissem a defesa do territ�rio e se expusessem ao risco de confrontos com invasores.
"N�o tem qualquer cobertura da institui��o", afirma.
Vaz cobrou as autoridades federais a iniciar buscas na regi�o o quanto antes e a convidar ind�genas para integr�-las, pois esses s�o os maiores conhecedores dos rios locais.
O ex-servidor diz que � pouco prov�vel que o barco da dupla tenha naufragado. Isso porque, segundo ele, havia na embarca��o v�rios gal�es vazios, que teriam flutuado com o naufr�gio e, ao descer o rio, seriam visualizados pelas comunidades vizinhas.
A BBC exp�s as cr�ticas de Vaz � Funai.
Em resposta, em nota na qual n�o cita suas opera��es no Vale do Javari, a Funai afirma que seu investimento em a��es de prote��o a ind�genas isolados e de recente contato chegou a R$ 51,4 milh�es entre 2019 e 2021. "Os valores superam em 335% o total investido entre os anos de 2016 e 2018", diz a Funai, que afirma ter usado os recursos "principalmente em a��es de fiscaliza��o territorial e combate � covid-19 em �reas habitadas por essas popula��es".
"A Funai promove a��es permanentes de vigil�ncia, fiscaliza��o e monitoramento de �reas onde vivem ind�genas isolados e de recente contato por meio de suas 11 Frentes de Prote��o Etnoambiental (FPE), descentralizadas em 29 Bases de Prote��o Etnoambiental (Bapes), que s�o estruturas localizadas estrategicamente em Terras Ind�genas da regi�o da Amaz�nia Legal", diz o �rg�o.
"As Bapes funcionam em escala ininterrupta e s�o respons�veis por diversos trabalhos que ocorrem de forma cont�nua, como controle de ingresso nas �reas ind�genas; a��es de localiza��o e monitoramento de grupos isolados e de recente contato; e atividades de fiscaliza��o e vigil�ncia territorial junto a �rg�os ambientais e de seguran�a p�blica competentes", prossegue a nota da Funai.
Crescimento da viol�ncia
A Terra Ind�gena Vale do Javari tem vivenciado um crescimento da viol�ncia desde 2019.
Em 2019, o colaborador da Funai Maxciel dos Santos Pereira foi assassinado em Tabatinga ap�s participar de uma opera��o que apreendeu grande quantidade de ca�a e pesca ilegal no territ�rio.
Tamb�m naquele ano, uma base da Funai que controla um dos acessos � terra ind�gena foi alvo de v�rios ataques a tiros atribu�dos a ca�adores e pescadores ilegais.
Na �poca, uma reportagem da BBC relatou que servidores e colaboradores haviam amea�ado parar de trabalhar por conta da falta de seguran�a.
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